Whatever It Takes escrita por Dark Sweet


Capítulo 14
Discussão




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*Quatro dias depois*

Os dias passaram se arrastando praticamente. Não ter respostas do paradeiro do Tony ou do Thanos estava acabando com todo mundo.

Thor estava se fechando cada vez mais, ficando no seu canto sem falar nada, apenas se martirizando, achando que todos viraram pó por causa dele.

Acabamos tendo uma pequena discussão dois dias atrás.

"Eu devia ter cortado a cabeça dele, baixinha. O próprio Thanos me falou isso, mas não. Eu achei que enfiar o machado no peito dele era o suficiente. Agora metade do universo está morto e a culpa é minha."

Rocket não era lá muito chegado a socializar pelo que eu notei, então ao meu ver ele não mudou nesses últimos dias. Se bem que não ter nenhuma notícia do que aconteceu com seus amigos durante o confronto com o Thanos no espaço estava o consumindo.

Bruce continuava enfiado no laboratório com o Rhodes e a Carol, tentando encontrar um meio de achar o Tony. Nossa prioridade é o Tony, mas encontrar a berinjela seria um grande bônus. No entanto, não tinha nada de novo. Nenhuma pista, nenhuma coordenada ou algo do tipo.

A Natasha e o Steve não paravam de ver os números dos mortos que só cresciam cada dia mais. Aquilo já estava me dando nos nervos.

Pepper tem passado mais tempo aqui no Complexo, tentando ser útil em alguma coisa ou apenas ficando com o Theo. Ao que parece ela estava tentando aprender como brincar com uma criança. Nesses últimos dias ela finalmente teve coragem e marcou um ultrassom, tudo na surdina sem qualquer Vingador ter noção. E a gravidez foi confirmada, ela já estava na terceira semana.

Theo estava bem, na medida do possível. A primeira consulta dele com o dr. Palmer ocorreu bem e não tinha nada de errado com meu sobrinho, como o Richie já tinha falado. No entanto, ele preferiu manter consultas quinzenais e o Theo não achou ruim. Ele ganhava pirulito no final das consultas.

E eu, bem, estava me virando. A falta de uma noite de sono tranquila estava acabando comigo. Tentar suprir a falta de energia ganhada pelo sono com outras energias não estava mais sendo suficiente para me manter de pé.

Eu não conseguia mais focar minha atenção numa leitura ou num filme, meu mau humor estava começando a dar as caras mais do que o normal e meus poderes... bom, eu não estava mais conseguindo ter controle total sobre eles. As vezes, quando eu tinha um pequeno lapso de estresse, acabava fazendo as luzes do local piscarem contra a minha vontade. Acabei estourando três lâmpadas nesses quatro dias que se passaram.

Bruce estava começando a desconfiar de que eu estava mentindo em relação as horas que eu tenho dormido. Maquiagem já não estavam mais sendo útil para esconder as olheiras sob meus olhos.

Bufei, revirando na cama de novo. Theo dormia tranquilamente, a respiração calma e a expressão serena. Queria poder estar usufruindo dessa sensação.

Respirei fundo, sentando na cama e coçando a cabeça enquanto olhava a hora no despertador.

04:20 am.

Essa rotina estava me matando.

Levantei, calçando minhas pantufas e saindo do quarto, descendo as escadas até a cozinha. Enchi a xícara do Simba com café e bebi um pouco do líquido que ainda estava quente, sinal de que alguém tinha feito a algumas horas. Catei algumas bolachas salgadas no pote de vidro e acabei começando a ouvir gritos do andar de baixo, mais precisamente do laboratório.

Fechei o pote das bolachas, pegando a xícara e descendo as escadas devagar, sem fazer barulho.

—Tudo isso está sendo uma perda de tempo. Nada do que a gente fez até agora deu algum resultado. —

—E o que deveríamos fazer, Bruce? Desistir do Tony? Ele nunca desistiria da gente. — Rhodes rebateu.

—Eu não disse que era para desistirmos. Apenas... apenas devemos começar a pensar na possibilidade de que nós podemos nunca encontrar o Tony. — me aproximei devagar da porta do laboratório, começando a notar três silhuetas.

Além de Bruce e Rhodes, Carol também estava lá.

—Rhodey, estamos nisso a uma semana e meia e nada do que fazemos nos indica se estamos mais próximos de achar o Tony ou não. — ouvi um suspiro do cientista. — Nós nem sabemos se ele ainda está vivo. —

—É claro que sabem. Eu disse com todas as letras que ele estava vivo. — falei, aparecendo no campo de visão deles. Os dois homens me olharam surpresos. — Se ele não estivesse, eu já teria falado. —

—Melinda, a gente te acordou? — Rhodey perguntou preocupado.

—Não. — respondi indiferente.

—Acho que não poderíamos acordá-la nem se quiséssemos. — desviei o olhar para Bruce, o encarando séria. — Ela claramente está mentindo para gente tem dias. Olha para ela. — apontou para mim, mais precisamente para meu rosto. — Melinda está com a cara de quem não dorme há dias, quem sabe até semanas. E isso está acabando com ela. —

—É verdade, Melinda? —

—Para que isso importa? Vocês três estão aqui, não estão? Mais uma madrugada e os três estão enfiados nesse laboratório e vocês não estão me vendo questionar se estão tendo uma boa noite de sono ou não. — respondi ácida, bebendo um pouco do café.

—Eu diria que ela não dorme tem pelo menos uma semana. — Carol falou encostando em uma bancada.

—Pena que ninguém pediu sua opinião, novata. — retruquei, vendo ela arquear a sobrancelha. — Ter saído da minha cama foi uma péssima ideia. — resmunguei, dando as costas.

—Melinda? — Bruce me chamou, fazendo-me parar. — Você poderia projetar um escudo? —

—Pra que? — me virei, o encarando.

—Só quero tirar uma dúvida que está rondando minha cabeça há alguns dias. —

—Sinto muito, mas se tem algo que eu não vou ser é algum dos seus experimentos, dr. Banner. — sorri amarga, dando as costas e voltando a caminhar.

No entanto, me virei rapidamente quando de soslaio vi o Rhodes arremessar um piloto na minha direção. Segurei o lápis no ar, encarando o Coronel com cara de poucos amigos.

—Você ficou maluco? — indaguei, aumentando a voz sem perceber.

—Então realmente foi você. — Bruce murmurou. — Você não anda conseguindo controlar seus poderes direito, não é? — concluiu.

—Que gritaria é essa aqui? O que está acontecendo? — a voz de Natasha se fez presente atrás de mim.

Ao encará-la notei que estava acompanhada de Steve, ambos estavam com a cara um pouco sonolentas. Provavelmente acabaram dormindo naquela maldita sala de reuniões, em cima de todos aqueles dados do pessoal que puff! Virou pó.

—Rhodes atirou um piloto em mim porque o Bruce acha que eu não ando conseguindo controlar meus poderes. Claramente ficar enfiado nessa porcaria de laboratório anda fazendo mal para o cérebro dele! — joguei o lápis no chão com tudo perto dos pés dele.

—Acho que agora começa a lavagem de roupa suja. — ouvi a Danvers murmurar.

—Por que você acha isso, Bruce? A Melinda demonstrou alguma instabilidade com os poderes? — encarei Steve incrédula.

—Ontem as luzes dos laboratórios piscaram como se fossem queimar, achei que tinha sido alguma coisa que eu fiz aqui mas não foi. Foi a Melinda. — Banner explicou.

—E daí que tenha sido eu ou não? Quem é você para falar de instabilidade com poderes? Até uns anos atrás você nem conseguia controlar essa besta verde que vive dentro de você! — apontei para ele, soltando uma risada logo depois. — Na verdade, você ainda nem consegue, não é? Porque não consegue se transformar no Hulk. O que foi, Bruce Bear? Andou desenvolvendo algum trauma nesses últimos tempos? —

—Melinda! — Natasha me repreendeu.

—Não! Não me venha me repreender nesse tom como se fosse minha mãe, Romanoff! — me virei na direção dela. — Depois de tudo que a gente passou, depois de tudo que eu passei, vocês acharam mesmo que eu iria conseguir sair psicologicamente ilesa disso tudo? Que ia conseguir cuidar do meu sobrinho tranquilamente? Manter a esperança de que iríamos achar o Tony e trazer todos de volta? —

—Então você assume que seu TEPT voltou? — a voz de Rhodes fez algo em meu peito palpitar.

—Não, eu estou bem. —

—Melinda, mas você acabou de falar... — Steve começou a falar.

—Eu estou bem, merda! — gritei, fazendo com que as luzes piscassem e acabassem estourando, deixando o pessoal assustado. A xícara em minhas mãos também acabou quebrando com a força que eu a segurei.

Senti algo além do café quente escorrer pela minha mão direita, era sangue devido aos cacos de vidro enfiados na palma da minha mão.

Todos encararam uns aos outros.

—Melinda, sua mão... — Bruce fez menção de se aproximar.

—Não. — recuei, fazendo-o parar no lugar. Respirei fundo, erguendo o olhar para eles. — Eu já estou cansada, ok? — assumi, sentindo as lágrimas se formarem, mas não deixei elas caírem. — Cansada de não ter uma mísera resposta para todas as perguntas que rondam minha cabeça desde aquele maldito dia. Perguntas que todos vocês também querem respostas, mas nada do que estamos fazendo está adiantando. —

—Não há mais nada que possamos fazer, Melinda. — Steve falou se aproximando. — No momento, nossa melhor opção é encontrar o Tony. —

—Exato, Steve. Nossa melhor opção é achar o Tony. Então porque diabos você e a Nat só vivem enfiados naquela sala de reuniões olhando aqueles números que não param de crescer? Não conseguem ver que isso acaba com vocês? Que acaba com qualquer um de nós que passa por aquela sala e vê que o número só cresce? — questionei. — E o Thor? O Thor tem o machado que pode abrir a Bifrost e levar ele para onde ele quiser, mas ele está aqui, se martirizando porque não conseguiu matar o Thanos. —

—E você consegue saber a localização de qualquer pessoa apenas com base na energia que o corpo dela produz, mas você está aqui, se entupindo de comida e dizendo para o Theo que está tudo bem. — a voz do Deus do Trovão preencheu a sala. Nem ouvi quando ele chegou aqui. — Não está nada bem, Melinda, e você devia começar a parar de mentir para o seu sobrinho. — ele entrou no laboratório, sua feição estava séria.

—E você acha que eu não sei? Tem dias que eu não consigo olhar para o Theo porque eu não sei o que dizer caso a gente não consiga encontrar uma forma de trazer todos de volta. — falei, sentindo as lágrimas começarem a descer. — E você acha que eu não quero encontrar o Tony? Eu sei que posso encontrar aquele Cabeça de Lata, mas infelizmente a habilidade que me permite tal coisa não tem um alcance tão grande. —

—Talvez devêssemos parar. Discutir não vai nos levar a lugar nenhum. — Rhodes falou.

—Você diz isso como se tivéssemos ido a algum lugar. — Bruce retrucou. — Uma semana e meia, Rhodes. Uma semana e meia e nada! —

—E discutir vai nos ajudar em alguma coisa? Só vai fazer com que fiquemos com raiva uns dos outros. — Steve falou firme.

—Nós somos uma equipe, Capitão. Sentir raiva um do outro é normal. —

—Para nos separar, é o que quer dizer? — Natasha tomou a palavra. — Por acaso você está querendo ir embora, Melinda? —

—Como é que você tem coragem de me perguntar uma coisa dessas, Natasha? Mas que merda! Eu quero trazer todos de volta tanto como qualquer um aqui. — respondi, sentindo minha cabeça começar a latejar. — E a única vez que eu falei em ir embora do Complexo foi quando eu soube que o Theo tinha sobrevivido ao estalar. Eu falei para todos vocês que o melhor era eu ir para outro lugar com ele para que criança nenhuma atrapalhasse nenhum de vocês. E todos vocês, todos vocês disseram que seria um prazer ter o Theo aqui, que seria bom ter uma criança por perto. —

—E não voltamos e nem vamos voltar atrás. Você e Theo ficam porque vocês fazem parte da equipe, vocês fazem parte dessa maldita grande família! — eu quase pude ver a veia saltando no pescoço de Steve quando ele proferiu essas palavras.

O silêncio se fez presente por um bom tempo. Todos ficamos calados, apenas respirando fundo. Alguns se encaravam, outros encaravam o chão. Eu apenas repetia para mim mesma que devia ter ficado no meu quarto, estava começando a me arrepender de ter dito certas coisas.

—Certo. — Carol murmurou, atraindo nossa atenção. — Talvez eu tenha uma solução para encontrarmos o amigo de vocês, o Tony. — falou, sentando na bancada.

—O que? — Steve falou levemente confuso.

—Para acalmar os nervos de vocês recomendo um chá de camomila. — brincou, mas vendo que ninguém riu ela apenas suspirou. — Você pode realmente encontrar alguém apenas com base na energia que o corpo dela produz, certo? — me encarou.

Fechei os olhos com força, respirando fundo.

—É, e eu já falei isso umas três ou cinco vezes desde que você chegou aqui. — resmunguei, encarando a Capitã.

—Vou relevar esse seu mau humor porque você não tem dormido muito bem. Enfim, você não consegue encontrar o Tony porque nunca foi para o espaço, correto? —

—Eu estou a um passo de te bater, estou falando sério. — observei um sorriso nascer nos lábios da loira.

—E se eu te levar? — sugeriu.

—Para onde? Para o ápice de te dar um soco? — ela revirou os olhos.

—Não, estressadinha. Para o espaço. —

—Como é que é? —

—Olha, eu poderia sair por aí pelo espaço e procurar pelo seu amigo Tony sozinha, meu vôo é rápido. No entanto, procurá-lo sem ter, de certa forma, uma base de onde ele possa estar iria demorar alguns dias, quem sabe uma semana. — explicou, levantando da bancada e vindo até mim. — E eu aposto que se passar mais um dia com vocês do jeito que estão, vão acabar matando uns aos outros. — Carol parou a alguns metros a minha frente. — Então, o que me diz, Silvermist? — sorriu.

—Eu nunca mais vou te deixar assistir qualquer desenho. — resmunguei. — Ir para o espaço, hum? E você pilota bem no seu vôo? Porque a última coisa que eu quero é ir parar num buraco de minhoca. —

—Melhor do que você, aposto. — provocando. Revirei os olhos.

—Tem chances disso dar certo? — perguntei a Bruce.

—Talvez, não sei responder com certeza. — falou. — Mas se o que impossibilitava você era não conhecer o espaço, então conhecê-lo pode dar em alguma coisa, alguma pista, quem sabe até um ponto de referência espacial. —

—Pode dar em alguma coisa ou em nada. — murmurei.

—Não vamos pensar por esse lado, sim? — Steve falou cruzando os braços. — Danvers, você pode realmente levar ela? Digo, sem uma nave ou algo do tipo? —

—Claro. Só chegar, passar o braço pela cintura dela e bum. Voamos. — Carol não apenas falou como também demonstrou como iria fazer.

O braço dela circundando minha cintura me causou um leve arrepio na nuca, mas tudo bem.

—Certo, vou trocar de roupa então. Colocar algo mais espacial. — resmunguei, me soltando dela e fazendo menção de ir para meu quarto.

—Epa, epa, epa. Não é assim que funciona. Primeiro você vai precisar de um traje para o espaço, Melinda. — disse Rhodes. — Ou esqueceu que você não respira lá fora? —

—Quem disse, amado? — arqueei a sobrancelha. — Eu tenho poderes, posso muito bem conseguir respirar no espaço. — dei de ombros.

—Poderes esses que você acabou de demonstrar que não está conseguindo controlar. — encarei Natasha.

—Vai para o espaço no meu lugar então. — rebati.

—Gente, não vamos iniciar outra discussão, por favor. — Rhodes massageou as têmporas. — Bruce e eu podemos projetar um traje para você ir ao espaço. Tudo bem? — ele me encarou.

—Tá, tá. — resmunguei, suspirando. — Não quero nada rosa, já deixo avisado. Qualquer coisa estou no meu quarto. —

—Melinda, preciso cuidar da sua mão. — Bruce falou, mas continuei andando.

—Eu cuido dela no quarto. Tenham um bom dia. —

***

O dia seguiu com uma tensão palpável. Fiquei a maior parte do tempo no meu quarto, saindo apenas para comer ou ver o que o Theo estava aprontando. A propósito ele não pareceu notar ou ter alguma ideia da treta durante a madrugada, então menos mal.

A última coisa que eu queria era lidar com drama infantil.

O clima no Complexo já foi dos melhores. Pepper soube da discussão pela Natasha e pela tarde veio me perguntar se eu estava bem. Tentei ao máximo não ser mal educada com ela e acredito que tenha conseguido. Como o anjo que era, ela se prontificou a passar o resto do dia com o Theo, dizendo que era para eu aproveitar e descansar nesse tempo livre.

Eu tomei um banho com todos os sais que eu tinha no meu banheiro, lavei meu cabelo e o hidratei. Aproveitei para tonalizar o tom de azul já que estava começando a ficar com algumas mechas verde. Me depilei, usei alguma máscara facial que comprei na Coréia do Norte e fiquei na banheira até meu corpo dizer chega.

Em alguns momentos eu tentava manipular a energia da luminária do banheiro, mas nem sempre obtinha sucesso. Eu realmente precisava ter o controle de volta dos meus poderes ou ia voltar a ser a Melinda antes dos 17 anos.

Quando sai do banho já passava das 06:20 pm. Vesti meu pijama e preferi jantar no meu quarto, não queria criar mais nenhum atrito ou coisa do tipo.

O resto da noite eu passei assistindo Supernatural. Theo só veio aparecer por volta das 08:30 pm, já de banho tomado e pijama, pedindo para dormir comigo mais uma vez. E eu deixei.

Foi então que aconteceu algo inédito naquela noite. Eu dormi, por muito mais de uma hora.

***

Eu conseguia ouvir alguém chamando pelo meu nome, implorando para que eu acordasse. Entretanto, eu não conseguia acordar, não conseguia me mexer.

Eu sentia meu coração acelerado, algo queimando em meu peito, a boca seca. Sentia também alguém me chacoalhando, tentando me acordar, mas nada funcionava.

As imagens que rodavam minha cabeça estavam me enlouquecendo.

A vida falsa naquele mundo paralelo criado pela máquina na prisão Balsa.

Meu pequeno acerto de contas com Secretário Ross.

Os ataques de pânico e ansiedade quando eu não tinha ideia de onde Tyler estava e se o mesmo estava bem.

Os alienígenas em Scottland.

A batalha em Wakanda.

Thanos me dando uma surra.

Wanda virando pó bem na minha frente.

A dor quando descobri que minha família e meus amigos também não sobreviveram ao estalar.

O pânico por causa da cirurgia em Wakanda.

A morte do Coulson.

Tudo vindo a tona como se todas essas memórias fosse um verdadeiro tsunami, como se meu cérebro fosse capaz de suportar a quantidade de informações. As perdas... o fracasso na busca pelo Tony. E no centro de tudo eu. Uma garota de 21 anos que sofre de TEPT e ataques de ansiedade, que não conseguiu impedir nenhum desses eventos, nenhuma dessas mortes.

Tudo me acertando em cheio como um soco no estômago, aqueles que fazem você sentir o gosto da bile na boca. Eu só queria conseguir acordar. Acordar para então me afogar nas lágrimas, sentindo a culpa me corroer como sempre aconteceu durante todos esses anos.

Queria poder estar ao lado do Tyler e chorar em seu ombro enquanto ele dizia que tudo ia ficar bem, porque com ele ao meu lado tudo ficava bem. Queria o colo da minha mãe, os conselhos do meu pai, as piadas dos meus irmãos.

Queria poder dar fim a toda essa dor e sofrimento que preenche meu peito desde aquele maldito Tratado, desde aquela maldita explosão.

***

Abri os olhos assustada, sentando na cama em um solavanco. Meu peito subia e descia conforme minha respiração ficava cada vez mais ofegante, o suor escorria pela minha testa, as lágrimas já desciam grossas e rápidas, minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento e meu corpo gritava exaustão.

Parecia que eu tinha carregado sozinha todo um planeta nas costas de tão cansada que eu estava. E o medo estava fazendo com que meu corpo tremesse. Medo do plano da Carol não dá certo, de não encontrarmos o Tony antes que seja tarde demais, antes que...

—Tia? — a voz de Theo me despertou do pequeno transe. Ela estava fraca, assustada e o chamado foi seguido por um soluço.

Desviei o olhar para o esquerdo da cama, mas apenas encontrei a TV do quarto, um abajur e cacos de lâmpadas estouradas no lugar onde era para Theo estar.

Levantei da cama horrorizada, me atrapalhando com o cobertor preso nos meus pés e quase indo ao chão. Me afastei da cama sentindo as pernas tremerem, tentando entender o que tinha acontecido. O quarto estava escuro, a única iluminação vinha da luz da lua passando pelas janelas. Perto de onde eu estava de pé tinha mais cacos de vidro, me fazendo parar de andar para trás.

—Melinda? — ergui a cabeça em alerta na direção da porta do quarto.

Meu olhar encontrou não só todos os Vingadores me encarando em alerta e com olhares preocupados, como também Pepper, o guaxinim e a Carol. Mas foi a pessoa que a Capitã Marvel segurava no colo que chamou realmente minha atenção.

—Theo. — sussurrei, dando um passo na direção dele, mas então parei. Olhei para a cama novamente, encarando os aparelhos no lugar onde meu sobrinho até então dormia. Engoli em seco. — O que... o que aconteceu? — perguntei, com medo da resposta.

—A gente quem te pergunta, Melinda. — Steve respondeu, dando um passo a frente. — Alguns de nós acordou com o Theo gritando seu nome, quase chorando. Do nada o Complexo todo fica no mais completo escuro e quando chegamos aqui o abajur, as luminárias, a TV, seu despertador... tudo que tinha energia estava flutuando. — fechei os olhos com força, sentindo as lágrimas descerem.

—Foi só o tempo de tirar o garoto da cama antes de você jogar os aparelhos na cama. — Carol completou, obrigando-me a abrir os olhos completamente assustada.

—Então eu... eu larguei os... o Theo ainda estava na cama? — sussurrei, sentindo a culpa começar a preencher todo meu corpo.

—Eu peguei ele antes que qualquer coisa o acertasse. — ela afirmou.

—Mas eu podia... eu podia... meu Deus. — levei as mãos a cabeça.

—Melinda... — Natasha começou a vir na minha direção.

—Não! Não chega perto de mim! — ela parou contra sua vontade. — Eu sabia que não era para eu ter dormido. Eu sabia. — dei as costas para eles, puxando alguns fios de cabelo.

—Era por isso que você não dormia? — Bruce questionou. Estava começando a matar a charada.

—Tia Mel tinha pesadelos. — a voz de Theo se fez presente. Me virei na direção dele. Como o pirralho sabia? — Ela não conseguia dormir sem que eles aparecessem. Ela também não sabia que eu sabia disso. —

—Por que não falou comigo sobre isso? — a voz de Natasha estava quebrada, acho que ela se sentiu traída uma vez que ela pediu que não tivesse segredo entre nós duas.

Respirei fundo algumas vezes, pensando no que eu faria a seguir. E como uma pessoa sensata, adulta e bem resolvida, apenas dei as costas a todos eles, abri a porta do meu closet e peguei o primeiro par de botas e sobretudo que eu encontrei.

—O que você está fazendo? — Rhodes questionou confuso.

Após vestir o sobretudo, calçar as botas e pegar um gorro de lã, respirei fundo antes de me virar na direção deles e começar a caminhar determinada até a porta. Porém, eles estavam todos juntos bem na porta do quarto.

—O que você pensa que está fazendo, Melinda? — Romanoff perguntou, cruzando os braços.

—Eu... eu só preciso de um tempo sozinha. Sério. É só isso que eu peço. — a encarei nos olhos, deixando as lágrimas caírem.

—E para onde você vai? —

—Não muito longe, mas... eu só quero ficar sozinha. Por favor. — implorei.

Ela pressionou os lábios.

—Se der mais de 24h e você não aparecer ou dar um sinal de vida, eu mesma te caço. — assenti, observando ela dar um passo para o lado. — Deixem ela ir. — falou, e então o pessoal abriu passagem.

Passei direto sem encarar qualquer um, principalmente Theo.

—Tia? Não vai falar comigo? — a voz embargada voltou.

Parei no lugar, pressionando os lábios e fechando os olhos, deixando as lágrimas escorrerem livremente.

—Me perdoa, Theo. Eu nunca quis te colocar em perigo. —

E sem dizer mais nada, apenas desci as escadas e fui até a saída do Complexo, levantando vôo assim que me vi fora do mesmo.


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