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Eu não era estúpida, eu sabia que eventualmente as feridas emocionais da minha mãe iriam sarar e ela iria seguir com a sua vida após o divórcio complicado com o meu pai. Eu tive que seguir com a minha vida após o divórcio deles. Quando ela conheceu James, por exemplo, eu até fiquei feliz por ela, diferente do meu irmão, Miles. Ela estava saindo, rindo e até voltou a cantar no chuveiro. Ele era um cara legal, não vou mentir, mas eu não estava preocupada com aquilo entre eles porque era só dar uma olhada nele para saber que ele não era homem pra ela.

James era dono de uma loja de surf na costa e andava todo desleixado, com suas bermudas verde musgo horrorosas, camisetas floridas bregas e chinelas de surfista praticamente grudadas ao pé. Na época, eu jurei que ele seria apenas uma aventura na lista de recém solteira da minha mãe.

O cara não possuía nada em comum com o meu pai.

Olhando em retrospectiva agora, eu começo a imaginar que tenha sido esse o motivo para ela ter gostado tanto dele, afinal. A cada mês que se passava, James ia adentrando na na vida da minha mãe, e consequentemente na minha e na de Miles, como uma cobra vil e peçonhenta, trazendo como encosto seu filho.

Sam Fitzpatrick era um ano mais velho que eu e tinha a mesma idade do meu irmão. Até minha mãe e James começarem a namorar, eu não possuía a menor ideia de quem ele era, mesmo nós dois frequentando a mesma escola, mas isso logo mudou no jantar de Natal do ano passado.

Eu não estava feliz em ter que conhecer o filho de James, mas estava me esforçando ao máximo para não ser uma babaca com relação a tudo, já que Miles estava desempenhando esse papel muito bem por nós dois. Minha mãe tinha chamado toda a família para aquele evento. A família dela, pelo menos. Suas irmãs, seus pais, seus tios e tias...

Até aquele momento eu só havia me deparado com James em situações casuais, como ele indo buscar minha mãe lá em casa para jantar e ele ocupando o banheiro do corredor pela manhã quando eu já estava atrasada para a escola.

Devo admitir que fiquei surpresa quando, ao abrir a porta, o vi naquela noite vestindo camiseta social e tênis no pé. De qualquer forma, foi o garoto logo atrás dele que me despertou mais curiosidade. Eu não vou tentar parecer indiferente ao fato de que Sam Fitzpatrick é bonito, porque ele é. Bastante. Ao mesmo tempo, porém, não é como se ele fosse menos desprezível apesar disso.

 Assim que James entrou, ele elogiou meu vestido e perguntou onde estava a minha mãe, esquecendo o fato de que aquele jantar era uma ocasião própria para ele nos apresentar seu filho formalmente. Ao passo que James some na multidão de convidados, me viro para Sam e abro um sorriso educado ao me introduzir.

O rapaz de cabelos negros, pele corada e olhos azuis eletrizantes me olha de cima a baixo e por um momento que eu classificaria apenas como sendo longo demais ele tem a ousadia de falar o que ficaria gravado como sendo as primeiras palavras que nós trocamos:

— Você acha que se a gente fuder é considerado incesto?

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