Sweet and bitter love escrita por Ka Howiks


Capítulo 22
“ se existe alguém que pode Resgatar sua fé no mundo, existe nós“


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente não me matem KKKK. Sim, demorei mais do que o previsto para escrever esse capítulo, porém não queria entregar qualquer coisa para vocês. Esse capítulo em questão é um dos mais especiais pra mim, e por essa razão foi um pouquinho complicado passá-lo para o “papel”. Queria que entendessem bem suas razões, principalmente por ser a conversa tão aguardada do nosso casal favorito. Por sorte, minha onda de criatividade voltou com tudo e aqui estou eu, trazendo mais um capítulo recheado para vocês.
Segunda coisa, os comentários simplesmente maravilhosos! Obrigada a todos e todas que tiram um tempinho para recomendar e comentar aqui, vocês são preciosos e tem um lugar quentinho no meu coração ♥
Agora deixo o restante para vocês kkkk. Tenha um dia incrível e boa leitura!



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Star City 2015

 

— Você tem certeza? 

 

Felicity estava sentada no sofá com os amigos em mais uma tarde cinzenta em Star City. Já haviam dois meses que estava morando com Ray, e embora a hospedagem do amigo fosse maravilhosa, a mesma estava incomodada por abusar tanto de sua bondade. Tomou uma decisão, e de certo modo, só não havia realmente feito o que queria fazer pela papelada que Laurel estava preparando, papelada que agora estava a sua frente, terminando de ser assinada.   

 

— Sobre o divorcio ou sobre outro assunto?- perguntou concentrada. Assinou seu nome no último ponto indicado e entregou os papéis a Laurel, voltando a se endireitar.

 

Quentin também estava presente, assim como Caitlin. Ambos pareciam preocupados, bem expressivos, já Ray, que se encontrava ao seu lado, permanecia sério, olhando para o chão. Felicity suspirou.

— Eu preciso disso, entendem?- Começou com dificuldade.- Não que eu esteja reclamando, vocês são minha família mas…- seus olhos marejaram.- Eu não consigo ficar mais nessa cidade.- os lançou um olhar angustiado.- Cada lugar dela me lembra Oliver e a vida que ele fingia ter comigo.- balançou a cabeça, limpando uma lágrima que teimava em cair.- Eu não aguento isso. Eu preciso saber o que é viver de novo, e não sobreviver como eu tenho feito aqui.

 

Caitlin também chorosa, abaixou o olhar. Quentin permanecia calado, e embora aparentasse sofrimento não ousou dizer uma única palavra, e Laurel, bom, Laurel não sabia o que dizer. Felicity buscou um olhar em busca de aprovação, quando encontrou Ray, que assentiu com a cabeça.

— Não vou dizer que não vou sentir sua falta.- a fez sorrir.- Mas se é o que precisa, mesmo que seja do outro lado do mundo, vá. Sabe que sempre terá o nosso apoio.

 

Seu sorriso a fez respirar aliviada. Olhou os demais, que agora a observavam.

 

— É claro que você tem que ir.- Quentin balançou a cabeça, irritado. Felicity pode notar que o mesmo se segurava para não chorar.- Mas precisava ser Nova York? Não podia ser Central City, National City ou até mesmo Gotham?- Felicity riu, se levantando para abraçá-lo. Quentin suspirou.- Vou sentir sua falta querida.

— Eu também vou sentir a sua.- o apertou, fechando os olhos.- Pai.-. Ergueu o rosto, encontrando seus olhos emocionados.- Sabe que é.

— E você também é minha filha.- sorriu, limpando seu rosto. Felicity se afastou, olhando para Caitlin.

— Não faça essa cara pra mim.- a advertiu.- Snow…

— Me desculpe se eu sou sensível e não quero que você vá embora.- falou aborrecida cruzando os braços.- É que…- sua voz falhou.- Eu vou sentir muita saudade.

 

A mesma se levantou e a abraçou, fazendo Felicity se desmanchar. Laurel as abraçou logo em seguida, a aconselhando, deixando claro que se precisasse de alguma coisa, sabia a quem procurar.

— Já falei com Watson. Parto semana que vem.- informou.- Mas quero que sejam discretos enquanto a minha partida.

— Não vai contar a Oliver?- perguntou Caitlin.- Felicity…

— E é exatamente por isso que Sara não deve saber.- a interrompeu, firme.- Sabe que ela contará. E eu só quero que ele saiba quando eu estiver pelo menos a dois mil pés daqui.

— Mas e quanto o divorcio?- perguntou Ray.

— Laurel cuidará disso, já temos tudo pronto.

— Querida, sei que ele fez muitas coisas…- disse Quentin cauteloso.- Mas não acho que partir sem avisá-lo seja uma boa ideia.

— Eu vou descobrir isso depois, mas agora está decidido.- suspirou.- Podem me abraçar mais uma vez?- sorriu, abrindo os braços.- eu amo vocês.

— Também te amamos.- respondeu Caitlin.- E só queremos que seja feliz.

— Eu sei

 

***

Dirigir até Central City não estava sendo uma decisão fácil. As últimas vezes em que esteve ali, que percorreu aquelas ruas, suas mãos estavam dadas ao homem que julgava agora ter sido seu pior erro. Havia um mês, um mês onde via seu nome brilhar no visor de seu celular, mas não atendia, um mês onde muitas noites teve uma vontade alarmante de largar tudo e correr até sua antiga casa. Um mês com o coração partido.

 

Com saudades.

 

Um mês sem saber de Oliver.

 

Pelo pouco que soube Oliver não estava bem, o que de certa forma a confortou um pouco, e na mesma proporção, a deixava angustiada, afinal das contas, havia sido um casamento de interesses.

 

Então por que ele deveria estar cabisbaixo?

Por que aparentava estar preocupado com ela?

 

Felicity suspirou, voltando a focar nas ruas ensolaradas. Thea também havia ligado, perguntando se estava bem. A conversa fora rápida, principalmente pela Queen mais nova ter tentado convencê-la a ver Oliver.

 

“ Ele gostaria muito de ver você”

 

Sorriu em tom irônico. Como alguém conseguia ser tão dissimulado? Sua atuação era tão boa que às vezes, somente às vezes, pensava que Oliver a amava, e que de fato estava sofrendo.

 

Mas isso era simplesmente impossível, concluiu tristemente.

 

Oliver não a amava, nunca a amou.

 

Chegava a duvidar se aquele homem algum dia amou alguém.

 

Mas o que Oliver sentia não a impedia de ainda sonhar com ele, de desejá-lo de volta, sentir seus braços a contornando, mostrando que estava segura e que tudo ficaria bem. Seu porto seguro estava em ruínas, e agora, naquele momento, ela mesma precisaria ser capaz e forte o bastante para aguentar as pancadas da vida.

 

Sozinha.

 

E bem longe de Star City.

 

Estacionou o carro em frente ao gramado verde, tentando a todo custo aparentar felicidade. Saiu do carro com uma sacola de presentes, caminhando até a porta. Deu dois toques e aguardou, endireitando seus óculos. Samantha apareceu, sorrindo sem deixar de abraçá-la.

— Will? Olha só quem está aqui!- gritou. Passos apressados desceram a escada.

— Lis!- a abraçou forte, o que a fez rir.- Eu estava com saudade.

— Eu também.- suspirou fechando os olhos.

— Onde está o meu pai?- perguntou animado. O sorriso de Felicity sumiu, e sem saber o que fazer olhou para Samantha, alarmada.

— Ele não pode vir Will.- explicou Samantha de forma doce.- Está muito ocupado, por isso a Felicity veio na frente.- trocaram um leve olhar.

— E eu trouxe presentes.- balançou a sacola, fingindo um sorriso

— Por que não abre na sala, Will? Enquanto eu e a Felicity fazemos um lanchinho.

— Ok.

O menino saiu, feliz com seu embrulho. Felicity respirou fundo, encontrando o olhar gentil de Samantha.

— Obrigada.- agradeceu.- Quando a avisei que viria deveria ter pensado melhor no que falar para William, acho que não é necessário contar a ele que eu e Oliver…- engoliu em seco.

— Não, ele não precisa saber.- apertou sua mão em gesto solidário.- Eu sinto muito mesmo Felicity.

— Não era pra ser.- deu de ombros.- Bom, deveríamos fazer algum lanchinho, não é?

 

Ambas preparam um suco rápido com alguns sanduíches. William a chamou para jogar vídeo-games, onde após seis partidas declararam empate. O dia ia se despedindo, dando sinais de sua partida com o céu alaranjado. Felicity encarou o relógio, suspirando fundo.

 

Estava na hora.

— Você gostou dos presentes?- perguntou o vendo folhear as revistas em quadrinho.

— Eu amei! São edições limitadas!- explicou eufórico, a fazendo rir.

— Fico feliz que tenha gostado.- seu sorriso sumiu. Se pôs de pé, pegando a bolsa.´- Acho que é hora de ir.

— Você vem semana que vem com o meu pai?- perguntou distraído enquanto se levantava. Felicity parecia ter perdido a capacidade de falar.- Você vem…- se calou ao encarar seus olhos, que começavam a ficar vermelhos.- Por que está chorando, Lis?

— Eu não estou não.- limpou o rosto, tentando a todo custo não deixar cair uma lágrima.- Eu só quero que saiba que…- sua voz falhou. Respirou fundo.- Só quero que saiba que independente de eu estar aqui ou não, sempre vou amar você.

— Por que está dizendo isso?- perguntou desconfiado.

— Porque quis dizer.- deu de ombros.- Pessoas falam que amam umas as outras, é normal. Nos filmes...

— Nos filmes as pessoas choram e dizem que amam uns aos outros quando…- seus olhos se arregalaram de repente, dando um passo para trás.- Você não vai voltar, não é?- perguntou em tom triste. Felicity se agachou, ficando do seu tamanho.- Se for por aquilo eu nem me machuquei. Você e o papai…

— Aconteceram outras coisas, Will.- falou com dificuldade.- Mas quero que saiba que mesmo eu estando longe vou sempre saber de você.

— Vou sentir sua falta.- murmurou a abraçando fortemente

— Também vou sentir a sua falta.

 

Com dificuldade se afastou, tentando parecer contente. William e Samantha a levaram até o carro, e os vendo acenar da janela, partiu arrasada. O choro segurado voltou com força, tanta que a fez parar antes de prosseguir. Tentou se acalmar, mas a medida em que pensava deixava isso um fator quase impossível. A tarde com William fora maravilhosa, e ao sair da casa teve um sentimento parecido ao que sentiu na última vez que viu Oliver.

 

Se sentia vazia.

 

Incompleta.

 

A dor era tamanha que a fazia respirar com dificuldade. Pegou o celular, e em um impulso discou o número tão conhecido.

 

“- Felicity?- sua voz a machucou mais ainda. Parecia agitado.- Lis?- um soluço a escapou.- Eu estou ouvindo você amor.

 

Pode perceber que a voz de Oliver também falhou. Permaneceram em silêncio, ambos de olhos fechados, apenas ouvindo a respiração um do outro.

 

“- Sei que ainda está aí. E me parece que não vai dizer nada, por mais que eu sonhe com a sua voz.- Felicity balançou a cabeça, forçando ainda mais os olhos a se fecharem.- Só quero que saiba que eu amo…”

 

A ligação fora finalizada antes que a frase em si fosse terminada. O telefone escorregou de suas mãos, e em um gesto exausto se encostou no banco, encarando o teto enquanto sentia sua respiração suavizar, e ao se olhar no espelho, notando sua figura completamente desolada prometeu a si mesma que jamais se permitiria sofrer assim outra vez.

 

Nem por Oliver.

 

Nem por ninguém.

 

***

 

Uma semana em que Oliver vinha encarando seu telefone diariamente. Claro que se assustou com a ligação de Felicity, e por um momento chegou a cogitar que a mesma queria conversar, no entanto não ouvira nada

 

Nenhuma palavra.

 

Por mais que rezasse por isso.

 

Tentou retornar, embora acabasse em caixa postal. Precisava saber de Felicity, pelo bem dela e do próprio, já estava começando a duvidar de sua saúde mental pela quantidade de vezes que ouvia pelo apartamento a voz da esposa. Não podia dizer que estava bem, porque não estava. Seus dias se tornaram repetitivos, em uma monotonia desgastante. Thea passara metade dos dias com o irmão, assim como a mãe, que sempre se juntava aos almoços, mas não havia nada a ser feito, Oliver não parecia sentir prazer em mais nada.

 

Usava apenas uma máscara.

 

Todos dos dias

 

O inferno de intermináveis dias

 

A ligação fora algo fora da rotina, e embora rápida, se sentiu conectado com Felicity outra vez. O barulho de sua respiração, o pequeno soluço que soltou ao escutar sua voz...Fechou os olhos, largando o telefone entre as pastas, não conseguia se concentrar.

 

Seu foco estava em Felicity

 

E na angústia que o atormentava desde a ligação

 

Algo o dizia que um acontecimento iria ocorrer. O que era não sabia, mas a sensação de tristeza era um sinal claro de que não seria uma coisa boa. Tentou ignorar os pensamentos, que obtiveram o costume de se tornarem profundamente deprimentes. John entrou na sala, trazendo consigo um copo de café.

— Obrigado.- murmurou, aceitando de bom grado.

— Lyla irá fazer um jantar, e queria saber se você gostaria de se juntar a nós.- Oliver suspirou. John vinha o fazendo convites constantemente, não que o mesmo aceitasse, se surpreendia por ter vontade de ir trabalhar.

— Eu…

— Não vai dizer não de novo, não é?- o interrompeu.- Lyla vai ficar chateada.- jogou baixo. Oliver revirou os olhos.

— Diga...Diga que eu vou.- falou a contragosto.- Mas não prometo demorar.

— Só de aparecer já conta.- sorriu. Seu rosto tomou uma expressão preocupada ao observar o amigo.- Tem dormido?- Oliver abaixou a cabeça. Dormir não havia se tornado seu momento favorito, especialmente por não conseguir dormir, e quando, por meros minutos, fechava os olhos acordava ofegante, e em total estado de alerta.

 

Via William.

 

Felicity

 

E a cena do assalto, que acontecia repentinamente.

 

Por sorte, Tommy apareceu, o dando brecha para pular a pergunta. O moreno parecia tranquilo como de costume, mas também preocupado com Sara e Oliver. Sua presença era outra na vida de Oliver que, embora sempre constante, agora o sufocava, mas entendia suas intenções.

— Que cara péssima Ollie.- bebericou seu café.- Está usando lápis ou as mulheres vão começar a invejar você pelo contorno preto natural nos olhos?- Oliver mostrou o dedo do meio.-Estamos no trabalho! Seja mais educado.

— Você não tem nada pra fazer? Alguma distração talvez.- sugeriu. Tommy sorriu ainda mais.

— Tenho, mas é de outra cidade. Desde meu episódio caótico com a agente Snow estou evitando marcar encontros onde elas possam se encontrar.- deu de ombros.

— Você não vale nada. Quando vai tomar jeito?- repreendeu John.- Ter um relacionamento sério é bom.

— Só vou fazer isso quando sentir que devo fazer, até que a mulher da minha vida apareça posso me divertir um pouco.- sorriu maliciosamente. John riu.

— Você e relacionamento sério parece equivocado pra mim.

— Estou falando sério. Mas no futuro, quando eu sentir essa coisa que vocês dois sentem quando estão…- sua voz caiu drasticamente no meio da frase, se tornando nada mais que um sussurro. Olhou para Dig preocupado.- Me desculpe, eu…

— Tudo bem Tommy.- sorriu Oliver, tentando passar conforto.- Dos nossos anos de convívio essa foi a coisa mais inteligente que você já me disse.- brincou, o fazendo relaxar.- Mas está certo, não acelere as coisas. Mas quando a encontrar…- suspirou pesadamente- não a deixe escapar.

— Que irônico dar conselhos quando você mesmo não os segue.- uma voz feminina conhecida os fez olhar para a porta.- Não aceitaria as sugestões do seu amigo, Tommy, dá pra ver claramente que não são confiáveis.- alfinetou. O loiro se pôs de pé.

— Laurel? - perguntou confuso.- O que faz aqui?

— Felicity me mandou. Temos assuntos a tratar.

 

A agente adentrou a sala com passos firmes, entregando uma pasta. Oliver analisou os papéis, até se deparar com a página que fez seu coração acelerar. Ergueu a cabeça, com os lábios entreabertos.

— Isso...Isso é…

— São os papéis do divorcio Oliver.- explicou sem paciência. Tommy e John se entreolharam, aflitos.

— Como conseguiu meus documentos? Você invadiu…

— Felicity sabia das informações necessárias, sabe? É normal pessoas casadas saberem uma das outras, claro que não estou me referindo a você.- Oliver trincou o maxilar.- O máximo que deve saber sobre ela é o registro no FBI.

— Ela a mandou aqui? Ótimo, mas isso não a dá o direito de aparecer e me ofender.- aumentou o tom de voz, irritado.- Não preciso de seus comentários maldosos para me sentir pior Laurel, como pode ver minha vida está uma merda.

 

A agente pela primeira vez baixou a guarda. Seu olhar direto mudou para algo diferente, mais suave...Oliver soube naquele momento que Laurel estava sentindo pena. Tentou se concentrar nas folhas, e ignorar sua presença. Não gostava nenhum pouco desse tipo de situação. 

  Minutos em completo silêncio se passaram. Oliver terminou a leitura, largando a pasta com brusquidão na mesa.

— Felicity parece ter pensado em tudo.- Cruzou os braços, irritado.- Eu não vou assinar isso.

— Oliver…

— Eu sei dos meus direitos, ok?- se justificou.- Uma audiência é tudo o que eu quero. Nós conversamos, eu preciso vê-la— suplicou, desesperado. Laurel engoliu em seco.- e mesmo após essa conversa ela não mudar de opinião tudo bem, então eu assino, mas por favor Laurel, não concorda que devemos conversar?

— Sim mas…- Oliver notou sua angústia.- Eu sou uma mera mensageira, ok? Só faça.Felicity já assinou.- indicou na ponta da folha.

— Laurel…

— Seu pedido é impossível.

— Por quê?- perguntou impaciente.- O que você está me escondendo? .- a agente se retraiu.- Responda Laurel!

— Felicity viajou hoje cedo, ela foi embora.

 

O mundo parou. Oliver ouvia as vozes de Tommy e John, como meros zumbidos distantes. Sua respiração se tornou lenta, e tudo o que prestava atenção era na frase de Laurel.

 

“ Ela foi embora”

 

Embora pra onde?

 

Se tornou exaustivo demais ficar de pé. Se sentou na cadeira, ainda em transe. Estava dando tempo até que a mesma estivesse pronta, mas nunca imaginou que a conversa entre os dois nunca aconteceria de fato. Tudo o que lembrava da última vez era de seu rosto, marcado por lágrimas, e os olhos, que o destruíram por completo. Naquela noite Oliver havia se sentido vazio, e agora…

 

Não sentia nada.

 

E nem tinha ideia para onde ir, sem rumo.

— ...Oliver!

 

O grito de John o fez despertar. Olhou para as três pessoas à sua frente, visivelmente preocupados.

— Ela foi embora.- repetiu devagar, ainda sem acreditar.- Simplesmente se foi?

— Felicity estava sofrendo muito, não suportava ficar aqui e lembrar…

— De mim.- completou. Laurel sorriu tristemente.

— Não complique as coisas, depois de tudo o que você fez ela merece isso.- indicou o ponto em branco, onde faltava sua assinatura.- Dê isso a ela, Oliver.

 

Seus olhos corriam da assinatura de Felicity até a lacuna em branco. Ela havia assinado.

 

Queria o divorcio.

 

Se lembrou do primeiro dia em que se conheceram. As divagações da esposa,  seu sorriso, a maneira que ficava vermelha, o apoio que o dava, a maneira compreensiva...E de repente se viu perdido, em meio a um mundo preto e branco em um dia chuvoso. Aquele podia ser seu futuro.

 

Mas não o dela

 

Saber que a causou dor era uma das coisas que mais odiava em tudo isso. Nada do que fez o agradava, mas ele poderia se acostumar a aquele mar tormentoso que era viver sem sua presença.

 

Felicity não.

 

Era merecedora da melhor das vidas.

 

Mesmo que pra isso nunca mais o visse.

 

E decido, preencheu seu nome. Soltou a respiração ao terminar, entregando a pasta fechada a Laurel.

— Fez uma boa escolha.- sorriu. Seus lábios se entreabriram.- Oliver, eu sinto muito...Mas tem mais uma coisa.- seja lá o que fosse, Oliver pode notar que aquela tarefa a incomodava muito.

— Acabe logo com isso.

 

Uma pequena caixinha foi entregue. Não precisava ser inteligente para saber do que se tratava. O loiro em um gesto automático a pegou, e se encostando na cadeira, sem saber ao certo o que sentia, fixou os olhos na pequena caixinha, a girando em seus dedos.

— Mais alguma coisa?- perguntou, sem olhá-la.

— Era só isso.- respondeu Laurel.

— Ela falou de mim?

— Você não vai querer ouvir.- Oliver assentiu, soltando um suspiro profundo.- Bom, é isso. Tenham um bom dia e…- seu olhar se encontrou com o do loiro.- Por mais que eu não goste de você dá pra ver que está sofrendo. Sinto muito.

 

A agente saiu, lançando um aceno rápido a John e Tommy. Oliver permaneceu calado por um tempo, até que não aguentando mais sentir olhares piedosos, indicou a porta.

— Preciso ficar sozinho.- pediu, os amigos assentiram prontamente.

— Estamos com você, pra tudo.- disse John.- Qualquer coisa nos chame.

 

Com o baque da porta, Oliver abriu o objeto, retirando a pequena e delicada aliança da esposa. A comparou com sua,que ainda permanecia em seu dedo esquerdo, teimando em dizer que as coisas se resolveriam, bom, se resolveram.

 

Não como ele queria.

 

Mas do que adiantava? Mesmo se ajoelhasse a mesma não ficaria, sabia como era teimosa, estava machucada.

 

Por sua culpa.

 

Talvez, ousou pensar, talvez esse no final das contas fosse o seu castigo, uma forma de punição que a vida havia lhe dado por tudo o que fez, mas ainda assim queria vê-la.

 

Encontrá-la

 

E sacudir Laurel até que a agente revelasse onde Felicity estava

 

Mas e depois? Como seria? Felicity de fato o perdoaria se conversassem ou o afastaria? Essa conversa, por mais que clamasse desesperadamente, só era um cenário em sua mente, que especulava o reencontro.

 

Só poderia imaginar o momento

 

Mas isso não mudava o que sentia.

 

E com a mais dolorosa das sensações, guardou o anel, tendo que encarar a dura realidade. Felicity não era mais sua esposa, o mesmo havia colocado William em risco, que pelo o que Samantha o contou ainda tinha pesadelos referentes a aquela noite.

 

Por sua culpa.

 

Poderia ter impedido

 

Mas não fez nada

 

Trincou o maxilar, em repulsa de si mesmo. E sem contar que ainda haviam os agentes do FBI, que não o esqueceriam tão cedo. Eram problemas demais.

 

Talvez fosse a hora de partir também.

 

***

Atualmente

 

Felicity permanecia em silêncio, andando de um lado para o outro. Oliver, encostado à parede, assistia sua figura ansiosa, que parecia disposta a continuar o ignorando, e incomodado demais com sua reação limpou a garganta, cruzando os braços.

— Felicity…

— Será que vão demorar muito para nos tirar daqui?- fingiu não ouvir, caminhando até a porta.- Se tentarmos empurrar…- seu esforço foi em vão, e ainda decidida, começou a chutá-la.- Tem que haver um jeito, tem que…

— Vai se machucar.

— ...alguma forma de sairmos…

— Felicity.- a chamou outra vez, vendo sua figura descontrolada.- Felicity!- segurou em um movimento rápido seus pulsos, a impedindo de socar a parede.- Chega.

 

Seus olhares se encontraram, e as pupilas de Felicity pareciam ter voltado a ter foco outra vez. Oliver via sua angústia, e após a soltar, notando que estava mais calma ficou a sua frente, aguardando. Felicity arqueou as sobrancelhas.

— O que é?

— Não se faça de desentendida, por favor.- a viu bufar.

— Eu não quero falar sobre isso, Oliver

— Bom, sinto muito, mas isso não está em negociação aqui.- rebateu irritado.- Nós vamos conversar.

— Não é conversa se só uma pessoa falar.

— Não torne as coisas mais difíceis.

— Isso não podia ter acontecido.- lamentou, esfregando o rosto.- Inferno!

— Sinto muito que minha presença seja tão repugnante, mas infelizmente estamos presos, então vai ter que se acostumar.- disse chateado. Felicity entreabriu os lábios.

— Eu não disse isso…

 

“- Oliver? Felicity? Alguém na escuta?- chamou Curtis, Felicity suspirou e abriu sua linha.- Amém, como estão?”

 

“- Até o momento bem.- olhou para Oliver, se certificando que o mesmo não estava machucado.- Como é nossa situação?”

 

“- Estamos estudando. Roy entrou para me ajudar enquanto John ficou em seu lugar, para se passar pela segurança e a impedir de vir aqui. Tommy fez o mesmo e está monitorando nosso andar.”

 

“- Certo. Já tem uma ideia do que pode ter acontecido?”

 

“- Alguma coisa aconteceu com o sistema, estou tentando descobrir o que é. Mas por enquanto…”

 

“- Ficamos presos.- completou Oliver.- Nos informe qualquer coisa, ok?”

 

“- Pode deixar chefinho.”

 

A ligação foi encerrada. Oliver se sentou no chão, ao lado dos pés de Felicity e suspirou, cansado.

— Parece que vamos passar um longo tempo aqui.

— Vou procurar outra saída.- Oliver sorriu com sua teimosia, e a forma nada discreta de se esquivar do assunto.

— Claro, assim que achar uma forma de atravessar essas paredes me avise.- ganhou um olhar rabugento.- Só estou dizendo.- levantou os braços.

— Muito engraçado.- disse irônica, colocando as mãos na cintura.- Temos que sair daqui.- o olhou angustiada.- Algo me diz que isso não vai acabar bem.

 

***

— Isso não vai acabar bem, não é?- perguntou Roy nervoso..- Temos que tirá-los de lá!- esbravejou. Seu corpo voluntariamente se atirou à porta. Ray se ergueu do chão e o segurou, tentando acalmá-lo.

— Roy, se controle!- falou firme, o segurando pelos braços.- Estamos tentando de tudo.

— Mas…

— Tá tudo bem aqui?- perguntou Tommy entrando na sala em alerta.- Ouvi um grito, e se não querem chamar atenção é melhor falarem baixo.

— Roy está um pouco nervoso, é só isso.- esclareceu Laurel, o lançando um olhar acolhedor.- Vamos tirá-la de lá, mas precisa ser firme.

— É louvável sua confiança.- murmurou Curtis. Olhou para trás ao sentir o olhar de repreensão dos amigos.- me desculpe, estou tendo dificuldade com o sistema.

— Por que o alarme não tocou?- perguntou Caitlin.

— Eu não sei.- suspirou.- Aparentemente houve alguma pane, mas estou estudando os danos ainda.

— E esses danos lacraram a porta?- deduziu Laurel. Ray assentiu, um pouco cabisbaixo, o que a deixou em alerta.

— Roy, por que não vai até John e diga que estamos o chamando?- pediu Laurel sem tirar os olhos de Ray.- Por favor.

— Você não pode simplesmente ligar…

— Não, eu preciso que você vá lá, agora.- o interrompeu.- Há poucas pessoas da segurança aqui porque acreditavam que teria uma equipe, precisam nos ver. Agora vá.

 

O garoto, embora contrariado, a obedeceu. Tommy se certificou de que não havia ninguém atrás da porta e retornou, abandonando a postura confiante. Olhou para Curtis e Ray assustado. Caitlin limpou a garganta

— O que não querem nos contar?- foi direta, e ao notar a hesitação os o lançou um olhar duro.- Agora não é o momento de segredos.

— Ray…- chamou Laurel.-  Fale logo!

— São só dúvidas, mas aparentemente algo fritou o sistema de segurança.- disse um pouco acuado.- estamos tentando descobrir o que exatamente fez isso, para assim termos mais informações…

— E saber de fato a nossa situação, e como isso afetou o cofre.- completou Curtis.- Mas temos uma suspeita, e não é boa.

— O que é?- perguntou Tommy.

— A pane mexeu diretamente com a área da sala secreta, o que pode ocasionalmente…

— Direto ao ponto.- interrompeu o moreno

— O sistema de ventilação.- disse Ray.- Como é para a armazenagem de quadros o ambiente precisa ter algum tipo de frescor para não danificar as obras, e essa é a sorte deles, porque ficar trancados em uma sala de metal não é bom.

— Não entendi a parte ruim nisso.- disse Caitlin confusa.

— Se estão danificadas, uma hora vão parar, e não sei quanto tempo vamos levar para tirá-los de lá. O que significa…

— Vão ficar sem oxigênio.- completou John, que estava parado à porta.

— O que vamos fazer Dig?- perguntou Ray angustiado.- Deveriamos avisá-los…

— Ainda não, como mesmo disseram, é uma suspeita. Não vamos deixá-los mais nervosos do que já estão.- os fez assentir.- Vamos manter a calma, Felicity e Oliver precisam de nós mais do que nunca.

 

***

O clima dentro da sala não havia melhorado conforme as horas passavam. Felicity teimava em que deveria haver alguma forma de abrir a porta por dentro, mas as paredes lisas e brancas como uma nuvem desfazia de sua hipótese a cada tentativa inútil de chutar uma das paredes. Oliver havia se voluntariado para ajudá-la, mas ao notar que estavam perdendo tempo voltou a se encostar na parede, observando a figura ansiosa. Iriam conversar, precisavam conversar, e embora Oliver fosse um homem extremamente paciente quando se tratava de Felicity, seu comportamento infantil havia sido o estopim para o mesmo chamá-la.

— Se já parou de tentar fazer um buraco no chão- apontou para sua figura que andava de um lado para o outro- acho que chegou o momento de conversarmos.

— Oliver…

— Nada de “não” Felicity.- a cortou.- Nós vamos ter essa conversa, antes que você decida fugir de novo.

— Eu não fugi.- rebateu incomodada. Um sorriso irônico surgiu nos lábios de Oliver.

— Não? Ah, claro, me desculpe.- Felicity revirou os olhos com sua encenação..- Pensei que pegar um avião e enviar sua aliança com um pedido de divorcio sem ao menos falar comigo fossem exemplos disso. Realmente me desculpe pela minha interpretação precoce- a deixou sem palavras por um instante.

— Eu…- engoliu em seco, fechando os olhos com força.- Eu não quero falar disso.

— Posso estar parecendo um chato, amargurado, mas sinto muito, nós vamos ter essa conversa.- disse firme.- Lhe dei espaço Felicity, e juro, juro que tentei com todas as minhas forças manter o acordo, mas isso mudou. Depois de ontem…- suspirou desesperado.- Depois de ontem eu vi o quanto eu senti sua falta, e o quanto eu ainda amo...

— Por favor, não termine essa frase.- ergueu a mão, tentando a todo custo controlar a ardência em seus olhos.-  Vai complicar mais as coisas.

— As coisas já são complicadas, a questão aqui é quando você vai parar de ignorá-las e tentar resolvê-las como uma pessoa adulta.

 

Oliver não queria ser grosso, mas era a única forma de mostrar a Felicity o quão injusta estava sendo. Sua frase a atingiu em cheio, no entanto, nada foi dito. Assistiu seus lábios abrirem e fecharem diversas vezes, até que em um resmungo andou até a porta.

— Não tem o direito de me julgar.- murmurou sem olhá-lo.- Especialmente depois de tudo o que você fez.

 

Seu contra argumento foi guardado, já que no momento seguinte a voz de Curtis pelo comunicar quebrou a bolha de tensão. Voltaram a ligar seus microfones, aguardando as próximas notícias.

 

“- E então? Como estão as coisas aí?- perguntou Oliver, se pondo ao lado de Felicity.- Como a equipe está?”

 

“- Bem, estamos revezando as pessoas na sala para não chamar atenção.- a falta de animação em sua voz os deixou em alerta.- Temos notícias, mas não são boas.”

 

“- Diga.”

 

“- Eu e Ray conseguimos invadir o sistema de segurança do museu, juntamente com o de ventilação, e descobrimos uma coisa.”

 

“- Que coisa?- perguntou Felicity.- Fale logo Curtis, está me deixando ansiosa!”

 

“- Ray na linha. Uma pane causou uma série de danos nos sistemas, e estamos tentando rastrear a origem, mas nesse percurso descobrimos algo sério.- suspirou pesadamente.- Um desses danos atingiu completamente a área de ventilação da sala. O que significa…

— Sem oxigênio.- completou Felicity, xingando baixo.

 

“- Vocês têm mais ou menos cinco horas até que todo o ar restante expire. Estamos em um impasse.- disse Curtis, sem saber ao certo como prosseguir.- Poderíamos esperar para o responsável da sala chegar, já que ele teria a senha exata para abrir a porta, no entanto o museu abre daqui a seis horas. Se esperássemos…

 

“- Até lá morreriamos sufocados.-  disse Oliver. Apertou uma das têmporas, como se o ajudasse a pensar.- Quais são as outras opções?” 

 

“- Tommy sugeriu que explodissemos a parede, o que não seria algo fácil, já que é composta por concreto e aço altamente resistentes.- falou Ray.”

 

“- Estamos tentando descobrir uma forma de destravar a porta, mas com o problema no sistema está difícil abri-lo e descobrir a sequência…- falou Curtis nervoso.- Se quiserem explodir faremos isso, mas se não,  tentamos, contra o tempo, descobrir o código de sequência. A decisão é de vocês.”

 

Felicity e Oliver se entreolharam profundamente. Se aceitassem, colocariam a missão em risco, além da danificação de obras e da fuga da quadrilha ao saber do ocorrido. Mas se dissessem não....Se negassem poderiam correr o risco de morrer sufocados. Era uma escolha difícil.

 

Precisavam confiar na equipe

 

E sem mais dúvidas assentiram um para o outro.

— Confiamos em vocês.- disse Oliver.- Vão achar um jeito de hackear o código.

— Sabemos que conseguem.- encorajou Felicity.- Façam.

 

A linha tornou a ficar muda. Ambos ainda se encaravam, como se vissem o medo um do outro através de seus olhos.

— Acha que vão conseguir a tempo?- perguntou, receosa.

— Vão conseguir. Tem que conseguir.- apertou uma das mãos.- Vamos ficar bem.

 

***

O tempo parecia correr devagar dentro da sala. Era como uma zona neutra, uma calmaria antes da tempestade. Sabiam que algo ruim estava vindo, mas quando e como eram dúvidas frequentes. A cada evolução alguém os chamava, perguntando se estavam bem. John tentava acalmar todos do lado de fora, e passar confiança a Oliver e a Felicity, mas o mesmo parecia prestes a se esgotar. Se do lado de dentro o relógio a cada badalada era devagar, fora tinha o efeito totalmente oposto. Cada minuto contava, e cada volta completa dos ponteiros deixava os agentes aflitos, pela diminuição de chances para tirarem os amigos com vida.

— As bombas serão somente em último caso.- repetiu Sara pelo o que parecia a décima vez.- Não escutou o que Felicity e Oliver disseram?

— Acho que o julgamento deles não deveria ser levado a sério, especialmente por estarem lá dentro e não terem ideia da real situação aqui!- rebateu Roy, irritado.- Será que alguém também concorda?

— Todos nós estamos preocupados.- falou John.- Mas precisamos manter o foco Roy, a vida deles depende de nós. Acha que não estou com medo?- perguntou.- Essa equipe é a minha família, e se algo acontecer com eles eu jamais vou me perdoar, mas precisamos ser firmes.- segurou em seu ombro.- Porque só assim as coisas darão certo.

 

Roy assentiu, um pouco cabisbaixo. A porta fora aberta, revelando uma Sara e Caitlin cansadas, carregando uma mala grande enquanto Tommy vinha às acompanhando. Colocaram com delicadeza o conteúdo no chão, enxugando as testas.

— Buscamos, tá tudo aí.- disse Caitlin.- Equipamentos de segurança, kit primeiros socorros…

— Os explosivos e outras coisas.- completou Sara.- Algum progresso?

— Nada.- respondeu Ray, desanimado.- É como se houvesse algo invisível protegendo o sistema, e nós como cegos não vemos!

— Amor, vocês estão fazendo de tudo.- Laurel tentou confortá-lo.- Talvez algo dentro da bolsa nos ajude.

— E se tentarmos o maçarico?- Tommy o tirou da bolsa.- Podemos tentar na porta…

— Último caso…

— Precisamos saber se funciona primeiramente.- cortou a fala de Curtis que assentiu, contrariado.- Com licença.

 

Tommy pegou os óculos protetores e se encaminhou até a porta. Agachado, ligou o maçarico, assistindo as chamas aquecerem o metal, que não esboçou mudança alguma, embora um cheiro estranho, que se tornava cada vez mais forte fosse predominante.

— Espera…- Curtis, que prestava atenção no cheiro arregalou os olhos, principalmente ao notar a proximidade em que o maçarico estava da parede ao lado.- Tommy sai daí, agora!

— Por quê? Acho que finalmente…

— Saí daí!

 

O moreno iria protestar, mas ao sentir seu corpo ser puxado para trás com força se calou. O aviso de Curtis fez todos correrem para trás, a tempo de fugir das pequenas chamas de fogo, que tão rápidas como fogos de artifício, brilharam e sumiçaram. A explosão havia sido pequena, silenciosa, mas forte o bastante para atingir um pouco do braço de Curtis,que fora atingido no lugar de Tommy. O mesmo o encarava boquiaberto, ainda em choque.

— Nada de bombas.- disse Curtis, se sentando no chão.- Ia ser um desastre, ainda bem que vimos isso.- assoprou seu machucado.- Ai como arde!

— Deixa que eu cuido pra você.- Caitlin, que saia do transe assim como os demais se levantou, pegando o kit.

— Que merda foi essa?- questionou Tommy.- Eu quase morri!

— Estaríamos todos mortos se tivéssemos usado as bombas,- respondeu Ray, que havia se agarrado a Laurel, a fim de protegê-la.-  Foram as tintas.

— Como é que é?- perguntou Sara, também confusa.

— Eles devem ter feito alguma espécie de restauração. O museu é antigo, precisa de constantes reparos para ficar de pé em pleno século vinte e um.- explicou.- A tinta usada na pintura das paredes não deve  ser a base de água. Claro que há algumas com esse tipo de base que também podem causar esse efeito. Mas pelas chamas altas...

—  Ela solta um solvente, produto inflama...Aí!- gemeu Curtis ao sentir Caitlin enfaixar seu ferimento.- Inflamável, em outras palavras, elas tem uma substância que perto do fogo faz “bum”.

— Como alguém vende isso para uma residência? Eu ia morrer, por a porcaria de uma tinta?- Tommy quase gritou, indignado.

— Há muita coisa perigosa na indústria, se você soubesse não consumiria a metade de coisas que você come.- disse Ray, o fazendo fazer careta.- Bom, acho que não devemos usar fogo aqui então.

— Cacete.- xingou John.- Vamos pensar em alguma coisa, mas nada de explosivos.

— Talvez haja outro modo, se não conseguirmos desabilitar o sistema, claro.- Roy comentou pensativo.- Só espero não estar errado.

 

****



  Felicity, após muito tempo em pé, decidiu que a melhor coisa a se fazer era sentar. Encarava os pés, que batiam um no outro, tentando não olhar para Oliver, que a encarava descaradamente. Sabia o que estava fazendo, estava a provocando, e de certo modo estava certo. Ele queria conversar.

 

Mas Felicity não

 

Especialmente por conta das recentes vinte e quatro horas

 

Ainda sentia Oliver em si, seus lábios correndo por sua pele, as mãos a apertando...Reprimiu o desejo, fechando os olhos. Mas seu pensamento, traidor, fora além, se recordando das palavras

 

“Eu também amo você”

 

Era claro que amava, mas a forma como tudo se encerrou, em uma partida repentina e a mudança de cidade...Havia ajudado Laurel a guardar a aliança, algo doloroso, mas necessário. Nunca imaginou como Oliver reagiria a isso, mas ali estava ele, lhe cobrando uma conversa que sabia que merecia, mas que se negava a dar.

 

Se sentiu egoísta

 

Realmente fugira

 

Mas admitir isso em voz alta era complicado demais.

 

Limpou a garganta, indicando que iria falar. No entanto, ouviram um barulho no lado de fora, o que os fez se entreolharem, assustados.

— O que foi isso?- Felicity sussurrou. Oliver permaneceu em silêncio, aguçando os ouvidos.

— Devem ter tentado explodir alguma coisa, que provavelmente deu errado.- suspirou, cansado. 

 

Estavam em pontas opostas, o que os deixava frente a frente. Felicity o encarou, e com um grande esforço, conseguiu falar.

— Não queria ser egoísta, e sei que estou errada em não querer falar com você.- começou sem jeito.- Mas…- sua voz falhou, em busca de palavras.- É muito doloroso Oliver.

 

Disfarçou a lágrima que descia solitária por seu rosto, o virando para o lado. Suspirou, até que se sentisse confiante outra vez, e voltou a encará-lo, encontrando seus olhos azuis, estranhamente compreensíveis.

— Eu não a julgo por querer ir embora, eu entendo.- engoliu em seco.- Como julgaria se fiz o mesmo pouco tempo depois?- sorriu amargo.- Era insuportável permanecer em Star City. A cada esquina eu sentia seu cheiro, e a esperava aparecer. Mas você não voltou. 

— Eu precisava ir.

— Eu sei.- concordou, com os olhos pouco marejados.- Só acho que poderíamos ter feito as coisas diferentes.

— Fizemos o que tínhamos que fazer.

Eu sei.— repetiu angustiado.- Mas isso não quer dizer que foi justo.

— O que não foi justo? Você fazer de mim a sua esposa de mentirinha ou não contar sobre a A.R.G.U.S? A lista é extensa...

— Eu nunca fingi sobre meus sentimentos Felicity.- disse após um tempo.- Fiz muitas coisas erradas, e as assumo, mas me casar com você, ter uma vida com você e amar você foram sempre as partes às quais eu não me arrependo.- disse firme, a lançando um olhar profundo.- Não foi só você que perdeu algo naquela noite, Lis. Pode não acreditar em mim, dizer que sou um sujo, calculista, não vou dizer o contrário, mas não me peça pra dizer que eu não amo você.

 

Sua declaração a pegou de surpresa. Não soube o que dizer, e nem se pensasse demoraria séculos até ter algo em mente. Oliver, notando sua situação continuou.

— Nosso casamento…

— Não foi real.

— Foi lindo. Você fica sexy de branco.- Felicity sentiu suas bochechas queimarem.- O que me necessitou um enorme autocontrole para focar no cerimonialista ao invés de arrastar você pra longe.

— Aquele cara falou muito mesmo, né?- se permitiu rir, Oliver a acompanhou.- Parecia que não ia acabar nunca.

— Sim, mas depois foi maravilhoso.- sua mente vagou até aquela noite no pequeno salão e com o número de convidados reduzidos.Nem Felicity, nem Oliver queriam o casamento do século, como Moira sugeriu.- Seu batom vermelho estava divino.

— Foi uma boa noite.- sorriu, também nostálgica.- Dançamos muito. E em uma das nossas danças eu quase cai em um garçom.

— Mas eu peguei você a tempo, evitando o desastre.- Felicity sorriu, mas logo sua felicidade desapareceu.

— Sabe o que mais me dói?- perguntou o encarando abertamente pela primeira vez.- Quando lembro de nós dois juntos, todas as memórias ficam manchadas de dúvidas sobre se aquele homem era realmente você, ou se era uma farsa do agente da A.R.G.U.S que eu vi na operação. Saber quem é você, principalmente depois do nosso reencontro sempre foi um dos maiores mistérios pra mim.

 

Felicity encarou seus olhos azuis com tanta atenção que parecia estar diante de um sistema criptografado pelo serviço militar. Havia pontos que entendia, como os números, que embora embaralhados, eram familiares, mas outros...Sim, Felicity os conhecia

 

Mas será que não estava enganada?

 

O homem que amou e continuava amando estava realmente à sua frente? E se fosse, como confiar outra vez?

 

Eram perguntas demais

 

Saiu de seu raciocínio ao notar o discreto sorriso nos lábios de Oliver.

— O que foi?

— Você falou. Disse como se sentia. Doeu, claro que dói.- sorriu tristemente.- Mas você disse, não me deixou em completo silêncio como tem feito nesses últimos anos. Foi bom.

 

Felicity abaixou o olhar, encarando um ponto qualquer nas paredes. O único som que ecoava pela sala eram suas respirações constantes, que indicavam que não estavam sozinhos. 

— Quem sou eu…- ouviu Oliver murmurar sozinho, seus olhares se encontraram.- Não é fácil dizer quem nós somos. Há pessoas que levam uma vida inteira e mesmo assim sabem apenas fragmentos de si mesmos...- comentou pensativo, escolhendo as palavras.- Mas se você quiser- a olhou- posso tentar contar alguma coisa.

— Como...?

— O que quiser. Basta perguntar.

 

Felicity endireitou a postura, segurando a ponta do queixo enquanto pensava. O que queria saber de Oliver?

 

A verdade— uma voz sussurrou. Balançou a cabeça, deveriam começar com algo mais fácil.

— Você serviu o exército, certo?- Oliver assentiu.- Como caiu nas garras da Waller?  

— Eu estava em uma missão de campo, a notícia da morte do meu pai havia me deixado muito abalado, principalmente por não ter me despedido, e não ter dado o apoio que minha mãe e Thea mereciam. Eu deveria ter estado lá.- se interrompeu, com o olhar perdido em memórias. Felicity notou seu desconforto, e a forma quase odiosa que falava de si mesmo.-  E então, em um dia, interroguei um miliciano, que Waller estava interessada. Ela ficou encantada com minhas “habilidades de persuasão”, e me fez um convite.

— Cheio de privilégios, suponho. Eles sempre fazem parecer o emprego dos sonhos.  

— Algo do tipo.- lançou um pequeno sorriso.- Esses privilégios mascaram os custos que teremos que pagar em campo. A guerra corrompe o homem, destroça nações, e é tão corrosiva que no final nos perguntamos quem realmente venceu.- Oliver havia voltado a seu estado reflexivo. Podou alguns pontos, indo direto ao que Felicity havia perguntado.- Bom, ela fez a grande oferta e eu aceitei. Claro que no começo foi ótimo, muito melhor do que o batalhão que eu estava, mas logo surgiram os problemas.

— Que você lidou muito bem, se tornou um agente exemplar.

— Aprendemos com o tempo.- sorriu.- É essa a sua pergunta?

— Parece desapontado.

— Não diria desapontado, mas esperava outra pergunta.

— Sobre o que exatamente?

— Nós.- o coração de Felicity acelerou.- Nosso tempo de casados...

— Já tenho minhas conclusões sobre isso.

— Precipitadas.- Oliver arqueou uma das sobrancelhas.- Muito precipitadas.

—Tá.- concordou em tom sarcástico.- Então me diga, em nosso tempo de casados, agente Queen- o viu revirar os olhos com o chamado- você realmente estava vivendo aquela vida? Ou era só mais uma situação que sua missão havia lhe colocado?

 

Oliver entreabriu os lábios, pensando em como responder. Havia a provocado, sabia disso, mas responder e tentar fazê-la enxergar e entender o que realmente sentia era crucial. Algum erro de interpretação e tudo estaria perdido.

 

Suspirou, tentando pensar, mas nesse meio tempo notou que o ar parecia pesado. Estranho, não havia notado até o momento o quão lento seus pulmões pareciam funcionar...

— Oliver?- a voz de Felicity o despertou.- Está tudo bem?

— Sim. Eu...Acho que preciso ficar de pé.

 

Sua irritação com Oliver desapareceu, dando lugar a preocupação. O viu ficar de pé, encostando a parede. Seus olhos se fecharam, concentrados na respiração.

— Está começando a ficar sem ar, não é?- não respondeu.- Oliver…- se aproximou, segurando em seu braço.

— Estamos aqui há quanto tempo?

— Umas duas horas, talvez um pouco mais…- seu olhar se atentava ao rosto do loiro.- Tenta não falar muito, ok? Vou entrar em contato com o time…- Oliver a segurou, impedindo que saísse. Seu olhar, tão intenso, a deixou sem palavras

— Temos uma conversa pra terminar.

— Podemos…

— Não, tem que ser aqui, porque no segundo em que aquela porta abrir...- apontou.- você vai embora, e eu vou perder você, para sempre.- sua angústia, misturada a um rosto cansado era visível.- Então eu preciso falar, eu…- engoliu em seco ao sentir seu corpo pesar, e de repente, as paredes girarem.- Eu…

— Oliver!

 

***

Os agentes haviam se dispersado mais uma vez, a fim de manter as aparências. John, Tommy e Sara  estavam na entrada da frente, ajudando Roy com suas misturas.

— Ácido clorídrico. Você quer usar ácido clorídrico para derreter o aço?- Perguntou Sara, preocupada ao notar os amigos mexendo em substâncias químicas.

— É a única forma de fazermos isso sem explodi-los, o tempo está se esgotando.- falou John, que começava a ficar preocupado.-  É uma boa você ter trabalhado com ladrões de cofre.

— As experiências servem alguma hora.- sorriu Roy.

— Curtis e Ray conseguiram alguma coisa?- perguntou John.

— Nada.- Tommy resmungou.- Isso tá começando a ficar chato. Cuidado aí!- repreendeu Roy que quase havia derrubado o líquido em seu sapato.- Se estamos fazendo isso aqui fora é justamente pra não matar alguém.

— Uma explosão por dia é o recomendado.- Roy, que embora nervoso, tirou um tempo para provocá-lo.- Curtis vai te cobrar isso pelo resto da vida.

— Ele teve queimaduras de segundo grau, vai sobreviver.- deu de ombros.- Se houvesse alguma coisa para nos proteger do fogo, como um dispositivo certo que evitasse esse tipo de tragédia…- seus olhos se arregalaram.- Cacete, o dispositivo!

— Você quer parar de gritar?- Sara o repreendeu.- Vai chamar todo mundo…

— O dispositivo!- gritou mais uma vez, animado.- É isso! Acho que sei o que os deixou presos. Preciso avisar o restante, continua a poção mágica aí Harper!

 

***

 

No momento em que viu Oliver desmaiar diante de seus olhos uma dor inexplicável tomou conta de Felicity. Fosse por desespero ao tê-lo desacordado em seus braços, ou pelo fato de estarem completamente presos e sem conseguir sair para ajudá-lo...Seu peito estava apertado, e as lágrimas, incansáveis que desenhavam seu rosto a faziam companhia. Havia ligado para Caitlin, e com a ajuda da amiga fez o que pode para reanimar Oliver, que após alguns minutos despertou, assustado. Caitlin explicou que tonturas eram um sintoma comum com a medida que o ar ficava escasso, e que precisavam economizar, já que pelo o que descrevera, o cálculo sobre o oxigênio estava errado. Sabia que estavam fazendo tudo o que podiam, mas naquele momento sua vontade era de arrombar a maldita porta e levar Oliver imediatamente para um hospital. Isso era o que importava

 

Não ligava para a missão

 

Nem para ela mesma

 

Somente com Oliver

 

Porque se o perdesse..Tentou não pensar, ignorando o bolo em sua garganta e os olhos marejados. Oliver estava sentado ao seu lado, aparentemente bem, tentando entender o que de fato havia acontecido. 

— Onde havíamos parado?- sua pergunta a fez encará-lo, confusa.- Sobre nossa sessão de perguntas.

— Francamente Oliver.- bufou, revirando os olhos.- Caitlin disse que temos que poupar ar, explicou que você desmaiou exatamente por conta disso, e ao invés de fazer o que ela recomendou você quer conversar?

— Sim, eu quero.- Oliver sentiu seu olhar afiado, como se fosse matá-lo.-  Não faça essa cara para mim, Lis.

— Não estou fazendo cara nenhuma.

— Sério? Porque essa veia aqui- ergueu a mão, colocando seu dedo na testa de Felicity.- parece que vai explodir a qualquer momento.- sua vontade era de rir, mas foi tomado por uma tosse. O semblante de Felicity mudou para preocupação.

— Sou eu quem fala muito, e justamente hoje você decide trocar os papéis?- brincou, sorrindo de canto.- Tem que descansar, Oliver. Nós podemos…

— Não podemos, você mesma disse isso mais cedo.- Felicity sentiu sua boca amargar, arrependida sobre as palavras.- Então eu tenho que fazer isso, agora.- a olhou firme.

— Não vai desistir, não é?

— De você não, não enquanto houver chances. Somente se você quiser que seja assim.

 

O tom familiar em sua frase a fez franzir as sobrancelhas. Não era a primeira vez que ouvia algo daquele tipo, e a julgar pelas últimas vinte e quatro horas era uma grande coincidência. 

 

“ Somente se você quiser”.

 

Uma escolha complicada, mas que precisava ser tomada.

 

E só dependia dela

 

Será que havia escolhido a que traria mais dor?

 

Olhou para Oliver angustiada diante de mais uma tosse, e ao notar que o mesmo não parecia bem o puxou, fazendo com que deitasse a cabeça em seu colo, acariciando sua barba. O mesmo estava inquieto, e contrariando tudo o que havia defendido até então suspirou, decidindo que isso o ajudaria.

— A pergunta foi sobre o nosso casamento.- começou em tom baixo.- Perguntei se isso havia sido de fato a sua vida, ou somente uma experiência que a missão havia lhe trazido.

 

Oliver encarou seus olhos, e pensou por alguns minutos. Segurou a mão de Felicity, que desenhavam sua barba e os deu um pequeno beijo, e logo após isso os segurou, como se o desse força.

— Eu conheci você em uma batida de carro, e após uma semana eu liguei, inventando algo pra te ver. Os nossos encontros, as conversas, o momento em que eu me apaixonei por você...Tudo foi real, inclusive o pedido.- Felicity engoliu em seco.- Waller começou a se intrometer em nossa vida após o casamento, e quando descobriu, pelas fotos, quem era você. E então ela pediu que eu ficasse de olho caso o FBI interferisse em nossa missão.

— O desmantelamento do vírus ômega.- comentou, sem desviar o olhar. Oliver parecia cada vez mais fraco…- Por que não me contou?

— Amanda dizia que quanto menos você soubesse melhor, e que era arriscado. Eu fui um idiota- sorriu em tom sarcástico.- Acreditava nas palavras dela de que estava protegendo você, já que caso o FBI soubesse o grupo de Hong Kong se dispersaria, e até os localizarmos outra vez...Era muito arriscado deixar aquilo cair em mãos erradas. Minha principal preocupação era você e William. O vírus…

— Eu sei o que ele faz.- sorriu tristemente.- Minha informante me contou. Ela perdeu o filho assim, pode imaginar?

— Posso. Imaginei William assim diversas vezes.- Felicity fez uma expressão de pura repulsa ao imaginá-lo em uma situação daquelas.- Era o que me mantia firme, pois sabia que se falhasse uma coisa dessas poderia acontecer.

— A invasão na casa…- se interrompeu, criando forças para perguntar. Era uma certeza que a acompanhava havia muito tempo, e finalmente ouvir o outro lado parecia simplesmente assustador. Porque se tivesse se precipitado…

 

Se a verdade fosse diferente havia se baseado em uma mentira por cinco anos.

 

Era complicado começar a duvidar de nossas convicções, que de tão certas, se pararmos para analisá-las, podem se tornar a maior das mentiras.

 

. Oliver apertou sua mão para que continuasse. Respirou fundo e então prosseguiu.

  - Você sabia?

— Não, juro que não.- seus olhos marejaram, e uma lágrima grossa rolou por sua bochecha.- Eu jamais deixaria machucarem vocês dois. E quando eu descobri…- sua voz falhou. Oliver fechou os olhos por breve segundos, tentando se recompor. Não que fosse necessário.

 

Não precisava fingir com Felicity

 

Ela sabia de seus maiores medos

— Quando eu descobri perdi a cabeça.- sua voz saiu baixa, quase como um sussurro, mas Felicity por estar próxima ouviu com perfeição.- Se lembra que eu os deixei na casa da minha mãe?- Felicity assentiu em silêncio.- Eu fui na A.R.G.U.S aquela noite, e encontrei aqueles desgraçados no corredor.

— O que você fez?- perguntou, temendo a resposta. Oliver hesitou.- Ollie...

— Peguei o que havia colocado a arma em você.- suas costas arrepiaram com a lembrança.- E então eu comecei a socá-lo, e continuei até as minhas juntas doerem. Eu senti prazer naquilo.- franziu as sobrancelhas.- Eu quase o matei a sangue frio.

— “Quase”, não o matou.- tentou confortá-lo.

— Porque Tommy e John apareceram.- suspirou.- Eu estava pocesso. E Waller.- sorriu em tom sarcástico.- Disse que precisava de alguém de fora que não estivesse envolvido no caso para fazer o que era preciso. Foi um aviso é claro.- Felicity trincou o maxilar, amaldiçoando Amanda.- “Sem distrações”.Eu precisava focar até a missão estar completa, e o pesadelo acabaria.

— Não aconteceu como o planejado.- comentou em tom baixo.

— Não, começou outro, e pior.- encarou seus olhos.- Eu não contei porque tinha medo de perder você.- disse de repente.- Era inegociável. Eu não podia…-tossiu. Felicity segurou seu rosto, tentando ajudá-lo.- Eu sinto muito Lis. Fui um covarde, e tudo o que disse foi verdade. Fiz o que fiz por medo e…A verdade é que eu não sabia amar você.- sua voz falhou em um choro silencioso, qual Felicity acompanhou. - Eu não sabia amar você, e peço perdão por tudo o que a fiz passar.Não podia deixá-la ir sem que soubesse disso.

— Como assim?- o segurou com mais força, entendendo suas palavras.- Oliver...Não! Eu o proíbo de fechar os olhos, entendeu? O proíbo!- ergueu mais seu rosto, desesperada.- Ollie...

— Talvez não haja mais tempo, não para mim.- sorriu fraco.- Por que está chorando?- franziu o cenho, erguendo a mão até seus olhos e o secando com a ponta dos dedos.- Não gosto de vê-la chorar, principalmente por minha causa.

— Pode me prometer uma coisa?- pediu com a voz embargada.- Não importa o quão forte seja a vontade de fechar os olhos, você vai mantê-los abertos, e vai ficar aqui, comigo.- apertou sua mão.- Entendeu? Se você me ama, tem que fazer isso.

— Eu amo você, sempre vou amar.- Felicity engoliu em seco ao vê-lo fechar brevemente os olhos.- E a propósito, aqui está ótimo pra mim..- sorriu, Oliver de repente se sentiu leve, como se mais nada no mundo importasse.- Estou com você.- suspirou.- Eu não queria assinar odivorcio. Eu só o fiz porque queria que você fosse feliz, com ou sem mim.- contraiu os lábios.- Foi uma das piores dores que eu senti.

 

Seus olhos se abriram mais uma vez, encarando Felicity com intensidade. Era seu último recurso, começava a sentir seu corpo leve, como um piloto automático que assistia às paisagens aos arredores com os pensamentos distantes, pensando em tudo e ao mesmo tempo, em nada. Nunca imaginou que seu pedido de desculpas fosse terminar de uma forma tão dramática, mas pouco o importava. Havia tirado a dor de seu peito, que há anos o consumiu, e agora estava ali…

 

Mas ao mesmo tempo não estava…

 

Felicity notou sua mudança de postura. Oliver estava quieto, muito quieto, e de repente se viu apavorada. Era muita coisa para se dirigir, mas naquele momento ela não ligava para quem fosse o certo ou errado, não ligava pro passado, pra nada do que havia acontecido, sua principal atenção era Oliver.

 

Que parecia cada vez mais fraco

 

Seu coração se acelerou ao sentir o aperto forte em sua mão. Não podia deixá-lo simplesmente partir, não antes de dizer o que sentia, porque se não falasse, se guardasse para si mesma a verdade como havia feito nos últimos anos talvez não houvesse outra oportunidade.

 

Se arrepiou ao pensar nisso.

 

Oliver não podia morrer, simplesmente não podia.

 

Ela não podia perdê-lo

 

“- Seja lá o que estiverem fazendo façam logo. Oliver está…- tentou controlar o choro. Precisava ser firme. Era a chefe, se a equipe notasse que estava apavorada então ficariam, e um caos se formaria.- Andem rápido.”

 

“- Estamos quase entrando Lis. Tommy teve uma ideia genial.- respondeu Curtis, e pelo barulho estava em movimento.- Aguentem firme.”

— Viu só? Eles estavam vindo.- tentou sorrir entre lágrimas.- Vamos sair daqui, ok? Eu prometo.- Oliver não respondeu.- Ollie?- um bolo surgiu em sua garganta, assim como suas mãos que suavam.- Ollie?- segurou seu rosto, mas foi em vão, não obteve reação alguma, embora o mesmo ainda respirasse.— Oliver!

 

O autocontrole que mantinha fora pelos ares. Tentou acordá-lo de diversas formas, seja o sacudindo ou por gritar seu nome, em um tom angustiante. Felicity já havia perdido pessoas, e as marcas dessas perdas a perseguiam até hoje, mas a questão era que,apesar de tudo o que aconteceu, ela jamais havia cogitado a ideia de Oliver fazer parte dessa lista.

 

Ele não podia estar nessa lista

 

Não podia deixá-la

 

Sorriu em tom irônico. Ela havia o abandonado sem pensar duas vezes. Sim, estava machucada, mas mesmo assim deveria ter conversado uma última vez

 

“Última vez”

 

Essa não podia ser a última vez, não sem Oliver ouvi-la.

— Eu preciso que você acorde, ok? Imediatamente!- ordenou, desesperada.- Eu não posso perder você Ollie, simplesmente não posso...- sua voz falhou.- Então você pode por favor acordar? Eu até o deixo continuar com as suas provocações.- riu nervosa.- E sim, você é um professor melhor pro Curtis do que eu, você venceu.

 

Felicity continuou agarrada a sua mão, pois sentia que se o soltasse o perderia para sempre. O abraçou, beijando seu rosto enquanto o puxava para si, e permaneceu ali, em um choro do fundo da alma.

— Meu maior arrependimento é não ter dito que eu te amava mais cedo.- soluçou.- 

 

De repente, começou a notar que a falta de oxigênio parecia começar a atingi-la. Seu corpo parecia leve, e seu único ponto consciente era na respiração de Oliver, que embora fraca permanecia ali, resistente, se negando a desistir. E quando tudo parecia ter ficado silencioso demais, um barulho chamou a atenção. Ergueu o olhar, encarando a porta ser destrancada. Uma pequena brisa, que adentrou seus pulmões de uma forma renovadora, se espalhou pela sala, e Felicity respirou fundo.

 

Nunca imaginou que algo invisível fosse tão importante.

 

Seus amigos entraram apressados, principalmente ao achá-la abraçada a Oliver. Tommy e John o puxaram de seu colo, e Caitlin foi imediatamente ao seu encontro.

— Ele primeiro.- negou a ajuda. - Caitlin?

— Pulso fraco, mas ainda está vivo. Precisamos levá-lo a um hospital imediatamente.- ordenou, pegando seu kit de primeiros socorros.- Ray? Levante a Felicity e a leve para o carro.

— Eu estou bem. Oliver precisa…

— Ele vai ficar bem. É uma promessa.- Caitlin a acalmou.- Agora obedeça.

 

Ray a ergueu do chão, e Felicity só teve noção de que estava realmente mal ao notar que ao andar, quase caiu. O mesmo a segurou no colo, atrás de Tommy que seguia juntamente com Roy e Sara para carregarem Oliver, já que John,  Laurel e Curtis recolheriam os quadros, saindo sem serem vistos.

 Felicity os observava caminhar, tensos e com as respirações pesadas. Mas ao encarar Oliver, completamente desacordado, uma onda de pânico a atingiu. Não ligava para o êxito da missão, somente queria que Oliver ficasse bem.

 

Ele precisava ficar bem

 

E ela precisava dizer que o amava

 

Esse foi seu último pensamento ao desmaiar nos braços de Ray.

 

***

Felicity encarava o teto branco impacientemente. Estava bem, era óbvio que estava. Não se lembrava muito bem como havia chegado ao hospital, tendo apenas pequenas lembranças de ter estado com Ray. Sua preocupação ao acordar não fora com seu estado de saúde, e pouco a importava o soro que estava tomando, ela apenas precisava sair dali.

 

E ver Oliver

 

Não estava sendo fácil lidar com essa distância. As notícias eram poucas, e todas as vezes que os amigos apareciam evitavam trazer informações, para não preocupá-la, mas isso só a fazia se sentir pior.

 

Era angustiante

 

Principalmente pela forma que as coisas ocorreram

 

A conversa com Oliver martelava em sua cabeça. Cada palavra dita, frase feita...Ela sabia agora o outro lado da história, lado que tanto ignorou e que agora se tornava importante. Se ela tivesse ficado…

 

Se tivessem conversado…

 

Se tivesse dito o que sentia…

 

Suspirou, tentando controlar a ansiedade. Só haviam arrependimentos. Não podia prometer se tivesse o escutado na época teria ficado, pouco provável que acreditasse em Oliver, mas o que a fazia acreditar agora?

 

O que mudou?

 

Por que não manteve o mesmo pensamento?

 

Felicity sabia.

 

Ela o amava, droga, e por anos tentou apagar esse sentimento febril. Mas à medida que o mesmo adormecia, no momento em que voltou fora como uma onda poderosa, cobrindo tudo ao seu alcance. Ela o amava, muito

 

Mas precisava confiar em Oliver

 

E ela confiava, havia muito tempo.

 

Mas se negava a enxergar isso.

 

E então tudo aconteceu. O passeio, o primeiro beijo, o toque, tantas palavras não ditas e ao mesmo tempo ditas...As juras de amor

 

Uma de sua parte…

 

O mundo parecia ter parado, os dando de presente aquela noite abafada em Nova Orleans, onde a razão foi posta de lado, e Felicity se permitiu somente sentir.

 

E ela sentiu

 

Tudo

 

Tanto que ficou assustada com os próprios sentimentos

 

Refletiu sobre suas escolhas. Às vezes o certo não era tão certo, e uma verdade absoluta poderia estar enganada. Fechou os olhos, tentando organizar os pensamentos. Não sabia como Oliver estava, e a sensação de perdê-lo fora aterrorizante. Se viu sem rumo, e de repente, toda a história antiga, todo o seu mundo não parecia ser mais tudo aquilo.

 

Ela amava Oliver

 

E precisava dizer

 

Isso era o que importava

 

Decidida, e em um sopro de coragem, arrancou as agulhas de seu braço, saindo da sala. Roy a viu, e tentou impedi-la.

— Eu estou bem e vou vê-lo.- Cerrou os dentes.- Não me faça voltar a aquela sala.

 

Roy entreabriu os lábios, mas fora ignorado. Felicity prosseguiu, caminhou pelos corredores, um pouco aflita, e ao virar o próximo, encontrou os amigos, alguns sentados e outros encostados às paredes. Arregalaram os olhos ao vê-la.

— Eu tentei impedir, mas vi que estava diante de alguém perigoso.- brincou.- Era capaz de eu ficar no lugar dela.

— Eu não machucaria você, apenas o jogaria no chão e sairia correndo.- os ouviu rir, um pouco mais leves. Roy a abraçou.

— Fiquei preocupado.

— Eu sei, mas estou bem.- suspirou ao se afastar.- Alguma notícia do Oliver?

 

Avistou John sair de uma sala, caminhando ao lado de uma mulher de jaleco branco, aparentemente uma médica e Curtis.Seu braço estava enfaixado, o que a deixou preocupada.

— O que aconteceu com você?

— Salvei Tommy de uma explosão.- estufou o peito, fazendo uma pose de herói.- A médica disse que poderia ter sido grave. Mais alguns minutos…

— Você teve queimaduras de segundo grau Curtis, deixe de ser dramático.- interrompeu Sara seu discurso emocionante.- Tommy colocou fogo na sala, Lis.

— Ele fez o quê?- arregalou os olhos.

— É...Olha só, a doutora quer falar. Sejam educados por favor.

 

Felicity esqueceu de Tommy e se virou para a médica ansiosa. Prendeu a respiração ao finalmente encará-la, aguardando o pior.

— Bom dia a todos.- sorriu.- O senhor Queen ficou inconsciente por algumas horas, já que achamos que seria melhor o mesmo não forçar os pulmões. Sua saturação chegou a menos de 85%, o que é um fator de risco…

— Ele está mal?- Felicity a interrompeu, nervosa.- Doutora, não minta.

— Se a deixar terminar de falar vai descobrir.- John sorriu de forma tímida.

— Claro, me desculpe.- pediu envergonhada.

— Você deve ser a Felicity, não é?- seu sorriso se ampliou.- Ele falou de você. Muito.

— Ele...Ele falou?- perguntou confusa.

— O senhor Queen está bem, um pouco fraco e não deve fazer esforço, mas está consciente.- Felicity soltou o ar, aliviada.

— Eu posso vê-lo?

— Claro, ele estava perguntando por você agora mesmo.

 

Sentiu todos os olhares em suas costas. Curtis sorriu maliciosamente, sendo cutucado por Sara, que o repreendeu. Seu olhar se encontrou brevemente com John, que sem dizer nada, desejou um “boa sorte”. Arrumou a postura e seguiu a doutora, com as mãos suadas. A sala parecia longe demais, e a cada segundo passado sentia que estava perdendo tempo.

 

Ela precisava dizer

 

Imediatamente

 

Ele precisava saber

 

Era uma necessidade, e se decidisse não fazê-la passaria o resto da vida infeliz, lamentando que não dissera como realmente se sentia. Felicity havia quase perdido Oliver, e se recordou, no momento em que o segurou desacordado em seus braços que a vida era curta demais para a passar com arrependimentos.

 Assim que a viu apontar para qual quarto Oliver estava, Felicity apressou o passo, sem a deixar dar mais explicações. Seu corpo travou na porta. Ela estava nervosa, muito nervosa.

 

Mas tinha que ser corajosa

 

Seja o nervosismo que estivesse sentindo, desde as mãos suadas, a palpitação ou até mesmo a mordida nos lábios fora esquecida no momento em que seus olhos encontraram os de Oliver. Ele estava pálido, com alguns medicamentos ligados à veia, mas assim que a viu sorriu, em tom fraco. Felicity adentrou o quarto e fora imediatamente em seu encontro, e ao invés de se sentar na cadeira ao lado, como Oliver pensou, o abraçou fortemente. Ela precisava escutar seu coração bater, sentir sua respiração quente soar sobre seu pescoço, e até mesmo as mãos fortes de Oliver a agarrarem…

 

Necessitava o sentir vivo

 

E entender que o pesadelo acabara

 

Oliver ficou surpreso, mas logo a abraçou. Ficaram agarrados um ao outro por longos e silenciosos minutos, até que Felicity se afastou e acariciou sua barba.

— Nunca mais faça isso, me entendeu?- fingiu estar brava, enquanto segurava as lágrimas.- Nunca mais Queen!

— Vou tentar não ficar preso a uma sala sem oxigênio na próxima vez, pode ficar tranquila.- brincou, com a voz arrastada. Felicity riu.- Como você está? John me contou que desmaiou.

— Estou bem. Fugi da sala.- Oliver balançou a cabeça, divertido.

— Sempre teimosa.

— Eu tinha os meus motivos.- seu sorriso diminuiu, e a onda de ansiedade a atingiu mais uma vez.- Precisava fazer uma coisa, uma coisa importante.

— É?- perguntou, indo um pouco para o lado a fim de dar espaço para que Felicity se sentasse.- O que é?

 

Felicity suspirou, sem ao certo saber como começar. Se sentou perto de sua cintura, virada de frente para ele, segurando sua mão.Seus lábios se entre abriram diversas vezes, mas mesmo que tivesse um dos escritores mais famosos do mundo não conseguiria criar uma única frase alguma.

— Você...Você se lembra do que conversamos lá, não lembra?- Oliver assentiu, engolindo em seco. Felicity suspirou.- Até mesmo quando estava ficando inconsciente?

— Vagamente, mas sei o que disse.- um silêncio se formou.- O que quer falar, Lis?

 

Era agora ou nunca, pensou.

— Eu pensei, pensei muito. E cheguei a uma conclusão.

— Que conclusão?- o aperto em sua mão se intensificou, e Oliver de repente parecia apavorado.- Não me diga que você vai…

— Não.- o deixou mais calmo.- Chega de fugir. Sim, eu fugi, você falou a verdade.- continuou ao vê-lo abrir os lábios.- Eu só pensei em mim, e quando vi estava pegando o primeiro voo para Nova York.

— Nova York.- murmurou, balançou a cabeça, como se não acreditasse.- Você tinha ido para Nova York?

— Sim...Por quê?- estranhou a pergunta. Oliver soltou um riso sem humor.

— Fiquei semanas tentando descobrir para onde você havia ido. E quando Laurel apareceu com os papéis quase a obriguei a me contar.- Felicity lançou um sorriso tímido.

— Foi lá onde eu me escondi por um tempo, até estar bem de novo.- suspirou pesadamente.- Me desculpe por ter ido sem conversar com você, não foi justo.

— Você precisava.- deu de ombros, a encarando profundamente.- Tudo bem. 

 

Seus olhos se encheram de lágrimas, às quais não se deu ao trabalho de esconder. Ignorou o bolo em sua garganta e continuou.

— Quando eu descobri sobre você...Sobre tudo, eu simplesmente não conseguia respirar. Foi um dos piores dias da minha vida.- mordeu os lábios, evitando que chorasse. Precisava falar.- e quando eu o vi desacordado ontem eu me senti assim, de novo. Era sufocante, uma tortura, e eu comecei a refletir sobre os últimos anos.- deu uma pausa.- Não importava com quem eu saísse ou o que fizesse, meus pensamentos sempre voltavam a você, e eu me odiava tanto por isso.- suspirou.- Tanto, porque eu sentia que você não me amava, e que eu estava sendo uma idiota, novamente, por ter caído no seu teatro.- Oliver assentiu. Seu rosto era totalmente apreensivo, e sua mão se negava a soltar Felicity.- Mas então nós nos encontramos de novo, e esse sentimento voltou também, e eu simplesmente não soube lidar. E como poderia?- o olhou angustiada.- Eu estava completamente confusa, mas uma coisa permanecia intacta.- Oliver prendeu a respiração.- Eu continuava amando você.

 

Seus lábios se entreabriram em tom de choque. Não esperava essa reação, na realidade, achava que quando saíssem do museu Felicity o ignoraria para sempre.

 

Mas ela fez ao contrário

 

Então isso deveria significar…

— Eu te amo.- sorriu entre lágrimas.- E não quero gastar mais nenhum minuto negando isso, porque hoje eu vi como a vida pode ser curta, e como eu me odiaria por ter o deixado ir sem dizer o que eu sentia. Nosso amor é grande demais para não ser vivido, e já passamos muito tempo longe um do outro.

 

Oliver simplesmente não sabia o que dizer. Ela o amava, realmente o amava, e estava ali, dizendo isso como sempre sonhou.

 

Ele amava Felicity também

 

Muito

 

E todo o peso que carregava no que parecia uma década despencou. Ele se sentiu leve, e verdadeiramente feliz. 

 

Quanto tempo não se sentia assim?

 

Percebeu que estava parado a tempo demais pelo aperto em sua mão. Encontrou os olhos de Felicity, que refletiam os seus, cheios de lágrimas. A puxou para si, e em uma forma desengonçada se apertaram na cama, ficando abraçados. Oliver beijou seu rosto, enquanto deslizava o nariz por sua pele, apreciando cada segundo.

 

Ele estava em casa.

 

e faria tudo certo dessa vez

— Me desculpe por ter mentido.- sussurrou, Felicity se virou para encará-lo, também feliz.- Mas nem se eu quisesse, eu jamais conseguiria fingir que não amo você.- Felicity sorriu, se aconchegando mais em si.

— Eu também te amo. Simplesmente não posso controlar.- comentou. Foi a vez de Oliver sorrir.- Vamos fazer tudo diferente.

— Vamos sim.- ficou sério, para que entendesse que não estava brincando. Teriam que começar devagar. Felicity poderia ter o perdoado, mas teria que reconquistar sua confiança.- Sem mentiras, sem vida dupla, tudo às claras.

— Um passo de cada vez.- concordou. Felicity se remexeu, mas foi impedida por Oliver.

— Onde você vai?- perguntou preocupado.

— Vou chamar o time, eles estão preocupados com você.- sorriu.- Não vou fugir, nunca mais.

 

O beijou levemente, e quando iria levantar ouviu seu riso.

— O que foi?

— Acho que não vai ser necessário chamá-los.- sussurrou, indicando a porta. Felicity suspirou.

— Eu vou matá-los.- esbravejou.- Aparentemente não sabem o que significa privacidade!- ergueu a voz.- Já sabemos que estão aí, apareçam!

 

E de um em um, os membros do time apareceram com as caras mais angelicais possíveis. Felicity se segurou para não rir, mas o bem estar que sentia a fazia querer sorrir como uma idiota.

— Como está?- perguntou Laurel. Oliver encarou Felicity.

— Bem.- sorriu.- Muito bem.




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Notas finais do capítulo

Espero que eu tenha deixado vocês felizes KKKK. Sobre o passado estamos quase no fim, e acredito que depois do próximo episódio ele não aparecerá mais, sendo focado somente no presente. Oliver e Felicity finalmente tomaram um passo, que vai requerer bastante maturidade, qual nós vamos construindo com o decorrer da história. Bastante coisa vai acontecer agora KKKK, estou ansiosa para ver a reação de vocês com o que está por vir. Bom, meus caros leitores, comentem muitoooo e até a próxima atualização ;)

Ps: Quero compartilhar com vocês uma coisa. Caso desejem, escutem a música “ Partilhar” do nosso maravilhoso Rubel, de preferência vejam o clipe oficial. É, sem sombra de dúvidas uma das minhas musicas favoritas, e foi ouvindo ela que um dia, todo esse universo que eu venho construindo com vocês começou. Desde o reencontro não tão explosivo até a paixão nada discreta de Oliver e Felicity foi baseada nela. Essa musica é deles.



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