Sweet and bitter love escrita por Ka Howiks


Capítulo 16
Ossos do ofício


Notas iniciais do capítulo

Atrasada? SIm! Porém presente! Olá meus leitores favoritos, como estão? Mil desculpas pelo atraso, minhas aulas do curso voltaram e acabei me atrapalhando um pouco até me acostumar com a rotina, mas aqui estamos, tenho algumas coisas para falar hoje, então let's go! Bom, como notaram, temos uma capa nova, a antiga estava me dando nos nervos e essa eu fiquei simplesmente apaixonada kkk, meus talentos de edição se revelando, brincadeira. Comecei também uma one dedicada ao nosso casal snowmerlyn chamada " My Platonic Love", dêem uma pasadinha por lá, garanto que irão gostar muito, irei finaliza-la amanhã. Sobre o capítulo: teremos situações um pouco mais tensas, devido ao nosso casal principal. Para nossos fãs de Snowmerlyn, tenho um agradinho pra vocês kkk. Enfim, já falei demais.

Boa leitura ♥



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Star City 2015

 

Oliver parecia estranho aquela noite, de um modo que Felicity nunca havia visto, não que não houvessem trocado palavras, porém as frases ditas, em maioria prontas, a deixaram preocupada.Oliver não quis comer aquela noite, e após minutos silenciosos sentado ao seu lado, o mesmo se retirou, alegando estar cansado e que precisava de um banho, a dando um beijo demorado na testa. Felicity o observou sair, calado, notando seus ombros caídos, como se carregasse o peso do mundo, a questão é que ela não queria o ver fazendo aquilo sozinho.

 

 Queria ajudá-lo.

 

Entendê-lo.

 

Apagou as luzes do andar de baixo e subiu as escadas com passos leves. Oliver já estava vestido e se encontrava sentado na cama, olhando para baixo, quando a sombra de Felicity o despertou,a lançando um sorriso de canto.

 

Se ela soubesse o que estava prestes a acontecer…

 

Se ela soubesse o que ele estava prestes a fazer…

 

 Sentir o toque quente das mãos da esposa em seus ombros foi o suficiente para fazê-lo relaxar, porém, ao olhar seus olhos, e encontrar preocupação somente o fez se sentir pior, não merecia aquilo.

 

 Não merecia nada.

 

E mesmo assim ela fazia, sem cobrança alguma.

 

Felicity se sentou em suas pernas, passando um de seus braços ao redor de seu pescoço enquanto o outro continuava a acariciar sua barba rala. Oliver suspirou e segurou sua mão, a dando um beijo rápido para em seguida olhá-la novamente.

 

— Não sei o que aconteceu, mas você parece chateado.- comentou cautelosa.- O que aconteceu, Olie?

— Problemas na empresa.- mentiu suspirando.- Só não estou muito bem hoje, entende?- perguntou, a viu assentir.- Mas vai ficar tudo bem, uma hora vai.- murmurou a dando um beijo na nuca, seu nariz começou a fazer trilhas até seu pescoço, onde a mordeu brevemente, escutando seu suspiro.- Quando estou com você me sinto melhor.

—  Eu sou uma esposa incrível.- concordou convencida, Oliver riu.

 

— Certamente você é.

 

— Está muito cansado?- perguntou, Oliver negou.– Por quê?

 

— Acho que nós dois estamos um tanto estressados, seria bom relaxar.- virou o rosto piscando em sua direção, Oliver sorriu.- Não acha?

 

— Realmente, estamos precisando,- subiu a mão que a segurava pela cintura até seu pescoço, colocando os fios para frente.- Um tempo sozinhos, algo bom pra variar. - sussurrou em seu ouvido a fazendo estremecer.- Com o apartamento todo para nós.

 

— Só nós.- concordou fechando os olhos ao sentir suas mãos a apertarem.- Soa perfeito pra mim.

 

Oliver sorriu com sua frase e a ajeitou em seu colo, onde as pernas da loira cruzaram sua cintura. Sentir o gosto de seus lábios era algo que ele adorava saborear, principalmente quando suas línguas se encostavam, emanando uma grande onda de energia que o deixava arrepiado. Entretanto, naquele momento onde sentia seu gosto, e o toque das mãos ousadas da esposa obtiveram um efeito totalmente contrário, ele se sentia errado.

 

Um intruso.

 

Prestes a fazer uma besteira enorme.

 

Felicity notou seu distanciamento repentino. Afastou o rosto alguns centímetros para encará-lo, e lá estava novamente  a cara de preocupação. Ela não sabia o porquê, porém algo a dizia que não havia relação alguma com o trabalho.

 

— Desculpe.- murmurou Oliver abaixando o olhar, envergonhado.

 

— Acontece não estar no clima Ollie, eu sinceramente não tenho do que reclamar sobre nossa vida sexual.- sorriu de canto o fazendo soltar um riso baixo, ele geralmente a deixava com vergonha, mas quando ela conseguia o deixar assim se sentia vitoriosa.- Talvez só precisemos dormir.

 

— É.- concordou, forçando um sorriso.- Talvez seja isso.

 

  Felicity se levantou e se dirigiu ao banheiro, onde escovou os dentes e trocou de roupa. Oliver a sentiu deitar ao seu lado, onde em silêncio se  observaram. Um sorriso triste se formou em seus lábios ao imaginar que a expressão tão serena da mulher a sua frente amanhã estaria devastada, e a culpa seria sua. A puxou para perto de si, fazendo carinho em seu rosto e depositando beijos em sua bochecha, Felicity sorriu.

 

— Se continuar fazendo isso vou mudar de ideia.- brincou.

 

— Talvez eu tenha mudado de ideia.- piscou em sua direção, deixando aquele corpo minúsculo embaixo do seu.- É difícil resistir.

 

— É?- sussurrou, Oliver assentiu.- Então o que está esperando?

Seu sorriso malicioso o contagiou. Felicity  sempre soube como persuadi-lo, como tocá-lo, como enlouquecê-lo, e enxergar toda aquela chama em seus olhos o deu mais motivos para continuar. A loira retirou sua blusa com rapidez, assim como Oliver, que agora revelava seus músculos tão desejados pela esposa. O sentimento de luxúria o invadiu, a desejando das maneiras mais ardentes possíveis. Seu olhar quente, alisando cada pedaço de si fez Felicity estremecer, principalmente ao sentir suas mãos retirarem seus shorts, a deixando apenas de lingerie. Oliver segurou seus braços, e com o corpo curvado continuou a observá-la, com satisfação. Seu rosto se enterrou na curvatura de seu pescoço, escutando seus sussurros. Soltou seus braços ao descer seu rosto até o ponto entre seus seios, para logo em seguida continuar sua trilha até a barriga, a escutando arfar. Levantou o olhar, e piscando, retirou a peça íntima.. Felicity engoliu em seco, firmando um aperto no forro da cama. Seu corpo se incendiou com o toque tão invasivo, causando calafrios que percorriam sua pele.. Apertou as mãos mais uma vez com um toque mais ousado, seus lábios se estreabriram e um murmúrio cortado os escapou, fazendo Oliver sorrir de maneira depravada, ele amava assisti-la assim.

 

 Tão entregue.

 

Tão absorvida em seus toques.

 

 O sentimento que o atormentava voltou com força. Oliver ergueu seu corpo, retirando o restante de suas peças, assim como Felicity, se livrando de seu sutiã. Agora mais expostos, se observaram com prazer, e quando Felicity levantou o dedo, o chamando em um convite claro, Oliver esqueceu o mundo mais uma vez, ele somente queria estar com ela.

 

Totalmente com ela.

 

Sentindo o estrago que sua presença fazia a dele.

 

Seus corpos se encaixavam, o que chegava a ser cômico, já que a mesma ficava escondida por trás de seus músculos. Seus movimentos começaram devagares, como uma leve tortura, porém com o pedido tão aclamado, Oliver aumentou o ritmo, a apertando. Seus lábios se encontraram mais uma vez, desesperados, assim como suas mentes. Um gemido o escapou, e uma ardência surgiu em suas costas ao sentir as unhas da esposa o arranharem, deixando claro que ficariam marcadas ali por um tempinho. A respiração de Felicity se descompassou, e ao sentir seus beijos por sua pele molhada, além de suas exclamações, a fizeram arfar novamente, à procura de ar. Oliver em geral era sério, e saber que a mesma tinha o privilégio de deixá-lo assim, tão perdido, a fazia se sentir contente. Egoísta em certas partes, mas ela não ligava a mínima, não quando se tinha Oliver Queen sussurrando seu nome, e muito mais do que isso. Seus narizes se tocaram brevemente, na tentativa de encaixar um beijo voraz.  Oliver aumentou as investidas, mais brutas do que no começo. A sentiu arquear as costas e um gemido alto escapar de seus lábios, ecoando pelos quatro cantos do quarto. Oliver fechou os olhos, e ao sentir seu coração acelerar, assim como o choque em suas costas, sabia que havia chegado ao seu ápice. Se deitou ao seu lado, a puxando para perto de si, totalmente inebriados. 

 

— Pra quem não estava no clima…- murmurou Felicity ofegante, Oliver riu. 

 

— Como eu disse, é difícil resistir a você.- sorriu extasiado, a dando um beijo na testa.- É incontrolável, quando me dou conta já estamos nus e você está em cima de mim.

— Pareço uma tarada desse jeito.- brincou mais leve, feliz com o clima formado.- Mas acho senhor Queen, que nós dois deveríamos dormir.

— É, ou…- um riso a escapou ao sentir ser puxada novamente.

 

— Como digo não a esses olhinhos azuis?- suspirou.- Mas minha vez agora.- o empurrou, deixando seu corpo por cima, um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.- Pelo o que entendi você está estressado, conheço um jeito de fazer isso passar.

 

— Estou louco pra ver.

 

***

 

   Felicity  dormia tranquilamente ao seu lado, exausta com os acontecimentos da noite. Oliver sorriu ao lembrar de suas posições horas atrás, onde a loirinha mais uma vez o tinha nas mãos sem perceber. A olhou de forma carinhosa.



Ela realmente o tinha.

 

Porém merecia uma coisa melhor.

 

O  fato o fez fechar a cara, lembrando das instruções de Waller, ele não poderia falhar.

 

Mas falharia com Felicity mais uma vez.

 

Que novidade.

 

Com cuidado, se levantou da cama, procurando seus shorts jogados. Prendeu a respiração ao pegar ao lado da esposa, seu notebook, onde pelas informações de Sara estaria a cópia do projeto Archer. Desceu as escadas com passos leves, sem fazer questão de acender a luz. A noite parecia mais assombrosa, não haviam estrelas, e nem a Lua queria fazer questão de ser vista, para testemunhar aquele ato tão terrível. Oliver foi à sua bolsa e pegou o dispositivo parecido com um pen drive, que seria o responsável pelo fim do projeto. Se sentou na mesa da cozinha, digitando a senha. Quando aberto, se surpreendeu ao ver que a foto de fundo de Felicity nada mais era que uma foto dos dois mais William, seu coração se apertou.

 

Covarde.

 

Engoliu em seco, encaixando o dispositivo. De repente a tela ficou preta, surgindo uma porcentagem em verde, Oliver esperou.

 

10%...

 

15%...

 

Se levantou irritado, passando a mão pelo rosto. Ele havia assistido seu trabalho, suas noites em claro, onde mesmo cansada havia teimado em continuar, sem contar com a notícia de que um homem poderoso havia gostado de seu trabalho. Tanto esforço, pra no final não valer de nada.,

 

E ele sabia exatamente quem era o culpado.

 

Tentou imaginar uma situação viável, onde não precisassem fazer aquilo, mas as ideias simplesmente não vinham.

 

60%...

 

Seu olhar desesperado sobre a tela refletia sua situação interna. Se sentia sujo, principalmente porque pouco tempo atrás estava com ela, a tocando de uma maneira tão íntima, a envolvendo nos braços…

 

70%...

 

Seus beijos, sussurros, gemidos, tudo o deixava enjoado com repulsa de si mesmo.

 

80%....

 

Socou a mesa com força, não ligando para a dor em seu punho. Não havia saída.  Fazer aquilo era como ossos do ofício, se fizesse a veria magoada, e se não fizesse...

 

90%...

 

Se não fizesse nada, Felicity chegaria a Maseo, os impedindo de conter o vírus ômega, que era um perigo para ela também. Imaginou seu corpo inerte em um chão frio, com sangue escorrendo pelo nariz enquanto seus pulmões queimavam. Um gemido de dor o escapou, fechando os olhos. A dor que sentiria ao encontrá-la assim, sabendo que poderia ter impedido…

   A luz piscante o fez erguer o olhar até a tela.

 

“100%, processo concluído”

 

Fechou o notebook e guardou o dispositivo, se sentando no sofá, não sentia vontade alguma de subir e encará-la.

 

Ele era o intruso ali.

 

Pela primeira vez não sentiu pena de si, ao contrário, se desejou as coisas mais baixas  e dolorosas possíveis.



E nem isso iria bastar.

 

***

 

Felicity se espreguiçou, ainda sonolenta. O quarto estava escuro, tendo apenas pontos de luz nas cortinas. Tentou se levantar, porém braços quentes a envolveram, impedindo que saísse.

 

— Bom dia.- sussurrou ao se virar para Oliver .

 

— Bom dia.- sorriu de canto.- Dormiu bem?

 

— Sabe que sim.- brincou os fazendo soltar um riso baixo.- Preciso levantar.

 

— Agora?

 

— Não faça essa cara de cachorro sem dono pra mim Oliver Jonas Queen.-o deu um selinho, o toque de seu telefone a fez bufar.- Preciso atender.

 

Em relutância, o mesmo a soltou. Felicity se sentou na cama, puxando os lençóis para cobrir seu corpo. Bocejou ao atender

 

“ - Ray? Tão cedo.- sorriu de canto, uma expressão preocupada surgiu em seu rosto.- Calma, respira.- uma ruga se sobrepôs entre suas sobrancelhas.- O quê? Como assim sumiu?”

 

Seu corpo se levantou em um pulo, pegou uma camiseta de Oliver e a vestiu, procurando seu notebook.

 

 “ - É claro que eu tenho uma cópia, mas…- murmurou ligando o aparelho, Oliver abaixou o olhar. Seu suspiro em choque apertou seu coração.- Não, não pode ser.- falou nervosa colocando o celular no viva voz.- Não, não, não.”

 

“ - Fomos hackeados Lis.- falou Ray ofegante, pelo barulho a sua volta já deveria estar na empresa.- Mas como isso aconteceu? Como não vimos uma falha…”

 

“ - Não fomos hackeados.- respondeu impaciente, seus dedos voavam no teclado.”

 

— Então como sumiu do dia pra noite?”

 

“ - Eu não sei.”

 

 A ligação foi encerrada minutos depois. Felicity continuava quieta, concentrada, seu rosto estava rígido assim como seus ombros. Oliver se sentou ao seu lado.

 

— Acho que Ray está certo.- comentou Oliver, a viu bufar.

 

— Não, não está.

— Como tem tanta certeza?

 

— Porque quem criou esse projeto foi eu,- respondeu rude, Oliver recuou.- Desculpe.- pediu envergonhada, Oliver sorriu de canto.-  Desde a suspeita de que estamos sendo espionados eu instalei mais campos de defesa em nossas ações, nenhum foi burlado, o que significa que não fomos atingidos de fora, mas sim por dentro.

 

— Isso significa…

 

— Significa que tem alguém querendo me ferrar, e não é a primeira vez.- respondeu incomodada, Oliver a olhou com atenção.

 

— O que vai fazer?

 

— O que sempre faço, dar um jeito.- suspirou aliviada. - “ Ray? Eles não levaram tudo, a raiz ainda está com a gente.”— informou por aúdio, seus ombros relaxaram.- Posso recriar o projeto a partir disso, quem tentou nos derrubar não teve tanta sorte.

 

—  Que…Bom.- sorriu Oliver forçadamente, Felicity encostou a cabeça em seu ombro.- Tudo bem, foi só um susto.

 

— Estão acontecendo sustos demais.- respondeu erguendo o rosto para observá-lo , preocupada.- Tenho medo que em algum desses você e o William sejam afetados..

 

— Não vai acontecer, ok?- a abraçou, na tentativa de passar conforto, era realmente uma promessa.- Eu prometo que não vai acontecer.

 

***

 

 Atualmente

 

Desde a chegada dos agentes da Rússia os ares estavam diferentes na base da equipe. Não, não estavam brigando, e esses ares na realidade envolviam somente dois agentes, uma para ser mais exato, que tanto  lutava para esquecer o fático, e ao mesmo tempo,  prazeroso acontecimento. Felicity havia acordado ofegante aquela noite, seu corpo estava suado, seu peito subia e descia, em busca de ar, enquanto seus pensamentos, embaralhados, tentavam com dificuldade desviar do sonho que vinha a atormentando fazia mais de uma semana. No começo achou que era algo comum, afinal, o  acontecimento envolvendo a gelada  e ao mesmo tempo ardente Rússia havia a tocado de uma forma mais íntima e tempestuosa do que imaginou. Seu sonho era tão claro como um dia de verão, e árduo como um mar em ressaca. Não, não era doloroso, mas a atormentava, a atormentava sonhar com os braços de Oliver, com seu toque, que continham o poder de incendiá-la por inteiro,a fazendo se contorcer de prazer, com seus corpos em sintonia...  Arfou, e em revolta, jogou seus lençóis no chão, deixando que o vento frio da cidade gelada a fizessem pensar com lucidez, ela estava tão perdida.

 

Tão raivosa.

 

Com raiva por desejá-lo, e deixá-lo manter esse poder que a cegava, impedindo que enxergasse a realidade, e ao mesmo tempo, decepcionada por saber que não era real, e novamente incomodada por estar decepcionada com isso. Era uma mistura de sentimentos..

 

Ela precisava de foco.

 

Mas como pensar direito com aquele homem tão perto de si? E mesmo passado a porcaria de cinco anos, ainda conseguia lê-la melhor do que ela mesma?

 

Era óbvia sua atração, Felicity sentia isso de Oliver também, mas acontece que para ambos era mais que isso, era intenso.

 

Doloroso.

 

Não de uma maneira boa.

 

Olhou o horário mal humorada, desejando que amanhece-se. A equipe iria até uma das empresas da A.R.G.U.S,   para receberem as informações da nova missão, algo totalmente desnecessário segundo Felicity, ela não queria pisar naquele lugar.

 

Não queria lembrar a última vez que havia pisado em um lugar como aquele.

 

Quando se deu conta, uma lágrima solitária escorria por sua  bochecha. Abafou o soluço com o travesseiro, se odiando por chorar novamente por aquele assunto, e mesmo com todos aqueles “nãos” do passado, que serviam como um lembrete do que havia acontecido, ela sentia falta de sua vida.

 

Sentia falta de seu passado.

 

Um mundo que não parecia ser tudo aquilo que sua Eu de cinco anos atrás imaginava.

 

O arrepio por seu braço a fez se levantar, o frio não havia a abandonado. Mais aquecida, tentou fechar os olhos.

 

Sonhou com Oliver outra vez.

 

***

 

Nova York fazia jûs a sua temporada fria. Uma neve fina cobria as ruas, sendo retirada pelos trabalhadores corajosos, que, empacotados em seus casacos, continuavam firmes com a limpeza das ruas, ajudando os outros milhares de americanos a irem para o trabalho sem enfrentar imprevisto algum. A equipe havia parado em frente a um enorme prédio, com vidros espelhados que o cobria por inteiro. Ao contrário do FBI, a A.R.G.U.S não podia colocar um letreiro enorme informando sua localização. Entraram discretamente, o hall era como de um prédio corporativo comum, mascarando suas verdadeiras intenções. Os oito agentes se dirigiram até o elevador. John estava de fora, cuidando de Lyla, realmente chateado por a chefe ter a metido em algo tão perigoso, afinal, o que era tão importante a ponto de colocá-la em Gugla? Tudo por uma vantagem contra um empresário?

 

Realmente estranho.

 

Amanda não os deu muitas informações, desculpa perfeita para conceder a John dias de folga, na tentativa de acalmá-lo. Ele merecia, principalmente para resolver suas coisas com a ex.

 

Ou namorada.

 

Suas classificações estavam em aberto até o momento.

 

As portas do elevador foram abertas, e ao contrário do hall, o andar lembrava e muito a A.R.G.U.S. O azul escuro dos tetos e paredes, salas com janelas de vidro e persianas. Felicity engoliu em seco, Laurel segurou em sua mão, a passando força, e mais decidida, prosseguiram. Viraram um corredor à esquerda, onde ocorreria a reunião com o vice-diretor da agência, John Carron, entretanto, ao cruzarem a porta, um suspiro de choque os escapou, não era o vice-diretor que estava parado ali.

 

Mas sim a própria Waller.

 

Com seu sorriso imponente.

 

Ray ficou com os ombros rígidos, parando ao lado de Felicity, que continha seu olhar vidrado a mulher a frente, a fuzilando com os olhos. Caitlin também havia abandonado sua posição, fazendo um cerco ao redor da amiga, estava clara a divisão entre os agentes federais e os da própria A.R.G.U.S.

 

Que estavam tão surpresos quanto eles.

 

Amanda continuava a mesma pelo o que Felicity pode notar. Um rosto mais amadurecido, porém, a maneira confiante e até mesmo superior que tratava as pessoas ao seu redor permanecia intacta. Oliver cruzou os braços, sentindo a tensão que havia se formado. Curtis continuou parado, sem entender muito a reação dos agentes do FBI diante de sua chefe. Sara cochichou algo em seu ouvido, e seus lábios se entreabriram, surpresos, compreendendo a situação.

 

— Waller.- falou Oliver quebrando o gelo.- Mas que surpresa.

 

— Sua empolgação me encanta, senhor Queen.- ironizou.- E olha só o que temos aqui.- seu olhar cintilou diante os agentes.- Senhorita Smoak, quanto tempo.

 

— Olá Amanda.- a cumprimentou a contragosto.

 

— Não preciso perguntar se continuam amigos, a proximidade de seus companheiros de equipe serve como resposta.- apontou, Laurel trincou o maxilar.

 

— Temos bons motivos para agirmos assim, não é Amanda?- perguntou Felicity, seus olhares se cruzaram.- Sabemos muito bem o que a A.R.G.U.S faz para conseguir o quer, ou melhor, para proteger as pessoas.

 

— Temos nossos modos, eficazes eu diria.

 

— É, nós lembramos.- rebateu Caitlin, que a lançava um olhar raivoso.

 

— Senhorita Snow.- a cumprimentou, sorrindo cinicamente.- Lance, Palmer. 

 

— Acho que já passamos pelas apresentações.- cortou Sara.- Pode ir direto ao assunto?

 

— Fechem a porta.

 

Tommy a fechou, lançando um olhar preocupado a Caitlin, que continuava rígida ao lado da amiga. Amanda pegou um controle, passando algumas imagens no refletor, pediu para que Oliver apagasse uma das luzes.

 

— Há alguns meses, ocorreu uma invasão em uma instalação governamental, sendo levado o projeto B-24, uma bateria renovável.

 

— Nos chamou aqui por que um projeto foi roubado?- perguntou Laurel descrente.

 

— Não é por conta do projeto, e sim por conta de quem o roubou.- respondeu de forma rude, a lançando um olhar de advertência.- Como sempre, passamos muito tempo investigando pistas, qualquer detalhe que revelasse a identidade de pessoas tão ousadas, ao ponto de entrarem em um local sem serem notadas, o que nos levou até um impasse. Queríamos o projeto, mas o que descobrimos é certamente muito mais valioso.- seu sorriso, que mascaravam suas intenções se ampliou.- Conseguimos a identidade de um dos três membros do grupo conhecido como Os Caçadores de Longbow.

 

  Felicity entreabriu a boca, surpresa com a informação. Qualquer agente de agências independentes já haviam ouvido falar nos caçadores, que até então eram uma lenda. Sua maneira graciosa de agir, sem fazer alarde, além da elegância em suas ações, todas bem calculadas e estudadas os deixava na lista de mais procurados do mundo. Mas como procurar alguém sem rosto?

 

Agora tinham.

 

Um rosto bem feminino. 

 

— Não me diga que essa é a Dardo Vermelho?- perguntou Felicity chamando a moça pelo alter ego, seu nome era desconhecido, Waller assentiu, surpresa.- Caramba.

 

— Me parece que contém um conhecimento maior sobre o grupo senhorita Smoak.

 

— É, eu meio que conheci alguém que ficou próximo deles.- respondeu sem revelar as dúvidas de Waller.- Bom, onde ela está?

 

— Beverly Hills. Dardo está resolvendo pontas soltas de sua equipe, pelo o que sabemos é a única dos três caçadores no estado.- informou.- A missão de vocês é clara e objetiva: a capturem, não aceito erros. Ter Dardo significa ter muitas informações, achem o que ela quer, se aproximem e a tragam pra mim. O voo de vocês sai hoje a noite, o restante das informações estão em seus tablets, dispensados.

 

— Nenhum, “ boa sorte agentes, temos sorte de ter a melhor equipe do país trabalhando pra nós.”— ironizou Tommy enquanto saiam, Waller escutou.

 

— Boa sorte agentes.- repetiu de forma sarcástica, seu olhar caiu em Felicity mais uma vez.- Bom vê-la Smoak.

 

— Gostaria de dizer o mesmo.- forçou um sorriso, cruzando os braços.

 

— Você e o senhor Queen tem nos mostrado resultados excelentes no controle da equipe, meus parabéns, são realmente ótimos trabalhando em equipe,

 

Oliver trincou o maxilar em sua direção, deixando claro que não havia gostado de sua insinuação. Amanda sorriu com sua direção, piscando, para logo em seguida fechar a porta, voltaram a caminhar.

 

— Aquela bruxa.- resmungou Laurel enquanto entravam no elevador.

 

Não ofenda o mundo mágico dessa maneira.- interviu Felicity quebrando o clima pesado.- Vamos para Beverly Hills pessoal.

 

— Ter a vida de uma patricinha por um dia, mal posso esperar.- brincou Tommy os fazendo rir.

 

— O que me atrai mesmo é a comida, em especial os doces, vou trazer algumas coisas.- comentou Ray de forma animada.

 

— Eu quero ver as lojas, só ver mesmo, se não lá se vai meu salário.- falou Curtis sonhador, Oliver sorriu.

 

— Vamos ter trabalho com eles.- cochichou.

 

— É, percebi.- sorriu Felicity, encontrando o olhar malicioso de Tommy.- O quê?

 

— É… Nada.- se interrompeu, abaixando o olhar, Felicity olhou para Oliver de boca aberta.

 

— Precisa me contar como o deixa assim.

 

— Não é nada demais.- sorriu convencido.- Tudo é jeito.

 

— Ok senhor jeito, segure a porta pra gente passar.- pediu quando o elevador abriu, Felicity foi a última a sair, curiosa.- Sabe que vou descobrir, não é?

 

— Não de mim.

 

— Você é insuportável.- o xingou, Oliver gargalhou.- Não é justo ter uma carta na manga e não compartilhar.

 

—  Recebi  um conselho de uma apostadora de cassinos uma vez, bem ousada a propósito.-  Felicity curvou os lábios em um sorriso.- Se tiver uma carta, a esconda.

 

— Difícil discordar de alguém tão inteligente.- suspirou frustrada, Oliver balançou a cabeça, divertido.- Uma hora vou descobrir.

 

— Como eu disse: não de mim.

 

***

 

Após nove horas de voo, a equipe finalmente havia aterrissado na luxuosa Beverly Hills, conhecida por sua ostentação. A cidade que virou casa de celebridades ícones como Michael Jackson e até mesmo da maravilhosa Madonna, se encontrava com um clima atípico. Não havia o verão ardente como no filme “ As patricinhas de Beverly Hills”, mas também não estava frio, seu clima era neutro, céu carregado com nuvens cinzentas e uma brisa que ficava gradativamente gelada com o passar das horas do dia. Felicity não havia falado muito, apenas concordava ou murmurava alguma coisa, seu olhar estava distante, algo percebido pela equipe.

 

   Principalmente por Oliver.

 

  Caminharam até o estacionamento, onde dois carros os esperavam. Felicity soltou um grito animado ao olhar os automóveis, esboçando alegria que havia a abandonado momentos antes. Largou as malas para tocar na lataria.

 

   - Eles nos alugaram uma Lamborghini?- perguntou chocada, examinando com precisão a tintura grafite.

 

  - Ghinis, no plural.- corrigiu Curtis indo pro segundo carro.- Céus, nunca vi disfarce melhor.

 

   - Ela é... Perfeita.- Suspirou apaixonada, Oliver riu.

 

   - Só não se esqueça de suas coisas agente Smoak.- a entregou as malas.- Não vou perder tempo perguntando quem vai dirigir.

 

   - Como sempre um cavaleiro.- ironizou pegando as chaves de suas mãos, Sara piscou em sua direção, a fazendo revirar os olhos.- Bom, quem vai comigo?

 

   - Andar a 100 por hora com você?- perguntou Tommy fingindo empolgação. Felicity assentiu, contente. Não. - a fez fechar a cara.- Ray, seja meu uber.

 

   - Ele me escolheu Lis, acontece.- respondeu Ray sorrindo, abriu a porta do passageiro para Laurel entrar.- Senhorita.

 

   - Obrigada amor.- o deu um selinho rápido.- Nem adianta me olhar com essa cara Lis, eu vou aqui.

 

   - Eu também, desculpe Lis.- sorriu Caitlin amarela, seguindo Tommy, Felicity os olhou chocada.

 

   - Bom, parece que só sobraram três lugares nesse carro, vamos ter que vir aqui.- lamentou Curtis, Sara riu.

 

   - Qual é, deixa a mulher dirigir.- brincou a loira, passando um dos braços em torno do pescoço do amigo.- Mas como sugestão, eu iria atrás.

 

   - Anotado.

 

  Felicity os observava, incrédula com a situação. Ao terminarem de arrumar as malas, se posicionaram em seus lugares. Oliver apertou o cinto, para provocá-la.

 

   - Não comece.

 

  - Percebeu que eu fui o único que não fiz objeções em vir com você, não é?- arqueou as sobrancelhas, Felicity bufou.- Acelera Lis, sei o quanto está empolgada. Só cuidado com os radares.

 

   - Não é como se eu fosse acelerar em uma pista de fórmula um.- o ronco do motor a fez sorrir em êxtase.- Mas dá pro gasto, vamos colocar essa belezinha pra andar.

 

   ***

Oliver e Felicity se divertiram pegando a estrada da casa onde até então se tornaria o “lar” de riquinhos esnobes pelos próximos dias. A cada quilômetro rodado, avenida pegada, ambos riam e conversam bobagens, outras vezes apenas ficavam em silêncio, onde Sara pode notar, com precisão, o olhar encantado do amigo sobre a agente. Era claro que o relacionamento dos dois estava mais... Atribulado? Isso geralmente se dava como resultando por parte de Felicity, que no mesmo instante em que ria se tornava séria, com um olhar perdido, e discretamente se retirava. Sara não era a única a notar seu comportamento, Oliver era uma das pessoas que mais sentiam sua barreira, o que deixava extremamente curioso, afinal, por que ela fazia isso?

 

   Vergonha do que fizeram? Ou pior.

 

   Arrependimento?

 

   Sim, o combinado era não ser lembrando o acontecimento em uma das casas da Bratva, mas isso não significa que ele simplesmente esqueceria, ao contrário, sua mente vinha o atormentando, pregando peças, e seus pensamentos, traiçoeiros, o torturavam com as lembranças, as sensações, os toques, os beijos...

 

   Oliver fechou os olhos.

 

   Precisava manter o foco.

 

  Tommy descarregando as malas com Ray o chamou atenção. Estacionaram na vaga ao lado, em frente à uma casa charmosa. Sua entrada era organizada, grama aparada com o caminho de pedras que levavam até uma enorme porta de madeira pivotante. Ao descer do carro, notou o sorrisinho cúmplice direcionado a si, no instante em que abria a porta traseira para que Sara e Curtis desembarcassem, entretidos em uma conversa.

 

  - Quantas multas?- perguntou Ray, Felicity o mostrou o dedo do meio.- Que grosseria Lis.

 

   - Acho que foram umas quatro, se tivermos sorte.- continuou Tommy, cruzando os braços.- Quantas foram na realidade Lis? Diga quem chegou perto.

 

   - Vá se ferrar.- rebateu os fazendo soltar um riso baixo.- E ao invés de ficarem parados aí, fofocando sobre a minha habilidade de dirigir bem e ser considerada as melhores em perseguições.- comentou soberba.- Deveriam me ajudar a tirar o restante dos equipamentos.

 

   - Ouçam a chefe.- falou Oliver, um sorriso se formou em seus lábios.- Mas eu chutaria cinco multas , não duvidaria da capacidade de Felicity.

 

    - Vocês três se merecem.- respondeu fingindo chateação, carregou uma das malas até a porta que já se encontrava aberta e entrou, Oliver a observava.

 

   - Ray, você que está em um relacionamento amoroso há algum tempo, sabe reconhecer o olhar de uma pessoa apaixonada?- provocou Tommy, Oliver virou o rosto em sua direção.

 

   - Sei, e não só o olhar, mas outras séries de atos. Olhar perdido, sorriso bobo, suspiros...

 

   - Suspiros é?- perguntou o moreno sorrindo de orelha a orelha, Oliver bufou.- Mal humor está incluso?

 

   - Definitivamente.

 

   - Mas que coincidência, parece que temos mais um...

 

    - Tommy? Cala a boca, ou eu abro a minha.- respondeu irritado, pegou duas malas grandes e os seguiu até a porta.

 

   - Mal humor outra vez, preste atenção.

 

   Seu cochicho com Ray o fez revirar os olhos. Mesmo em uma encruzilhada, com espingardas miradas em seu peito, sem porcentagem de erro, Tommy não perdia a piada, poderia acabar morto, mas não antes de falar o que queria.

 

   E não era um segredo que o faria parar.

 

   Pelo menos na frente de Felicity ele parecia se comportar.

 

  Seus queixos caíram ao analisar o interior da casa média, que se mostrava realmente de Beverly Hills. Poderia ser menor, comparada as mansões, mas em lugar algum era pequena. A decoração com cores neutras era refletida pelo piso polido de mármore. Sua enorme sala, com um pequeno, mas que fazia foda diferença, lustre de cristal a deixava ainda mais encantadora. Continuaram a andar, deixando as malas na ponta da enorme em caracol que levava ao segundo andar. Já no espaço seguinte, uma cozinha ampla com armários da coloração prata se destacavam com a parede revestida de madeira. Haviam pequenas flores em miniatura posicionadas em cima da mesa de mármore, deixando claro que os donos haviam pensando em tudo ali.

 

  Se é que haviam donos.

 

   As agências pareciam levar a sério o quesito “disfarce”, haviam vários pelo mundo.

 

    Aquele era apenas mais um.

 

   Sara apareceu sorrindo com o restante das agentes. Curtis se sentou em um dos banquinhos altos ao redor da mesa, animado, parece que alguém havia ganhado mimos.

 

   - As roupas. São incríveis!- comentou empolgado.- Aqueles ternos devem custar mais de 1000 dólares! Eu vou levar algum embora comigo, não estou nem aí.

 

    - Eles mandaram bem dessa vez.- concordou Caitlin.- John ia gostar de estar aqui.

 

   - Ele precisava de um tempo, espero que fique bem com Lyla.- suspirou Felicity.

 

   - Só uma pergunta.- falou Tommy erguendo o braço.- John geralmente é o responsável por nós quando vocês dois saem, então agora que ele não está aqui... Quem vai ser o novo Diggle?

 

   - Você não.- riu Sara.- Eu posso ser o novo Diggle.

 

    - Vocês dois ficam juntos no mesmo patamar, sem chance.- argumentou Laurel escutando seus protestos.

 

   - Ninguém vai ser o novo Diggle aqui.- interferiu Oliver em uma discussão que parecia que iria durar horas.- Sei que são grandinhos o suficiente para se cuidarem, assim espero.- olhou para Tommy que o mostrou o dedo do meio, Felicity sorriu de canto.- Certo, precisamos falar sério agora. Curtis...

 

   - Abrindo o notebook, só um minutinho.- respondeu concentrado, logo as informações passadas ficaram visíveis na tela.- Dardo Vermelho, nome desconhecido, integrante do grupo “ Os caçadores de Longbow”, última localização, Beverly Hills.

 

   - Como sabem, os caçadores de Longbow são uma das organizações mais perigosas atuais. Sua maneira audaz de agir, sem alarde, obtendo informações e matando pessoas os colocam em primeiro lugar na lista de mais procurados do mundo. A falta de informações os favorecem, e o grupo, pelo o que sabemos, é composto somente por quatro pessoas.

 

  - Três.- corrigiu Felicity a fala de Oliver.- São três.

 

   - Não eram quatro?- perguntou Tommy confuso.- Da última vez que ouvimos eram quatro, era um homem, seu alter ego era...

 

  - São três pessoas.- afirmou Felicity, parecendo incomodada.- Kodiak, Silenciadora, a mais... Agressiva seria a palavra?

 

   - Agressiva, lunática, psicopata, há uma infinidade de palavras que se encaixam com perfeição a ela.- falou Laurel dando de ombros.

 

    - Li sobre um de seus assassinatos.- comentou Curtis.- Não havia marcas digitais na vítima, deixando impossível a identificação.

 

   - Eles são bem perigosos, até a máfia russa os teme.- falou Oliver.- Mas vamos focar em Dardo, o que mais temos Curtis?

 

   - Só suas últimas localizações, sempre desacompanhada e com um sorriso angelical que chega a ser psicótico.- respondeu fazendo careta.- Ela andou circulando pelas lojas do Rodeo Drive, região dos jardins e pelo bairro Bel Air, onde aparentemente precisamos ficar mais de olho... A, e por um bar, Nineteen 12.

 

   - Hoje ela foi vista em algum lugar?

 

   - Hmmm... Bel Air, duas horas atrás.

 

   - Certo, seria bom dois de nós darmos uma rondada pelo bairro hoje, o restante continua aqui, estudando as informações e marcando possíveis pontos quais Dardo decida ir. 

 

   - Ok, quem vai dar a voltinha em Bel Air hoje?- perguntou Ray.

 

    - Eu e Sara.- se apressou Felicity enquanto Oliver entreabria a boca.- É melhor um de nós dois ficarmos aqui hoje.- o loiro apenas assentiu, confuso com sua atitude.- Certo, vou pegar alguns equipamentos e partirmos.

 

   Felicity saiu rapidamente, como se fugisse de alguma coisa. Sara passou por Oliver e apertou discretamente seu braço, seguindo o percurso que a amiga a pouco havia feito. O loiro continuou parado, enquanto o restante dos agentes conversavam. Uma ruga surgiu entre suas sobrancelhas.

 

    Felicity estava estranha.

 

   Não sabia se era por parte dos Caçadores de Longbow, algo que o mesmo iria descobrir por si próprio sua relação com o grupo, ou se possivelmente era por outro motivo. Engoliu em seco.

 

    Oliver torcia muito que não fosse pelo o que ele pensava



***

 

Bel Air

 

Tudo era realmente encantador ali.

 

Desde a entrada com imponentes portões, até as ruas sinuosas e bem arborizadas deixavam claro no ar que não era qualquer que moraria ali. Suas mansões, algumas com piscinas de vidro em suas entradas, deixaram as agentes encantadas. Com as informações recebidas por Curtis, Dardo parecia ter sido vista pela última vez no Hotel-Bel-Air, conhecido por seu luxo e por alojar celebridades e pessoas importantes. Se Dardo queria encontrar alguém, o hotel soava como um lugar perfeito.

 

Porém até agora ela não havia dado as caras.

 

Sara e Felicity observavam suas áreas de lazer de longe, sentadas dentro do carro. Curtis havia mandado também o acesso das câmeras internas, dando mais um ponto de vantagem diante da caçadora. 

 

Assim esperavam.

 

Felicity batucava as mãos no volante, impaciente. Seu olhar era perdido, vagando pela calçada, Sara não precisava perguntar, sabia que estava fazendo a vigia sozinha. Suspirou alto, na tentativa de chamar atenção de Felicity. Não funcionou.

 

Teria que ser mais direta.

 

— É um hotel e tanto, não é?

 

   -  Hmm?- perguntou confusa, voltando a realidade.

 

   - O hotel, é bem bonito.

 

    - Sim, claro. Ser um dos caçadores deve dar muito dinheiro para Dardo passear por aqui.- comentou observando as câmeras.- Se bem que até agora nada.

 

   - É.- concordou, seus lábios se apertaram, Na tentativa de controlar sua curiosidade.- Posso te fazer uma pergunta, Lis?

 

    - Pode, eu acho.- franziu o cenho.- Sobre o quê?

 

    - Oliver.- a escutou dar um murmúrio desanimado.- Aconteceu alguma coisa entre vocês?

 

   - Parece ter acontecido?- perguntou preocupada. Estavam disfarçando tão bem...

 

   - Você meio que o chutou hoje, sempre saem em dupla para averiguar as coisas, não teve como não notar.- respondeu, Felicity assentiu.- Na última semana na verdade você está um pouco aérea.

 

   - Eu sei.- suspirou cansada, seus sonhos não a deixavam dormir e parte de seu mal humor se devia a isso.- É que... É complicado.

 

   - Eu vejo o jeito que vocês dois agem, hoje mesmo no carro, pareciam em um mundo próprio.- Felicity encolheu os ombros.- Por que se afasta? Sério, vocês dois se amam tanto...

 

   - Eu não sei se Oliver ainda me ama.- contrapôs, Sara revirou os olhos.

 

   - Por favor, até o velhinho da rua vê.- respondeu impaciente.- Então por que não?

 

    - Você já se sentiu assim por alguém Sara?- perguntou Felicity de repente.- Já sentiu o frio na barriga, e a vontade imensurável de ficar com a pessoa ao seu lado pelo resto de suas vidas? Ter uma casa, uma família.- Os cantos da sua boca curvaram-se em o que deveria ser um sorriso.- Sentir que faria qualquer coisa por aquela pessoa, e de repente...-  seu rosto ficou impassível.- Já amou alguém?

 

     Seu silêncio serviu como resposta. Felicity não insistiu, apenas voltou a se recolher, quieta com os próprios pensamentos. Sara  limpou a garganta, seu olhar era vago, e seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso, mostrando seu sofrimento.

 

    - Nyssa.- falou por fim, Felicity ergueu a cabeça.- Nyssa Al Ghul. Eu a conheci em uma missão, ela trabalha em outro setor da A.R.G.U.S, assim que a vi eu sabia que era ela.

 

   - E o que aconteceu?

 

    - Trabalho. Na época eu queria o meu estrelismo, afinal, havia largado tudo para entrar na imponente A.R.G.U.S- um sorriso sarcástico tomou conta de seu rosto.- Fiz a escolha errada e a perdi, foi uma das piores coisas que já senti em toda minha vida. É como se faltasse um pedaço aqui.- colocou a mão sobre o peito.- E uma falta de ar acompanhasse essa sensação. Sentiu isso com Oliver?

 

   - Senti.- partilharam um sorriso triste.

 

    - Sinto muito.

 

    - Sinto muito por você também.- a lançou um olhar carinhoso.- Talvez o amor seja amaldiçoado para pessoas loiras.- brincou as fazendo rir.- Devia ter continuado morena.

 

    - Oliver iria gostar de você de qualquer forma, você poderia ter um arco-íris como cabelo.- respondeu dando um empurrãozinho em seu ombro, Felicity sorriu.- O que vai fazer?

 

    - Sobre Oliver? Eu não tenho ideia.- suspirou.- Mas vou encontrar um jeito. E agora chega, já fofocamos demais.

 

   - Ok chefinha.- a provocou, Felicity mostrou o dedo do meio.- Sabe que não ligo pra dedos, não é?- sorriu maliciosamente.

 

   - Você é um ser humano terrível.- riu envergonhada.- Foque nos seus afazeres agente Lance.

 

   - Ok agente Smoak.

 

   ***

 

  Oliver lia e relia as informações sobre Dardo mais vezes que o necessário. A noite começava a cair, e a demora das agentes em retornar o deu mais tempo do que esperava para fazer anotações sobre Dardo. Cada palavra escrita, mínima que fosse, era analisada com cautela, ele queria saber dos caçadores, ou melhor,

 

   Queria saber do envolvimento de Felicity com eles.

 

   Que já havia deixado claro que algo a incomodava.

 

   A agente obtinha mais conhecimento sobre o grupo do que o restante dos agentes, isso poderia ser devido a alguma operação antiga, afinal, ela esteve longe por cinco anos, claro que se envolveu com coisas e pessoas perigosas. Talvez fosse por isso que reagiu de uma maneira tão estranha mais cedo.

 

    Ou provavelmente seria por outra coisa.

 

   Oliver suspirou irritado. Irritado com sua postura de o afastar, e ao mesmo tempo, confuso por suas barreiras. Não que ele não tivesse as próprias, era claro para Oliver como os cinco anos haviam o transformado, mas quando estava com ela, rindo de suas falas em geral com duplo sentido, aquele distanciamento não fazia sentido.

 

    Era enlouquecedor.

 

    Ficar perto dela estava o deixando a flor da pele ultimamente. Não precisava muito, apenas um sorriso, um olhar, ou um simples encostar de mãos, e pronto, a atmosfera, assim como seus sentimentos se tornavam um emaranhado nó, cheio de fios, cada um com suas razões e significados. Esfregou o rosto, na tentativa de mudar o rumo de seus pensamentos. O barulho de Tommy atrás de si o fez virar o rosto, o moreno estava tranquilo, com um sorriso bobo no rosto, não precisava ser o melhor agente do mundo para descobrir a causa de seu humor.

 

   - Estava com Caitlin?- perguntou ao amigo que sentou no sofá ao seu lado.

 

   - Tão perceptível?- perguntou sorrindo, Oliver assentiu.- Preciso disfarçar mais então.

 

   - Vocês estão mascarando bem, o que é realmente impressionante vindo de você.- Tommy revirou os olhos.- Onde Curtis está?

 

   - Com Ray, continuam monitorando as câmeras, as meninas estão os ajudando, listando os últimos lugares que Dardo foi vista.

 

   - Estão lá em cima?

 

   - Sim, brigamos pelos quartos.- sorriu travesso.- Consegui o melhor, de nada.

 

   - Uau.- ironizou, seu olhar voltou a cair no Tablet, onde a foto de Dardo ganhava destaque.

 

    - Ainda lendo isso?

 

   - Um bom agente analisa com cautela cada pista.

 

   - E um mau Oliver use essa justificativa para esconder que está chateado.- rebateu, Oliver o lançou um olhar de repreensão.- O quê? Estou errado?

 

    - Na maioria das vezes isso é comum.- tentou irritá-lo, Tommy não se importou, apenas deu de ombros.- Está tão perceptível assim?

 

   - Está.

 

   - É realmente um mistério como viramos agentes.- acompanhou a risada do amigo, seu rosto se tornou impassível outra vez.

 

   - Aconteceu alguma coisa entre vocês? Não precisa me contar.- se apressou em dizer ao notar a postura defensiva de Oliver. O loiro assentiu.- Bom, isso explica um pouco as coisas.

 

   - É complicado Tommy.- suspirou puxando uma almofada.- Nós dois somos na realidade, não sei como lidar com isso.

 

   - Ela também não, deve ser por isso que quis respirar um pouco.

 

    - Eu sei, e não estou bravo, mas...- fez uma pausa breve, tentando seguir uma linha viável de raciocínio.- Eu não entendo como estamos, entende? Agimos bem, conversamos e até rimos juntos, mas em um momento as coisas ficam...

 

    - Estranhas.

 

   - É!- concordou erguendo a voz, se policiou para não fazer isso outra vez.- Exatamente isso. Eu não sei o que fazer.

 

   - Poderia conversar, sabe? Quando dois adultos se juntam e formam frases, que tem como o objetivo expressão...

 

   - Eu sei o que é conversar.- o interrompeu irritado.

 

   - Não parece.- Tommy não sorria, suas expressões eram neutras, calmas, com um quê de recriminação.- Eu sei que vocês fizeram um acordo, e é muito bonito o cumprirem, mas seria viável, para os dois, falaram um pouco sobre os problemas.

 

    Oliver ficou em silêncio, refletindo sobre o conselho do amigo. Suas sobrancelhas se juntaram, em sinal de confusão, até porque o que ele estava prestes a dizer parecia insanidade.

 

    Tommy estava certo.

 

    Thomas Merlyn estava certo.

 

   Virou o rosto em sua direção, chocado. Tommy também parecia confuso, não entendendo a forma tão analítica que o amigo o observava. Limpou a garganta.

 

   - O que foi?

 

   - Acho que estou ficando louco mesmo.- murmurou ainda o deixando no escuro.- Você está certo?

 

   - Estou. Estou?- arregalou os olhos. Seu sorriso se ampliou.- Hahaha! Eu estou certo!

 

    - Em que mundo vivemos.- murmurou Oliver, Tommy empurrou seu ombro.- Estar com Caitlin parece tê-lo deixado mais...

 

   - Inteligente? Atrativo? Sexy?- supôs soberbo, Oliver revirou os olhos.

 

   - Responsável.- respondeu, Tommy sorriu de canto.- Caitlin está adestrando você?

 

   - Claro, ela fala “ tira a camisa” e em dois segundos eu estou com ela no chão.- brincou.- Ela é incrível.

 

   - Como está se sentindo?

 

   - Feliz, e ao mesmo tempo estranho.- falou confuso.- Me sinto diferente.

 

    - Isso é bom.

 

   - É sim.- sorriu orgulhoso.- Nunca me senti assim antes, sabe? Querer ficar realmente com alguém, sério.- Oliver riu.

 

    - Parece insano para o seu “eu” de anos atrás.

 

    - Também acho.- concordou.- Mas é bom, não me parecer com ele, ele não teria chance com ela, já esse aqui.- apontou para si mesmo.- Está fazendo de tudo para dar certo.

 

   - Tão apaixonado.- zombou.

 

   - Eu sei.- sorriu animado.

 

   - Você responsável, quem diria.- murmurou ainda incrédulo, Tommy o mostrou o dedo do meio.

 

  O barulho da porta da frente sendo aberta chamou atenção. Sara havia entrado primeiro, pendurou sua jaqueta e acenou animada. Felicity parecia sorridente, e pelo olhar trocado com a amiga haviam aprontado alguma coisa.

 

   - O que vocês fizeram?- perguntou Tommy cruzando os braços.- Eu sei quando alguém apronta, já estive muito no lugar de vocês.

 

   - Não foi nada.- sorriu Sara de canto, passando a mão no cabelo.- Só demos uma voltinha por aí.

 

   - Como é atingir 200 quilômetros por hora?- perguntou Oliver sem rodeios, já sabendo o que haviam feito.

 

   - Emocionante!- respondeu animada, Sara riu por seu deslize.- Quer dizer, seria se eu tivesse feito isso.

 

   - Claro, se você tivesse feito, o que você não fez.- ironizou, Felicity sorriu.- Por onde teria andado?

 

   - Bom, nas avenidas movimentadas eu me comportaria, claro, mas se eu tivesse feito isso.- enfatizou.- Teria pegado a rodovia mais vazia.

 

   - E como teria sido?

 

   - Veloz, com muito vento no rosto.- sorriu nostálgica.

 

   - Queria levá-la até Los Angeles, uma hora daqui, seria bom ver os amigos antigos, mas ela não quis.- comentou Sara se sentando ao lado de Tommy.

 

   - Minha equipe não está mais lá.- respondeu dando de ombros, seu sorriso, tão vívido em seu rosto custava em permanecer, e seu olhar, fixado no chão, parecia perdido em lembranças. Balançou a cabeça, espantando o que a incomodava.- Acho que meu capitão mudou de condado também, mas tenho que admitir, era maravilhoso trabalhar lá, Los Angeles.- suspirou.- Capitão Avery sempre foi tão acolhedor, mas sabia ser ponta firme, e era extremamente engraçado, me ensinou muita coisa.

 

  - Sua equipe era grande?- perguntou Tommy.

 

   - Não muito, dependia na verdade.- deu de ombros.- Mas eu gostava, principalmente no verão, céus, parecia o inferno, você iria gostar Tommy.

 

   - Lidar com crimes na vizinhança dos famosos? Meu sonho.- comentou os fazendo rir.

 

   - E o restante do pessoal? Onde estão?

 

   - Lá em cima, monitorando as câmeras.- respondeu Oliver.

 

   - Ok, acho que vou tomar um banho, pelo andar da carruagem amanhã será um dia cheio.- suspirou se levantando, Oliver a observou sair, calada, com as sobrancelhas franzidas.

 

   Realmente, algo a incomodava.

 

    E algo o dizia que era bem mais pessoal do que imaginava.

 

   ***

 Mas que droga.

 

  Um murmúrio irritado escapou dos lábios de Felicity. Ergueu uma de suas mãos até a cabeceira, suspirando em desgosto ao notar que eram pouco mais de duas da manhã. Haviam ido deitar cedo, já que segundo as informações coletadas pela vigilância de Curtis e Ray, Dardo estava circulando pelos jardins, além de ter conversado com uma pessoa no bar Nineteen12. Não sabiam o que a mesma estava pretendendo, porém seu percurso havia os dado mais locais para vigiarem. Tentou dormir, e até chegou a pegar no sono, entretanto, seus sonhos mais uma vez apareceram como tormentos. Primeiramente havia sonhado com um lugar claro e bem arborizado, não precisando de muito raciocínio para descobrir onde era sua localização.

 

    Los Angeles.

 

   Sua amada e odiada Los Angeles.

 

   Felicity não odiava aquele local, havia sido um dos mais importantes para sua fase de experiência quando saiu de Star City. Sua equipe era simplesmente maravilhosa, todos bem humorados, inteligentes, dispostos a ajudá-la a superar aquele momento difícil. Porém, como tudo não é perfeito, a lembrança que a fazia detestar a cidade eram seus últimos dias como agente ali, o que havia acontecido fora uma verdadeira tragédia, a marcando, principalmente por não saber o paradeiro do homem que com o passar dos anos se transformou em um de seus demônios.

 

    Ele continuava solto.

 

   E saber sobre esse fato a deixava raivosa. Felicity havia perdido alguém, alguém importante, que não obteve a justiça que merecia. Acordou a primeira vez, com os ombros e rosto rígidos. O segundo sonho então, mais sútil do que o anterior, teve o poder de a despertar em chamas. Mais uma vez, o dono dos olhos mais azuis que havia conhecido passeavam em suas memórias, com um sorriso de canto, um olhar carinhoso, sem contar os lábios....

 

    Beijando cada pedaço de seu pescoço.

 

   A sensação fora tão real que ao acordar, suas mãos foram ao encontro de sua pele fria, trajando o percurso realizado em seu sonho. Um suspiro irritado a escapou ao sentar na cama e coçar os olhos, novamente perdia o sono.

 

    Novamente havia sonhado com Oliver.

 

    Talvez fosse por Sara, e sua mania irritante de colocar mais dúvidas em sua mente. Se levantou com passos leves, deixando seus óculos de lado, era madrugada, não havia razão alguma para o uso das lentes de contato ou do próprio. Se certificou de que não acordara ninguém ao abrir a porta. O corredor se encontrava silencioso, e cada passada que dava ressoava pelo local. Agarrou com firmeza o corrimão, na tentativa de não cair na escuridão, sua visão era um pouco borrada, mas nada que resultasse em uma queda. Ao chegar na sala, decidiu não acender as luzes, já que a cozinha estava iluminada o suficiente com as lâmpadas da vizinhança. Se dirigiu até o armário, pegando um copo e ao abrir a geladeira, notou que estava faltando um leite. Suas sobrancelhas se juntaram, confusas, juraria que havia visto uma caixa...

 

    - Na mesa.

 

   A voz grave a fez erguer o corpo com brusquidão, batendo a cabeça. Levou uma das mãos a boca, suspirando e inspirando até que sua respiração se estabilizasse. Oliver se aproximou, preocupado com sua batida.

 

  - Oliver Jonas Queen!- esbravejou ao vê-lo parar ao seu lado.- Você... Como...

 

   - Eu estava sentado, ali.- apontou para um dos banquinhos altos ao redor da mesa.

 

     - No escuro, no meio da madrugada!- continuou ignorando sua explicação.

 

   - Desculpe, dá próxima vez acendo as luzes e traga os óculos.- a provocou, sorrindo de canto, seu olhar parou sobre a nuca de Felicity.- Está dolorido?

 

    - Um pouco.

 

   - Vou pegar um gelo pra você.

 

   Felicity se sentou sem jeito, o assistindo procurar um pano em uma das gavetas. Retornou de pressa, abrindo a geladeira mais uma vez. A luz a deu uma visibilidade maior de Oliver, notando suas vestes. Seus lábios se curvaram em insatisfação. Ele estava usando camisa.

 

    Que pena.

 

   Balançou a cabeça, tentando não deixar suas sensações sentidas a poucos minutos atrás retornarem com força. Oliver se aproximou, colocando o pano em seu pescoço, o atrito gelado a arrepiou.

 

   - Obrigada. - Agradeceu segurando o pano, Oliver se sentou ao seu lado, ainda preocupado.- Estou bem, tirando o fato de você quase me fazer atirar um copo em você.

 

   - Teria uma mira tão certeira no escuro?- provocou.

 

   - Não tanto como a do Robin Hood.- Oliver riu baixo.- Mas daria pro gasto.

 

   - Imagino que sim.- sorriu de canto, seus olhos se encontraram.- O que faz acordada Felicity?

 

   Sua pergunta a deixou sem graça. Era uma pergunta fácil de responder, porém saber a verdade por trás a deixava ainda mais envergonhada, afinal, por que ela não dormia?

 

   “ Porque sonhei com você”

 

   Não era uma resposta viável a se dizer. Suspirou e abaixou o olhar para a mesa de mármore.

 

   - Insônia.- respondeu.- E você?

 

   - O mesmo.

 

   - Hmmm.

 

  Continuaram em silêncio, escutando os sons emitidos pelos eletrodomésticos. Ergueu o olhar, encontrando o de Oliver, parecendo analisá-la.

 

   - Parece conhecer bem os caçadores.

 

   - Como?- perguntou confusa com o rumo da conversa.

 

   - Os caçadores, parece os conhecer bem.- explicou, seus braços se cruzaram.- Os conhece?

 

   - Não exatamente.- suspirou.- Conheci alguém que os conheceu de perto, por isso sei um pouco de seus métodos.

 

   - O quarto membro.- supôs.

 

   - Eu não disse que era ele.

 

   - Mas também não negou.

 

  Felicity mordeu os lábios, nervosa, não poderia dar seu paradeiro, não depois de tudo o que essa pessoa havia a ajudado. O olhou com firmeza, tentando intimidá-lo, Oliver retribuiu, e a luz noturna fazia seus olhos brilharem.

 

   Igual o de seus sonhos.

 

    Precisava focar.

 

   - Conseguiu tudo isso apenas me observando?

 

   - Sim e não.- respondeu honesto.- Não estou te julgando, ok? Só queria saber se esse era o motivo para a deixar tão...

 

    - Tão...

 

   - Estranha?- mais perguntou do que respondeu.- Tem algo a incomodando, e se for por conta de sua ligação a esse caso quero que fique tranquila...

 

   - Não estou assim por conta do caso.

 

   - Não?

 

   - Não.

 

  Oliver assentiu, engolindo em seco. Não era por conta do caso.

 

   Sua segunda opção ganhava o primeiro lugar.

 

    Seus lábios se entreabriram, tentado a questioná-la.

 

   - Então o que vem a incomodando?

 

    - Muita coisa.

 

   Um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto, o confundindo, havia tanta coisa a tirando dos eixos. Primeiramente a A.R.G.U.S e o reencontro com Amanda nada agradável, depois suas recordações da sua equipe de Los Angeles e por último e não menos importante...

 

    Seus sentimentos por Oliver.

Era enlouquecedor.

 

   - Não está satisfeita com a equipe?- perguntou captando sua atenção, Felicity pode notar a preocupação em seus olhos.- Se estivermos fazendo alguma coisa errada...

 

   - Oliver.- o calou ao colocar suas mãos em seu pulso, deslizando seus dedos até a palma de sua mão.- Vocês são maravilhosos, não há nada de errado, e eu amo...Eu amo trabalhar com vocês.

 

  Oliver intensificou o aperto de suas mãos, relaxando os ombros. Mesmo com a pouca iluminação presente, era possível enxergar seus traços, ambos sorriam de canto, entretidos em sua conversa silenciosa. Seus dedos se entrelaçaram, e um arrepio, súbito e discreto percorreu seus corpos, os fazendo estremecer. Felicity recolheu sua mão, afoita com a sensação. Respirou fundo, precisava encerrar aquilo, até porque continuar em um cômodo escuro com o homem que invadia seus sonhos não soava como uma combinação viável. Limpou a garganta.

 

— Boa noite Oliver.

 

— Boa noite Lis.

 

***

 

— Tá, eu só preciso ir até lá e jogar o meu charme encantador?- perguntou Tommy arrumando seu terno enquanto entrava em um dos bares frequentados por Dardo.

 

“ - Você só precisa ir lá e ser o canalha que você é.- respondeu Sara ao lado do restante dos agentes que acompanhavam sua encenação.

 

   Ao que parecia, Dardo havia andado coletando informações pela madrugada, retornando a um dos pontos já classificados como suspeitos de sua aparição. A morena havia conversado tranquilamente com uma mulher, que ria de suas palavras. Curtis, com suas habilidades invejáveis, havia descoberto que a mulher qual Dardo conversava era ninguém mais ninguém menos que um dos membros da alta Elite de Beverly Hills, sempre rodeada de pessoas influentes. Se Dardo queria ajuda para encontrar alguém importante, a senhorita Bain se tornava a pessoa ideal. A mesma se encontrava sentada em um dos banquinhos altos ao redor do luxuoso balcão, concentrada em seu telefone. Ray focalizou uma das câmeras internas em seu rosto, aguardando o momento da entrada de Tommy. O moreno se aproximou com um sorriso sacana, se sentando ao seu lado, Bain ergueu o rosto.

 

— Um whiskey por favor.- pediu ao barman.- E um…- olhou para o copo ao seu lado.- Romanée- Conti para a senhorita…?

 

— Bain, Mary Bain.

 

—  Anthony Lewis.

 

“ - Romanée- Conti?- berrou Felicity na escuta, Tommy levou a mão até a orelha, disfarçando seu susto. - Você ficou louco? Sabe quanto custa..”

 

— Não se preocupe que não será nós que iremos pagar.- murmurou forçando um sorriso a Mary, que erguia sua taça.- Então Mary, posso te chamar de Mary, né?- a mulher de cachos assentiu.- Vem sempre aqui?

 

— É assim que corteja uma mulher?- arqueou as sobrancelhas, divertida por deixá-lo sem palavras.- Não me parece o tipo que corteja muito senhor Lewis, mas sim que vai direto ao...Ponto.- seu sorriso se ampliou, Tommy retribuiu.

 

— Há casos e casos, o seu é diferente.- justificou, impulsionou seu corpo para frente, ficando mais próximos.- Gostaria de saber uma coisa antes, se assim permitir.- sussurrou em seu ouvido, se afastando logo em seguida.- Onde vai hoje a noite?

 

— Não é da cidade? Interessante.- sorriu mais uma vez.- Posso ser sua guia.

 

— Eu adoraria.

 

“ - Direto ao ponto Thomas.- interrompeu Sara mais uma vez.- Não temos o dia todo.”

 

“ - Só pegue o endereço.-pediu Oliver, seu olhar caiu em Caitlin, que parecia incomodada com a situação.- Talvez tenha problemas com o frio mais tarde.”

 

   Sua frase deixou o restante da equipe com cenhos franzidos, não entendendo seu ponto, entretanto, Tommy compreendeu completamente, se afastando um pouco mais de Mary.

 

— Bel Air, ás 20:00 horas, uma amiga minha será a anfitriã, o espero lá senhor Lewis.– Como é o nome de sua amiga? Preciso ao menos conhecê-la.- sorriu de canto, Mary assentiu.– Victoria. Victoria Egan.  Espero que não desmarque Anthony.  - Estarei presente Mary.

 

  Ao se levantar, Tommy foi surpreendido com um selinho rápido da mulher a sua frente, que sorria divertida. Tommy assentiu, nervosamente, e pela frase de Oliver o mesmo parecia que deveria se explicar mais tarde. Em um momento de distração, pegou a garrafa pedida, deixando na conta de um dos responsáveis pelas missões da A.R.G.U.S.

 

“ - Não somos nós que iremos pagar, então de nada cunhadinha.”

 

“ - Você não vale nada.- riu Felicity.- Venha logo, temos muita coisa pra arrumar.”

 

“ - Sim, senhorita."



***

— Acho um pouco exagerado.- murmurou Felicity incerta, se olhando no espelho.

 

    - Você está perfeita.

 

   Suas mãos desceram pelo tecido, sentindo a delicadeza da peça. Seus olhos percorrem desde seus saltos prateados até a fenda na altura de sua coxa. Felicity trajava um vestido preto com a manga fora, caídas com sutileza pouco abaixo de seus ombros. A maquiagem pesada para a noite revelavam a beleza de seus olhos azuis, vívidos, que observavam tudo com atenção. Laurel lhe entregou por último o batom vinho, sorrindo em satisfação, ela estava maravilhosa.

 

    Todas estavam.

 

  O endereço entregue da senhorita Bain os ajudou a organizarem a apreensão. Marcaram pontos estratégicos pela vizinhança, pesquisando o nome que deveria ser o da anfitriã, que não resultou em absolutamente nada.

 

   Era um fantasma.

 

   Assim como previram.

 

  Dardo estaria na festa hoje à noite, onde provavelmente finalmente chegaria na pessoa que almejava, no entanto, encontraria os agentes em seu caminho, todos estavam preparados.

 

   Para o melhor e o pior dos cenários.

 

   Seu alter ego não era uma brincadeira, os dardos utilizados pela mulher misteriosa continham um efeito rápido, dando poucos segundos para alguma reação de defesa da vítima, precisariam ser cautelosos. Curtis já havia plagiado falsos convites, deixando suas entradas livres, porém, a falta de visibilidade dentro do salão seria uma contratempo, já que o mesmo só tinha poder sobre as câmeras aos arredores da mansão. Ray ficou encarregado de assim que entrassem, colocar micro câmeras em pontos precisos, os ajudando a fazer reconhecimento facial, tudo o que Dardo mais temia.

 

    Ser vista.

 

  Caitlin terminava de fazer pequenos cachos em seu cabelo, seu rosto estava sério e coberto por uma maquiagem leve, tirando o batom que ganhava toda a atenção por estar em vermelho. Seu vestido era da coloração dourada repleto de lantejoulas, com caimento acima dos joelhos, marcando sua cintura. As mangas cumpridas eram cortadas em tirinhas, deixando sua pele exposta. Laurel também trajava um vestido curto da cor vinho com as costas expostas, e Sara optou por um vestido verde esmeralda brilhante, com mangas também em bainha e caimento até os tornozelos.

 

   - Acho que é isso.- murmurou a Lance mais nova terminando de passar rímel.- Nossas armas?

 

   - Bolsa.- indicou Felicity.- Tem um fundo falso, não corre o risco de ninguém ver.

 

   - Certo. Acho que está na hora da foto então.- sorriu Laurel.- Por favor! Eu morria de inveja quando Sara me mandava as fotos das viagens.

 

   - O que não fazemos por você, não é?- sorriu Caitlin parando ao seu lado, pegando o celular.- Digam “patricinhas sexys no três. 1 ... 2 ... 3!

 

   - Patricinhas sexys!

 

   Um riso as contagiou ao dizerem a frase. Pegaram suas bolsas e abriram a porta, caminhando até a escada. O restante dos agentes já aguardavam na sala, colocando os últimos equipamentos. Oliver ergueu a cabeça ao escutar o barulho dos saltos emitidos pelos degraus. Seu coração se acelerou e o prendeu a respiração no instante em que seus olhos caíram em Felicity, analisando desde o mais sutil detalhe como seus brincos, até um mais revelador como seu decote. Desviou o olhar ao encontrar seus olhos azuis, voltando a focar em Curtis, que terminava de os atualizar. Apenas assentiu, sem ouvir coisa alguma, estava ocupado demais policiando a si próprio.

 

   - É isso.- finalizou Curtis.- Vou estar de olho em tudo, se Dardo aparecer vamos ver. Estão com os convites?

 

    - Aqui.- mostrou Ray, sua boca se entreabriu ao observar Laurel.- Uau, amor...

 

   - Não me deixe vermelha.- riu o dando um selinho, entrelaçando suas mãos.- Vocês também estão maravilhosos.

 

   - Eu não tento, mas é inevitável.- sorriu Tommy ajeitando o blazer, seu olhar caiu em Caitlin, tentado a fazer algum comentário. Não conseguiu, a mesma não o olhava mais.

 

   - Bom, então vamos lá.- sorriu Felicity.- Hoje prendemos um dos caçadores.

 

   ***

   Driblar a segurança havia sido mais fácil do que haviam pensado graças às artimanhas de Curtis. Em nenhum momento questionaram ou ousaram fazer perguntas, até porque é muito mais comum julgar alguém suspeito que esteja trajando algo mais simples do que alguém que se assemelha à elite da cidade. A casa concentrada no bairro Old Bel air era simplesmente impressionante. Seu jardim, imenso e repleto de flores, continham caminhos de pedra iluminados por luzes embutidas ao chão. Atravessaram o gramado ao lado da piscina e seguiram para o interior da casa que se mostrava bem movimentada. Burburios e taças batendo, selando o que deveria ser alguma parceria entre os convidados. Observaram seus arredores, à procura de alguma mulher que se assemelhasse com o perfil de Dardo, até o momento não haviam encontrado nenhuma.

 

   “- Nenhum sinal nos jardins.- respondeu Curtis.”

 

   “- Nossa visão por dentro é limitada, instalaremos as câmeras.- informou Ray, saindo de mãos dadas com Laurel.

 

   - Vou dar uma rondada pela área leste.- disse Sara, piscando para Felicity enquanto se retirava.

 

   - Vou com você.- falou Caitlin, Tommy entreabriu a boca.- Qualquer coisa chamem nos comunicadores.

 

    - Eu...- suspirou desanimado a assistindo se afastar.- Eu vou então pra área norte.

 

    - Climão.

 

    - Pois é.- concordou Felicity, seu olhar varria o salão.- Será que ela vem?

 

    - Espero que sim.- suspirou.- Precisamos nos misturar.

 

    - Começamos com um drink então.- sugeriu pegando duas taças da bandeja que passava.- Agora parecemos riquinhos, você nesse terno fica com cara de nojento.

 

   - Nossa, obrigado.- riu irônico, Felicity sorriu de canto.- Você também fica nojenta neste vestido agente Smoak.

 

    - Mesmo?

 

   - E algumas coisas mais.- piscou, sorriu ao vê-la ficar sem graça.- Vamos ou você continuará falando o quanto eu estou sexy neste terno?

 

   - Eu não disse que você estava sexy.- o corrigiu. Seu olhar se levantou, desafiante.- Disse?

 

    - Acha o contrário então?

 

   Seus lábios se entreabriram, pegos de surpresa com a pergunta. Oliver a fitou firme, cruzando os braços, eram nestas brincadeiras onde o mesmo perguntava o que mais queria. Felicity fechou os olhos e não o respondeu. Mais recomposta, se afastou, virando as costas.

 

   - Estou na área oeste, qualquer novidade informe.

 

    - Ok.

 

  Oliver assentiu, fechando as mãos em punho, novamente ela fugia.

 

    Erguendo uma barreira mais uma vez.

 

   ***

  Tommy dividia sua atenção em dois pontos, deixando claro que prestava mais atenção na mulher com cabelos cacheados do que em alguma possível assassina. Seu coração se apertou ao assisti-la se afastar, alguma coisa estava errada.

 

   Tommy sabia disso.

 

   Precisavam conversar.

 

  Famoso por não dar importância alguma a protocolos, o moreno abandonou a posição e saiu, seguindo o brilho dourado que se destacava dentre os convidados. Apertou o passo, colocando a mão em seu ombro. Caitlin congelou, fechando suas mãos em punho, pronta para nocautear o agressor. Tommy a impediu, insistindo que continuassem. Em uma área mais vazia, o mesmo a soltou, parando em sua frente.

 

   - O que foi?- perguntou preocupada. 

 

   - Eu não sei.- suspirou cansado. Caitlin o olhou confusa.- Você está estranha... Está tudo bem?

 

   - Ah, sim.- sorriu amarelo, Tommy colocou ambas as mãos em seus ombros, incentivando que continuasse.- Não é nada demais.

 

   - Eu quero saber.- pediu, sua fala transbordava angústia.- O que foi?

 

   Caitlin abaixou o olhar, envergonhada. Seu suspiro alto o deixou ainda mais preocupado. Ergueu o rosto novamente.

 

   - Eu fiquei um pouco... Incomodada com seu “drink” com a senhorita Bain. Eu sei que isso faz parte da missão, e tudo bem, sou profissional, a questão é que...- fez uma pausa, dando surgimento a uma postura acuada.- Ela é exatamente o tipo de mulher que você saia há cinco anos atrás Tommy, por nossas situações passadas eu fiquei insegura.

 

   Seu desabafo o deixou pensativo. Caitlin o fitou mais uma vez, buscando algum rastro de reação. Sua falta de palavras a deixou nervosa. Tentou se afastar, porém fora impedida, Tommy ainda segurava seus ombros.

 

   - É bobagem, não sei porque te contei isso.- sorriu envergonhada, seu queixo se abaixou, sendo erguido novamente pela mão de Tommy.

 

   - Fico feliz que tenha me contado.- sorriu de canto. Fechou os olhos novamente, escolhendo as palavras.- Se você soubesse o que se passa aqui...- colocou sua mão sobre seu peito.- Caitlin, minhas palavras foram verdadeiras quando eu disse sobre nós dois. Eu me sinto bem com você, feliz, me sinto como se uma diferente versão de mim estivesse tomando forma. Eu quero ficar com você, só você.- enfatizou.- Me desculpe se minha postura antiga a deixou insegura, e tudo bem, mas quero que fique tranquila quanto a isso, e mais, quero que acredite na veracidade de minhas palavras. Eu estou apaixonado por você Snow, completamente apaixonado.

 

   Os olhos de Caitlin iluminaram-se. Levou sua mão e traçou o queixo de Tommy, o trazendo para perto de si. Era perceptível seu alívio.

 

   - Como você pode ser tão fofo?- murmurou, emocionada com a declaração. Um riso baixo os escapou.

 

   - Charme.- respondeu, seus lábios beijaram sua bochecha. Passou os braços em torno de sua cintura, a abraçando.

 

   - Desculpe por duvidar de você.- sussurrou, enterrando o rosto em seu peito.- É novo pra mim.

 

   - Pra mim também.- seus lábios curvaram-se em um meio sorriso.- Vamos dar um jeito.

 

    - Vamos sim.

 

   Seus corpos pareciam resistir a qualquer forma de distância, porém era necessário. Caitlin o deu um beijo rápido e saiu, contente, o deixando abobalhado. Sorriu orgulhoso.

 

   O relacionamento de ambos estava evoluindo.

 

   Não via a hora de contar a todos.

 

   ***

Felicity circulava pelo salão. Seus olhos, atentos, iam e vinham a cada rosto que passeava ao seu redor. Acabou esbarrando em um dos garçons, se desculpando em seguida por sua falta de atenção. 

 

  Que estava em Oliver mais uma vez.

 

Apertou a mão com força, respirando fundo. Era terrível a maneira que perdia o controle quando estava em sua presença, se atrapalhando e muitas vezes falando mais do que deveria. Notou, em seu momento de reflexão, um ponto carmim a sua direita, caminhando com superioridade. Não precisou de muito para descobrir quem era.

 

  Dardo.

 

 Ao que parecia, a caçadora levava a sério seu alter ego.

 

“- Smoak na linha. Visualização do alvo a oeste, pronta para verificação.”

 

 Pegou, em um gesto discreto, sua arma dentro da bolsa. A seguiu, fazendo paradas pelo caminho, quando a encurralou, apontando o ferro gélido em suas costas.

 

— Precisamos conversar senhorita Egan, lá fora.

 

— Uma boa sugestão.

 

   Ambas caminharam a passos calmos até o lado exterior da mansão. Felicity a fazia andar, mesmo já estando no gramado. Achou um ponto discreto no jardim, onde diversas rosas faziam pequenos canteiros em rodas. Ao chegarem, indicou que Dardo virasse, ficando frente a frente pela primeira vez. Seu amigo não mentiu.

 

   Dardo era bonita.

 

  Seus traços leves e gentis, a davam um ar inocente, beirando ao angelical, o que a tornava extremamente perigosa.

 

  Se recompôs, limpando a garganta.

 

— Victoria Egan?- chamou.- Ou Dardo vermelho? 

 

— Federal não é?- perguntou a olhando com desgosto, como se o trabalho de Felicity soasse um insulto.- Sempre a mesma linha. Mas tenho que admitir, você é audaz, daria uma boa caçadora.

 

— Então é isso que veio fazer? Recrutar.- perguntou.- Pelo o que eu saiba não obteve sucesso na última vez, não é?– Como se você soubesse de algo.- sorriu irônica.

 

— Não preciso ser uma estrela para saber o que você faz.

 

   Suas feições endureceram, abandonando sua postura tranquila. Felicity pode enxergar, por entre os olhos da mulher a sua frente, seu lado assassino vindo à tona. Havia a provocado.

 

   Dardo estava furiosa.

 

— O conhece.- suas mãos se fecharam em punho.- Aquele traidor!

 

— Trabalho, sei que é por isso que odeia o FBI.-forçou um sorriso.- Quais são suas afiliações?

 

— Eu não vou dizer.

 

— Agente Smoak?- chamou Oliver ao fundo, aliviado ao finalmente encontrá-la.

 

— Smoak?

 

Dardo voltou a sorrir, de maneira psicótica. Arqueou as sobrancelhas, como se tivesse acabado de descobrir um triunfo.

 

— Mas que surpresa.

 

Seu riso os deixou em estado de alerta. Oliver levou a mão à cintura, pronto para reagir a qualquer que fosse os planos da caçadora. A mesma não se moveu, apenas observava Felicity de maneira divertida, assentindo consigo mesma. Seus olhos cintilavam.

 

— Agente Smoak.- pronunciou o sobrenome com certo prazer.- É maravilhoso finalmente conhecê-la. Você deixou algumas pessoas bem chateadas.

 

— Como me conhece?- perguntou confusa, Dardo sorriu mais uma vez, como se aguardasse ansiosamente a pergunta.

 

— Vou dizer uma palavra: “Diaz”.

 

Sua expressão endureceu. Felicity continha os lábios franzidos e encarava Dardo fixamente. Oliver notou sua mudança de postura, mais rígida.

 Assombrosa.

Seus olhos brilhavam de uma maneira nunca vista antes pelo agente.

— Onde ele está?- perguntou em tom baixo, deixando explícito sua raiva. Segurava com firmeza a arma.

— Eu não sei.

— Eu perguntei onde ele está?

 Sua voz se elevou,e ambas as mãos, trêmulas, miravam o peito de Dardo, que a desafiava. Oliver observava tudo atento, não entendendo sua mudança. Felicity cerrou os dentes, a lançando um olhar frio.

— Quando o viu?

—Eu não sei.

— O que ele queria?

— Eu já disse que não sei!

As respostas vazias pareciam enfurecer Felicity cada vez mais. A olhava com descrença, como se fosse um absurdo assistir a tantas mentiras. Não via sentido em assisti-la realizar seu teatro, queria que a mesma falasse. Sua mente tomou um caminho obscuro,a fazendo apertar sua arma mais uma vez.

Dardo iria falar.

Por bem ou por mal.

— Ela já disse que não sabe.- interferiu Oliver, Felicity o lançou um olhar raivoso.

— É mentira! Olhe só para ela!- sua postura descontrolada fazia Dardo sorrir de canto.- Fale!

— Bem que ele disse que você era louca.- desdenhou.

— Eu disse pra falar!- gritou, engatilhando o revólver.- Fale!

— Fe-li-ci-ty!

O disparo ecoou pelas árvores, formando um silêncio tenebroso. Ainda era possível ouvir a música de dentro da mansão, preenchendo a lacuna que havia se formado no jardim. Felicity olhava para Oliver, paralisada. Seus olhos se arregalaram em sinal de espanto, dando conta do que quase fizera. Havia atirado.

Havia atirado na direção de Dardo.

Que só não foi atingida pela agilidade de Oliver em erguer seu braço.

O mesmo continuava a segurá-lo para o alto, ofegante. Assistia os olhos azuis de Felicity, nublados, voltarem a ter foco, ela também estava assustada. A encarou mais uma vez, se certificando que estava mais recomposta para logo em seguida se afastar, segurando no braço da caçadora que parecia entender que quase havia sido morta à queima roupa.

— Dardo Vermelho, você está presa por afiliação criminosa, assassinato, trafico internacional e por mais de 20 crimes incluido estes já citados. Alguma objeção?

— Não.

— Ótimo, terá longas conversas na A.R.G.U.S

***

Felicity esperava pacientemente ao lado de fora onde ocorriam os interrogatórios. Dardo parecia irritada com o feito, principalmente ao se dar conta do ato secreto que quase havia acontecido no jardim. A noite se passou corriqueira, entre documentos e mais documentos, falas e mais falas, não havia nem encontrado tempo para se livrar da roupa de galã. Ainda se encontravam no condado de Los Angeles, sendo aconselhados por Amanda a fazerem os primeiros procedimentos da apreensão em um dos escritórios do FBI na cidade. A porta foi aberta, dando a visão de um Oliver cansado. Trajava seu terno, porém o blazer fora retirado, o deixando caído por seu ombro, revelando os suspensórios.

— Vai ser transferida, agentes da A.R.G.U.S estão a caminho.- informou, Felicity assentiu. 

— Posso falar com ela?- pediu, Oliver entreabriu os lábios.- Por favor... 

— 5 minutos e nada mais.  

O agradeceu, entrando apressada. Fechou a porta, se virando para a mesa onde Dardo se encontrava com os pulsos algemados, sentada em uma cadeira. O pequeno sorriso que surgiu a surpreendeu. Dardo estava sorrindo.

Para a mulher que quase havia a matado.

Era realmente louca.

— Mais corajosa do que eu pensava.- comentou com satisfação.- Deve ser por isso que ele tem tanta raiva de você.

— Preciso saber onde ele está.

— Eu não sei.- suspirou cansada.- A última vez que o vi ele estava estranhamente satisfeito, queria ajuda para invadir o CDC, e com um bom dinheiro, fizemos de bom grado.- sorriu orgulhosa.- Diaz está fazendo algo grande agente Smoak, sugiro que mantenha seus olhos abertos.

— O-Obrigada.- agradeceu estranhando sua cooperação.

—  Não estou fazendo isso por você.-falou com desdém. Seus lábios se estreitaram, formando um sorriso cínico.- Diaz é um ser desprezível, só me trouxe problemas, merece o pior.- enfatizou.- E você, cara agente, quase me matou. Não importa quando o encontrar, sei que vai, e quando isso acontecer, e um dos dois estiver sangrando em um chão frio, inerte, eu já vou estar em vantagem.- Felicity engoliu em seco.- Se matem, perca o controle assim como fez comigo, o que me importa é que eu quero um de vocês dois fora de circulação, qual não interessa nem um pouco.

Seu olhar angelical, demonstrando calma e gentileza enquanto falava mostrava mais uma vez o quão ardilosa Dardo era. Sempre preferia agir pela maneira mais calma, até porque é muito mais fácil derrotar alguém se passando por amigo, sem levantar suspeitas, do que ganhar seu ódio imediato. 

   Felicity saiu, deslocada, sentindo a necessidade de respirar. A brisa gelada caiu como um refresco em seu rosto. A mesma se encontrava pouco claustrofóbica diante da conversa com a caçadora. Levou a mão até a testa, puxando para trás o cabelo com força. Fechou os olhos, enchendo os pulmões, quando ouviu um arranhar de garganta. Oliver estava parado ao seu lado, a observando cautelosamente. Se aproximou, calado, voltando a olhar a rua, Felicity seguiu seu movimento. Ela não sabia o que dizer.

   Ou como dizer.

   Até porque a própria não sabia como havia deixado as coisas tomarem proporções tão drásticas.

   Oliver fitou seu rosto, uma mania que tinha ao tentar lê-la. Felicity, mesmo sentindo seu olhar, continuava a olhar para frente, não estava preparada.

   - Foram realmente cinco minutos.- comentou, na tentativa de deixá-la mais confortável.

  - Eu disse que seria rápida.- olhou para as mãos, cansada.- Deve estar me achando uma maluca, não é?

   - Não.- respondeu sincero, Felicity ergueu o olhar.- Mas certamente fiquei surpreso. Você ia mesmo...

    - Eu não sei.

   Respirou fundo, tentando achar algo que justificasse seus atos. Fora apenas uma desconcentração ou a mesma queria realmente matar Dardo? Oliver a assistia raciocinar, prestando atenção em todas suas mudanças. Desde a mordida nos lábios, as mãos fechadas, e principalmente os olhos.  Felicity continuou.

   - Eu não queria machucá-la, mas perdi o controle. O sentimento de ódio me consumiu, vingança, não me deixando ver a razão.- murmurou em tom sombrio, seus traços eram rígidos.- Quando me dei conta...- suspirou, deixando transparecer seu desespero.- Quando me dei conta quase havia matado uma pessoa.

   O barulho de sirenes ao longe, misturado aos demais automóveis presentes na rua preencheram a lacuna formada pelo silêncio. Oliver voltou a observá-la,  pensando seriamente em fazer a tão importante pergunta que o rondava com o passar das últimas horas. Suspirou, já haviam passado por coisas demais, não seria um problema ele querer saber.

   - Quem é Diaz, Felicity?

   Seu maxilar trincou, e seus ombros voltaram a ficar rígidos. Oliver pode notar, como um lampejo, que a mesma sombra que nublou os olhos da loira na noite anterior havia voltado a se fazer presente. Ele nunca tinha visto esse brilho em seus olhos antes, era diferente.

   Assustador.

  Como uma sombra escura, tomando posse de algo tão cheio de luz.

     - Eu não estou preparada para falar sobre isso Oliver.- respondeu em um murmúrio seco.- Tudo o que posso dizer é que é um homem desprezível, e que merece a morte mais dolorosa.

   Oliver assentiu em silêncio. Voltando a olhar para frente. Felicity o observou, entreabriu os lábios,  quando  Ray surgiu na esquina, segurando nada mais nada menos que três caixas rosas. Estava tão entretido que não notou o aparente desconforto, apenas sorria, contente, parando em suas frentes.

— Acabei de chegar da Sprinkles, três caixas repletas de cupcakes.- informou animado, Felicity e Oliver balançaram a cabeça, divertidos com a empolgação do amigo.- Querem?

— Não.- negou Oliver.- Mas guarda alguns pra gente, hein?

— Não prometo.

O assistiram se afastar, preso no próprio mundo. O silêncio voltou a se fazer presente. Felicity então apertou as mãos, realmente queria saber como ninguém havia descoberto seu deslize no jardim, nem as câmeras havia os pegado, isso não acontecia em um simples toque de mágica

   - Ouvi seu relatório, sobre como a capturamos.- comentou.- Você não contou. Por quê?

   - Porque nada aconteceu.

  A brisa, um pouco mais forte os atingiu, fazendo Felicity se arrepiar. A loira cruzou os braços, na tentativa de se manter aquecida. Oliver estendeu seu blazer, notando sua mudança de postura. 

   - Parece com frio.

   - Você é inacreditável.

  Sorriu sarcástica, aceitando a peça, sentindo um alívio com o pano quente cobrindo seus ombros. O encarou, incrédula, dando um passo em sua direção.

   - Eu falo que quase matei uma mulher, desejei a morte de uma pessoa e você ainda me dá o seu blazer?- perguntou juntando as sobrancelhas, em dúvida.- Como? Você me acobertou.

   - Eu já senti raiva Felicity, não há do que se envergonhar.- respondeu dando de ombros, seus olhares se cruzaram.- E eu não sei dizer, mas gosto de me meter em confusões com você.- seus lábios se curvaram em um sorriso de canto.- Mas preciso ser honesto, você me confunde. Uma hora estamos bem, e de repente, sem mais nem menos você me afasta.- sua angústia era perceptível.- Você é uma incógnita para mim Felicity. É confuso, mas me sinto tentado, quase como um cego, a continuar aceitando suas meias verdades, porque sei que no momento certo, e quando estiver pronta, vai me contar.

   - Você é muito paciente.- sorriu, Oliver balançou a cabeça, divertido.

   - Eu sempre vou ser paciente com você, Lis.

   Seus olhos brilhavam com intensidade, deixando a rua, os carros, e até mesmo, as pessoas que passavam desfocadas. Suas mãos se encostaram, trazendo consigo um arrepio. Ignoraram a sensação e mais dispostos, entrelaçaram seus dedos em um aperto firme, selando o que há muito tempo era verídico.

   Oliver apoiava Felicity.

   E Felicity apoiava Oliver. 






 







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Notas finais do capítulo

Tamtammmm kkkk. Bom gente, esse foi mais um capítulo de Sweet and BItter love. Muitas coisas aconteceram, e sim, começaremos a focar um pouco mais no passado da Felicity, que como deixei claro guarda muitas coisas, o relacionamento de nossos agentes também tomara mais destaque, já que estamos começando a seguir um rumo diferente. Comentem e deixem suas reações, adoro lê-las. Um bom começo de semana e até a próxima atualização.



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