Akai ito escrita por R Marxx


Capítulo 17
Temos um boi em casa




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Quando voltei para casa, Percy Jackson estava lá. Ele, Jason, Piper e Annabeth, plus um cachorro preto que mais parecia um boi, estavam espalhados pelo meu humilde sofá enquanto assistiam um filme da Marvel. Sem mim. Um filme da Marvel sem mim. Imperdoável. Will entrou em casa logo depois de mim, fechando e trancando a porta. Em seu braço tinha uma sacola cheia dos doces que não aguentamos comer e que eu havia pensado em dividir com aqueles que eu considerava meus amigos, mas diante da vil traição, eu adquiriria diabetes antes de compartilhá-la. 

O boi - que posteriormente descobri se chamar Sra. O’Leary - correu direto para Will, pulando e o derrubando no chão enquanto lambia seu rosto e o fazia desaparecer em sua imensidão de pelos. Gostaria de deixar registrado que tentar salvá-lo foi um erro. O cachorro era tão grande que facilmente prensou a mim e Will contra o chão enquanto lambia, lambia e lambia mais um pouco. A Sra. O’Leary era realmente pesada. Existem alguns cachorros que você olha e acha que são grandes, mas na verdade são somente ratos peludos, mas esse não era o caso aqui. Ela era grande, pesada, peluda e estava pressionando minha caixa torácica enquanto depositava uma quantidade absurda de saliva no meu rosto. 

Parecia ter passado uma hora quando Percy a tirou de cima de nós, com muito sacrifício. Meu rosto inteiro coçava - até então eu não sabia que era alérgico a cachorros. Will parecia achar graça da situação, indo acariciar o lobisomem/boi após Percy ter conseguido fazê-la sentar do lado oposto da sala. Com certeza ele já estava acostumado àqueles ataques. Eu não aguentei cumprimentar ninguém e fui direto ao banheiro. A água gelada com sabão trouxe um alívio gostoso, mas eu ainda desejava arrancar meu rosto. Já havia tido experiências com cachorros antes, inclusive gostava deles, mas acho que a aversão a exageros não era somente uma parte da minha personalidade, mas também da minha genética. 

— Will!!! – Gritei pela fresta da porta. Ele apareceu sorrindo, os cabelos emaranhados com a aparência de que tinham sido lavados recentemente, mas eu sabia que era a saliva do cachorro babão. Estava lindo e igualmente nojento. – Preciso de epinefrina. – Fiz drama. 

Seu olhar era pura confusão, mas ele sorriu levemente, mostrando o dentinho encavalado que eu achava tão charmoso. 

— Eu não sei o que isso significa, mas você está agindo muito fofo agora. – Ele respondeu à minha muda interrogação, aproximando-se e me beijando. Eu fui pego completamente desprevenido e admito que corei ao ponto de sentir fisicamente a quentura das bochechas e orelhas. – Você tá vermelho. – Ele riu ao se afastar. Um grandíssimo bastardo se quer saber minha opinião. 

— Cala a boca! Eu preciso de um antialérgico, mas não quero pedir ao Jason porque ele estava assistindo Marvel sem mim, e... onde está a sacola de doces? – Desembestei a falar. 

— Dei para eles. – Ele percebeu que havia algo errado assim que terminou sua frase. Acredito que eu não estava mais fofo agora... – Eu vou pegar deles. 

— Pegue e esconda!! Eles não são merecedores de amor, atenção, carinho, compaixão e muito menos doces!! – Se fosse um filme da DC eu não me importaria, mas está nas regras de melhores amigos que não se deve assistir filme da Marvel sem a presença do outro. – E pegue o antialérgico. – Gritei para a sua sombra que se retirava do cômodo. 

*** 

Will Solace com todo seu incrível poder de persuasão sobre mim conseguiu me fazer considerar perdoar Jason. Não dividi meus doces, mas nos juntamos para terminar de assistir o filme em uma quase paz – Sra. O’Leary tinha sido proibida de sentar no sofá e olhava com desgosto em minha direção, como se soubesse que eu era o causador disso. Tomei dois comprimidos de antialérgico - contra indicado por Jason, uma vez que eu era fraco para remédios desse tipo e ficava muito sonolento e zonzo - e senti o alívio depois de uns cinquenta minutos. Nisso o filme já havia acabado e Percy se desculpava para mim a cada dez minutos - eu estava me esforçando para passar através do fio todo o incômodo que eu estava sentindo com aquela alergia que fazia meu rosto inteiro coçar e arder e aparentemente estava funcionando. 

Jason e Piper prepararam a janta e nos reunimos para comer no espaço minúsculo da nossa mesa - ela parecia ainda menor depois de uma experiência na casa de Will. Piper separou alguns pedaços de frango cozidos, mas sem temperos, e alimentou o boi que pareceu melhorar o humor e perdoar os humanos a sua volta, inclusive a mim. Enquanto comíamos ela apoiou sua cabeça gigante no meu joelho e ali permaneceu. 

É claro que eu não passaria o jantar inteiro impune de constrangimento, então depois de uns quinze minutos sentados e conversando sobre temas aleatórios que na maior parte envolvia o filme que tínhamos acabado de ver, Jason tocou no assunto que as fofoqueiras de plantão (ele e Percy) queriam saber: o encontro. Sinceramente, pareciam duas hienas prontas para atacar um amontoado de carne apodrecida. 

Percy focou mais na relação que eu construí (?) com o pai de Will, sempre tecendo elogios ao tio, mas reforçando como às vezes ele podia ser exagerado e meio fora da caixinha, e por conta disso ele queria saber o que eu havia achado. Parecia preocupado com um possível desconforto meu e isso me fez sentir um quentinho no estômago que não tinha nada a ver com a minha gastrite ou azia. Eu acho que demoraria mais uns bons meses para me acostumar com mais do que Jason e Piper se preocupando comigo daquela forma. 

Enquanto eu contava sobre o que eu havia achado - sob um olhar minucioso de Will que parecia igualmente curioso, já que não havíamos tocado a sós no assunto “seu pai” ou em um futuro próximo “sogro” - o fio começava a esquentar e aparecer em sua forma mais viva. Era Percy, e ele parecia estar feliz por eu estar feliz (o que me fez levantar e abraçá-lo), afinal eu não tinha nada de ruim para falar sobre aquela noite - tirando as partes de imensa vergonha que eu me submeti e Will fez questão de contar com detalhes depois - e muito menos sobre Mark Apollo. Ele era estranho? Sim. Se fosse para descrevê-lo eu diria que era uma mente jovem (quase infantil em determinados momentos - como suas danças da vitória) em um corpo maduro, que se importava tanto com seu filho que a pedido dele soube respeitar os meus limites ao mesmo tempo em que se infiltrava pouco a pouco na minha bolha. Mark Apollo me fez sentir um pouquinho de inveja de algo que não sentia falta a um bom tempo… como era ter um pai. 

Jason se conteve um pouco em suas perguntas, sendo vago e deixando que os outros guiassem a conversa e eu sabia o que aquilo significava: interrogatório a sós. Após o assunto Mark Apollo ser finalizado, Will tomou as rédeas das respostas porque comecei a me sentir sonolento demais para raciocinar. Acho que ‘pesquei’ umas duas vezes e na terceira eu já estava acomodado em Will, as pernas sobre as suas e a cabeça apoiada em seu ombro. Não sei dizer quando ele fez isso, ou se havia sido eu que me aproximei, mas parecia tão natural que não me preocupei mais em acordar de uma quarta ‘pescada’. Fui acordado somente perto das onze da noite e com a louça já lavada, o quarteto se despedia. Graças ao cochilo eu me sentia menos zonzo quando me levantei para abraçar a todos. Primeiro as meninas, depois Percy - que sussurrou mais um pedido de desculpas em meu ouvido e eu me senti na obrigação de contar para o pobre coitado que era tudo brincadeira e eu não estava realmente bravo ou coisa do tipo, e em uma ação meio impulsiva lhe dei um beijo na bochecha - para então me arriscar com a Sra. O’Leary, que de forma muito educada pulou em cima de mim, mas não me lambeu, e por fim Will. Esse eu sinceramente não queria me despedir e sim trazer para o meu quarto para servir de travesseiro pelo resto da noite ou então guardar em um potinho para ter para sempre comigo aquele frasquinho de felicidade pura que ele representava. 

Ele deu o primeiro passo e me abraçou de uma forma que deixava bem evidente nossa diferença de altura, uma vez que dobrou seu pescoço até que seu rosto se escondesse nos meus cabelos. Era um abraço muralha de castelo, que te fazia sentir protegido por todos os lados - exatamente da forma que eu me sentia agora. Era caloroso, apertado e seguro. Ele depositou um beijo no meu pescoço antes de se afastar o suficiente para ficar cara a cara comigo e então me dar um último selinho de despedida. Último para ele, porque eu não estava satisfeito - e acho que o efeito do remédio tinha tirado um pouco da clareza que eu possuía e que estava gritando em meus ouvidos que existiam mais pessoas ali observando, e isso incluía as duas hienas - e me empertiguei para cima para mais um, dois… ou talvez cinco selinhos antes de o liberar para ir. Will tinha o sorriso mais bonito de todos os que eu já havia presenciado quando me afastei por fim - um sorriso relaxado e quadrado que chegavam em seus olhos e faziam arder o meu coração fraco de pessoa com a saúde extremamente frágil em diversos aspectos. 

— Tchau amor. – Isso saiu da minha boca. Percy e Jason emitiram um barulho esganiçado em algum canto da sala. 

— Ah, você torna realmente difícil a tarefa de ir embora. – Ele sussurrou divertido para mim e notei pelo canto do olho as hienas se aproximarem para tentar ouvir. – Boa noite amor. 

Três tiros diretamente no meu coração é como eu classificaria o efeito destruidor de Will Solace. 

Quando eles enfim se foram eu fui tomar um banho, e quando voltei para o meu quarto, já pronto para dormir, me deparei com Jason igualmente preparado. Depois de dividir uma king size, ter que dividir uma caminha de solteiro era bem desanimador. Deitamos juntos, mas não havia serie alguma preparada dessa vez, o que significava que Jason não dormiria em paz (e muito menos eu) enquanto não ouvisse da minha boca tudo que ele queria saber. Completamente sonolento eu compartilhei os detalhes de tudo, e levado pelo cansaço arrisco a dizer que talvez tenha compartilhado até demais - como a forma que meu estômago se revirava, meu coração acelerava e eu sentia vontade de sorrir só de pensar em um certo sorriso. O sono me deixava mais boiola do que eu já era. 

Em algum ponto, perto de adormecermos, eu toquei no assunto que eu queria abordar amanhã e não deixaria que ele escapasse mais.

— Você vai me contar amanhã o que está acontecendo. 

Seu rosto se contorceu, mas ele assentiu. Como eu já tinha chegado à conclusão anteriormente, o assunto definitivamente não era agradável. 


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Notas finais do capítulo

Olá amores!

Feliz ano novo a todos!
Espero que estejam saudáveis e protegidos dessa nova onda de gripes, rinites e covid que nos assola.

Gostaram do capítulo? Acredito que serei capaz de escrevê-los com mais frequência agora e terminar a história em breve xD

Um grande beijo



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