Whatever It Takes escrita por Dark Sweet


Capítulo 16
Eu te amo mais




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786294/chapter/16

Eu mexia os ovos na frigideira tranquilamente. O café já estava pronto tinha alguns minutos, assim como os bacons. Na TV, a música The Night We Met tocava baixinho e, por ironia do destino talvez, chovia lá fora.

Desliguei o fogo, me virando com a frigideira nas mãos e colocando sobre a mesa pequena de vidro e de quatro lugares. Caminhei até a geladeira, pegando a caixa de leite quando passos sorrateiros se fizeram presentes.

Sorri, fechando a porta da geladeira e me virando. Encontrei um Richard em completo estado de alerta com um taco de beisebol nas mãos.

—Boa noite. — desejei, indo até a mesa. — Ou seria boa madrugada? Bom, tanto faz. —

—Melinda? Que merda você está fazendo aqui? E como diabos entrou aqui? —

—Acabei de preparar um lanchinho e entrei pela janela do seu quarto. Você deixou ela aberta. — expliquei, abrindo o armário atrás do pão. — O que é um perigo, sabia? Você mora em New York! —

—Eu sei me defender muito bem, obrigado. —

—Ah, claro. — encarei o taco nas mãos dele.

—E eu moro no 27° andar! Só um maluco para entrar pela janela do meu quarto. —

—Ou um super espião estilo Natasha Romanoff. — dei de ombros, me sentando após pegar duas xícaras. — Café? — ofereci, vendo ele suspirar e deixar o taco encostado na parede do balcão que dividia a sala e a cozinha.

—São quase meia noite, Melinda. O que aconteceu? — perguntou, se sentando na cadeira a minha frente.

—Talvez eu esteja com problemas. — respondi, não o olhando nos olhos enquanto colocava café na minha xícara.

—Que tipo de problemas? —

—Ah, você sabe. — coloquei um pouco de leite no café, bebendo um gole da bebida. Richie tinha a sobrancelha arqueada. — Problemas psicológicos, não é desse tipo de problema que psiquiatras tratam? —

—E por que só agora? Porque eu perguntei se estava tudo bem quando você levou o Theo ao meu consultório para conversar comigo e você falou que estava tudo bem. —

—Por que agora? — repeti como quem não queria nada, pegando um pão da sacola. — Porque talvez, só talvez, eu tenha quase acertado um abajur no Theo enquanto dormia. —

—O que? — sua voz subiu um tom.

—E a TV também. Fora que eu estourei algumas lâmpadas então os cacos poderiam ter machucado ele. — desviei o olhar para a frigideira, colocando um pouco de ovo dentro do pão. Ele ficou calado alguns segundos. — Você está pensando um jeito profissional de dizer eu te avisei? — perguntei erguendo o olhar, dando uma mordida no pão.

—Não, porque isso é algo... —

—Totalmente antiético, concordo. — completei, assentindo.

—Que ninguém merece ouvir num momento como esse. — finalizou, fazendo-me soltar um "ah" demoradamente. — Então você voltou a não ter controle sobre seus poderes? —

—Não! Bom, eu consigo voar tranquilamente, absorver energia das coisas, consegui manipular a energia de uma lâmpada hoje. — falei. — É só que... —

—Você mentiu para todo mundo quando disse que estava conseguindo dormir algumas horas e isso acabou te prejudicando mais do que deveria. — pressionei os lábios.

—É, eu menti. —

—Você tem consciência de que tudo isso poderia ter sido evitado se você tivesse voltado com as consultas como recomendei, certo? — ele encheu uma xícara com café.

—Sim. — dei mais uma mordida no meu pão. — É só que... eu realmente queria ser a pessoa que manteria a esperança pela equipe, sabe? Manter o alto astral, o bom humor e... eu só queria evitar discussões como a de ontem. — suspirei.

—E no final disso tudo você esqueceu de cuidar de sim mesma. Melinda, você poderia muito bem fazer tudo isso mesmo tendo as consultas. —

—Eu sei, mas queria evitar preocupações, entende? É algo idiota observando nesse momento, no entanto, para mim, dias atrás fazia sentido. Sabe? —

—Olha, vou te dizer algo que você provavelmente já sabe. — Richard se ajeitou na cadeira. — Em tempos como esses, ninguém consegue manter a esperança por tanto tempo. Até mesmo a pessoa mais otimista do mundo perderia a esperança algum dia. A Jemma é um exemplo. Ela te contou a história de quando ela foi jogada para outro planeta pelo monólito, certo? —

—Contou. —

—E então? Quando ela perdeu a esperança de voltar para a Terra, o Will a ajudou porque a esperança dela trouxe de volta a dele. Então sabe qual foi o problema, não sabe? —

—A falta de diálogo com a equipe? — ele assentiu.

—Eu apostaria minha vida que você não contou a ninguém pelo que estava passando, não é? Nem mesmo para a Natasha. —

—Eu não queria encher ninguém com meus problemas. — revirei os olhos, bebendo meu café com leite.

—Vocês são uma equipe, Melinda, vocês moram juntos. Uma hora seus problemas ou os problemas deles iriam causar algum atrito. — mordi o lábio inferior. — Mas vamos. Termine de comer e vamos para o meu divã improvisado também chamado de sofá. —

—Seu sofá é confortável, Richie. Tiramos a prova da melhor forma. — sorri com malícia.

—Melinda. — repreendeu em tom leve, um sorriso pequeno no canto dos lábios.

—Me repreende desse jeito como se não tivesse gostado. — bebi mais um gole do café. — Ah! A propósito, usei seu celular para mandar uma mensagem para a Nat avisando que vou dormir aqui e vou passar o dia amanhã com você. —

—Vou começar a achar que você me drogou e a gente se casou sem que eu tivesse conhecimento. Você invade meu apartamento, faz café, usa meu celular, usufrui do meu Spotify na minha TV. — enumerou, brincando.

—Seria uma opção válida se... —

—Você e casamento fossem algo que combinasse numa mesma frase. — completou.

—Exatamente. — sorri.

***

A conversa com o dr. Palmer foi realmente boa. Sim, eu levei alguns esporros por algumas atitudes, mas isso faz parte.

Após a conversa ele disse que podia tomar um banho e me emprestou uma camisa que eu fiz de vestido. Richie também disse que eu podia dormir na sua cama, se quisesse. Ficamos jogando conversa fora enquanto assistíamos Lucifer e acabamos transando em algum episódio da primeira temporada.

Esse tipo de relação só era mantida no apartamento dele, por motivos óbvios, claro. No consultório eu continuava dando em cima dele, mas ele sempre me dava um fora.

Depois disso tudo acabei dormindo, o que me pegou de surpresa.

—Richie? — chamei, contendo um bocejo enquanto caminhava até a cozinha.

—Estou aqui. — me apoiei no balcão, observando ele mexer algo em uma panela. — Estou fazendo a janta. —

—O que? —

—Macarrão com queijo. — sorriu. — Foi mal. Era a única coisa que tinha. Não fui no mercado ainda. —

—Sem problemas. Eu não me importaria de tomar café e comer pão de novo. — sorri, fazendo um coque no meu cabelo. — Richard, eu não... não fiz as luzes... —

—Piscarem? Não, Melinda. — me olhou sobre o ombro. — Isso só comprova que o que disse faz sentido. Você estava se sobrecarregando demais nesses últimos dias, por isso não conseguia dormir direito. —

—Mas isso não faz nenhum sentido. —

—Na verdade, faz todo sentido. — falou, desligando o fogo e virando para me encarar. — Você conseguiu dormir tranquilamente na casa do Arthur, certo? — assenti. — É porque você estava despreocupada, você não dormiu com medo de, sei lá, derrubar a casa dele, por exemplo. Diferente de toda essa semana no Complexo. — desviei o olhar para minhas mãos sobre o balcão. — Você já ia se deitar com medo de acabar dormindo e por ventura demonstrar a algum dos Vingadores que tinha algo errado. O que, na verdade, não tinha. —

—Mas os pesadelos... —

—Pesadelos fazem parte do sono, Melinda. — Richie se aproximou, parando do outro lado do balcão a minha frente. — Ter pesadelos é normal, fazem parte da vida. Principalmente para você que tem ansiedade e TEPT. —

—Eu sei. Essa merda era bem frequente nos outros anos. — murmurei, brincando com os anéis nos meus dedos.

—Por isso vamos voltar com as consultas e você vai precisar voltar com os antidepressivos, mas é como eu disse na sua primeira consulta. —

—Você não quer que eu dependa dos antidepressivos para me sentir bem. É, eu sei. — ele sorriu.

—Exatamente. Agora vem, vamos comer. —

***

Enquanto caminhava até a porta dava para a entrada do Complexo eu ia ensaiando o que iria falar para o pessoal. Também planejava meu pedido de desculpas para o Theo.

Respirei fundo, parando em frente a porta e retirando as mãos de dentro dos bolsos do sobretudo, empurrando a porta de vidro sem fazer barulho.

Eu já tinha tudo planejado na minha cabeça.

Eu iria subir para meu quarto sem que ninguém me visse, tomar um banho, trocar a camisa do Richard pelas minhas roupas e só aí iria procurar os Vingadores para conversar. Estava tudo bem, não tinha erro nos meus planos.

Bruce, Rhodes e Carol estariam no laboratório, Nat e Steve naquela maldita sala de reuniões, Thor ou estaria na cozinha com Rocket ou enfurnado no quarto dele, Pepper provavelmente estaria brincando com o Theo no quarto dele. Ou seja, ninguém nos corredores.

Então imaginem minha cara quando terminei de subir o primeiro lance de escada e dei de cara com o time todo espalhados pela sala comunal comendo pipoca e assistindo Scooby-Doo.

—Eu não acredito que vocês estão assistindo Scooby-Doo sem mim! — não consegui esconder a indignação na minha voz.

Todos viraram a cabeça na minha direção, alguns olhares surpresos e outros apenas tinham as sobrancelhas arqueadas.

—Tia? —

Ok, eu não tinha visto o Theo porque ele estava sendo escondido pelo corpo enorme do Thor. O pirralho levantou e veio correndo até mim, abraçando minhas pernas.

—Você está bem? Eu fiquei preocupado com você, tia? — ele ergueu a cabeça para me encarar, sem soltar minhas pernas.

Levei minha mão até a cabeça dele, afagando de leve.

—Estou sim, papito. — sorri minimamente, o olhando. — Agora vou te pedir um favor, sim? —

—Claro. — sorriu.

—Você... você pode ir para seu quarto? Eu preciso conversar com o pessoal e... bem, a conversa que eu vou ter com você é diferente, então... —

—Tudo bem, tia. Eu vou preparar o vídeo game para gente jogar depois. — e saiu correndo para o quarto todo feliz.

—Suba a escada devagar! — gritei antes de voltar o olhar para o grupo de heróis. O filme já estava pausado e todos me olhavam. Abri um sorriso. — E então? Pipoca e desenho animado, hum? E sem mim. Que consideração. — enfiei as mãos de volta nos bolsos do sobretudo.

—Como você está? — foi Rhodes quem questionou sem rodeios.

—Bem, eu acho. — pressionei os lábios, começando a me preparar para a conversa. — Então, vamos começar do começo. Bruce estava certo, como vocês já devem saber, é claro. Eu não durmo desde o... Thanos. —

—Acho que essa é minha deixa. — Carol fez menção de levantar, mas eu ergui a mão para ela.

—Não precisa. De alguma forma isso diz respeito a você e o RJ aí. — encarei o guaxinim que revirou os olhos. — Enfim, eu menti quando dizia que conseguia dormir umas 4, 5h. Na verdade, eu não conseguia manter um sono nem por uma hora completa sem que as cenas da batalha, da surra que eu levei da berinjela e da... da Wanda virando pó na minha frente invadissem minha cabeça. —

Desviei o olhar, encarando minhas botas enquanto reunia coragem para admitir meus erros.

—E eu notei que estava perdendo, de certa forma, o controle dos meus poderes e não falei para nenhum de vocês. — mordi o lábio apreensiva. — E isso foi... totalmente errado porque, bem, vocês viram o que aconteceu. Poderia ter sido muito pior, mas... —

—Mas não foi. — Steve falou, tentando me tranquilar.

—Mas poderia ter sido. — ergui o olhar para o Capitão. — Richard e eu acreditamos que as coisas começaram a desandar mesmo para mim quando eu soube da morte do Coulson. Eu estava totalmente convicta que ele tinha virado pó, assim como todo mundo, então quando eu soube da morte dele... —

—Você desabou porque não é algo que dá para reverter. — Natasha completou.

—É. O Pinguim já voltou dos mortos uma vez, acho que duas é pedir demais, não? — soltei uma risada nervosa, limpando uma lágrima que escapou de atrevida. — Certo. Ahm... quando eu saí daqui na verdade fui parar no Maine e não no apartamento do Richard. — esclareci. — Eu estava um pouco perdida, é verdade. E fui pedir informações num bar e acabei ficando para encher a cara. —

—Achei que você não ficasse bêbada. — Rocket comentou.

—E não fico, mas gosto de beber como se ficasse. — dei de ombros. — Acabei conhecendo um cara muito legal, Arthur. Também conheci o pai dele e descobri que ele conseguia me vencer numa competição de quem vira o copo mais rápido. —

Diante das sobrancelhas franzidas de Bruce notei que estava desviando do foco.

—Enfim, eu acabei dormindo no balcão do bar, para vocês terem noção do vexame. Arthur e o pai dele me levaram para a casa deles e lá eu dormi até a hora do jantar. Eles acharam que eu tinha morrido. —

—Dormiu sem nenhum problema? —

—Sem nenhum problema. — confirmei a pergunta de Pepper. — Jantei com eles e mais duas mulheres que eram a mãe e namorada do Arthur e voltei para New York, indo direto para o apartamento do Richard. —

—E então? — a voz de Thor se fez presente.

—Bem, tivemos uma conversa em forma de consulta. — suspirei. — E temos um diagnóstico. — sorri brincalhona.

—O que? —

—Ah, nada novo. TEPT, transtorno de ansiedade um pouco mais forte que o habitual, ataques de pânico. Meu psicológico está mais fodido do que nunca. — soltei uma risada nervosa, enfiando as mãos nos bolsos.

—E como vai ser agora? — Thor questionou, fazendo-me suspirar pesadamente.

—Vou voltar com as consultas, duas vezes por semanas. Quando eu for dando sinais de melhoras, vamos reduzir para uma vez por semana, depois quinzenalmente... até uma vez por mês. — retirei minha mão do bolso, balançando o frasco de remédio. — Eu também voltei com os antidepressivos. — encarei o frasco por um tempo antes de guardá-lo no bolso novamente. — É isso, galera. Vocês acabaram de receber a antiga Melinda de volta. Vai ser como se eu voltasse a ter 17. — sorri.

—Sua saúde mental não é algo para se fazer piada, Melinda. — Bruce falou sério.

—Eu sei, eu sei. Eu também queria pedir desculpas pela discussão e... se por acaso eu acabei ofendendo alguém durante a discussão, o que com certeza aconteceu. — suspirei, olhando todos eles nos olhos. — Então, desculpa. —

—Uma discussão ia acabar rolando outra hora ou outra. — Rhodes cruzou os braços. — E tinha algumas verdades no que você falou. Ficarmos enfurnados no laboratório tentando encontrar uma forma de achar o Tony, sem nenhum descanso... não estávamos nos fazendo bem. —

—Por isso tiramos o dia de hoje para assistirmos filme. — Steve apontou para a TV. — A Carol que escolheu, caso queira saber. —

—Ela me disse que era bom! — a Capitã apontou para mim, se justificando.

—E é. Maravilhoso, na verdade. — sorri, passando o peso do meu corpo para minha perna direita. — E sobre encontrar o Tony... —

—Não se preocupe. Rhodey e eu já iniciamos um traje para você. Rocket está ajudando, assim como a Carol. Acho que em dois dias ou menos ele fica pronto para um primeiro teste. — pressionei os lábios sentindo a culpa me consumir com a explicação de Bruce.

—Não é isso, Bru, é que... — cocei a nuca, nervosa. — O Richard achou melhor adiar um pouco essa ida ao espaço. Ele acha que eu não estou em condições de... olha, eu sinto muito por isso, principalmente por você, Peps. — encarei a mulher loira que assentia. — É só que... eu concordo com o Richie. Eu quero estar 100%, no mínimo uns 80% bem para poder sair pelo espaço procurando o Tony com a Carol. Não quero correr o risco de estragar tudo. — apertei as mãos uma na outra, apreensiva.

—Estaríamos mentindo se disséssemos que não cogitamos a ideia de não te mandar para o espaço com a Danvers, Melinda. — assenti para Steve, compreendendo. — Contudo, acredito que todos aqui concordam quando eu digo que sua saúde mental é mais importante. —

—Não fala assim. O Toninho e eu podemos dividir o mesmo grau de importância, para não haver brigas. — brinquei. — Mas relaxem, pessoal, não acho que eu vá precisar mais de uma semana para me sentir bem. Com os antidepressivos, as consultas com o dr. Palmer e meu sono voltando a estar em dia, eu vou estar pronta para outra. — sorri. — É bom que o pessoal do laboratório faz um traje a prova de falhas, porque se eu vestir aquilo e me trouxer problemas eu mato vocês. — Rhodes soltou uma risada nasalada. — Espero que você entenda, Pepper. — encarei a loira que sorriu.

—É claro que entendo, Melinda. Como foi dito, sua saúde mental é tão importante quanto acharmos o Tony. — assenti, aliviada.

—Certo. Agora eu vou... eu vou me ajoelhar para a pestinha no quarto dele e pedir perdão. — falei, começando a caminhar em direção ao corredor que dava para a escada que levava aos quartos.

—Baixinha? — parei, me virando na direção de Thor. — Acho que vai gostar de saber que ele não te culpou em nenhum momento. —

Sorri, agradecendo e subindo a escada.

***

—Então você está doente da... cabeça? — Theo franziu as sobrancelhas, tombando a cabeça levemente para o lado.

—É, papito, pode-se dizer que sim. — soltei uma risada curta. — A tia vai ter que tomar remédios e se consultar com seu tio Richie. —

—Nós podemos ir para as consultas juntos. Que legal! — abri um sorriso com a empolgação do pequeno. — Ele te deu pirulito no final da consulta? —

—Me deu coisa melhor. Macarrão com queijo. — abri bem os olhos, deixando que Theo passasse rímel nos meus cílios.

—Eu prefiro pirulito mesmo. — falou, passando o rímel nos cílios do olho esquerdo. — Agora só falta o batom. —

Quando entrei no quarto de Theo ele tinha separado Super Mario para jogarmos, no entanto, quando eu comecei a conversar com ele sobre meus pequenos enormes problemas, ele teve a brilhante ideia de me maquiar. E eu não podia negar isso a ele depois de quase acertar uma TV no mesmo.

Então viemos para meu quarto - o qual estava completamente arrumado, com abajures, luminárias e uma TV nova -  e me sentei no chão, ao lado da penteadeira enquanto ele escolhia os itens para a minha make e eu contava tudo a ele e pedia desculpas.

—Pronto, tia. — sorriu, fechando o batom. — Quer ver como você está linda? —

—Estou ansiosa. — sorri de volta, vendo ele estender a mãozinha na minha direção.

A segurei, levantando do chão e me agachando um pouco para me olhar no espelho.

—Uau! Papito, você arrasou. Eu estou maravilhosa! — disse, me sentando no banco em frente a penteadeira e soltando meu cabelo.

A maquiagem que Theo fez em mim realmente estava muito boa para uma criança de 3 anos. Tinha alguns borrados, obviamente, assim como o blush estava muito escuro e a sombra que cobria minhas pálpebras uma estava mais escura que a outra.

Baguncei um pouco meu cabelo, me virando na direção do meu sobrinho enquanto fazia um carão.

—Estou maravilhosa, não estou? —

Ele soltou uma risada gostosa.

—Sim, tia, está. —

—Vem cá. Vamos tirar uma foto. Vou postar no meu twitter. — o coloquei sentado no meu colo, pegando meu celular.

Virando o celular no direção do espelho, Theo e eu fizemos bico, tirando a foto.

E depois outra fazendo careta. E outra com o Theo colocando meu cabelo azul sobre o dele. E mais uma dele beijando minha bochecha. Na real, acho que tiramos umas 10 fotos.

—Escolhe a melhor. — entreguei meu celular a ele, observando ele passar as fotos para o lado.

—Essa daqui. — apontou para a que ele tinha parte do meu cabelo sobre sua cabeça e eu mostrava a língua. — Tia, eu posso pintar meu cabelo? — me encarou, devolvendo meu celular.

—Olha, por mim você pintaria sem nenhum problema, mas eu acho que isso é algo que se eu deixasse o pessoal lá embaixo ia me chamar de irresponsável. — entrei no twitter, tuitando a foto que Theo escolheu. — Quando você tiver um pouquinho mais velho a gente pinta escondido, ok? — sussurrei, vendo ele abrir um sorriso.

—Ok. —

Após publicar a foto, deixei o celular sobre a penteadeira, encarando Theo séria enquanto ele guardava a maquiagem que usou.

—Papito? — ele me olhou. — Você me perdoa mesmo? —

—Tia, eu sei que não foi culpa sua. — ele segurou minha mão. — Se tivesse sido eu quase acertando uma TV em você enquanto dormia você ia ficar com raiva de mim? —

—Óbvio que não. —

—Então pronto. Não vou ficar com raiva de você também. — sorri, abraçando aquele pingo de gente.

—Eu amo tanto você, moleque. —

—Eu te amo mais. — falou rindo, me abraçando de volta.

—Mentira. Eu te amo mais. — o encarei de cara feia.

—Não! Eu que amo. — cruzou os braços, fazendo bico.

—Pois eu amo você desde aqui da Terra até Netuno. — falei, fazendo cócegas nele instantaneamente começando a ouvir sua risada.

—E eu amo você desde o sol até Asgard! —

—Então eu amo você desde esse sistema solar até o outro. — falei, o pegando no colo e levantando.

Caminhei até a cama o jogando na cama com cuidado enquanto a risada dele preenchia o quarto.

—Ah, é? Então... — tentou falar entre uma risada e outra. — Então eu amo você desde essa pontinha do universo até a outra! —

Fiz uma cara de surpresa, abrindo a boca para dar mais emoção.

—Quem foi que lhe disse que o universo é grande desse jeito? — indaguei, colocando as mãos na cintura.

—O tio Thor e a tia Carol. — respondeu rindo. — Você perdeu, tia. Não tem nada maior que o universo. — apontou para mim com um sorriso que iluminaria o dia de qualquer pessoa.

—Oh, droga. — soltei o peso do meu corpo no espaço da cama livre ao lado de Theo. — Parece que você ganhou mesmo. — cruzei os braços, ouvindo mais uma risada de Theo.

Ficamos um tempo em silêncio, apenas encarando o teto.

—Tia? —

—Oi? — virei o rosto na direção dele que permanecia olhando o teto.

—Se... se por acaso vocês não conseguirem trazer todos de volta... — ele me encarou. — Você me deixa te chamar de mama? —

Meu cérebro precisou de alguns segundos para processar a informação. Eu não esperava por algo desse tipo.

—Pequeno, por que você está achando que não vamos conseguir trazer todos de volta? — perguntei, desviando do fato de ter uma criança me chamando de mama.

—Não é isso, tia, é só que... pode dar certo e pode não dar, né? E mesmo se der ou não, eu queria te chamar de mama. — sorriu. — Não é querendo que você ocupe o lugar da mamãe, eu sei que você não gosta de crianças, mas além de minha tia você também é minha madrinha, certo? — sorri, o puxando para um abraço.

—Certo, papito. E tudo bem, você pode me chamar de mama quando quiser. — aproximei meu rosto do dele. — E você é a única criança que eu gosto. — sussurrei, vendo um sorriso nascer em seus lábios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Whatever It Takes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.