Olimpus Family escrita por Mayssa Meirelles


Capítulo 11
10: Mãe, vamos destruir um carro?


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura pessoal, espero que gostem.
Não esqueça de colocar na biblioteca de vocês :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786344/chapter/11

Sozinha - Manu Gavassi

A gente ama até esgotar
Até não ter o que salvar
A gente ama até prometer que nunca mais vai amar

E a gente ama outra vez
E é tão certo dessa vez
Eu te amo até a vida mostrar que estava errada talvez

E o silêncio nos mostra, mas ninguém parece ouvir
O silêncio nos mostra o caminho a seguir

Sozinha com minha mente que não para de mudar
Eu nunca achei que fosse gostar de estar só
Sozinha com meus sonhos que não param de crescer
Eu nunca achei que fosse entender o que é estar só
Só sem você

(5 anos atrás)

Nosso chalé alugado ficava na margem sul, lá na ponta de Long Island. Era uma pequena cabana de cor clara com cortinas desbotadas, quase enterrada nas dunas. Havia sempre areia nos lençóis e aranhas nos armários e, na maior parte do tempo, o mar estava gelado demais para nadar. Eu adorava o lugar.

Íamos lá desde que eu era bebê. Minha mãe ia ainda há mais tempo. Ela nunca disse exatamente, mas eu sabia que era porque a praia era especial. Era o lugar onde conhecera meu pai. 

À medida que nos aproximávamos da praia, ela parecia ir ficando mais jovem, os anos de preocupação e trabalho desaparecendo do rosto, os olhos ficavam da cor do mar. Chegamos lá ao pôr-do-sol, abrimos todas as janelas do chalé e passamos por nossa rotina de limpeza. Caminhamos pela praia, demos salgadinhos de milho às gaivotas e mascamos jujubas azuis, caramelos azuis e todas as outras amostras grátis que minha mãe levara do trabalho.

Quando escureceu, acendemos uma fogueira. Assamos os cachorros-quentes e marshmallows. Minha mãe contou histórias sobre quando ela era criança, antes de os pais morrerem em um acidente de avião. 

Finalmente, reuni coragem para perguntar sobre o que sempre me vinha à cabeça quando íamos a Montauk – meu pai. Os olhos dela ficaram cheios d'água. Imaginei que iria me contar as mesmas coisas de sempre, mas nunca me cansava de ouvi-las. 

— Ele era gentil, Percy —  disse ela. — Alto, bonito e forte, mas gentil também — Mamãe pegou uma jujuba azul do saco de doces. —  Gostaria que ele pudesse vê-lo, Percy. Ficaria muito orgulhoso. 

Eu me perguntei como ela podia dizer aquilo. O que havia de tão bom a meu respeito? Um menino hiperativo, com um boletim C-.

— Queria tê-lo conhecido — pensei em voz alta. — Queria poder vê-lo de perto, quer dizer, eu nem tenho uma foto dele! 

— Você sabe porque..

—  Eu sei, mãe. — Queria gritar, berrar, surtar, mas minha mãe não merecia — Eu só queria ter um pai. 

Senti os olhos da minha mãe amarelarem, ela começou a chorar baixinho. Me senti um idiota por falar aquilo para ela. Ela não tinha culpa da morte do meu pai, não tinha culpa de ter queimado as fotos — talvez isso sim, mas fora só um ataque de raiva —, e eu a estava culpando, lembrando-a de seus erros. 

— Desculpe, mãe — comecei chegando perto e a abraçando, ela se acalmou. —  Não queria machucá-la. 

— Meu bebê, eu que tenho que me desculpar — ela começou limpando suas lágrimas e as minhas que estavam a acumular. — Tentei te dar uma família, eu juro que tentei. Mas não consegui. Desculpe!

A abracei bem forte a olhando nos olhos.

— Mãe, eu sei — declarei. 

— Sabe o que? 

— Eu ouvi — duas pequenas palavras que a faziam delirar. — Mãe, larga ele.

— Não posso. 

— Tenho um amigo, ele tem um pai policial — comecei. — Pedi para ele colocar processo, se você deixar, eu ligo para ele, Gabe vai preso. Assim Gabe nunca mais mexerá com você. 

— Ele vai me achar — minha mãe estava com medo. Não importava  quanto em todos esses anos ela dizia que o tinha no controle, ela não tinha. Ele tocou nela, bateu nela e ela tinha medo dele matá-la se ela o denunciasse. Ela dizia a si mesma que ele era só um bebum inofensivo. Mas ele não era, nunca fora. 

— Não vai — assegurei. — Medida provisória, eles ainda vão fazer negócio: ele deixa a gente em paz e, em troca, ele não vai para a cadeia. Por favor, mãe! Deixe-me ajudá-la antes que isso se torne uma tragédia.

—... sim — demorou pensando, depois se derramou em choro. Consolei-a, cuidei dela até ela dormir. Liguei para Grover. Ele me disse que já estava tudo encaminhado, eu só precisava deixá-la aqui por uma semana por segurança. Me senti um adulto cuidando dessa situação, mas só faltava uma coisa. 

Acordei bem de leve minha mãe. Ela se levantou um pouco travada por dormir em meu colo. 

— Vem tenho algo para você — fomos para a entrada perto da mata que se formara a alguns metros. — Onde estacionou o carro? 

— Ali! — Apontou para um lugar afastado, entrei no carro. Era um Camaro, mas não era um Camaro; era o Camaro. O carro era idolatrado por Gabe cheiroso, o símbolo de sua falta de amor pela minha mãe, já que ele a mataria se ela o arranhasse pelo menos um pouco. 

Entrei no carro e o liguei, eu não sabia dirigir, mas não era preciso. 

— O que está fazendo?

— Entra aí e deixa a porta aberta. 

Ela entrou, nem eu nem ela fechamos nenhuma porta.

— Quando eu disser “já”, você pula — avisei, ela arreganhou os olhos, mas não se mexeu. Pisei no acelerador em direção a floresta e quando ele ia bater numa árvore gritei: — Já!

Caímos rindo alto com o carro todo destruído. Peguei fósforo e álcool e joguei no carro vendo-o pegar fogo. Caímos novamente no chão rolando por causa do impacto do fogo e da explosão.

Minha mãe riu, gritou, sorriu. Ela havia morrido e renascido como uma nova mulher. Sem Gabe cheiroso para bater nela, sem amarras, sem monstros que destroem seus sonhos. 

Éramos novas pessoas e, agora, livres. Não era só um carro destruído, era uma marca. Uma marca viva de uma nova vida. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Boa semana pra vocês ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Olimpus Family" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.