Plano de Vida. É isto que uma criança revoltada com a sociedade japonesa conseguiu inventar para seu mísero e simples futuro.

Regra n° 11 do manual shougaku (fundamental 1)
"Não vire amiga de todos os coleguinhas, pode ter problemas no futuro! " 

Sim, eu, Satou Hana, criei um manual de sobrevivência para cada fase da minha vida quando tinha doze anos. Você deve achar que é pura loucura vindo de uma menina daquela idade, mas se eu te disser que eu segui cada regrinha durante o meu chuugaku (fundamental 2) inteiro?      

Durante a minha infância eu sempre me meti em problemas e péssimas experiências, como aos meus 6 anos, enquanto todas as crianças levadas roubavam doces das prateleiras, eu era a única que sempre foi pega (Acho que chamaria isso de lerdeza). Aos nove minha mãe me deu um celular, emprestei- o ao meu pai e apanhei no dia seguinte por um site ilícito (Obrigada, Papai!). Aos onze anos tive minha primeira decepção amorosa, cujo nome era Shin,

Regra n° 5 manual chuugaku
"Não se apaixone! Você não quer ilusões amorosas, certo?"

Me declarei para ele em troca de um
"Desculpe, eu gosto da sua melhor amiga, a Nara, consegue me arranjar o telefone dela?"
   
Foi aí que desisti de agir como as outras crianças, tchau para o primeiro beijo dos sonhos com a pessoa que eu gostava, tchau para um primeiro namoro com um "cavaleiro" de novela, tchau para os milhões de amigos que eu imaginava que teria. Eu já estava esgotada de tantos problemas que vinham, da maneira que inexplicávelmente a culpa sempre era minha e, principalmente, o quanto a minha família valorizava mais o meu irmão mais velho.

Sempre tive uma família muito patriarcal, nos meus aniversários o primeiro a cortar o bolo era meu irmão, o primeiro a soprar MINHA vela era meu irmão. Por quê? Simples,  porque segundo meu pai ele que espalharia os genes da família, ele que continuaria a família Saitou, ele que era a última esperança dessa família. Diferente do meu pai, a minha mãe simplesmente não liga, não liga para o "futuro" de nós dois. De certo modo eu entendo ela, foi obrigada a se casar com meu pai com apenas 15 anos, acha que ela ama algum de nós? Bom, meu irmão acha.

Eu estava simplesmente revoltada com tudo ao meu redor, peguei um antigo manuscrito e planejei a vida mais fácil e simples que uma adolescente japonesa poderia ter. Eu precisava organiza-lo, com base em cada pedacinho do meu futuro, por isso, chamei o manuscrito de plano de vida. Ele foi dividido em 4 manuais: shougaku, chuugaku, koukou e daigaku. Dentro desses manuais existem 15 regras, das quais eu não posso quebrar, cada regra quebrada me deixará mais longe do meu futuro perfeito, e mais distante da minha paz interior.(Os manuais são retratados como as fases escolares e a universidade)
   
Eu segui todas as minhas regras até o koukou (Ensino médio), quando a merda aconteceu, e essa merda infelizmente eu sei o nome, Ito Daichi, presidente do clube de ciências. A estrela da nossa escola, bonito, alto, atlético, inteligente.... São os adjetivos que todos da Sênior Academy dariam a ele, ou, que todos que conhecem ele dariam a ele, menos eu. Eu diria que aquele garoto é completamente louco. (Ou eu estou completamente louca)
      
Minha primeira regra foi quebrada, a partir do momento em que conheci ele.

Regra n° 7 do manual koukou
"Não se envolva com populares, você não quer chamar atenção, certo?"  

A escada, aquela maldita escada, foi onde tudo começou. Para mim, seria apenas um dia normal, meus professores normais, meus assuntos normais e meus estudos normais. Exatamente, seria.

Uma troca de olhares intensa aconteceu naquela hora, eu não sabia porque meu corpo reagiu daquela maneira. Apenas senti que naveguei no fundo daqueles olhos, no abismo que eram aqueles olhos. Ele estava descendo a escada, com aquele ar de tranquilidade que sempre carregava consigo, e eu estava apenas subindo a escada, como uma estudante normal, como uma estudante invisível. Foi tudo muito rápido, uma questão de momentos. Quando nos demos conta, já era tarde demais, você havia reparado em mim, eu havia reparado em você, estávamos.... Selados, selados pelos laços do destino. Nós só não sabíamos disso ainda.

Me encho de ansiedade apenas de lembrar, Por que você tinha que perguntar meu nome? Será que fiz certo ao não te responder? Não, eu não fiz, isso só fez com que você me segura- se delicadamente pelo pulso e falasse próximo ao meu ouvido o que eu me arrependeria de ouvir:

— Ito Daichi, Meu nome é Ito Daichi.
      
Me lembro de como novamente olhei em seus olhos, como tentei falar para soltar o meu pulso mas nada saía, eu só conseguia olhar para ele, e ele para mim. Eu chamo aquele momento de erro, porque termos nós encontrado foi um erro, porque eu quebrar a regra foi o meu maior erro.