Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 18
Capítulo 18 — Insegurança




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Emmett entrou no carro, deu mais de uma volta nas proximidades da pousada, se certificando que Royce havia ido realmente embora. Ainda assim, imaginou que pudesse voltar. A preocupação o levou ficar cuidando, às escondidas, da garota que nunca deixou de amar.

Estacionou onde pudesse ficar de olho em quem chegava e saída, porém, sem chamar atenção, não queria a polícia indo questioná-lo.

Até o horário do almoço, o dia seguiu normalmente, então, decidiu ir embora. Foi a algumas lojas em busca do presente de aniversário de Joshua. Escolheu uma bicicleta nova já que a dele estava pequena para sua idade. Almoçou sozinho em um restaurante de clima familiar. Voltou à casa de Rosalie, onde usou a chave que deixou com ele para ter acesso. Levou para a garagem a bicicleta junto às ferramentas que comprou para montagem. Verificou se os parafusos estavam firmes ao finalizar, imaginando o sorriso de Joshua ao receber o presente.

Estranhou a campainha tocando àquela hora. Abriu o portão da garagem, deu a volta pelo jardim chegando à parte onde ficava a porta de entrada. Encontrou o irmão gêmeo de Rosalie com o dedo na campainha. Fazia muito tempo não o via, mesmo após todos esses anos, ele não havia mudado quase nada. Os cabelos louros, um pouco mais compridos do que se lembrava, estavam presos em um coque samurai.

— Jasper.

Ao ouvir seu nome, Jasper virou o rosto na direção do som de sua voz.

— Emmett — respondeu. Não pareceu surpreso em encontrá-lo na casa da irmã, após tanto tempo. Deu alguns passos e lhe estendeu a mão. — Parece uma vida desde que nos vimos à última vez.

Emmett retribuiu o aperto de mão, em seguida, ambos deram um passo para trás.

— Sua irmã…

Jasper moveu a mão, mostrando estar atualizado dos acontecimentos.

— Sei que está chateado… por tudo. Apesar disso, não vim aqui para ouvir coisas a respeito de minha irmã que certamente não irei gostar.

Emmett moveu a cabeça, achando justo.

— Sua irmã e Josh não estão em casa agora.

— Eu sei, falei com ela por mensagem. Estava passando, quando avistei o carro e decidi parar. — Moveu a mão indicando o carro estacionado na frente da casa, que assim como o que Emmett usava, o seu também era de aluguel. — Queria ter certeza que era mesmo você com o carro da frente.

Novamente, Emmett moveu a cabeça, aceitando sua explicação.

— Josh me disse que vive agora em Nashville — comentou Emmett. — Que trabalha com música.

— Sim, tenho um escritório que gerencia a carreira de alguns artistas country. Vim pelo aniversário de Josh. Ele não me perdoaria se faltasse. Aquele garoto é fogo. Sabe fazer a gente se sentir culpado quando quer.

Emmett sorriu, pensando no filho.

— Ele é mesmo.

— Esse será o melhor aniversário que já teve. Josh era louco para te conhecer. Sei que está feliz, porque conversei com ele por telefone depois que se conheceram. Nunca vi tão empolgado.

— Eu também estou muito feliz. Josh é um garoto incrível.

— Não seja tão rancoroso com minha irmã. Ela passou por muita coisa até chegar aqui, não pense que foi fácil. Nossos pais sempre a apoiaram, mas nunca ultrapassando os limites de serem avós. Rose assumiu a maternidade em cem por cento. E era só uma menina quando aconteceu. Acredite, nunca deixou de pensar em você. Nem de te amar.

— Ela esteve com outro…

— Ela tentou e não deu certo. Certamente, você também tentou.

— Esse Royce… O que sabe sobre ele?

— Apenas o que minha irmã me contou. Encontrei com ele em duas ocasiões apenas.

— Qual sua impressão sobre ele? Seja sincero.

— Esforça-se para demonstrar uma simpatia que não me parece real.

— Compartilho da mesma opinião.

— Soube que ele voltou e estar tentando uma reaproximação.

— O que tem me incomodado muito — admitiu Emmett.

Jasper o olhou como tentasse saber mais.

— Josh não gosta dele — Emmett continuou. — Eu também não.

— Entendo. Mas, você… a menos que…

— Não quero uma pessoa de caráter duvidoso convivendo com meu filho.

— Tem certeza que é só sobre Josh que isso se trata?

Emmett não respondeu.

— Eu vou indo — avisou Jasper. — Acabei de chegar, ainda não vi meus pais. — Virou as costas e começou se afastar. Parou com a mão no pequeno portão de madeira pintado de branco. Olhou sobre o ombro, Emmett no mesmo lugar. — Se ainda gosta de minha irmã, não prolongue o sofrimento. Se não gosta, limite-se em manter a relação amigável pelo bem do meu sobrinho. — Abriu o portão, passou para o outro lado sem esperar uma resposta.

— Nunca deixei de amar sua irmã — Emmett falou em voz baixa.

Após a saída de Jasper, Emmett trancou as portas da casa e saiu para uma volta de carro. Precisava pensar, longe da influência dos pertences de Rosalie. Porém, não teve muito tempo, havia prometido pegar Rosalie no trabalho para irem juntos pegar Joshua na escola. Mudou a ordem das coisas indo buscar Joshua primeiro.

O menino se despediu dos amigos e veio em sua direção com passos apressados. A mochila pesada nas costas e a lancheira na mão. Estava feliz. Emmett sorriu vendo ele se aproximar.

— Papai.

— E aí, carinha. — Puxou o menino para um abraço. — Como foi na escola hoje? — o ajudou retirar a mochila das costas.

— Foi muito legal.

— Eles cantaram parabéns pelo seu aniversário?

— Sim. — Joshua correu para perto do carro, olhando então pela janela do carona como a mãe estivesse se escondendo para surpreendê-lo. — A senhora Sanders me nomeou ajudante dela hoje.

— E você gostou?

— Sim, eu gostei.

Joshua se virou. Emmett viu seu sorriso se tonar uma interrogação.

— E a minha mãe, onde está?

Abriu a porta traseira, colocou a mochila de Joshua lá dentro, ganhando tempo, pensando no que responder.

— Ela está no trabalho. — Moveu a mão indicando que entrasse no carro. O menino passou por ele e foi se acomodar no assento de elevação. O ajudou com cinto de segurança.

— Eu pensei que viriam juntos, igual foi pela manhã.

— Vamos buscar sua mãe agora. — Se afastou, fechando a porta.

— Legal! — ouviu Joshua comemorar, ainda enquanto se punha atrás do volante.

[…]

— Vou telefonar para a escola e dizer que vou me atrasar para pegar Joshua — Rosalie comentou com Alice na recepção da pousada. — Emmett não veio me buscar como prometeu. E eu nem mesmo sei se foi pegar Josh na escola.

— Já tentou falar com ele?

— Ele não me responde. Não atende minha ligação — fez uma pausa, os pensamentos aflitos. — Não sei o que pensar. Ele pode ter pegado Josh e levado para Raleigh ou mesmo para Nova Iorque.

— Emmett não faria isso sem falar com você.

— Aí que está. Ele não fala comigo. Não me conta nada. — Estendeu a mão para alcançar o celular em cima do balcão, parando para fazer um pedido a Alice. — Me empreste seu carro? Eu deveria saber que não era uma boa ideia deixar meu carro em casa. Mas Josh pediu tanto que fossemos levar ele na escola hoje.

Alice pôs a mão em seu pulso sugerindo que esperasse.

— O quê? — Rosalie questionou tentando entender o motivo.

— Não vai precisar telefonar para a escola. Nem mesmo do meu carro.

— É claro que vou. Preciso pegar meu filho.

Alice balançou a cabeça indicando a porta, como Rosalie não seguiu sua sugestão precisou usar palavras para fazê-la ver o que acontecia.

— Eles estão bem ali. — Chegou mais perto da porta. Ao fazer o mesmo, Rosalie viu os dois se aproximando pelo jardim. Joshua contava algo ao pai, que concordava com ele em um clima descontraído.

Passou pela porta ainda sem entender. Porém, aliviada que Emmett não tivesse levado Joshua para outro lugar que não fosse para encontrar com ela.

Joshua correu ao seu encontro. Agarrou-se a sua cintura ao se aproximar. O abraçou de volta e beijou no alto de sua cabeça loura, sem deixar de reparar em Emmett.

— Pensei que fosse com meu pai me buscar na escola — o menino comentou.

Rosalie beijou seu rosto, e tornou olhar para Emmett.

— Eu também achei que fosse — respondeu.

Emmett acenou como nada tivesse acontecido. Rosalie não acenou de volta, incomodada com sua atitude.

— Josh, vá lá dentro pegar com Alice a bolsa e telefone da mamãe.

Afastou a mão do ombro do menino. Joshua saiu pulando. Ouviu quando chamou por Alice, animado. Voltou à atenção a Emmett. Deu alguns passos, diminuindo a distância entre ambos.

— Me deixou preocupada.

— Não sei por qual motivo — ele rebateu.

— Disse que passaria para me pegar primeiro. Ofereceu-se para me trazer aqui pela manhã, por esse motivo fiquei sem meu carro. Não é nada agradável ser feita de boba.

— Estava em cima da hora, só por isso peguei Josh primeiro.

— Eu te liguei. Mandei mensagem de texto. Poderia ter me poupado dessa agonia.

— Que exagero.

— Eu não sei o que pensar. Tem agido de um jeito que às vezes me assusta.

— Eu te assusto? — questionou num tom de ofensa. No fundo, se culpando por fazê-la se sentir assim em relação a ele. Não era o que realmente queria.

Rosalie o olhou nos olhos, como tentasse desvendar seus pensamentos.

— Algumas de suas ações me assustam… Ainda é o Emmett por quem me apaixonei, por outro lado, há momentos que eu não o conheço.

Emmett abriu a boca para falar, porém, a voz de Joshua fez encerrar o assunto.

— Mamãe.

Rosalie olhou para trás. Joshua voltava trazendo exatamente o que pediu para buscar.

— Obrigada, vida.

Joshua segurou sua mão, puxando-a até onde ficou estacionado o carro usado por Emmett. Ele os seguiu. Rosalie olhou para trás uma vez, nesse momento os olhares se cruzaram.

— Será que o tio Jasper chegou?

— Sim, seu tio já está na cidade.

— Legal! — Joshua comemorou. Entrou no carro, sem perceber o clima estranho entre os pais.

Emmett ocupou o assento do motorista em silêncio.

— Mamãe — chamou Joshua ao ver que ela não se moveu.

Rosalie abriu a porta do passageiro e se acomodou no assento. Olhou no rosto de Emmett, que olhava para frente, concentrado em ligar o motor do carro e manobrar para fora do estacionamento. Achou melhor olhar pela janela, afinal.

Emmett aproveitou para olhar em sua direção. Rosalie virou o rosto ao sentir que era observada. Seus olhos estiveram unidos por um instante em uma troca de olhar. Ele moveu a mão como fosse tocar a sua, mas acabou recuando.

— Esse está sendo o melhor dia de aniversário de todos — declarou Joshua com alegria.

Emmett abriu um sorriso. Rosalie gostou de presenciar seu sorriso, só lamentou que não fosse destinado a ela também.

— Os cupcakes foram suficientes para todos? — perguntou ao menino.

— Sim.

— Que bom, meu amor.

— Todo mundo gosta dos cupcakes que a vovó Esme faz. Só o papai que não comeu nem um sequer.

— Não tem problema, filho — disse Emmett.

— Sua avó vai fazer mais. Seu pai ainda vai poder provar.

Joshua sorriu.

— É mesmo — concordou.

Emmett sorriu, mas ao perceber o olhar de Rosalie, a expressão em seu rosto se fechou.

[…]

— Tem um presente para você na garagem — Emmett revelou, assim que entraram pela porta da frente.

Os olhos de Joshua brilharam, na expectativa.

— Posso ver? Posso? Posso?

— É claro.

Joshua disparou pela casa, entrou pela porta ao lado da lavanderia que dava acesso à garagem.

— O que comprou para ele? — a pergunta soou com uma nota de preocupação e medo.

— O quê? Está pensando que comprei um carro para ele? Joshua está completando oito anos. Não sou tão louco assim.

— Não achei que fosse um carro.

— Não foi o que sua cara assustada disse — ao notar que ainda estava apreensiva, revelou: — É só uma bicicleta. Vi que a dele estava pequena. Antes que me julgue, comprei também os equipamentos de segurança: capacete, joelheiras, cotoveleiras e luvas.

Joshua gritou da garagem.

— Maneiro! — chegou correndo na sala e voltou pelo mesmo caminho sem dar tempo de falarem com ele.

— Ele gostou — Emmett comentou.

— Com certeza vai querer inaugurar agora mesmo.

Rosalie se movimentou pelo cômodo.

Joshua voltou à sala, empolgado.

— Posso andar de bicicleta agora, mamãe?

O olhar de Rosalie foi direcionado a Emmett.

— Eu não disse.

— Posso mamãe? Posso? — insistiu, pulando em sua frente.

— E a lição de casa?

— Eu faço depois.

— Não sei… Estou cansada filho.

— Meu pai fica comigo lá fora. — Ele se virou para confirmar com o pai. — Não fica, papai?

— Nem precisava perguntar.

Joshua olhou novamente para ela.

— Deixa mamãe, por favor. É meu aniversário. Não tem problema se fizer a lição depois.

— Está bem, você pode ir.

— Eh! — Joshua pulou com os braços erguidos. Em seguida, saiu correndo, sumindo na porta que dava acesso à garagem, outra vez.

Rosalie espiou os dois enquanto Emmett ajudava Joshua colocar o equipamento de segurança.

A porta da garagem se encontrava aberta, esperando apenas o menino ficar pronto.

— Vá devagar — Emmett falou para Joshua assim que ele subiu na bicicleta nova. A antiga estava bem ao lado, foi aí que Rosalie se deu conta que estava muito pequena em comparação à nova. — Não quero que se machuque filho — continuou Emmett.

— Não vou me machucar, papai. Eu já sei andar sem rodinhas. Vovô Carlisle me ensinou.

— Essa é maior que sua bicicleta antiga. Precisa se acostumar a ela.

— A outra é de bebê. Eu não sou mais um bebê.

Rosalie levou a mão à boca, sorrindo.

— Para mim e para sua mãe, será sempre um bebê.

— Você é um bebê para a vovó Carmen e o vovô Eleazar?

— Pode apostar que eles vão dizer que sim.

Pai e filho riram juntos. Rosalie fez o mesmo, porém, escondida.

— Posso ir?

— Pode.

Joshua desceu montado na bicicleta, ao lado dos carros estacionados, a entrada de veículos em alta velocidade. O guidão instável. De repente, se tornou um borrão.

— Josh! — Emmett foi atrás dele.

Joshua atravessou a rua indo parar no gramado do vizinho.

Rosalie entrou na garagem, se aproximando da porta aberta para expiá-los no lado de fora. Viu Joshua passar de bicicleta duas vezes, com o pai atrás quase correndo. Na terceira vez, ele havia reduzido à velocidade, permitindo Emmett ficar ao lado da bicicleta.

Quando Joshua atingiu os arbustos no jardim do vizinho, Emmett o arrancou de cima da bicicleta imediatamente.

— Está tudo bem? — colocou Joshua no chão e foi recuperar a bicicleta para ele.

— Acho que machuquei a perna.

Emmett se abaixou ao seu lado. Rosalie ia saindo da garagem, quando ouviu Joshua dizer:

— É brincadeira.

O pai se colocou de pé novamente. Rosalie recuou, evitando ser pega espiando.

— Você me assustou filho. — Pôs a mão no capacete de Joshua. — Sua mãe não iria gostar nada se tivesse se machucado de verdade.

Joshua subiu outra vez na bicicleta.

— Você não precisa ir tão rápido.

— Tá bom, papai.

Joshua diminuiu a velocidade, mas não demorou muito tempo assim. Emmett foi atrás novamente. Rosalie voltou para dentro de casa, com um sorriso no rosto.

[…]

Emmett e Joshua retornaram pouco mais de uma hora depois.

Joshua estava suado e suas bochechas vermelhas. Ainda assim, parecia radiante. Emmett demonstrava estar cansado, a umidade causada pelo suor brilhava em sua testa. Eles conversavam sobre coisas que viram ou fizeram enquanto estiveram lá fora.

— Está tudo bem? — pediu Rosalie, com uma nota de diversão na voz.

— Meu pai falou que está cansado — Joshua olhou para a mãe sorrindo.

Rosalie não conseguiu conter o sorriso.

Emmett moveu a cabeça como dizendo não ser justo.

Rosalie pôs a mão no ombro de Joshua.

— Vá para o banho. Lembre-se que tem a lição de casa para fazer.

Ele mostrou desanimo com os ombros curvados.

— Mas é meu aniversário. Mereço uma folga.

— E quem me dá uma folga no meu aniversário? Faço muitas coisas, o tempo todo. — Deu um tapa amigável no bumbum dele. — Vá ficar cheirosinho.

— Os pais de Alice deveriam dar folga para você no dia de seu aniversário.

— Nisso eu concordo com você.

Joshua se retirou, parecendo satisfeito com a reposta.

Rosalie viu de canto de olho, Emmett sentar no sofá.

— Me lembre de não presentear ele com uma moto nunca na vida.

Um sorriso fez curvar os lábios de Rosalie. Imaginou que finalmente teriam uma conversa saudável, mas Emmett levantou e foi para a cozinha. Suspirou com aborrecimento, levantou e foi atrás dele.

Emmett virou o corpo em sua direção ao sentir sua presença. O copo que usou para beber água foi deixado em cima da ilha.

— Preciso de um banho — se afastou e começou sair da cozinha.

Rosalie o chamou quando passava ao seu lado.

— Emmett, espere.

Ele parou, porém, não voltou e também não olhou em seu rosto.

— O quê? — pediu na defensiva.

— Meus pais prepararam um jantar pelo aniversário de Joshua, também pro meu irmão que está na cidade. E… eu… eu gostaria de saber se vai com a gente.

— Não me sentiria confortável — respondeu e saiu andando.

Rosalie apertou os lábios em uma linha fina, sentindo-se golpeada outra vez por seu desprezo.

— O que direi a Josh? — sua voz soou um pouco alterada, não pôde evitar.

— Mamãe — Joshua chamou por ela ainda do banheiro.

— Estou indo, filho.

Passou por Emmett, sem querer, esbarrou em seu braço.

— Desculpe.

Emmett ficou olhando até estar fora do campo de visão. Não demorou, ouviu conversando com Joshua.

— O que foi meu amor?

— Não sei onde está minha toalha.

Chegou ao corredor bem quando os dois entravam o quarto do menino. Parou para ouvir o que falavam, antes de entrar no banheiro.

— Por que não vou vestir o pijama? — Joshua tentou descobrir porque a mãe pegou roupas para ele em vez do pijama.

— Vamos jantar na casa da vovó e do vovô. Eles prepararam tudo o que você gosta.

— Legal! — começou se vestir, empolgado. — Não vou fazer a lição de casa?

— Vai sim, antes de sairmos.

Joshua fez cara de desaprovação.

— E o meu pai? Ele também vai, não é?

— Josh… — hesitou sabendo que o menino não aceitaria tão fácil o que iria dizer.

— Acho que seu pai não quer ir.

Joshua atirou a camisa em cima da cama. Numa demonstração de raiva, sentou com os braços encruzados.

— Então, eu também não quero ir.

— Josh…

— Não quero.

— Seus avós e seu tio estão esperando por você.

— Ligue para eles e diga que não vou.

— Não vou fazer isso.

Joshua levantou e foi pegar o pijama na gaveta da cômoda.

— Eles não merecem o que está fazendo, Josh. Você está me ouvindo?

Quando virou outra vez de frente para ela, Joshua tinha lágrimas nos olhos.

— É meu primeiro aniversário com meu pai. Por favor, mamãe, me deixe ficar com meu pai.

Sentiu pena por Joshua, mas, também não era justo dizer não a família esperando com o jantar na mesa. Especialmente, quando esteve sempre presente, em todas as circunstâncias.

— Você quer que a mamãe vá sozinha é isso?

— Não.

— Então?

Uma batida na porta fez os dois olharem para lá. A porta abriu e a imagem grande de Emmett apareceu do outro lado.

— Termine de se vestir — disse para o menino.

— Eu quero ficar com você, papai.

— Eu sei — respondeu, olhando brevemente Rosalie. — Vou tomar banho e você vai fazer a lição, depois vamos os três juntos para casa de seus avós.

O sorriso voltou ao rosto de Joshua quase que imediatamente. Ele se apressou em pegar a roupa que ficou na cama, deixando o pijama de lado.

Rosalie olhou no rosto de Emmett sem entender a mudança na decisão.

— Ele não vai ficar longe de você hoje. Prometi isso, você deve se lembrar — falou enquanto deixava o quarto.

— Emmett…

— Minha intenção não é afastar Josh de ninguém, especialmente hoje.

Rosalie estendeu a mão, chegando a tocar a dele brevemente pouco antes de ele cruzar a porta.

— Será que o tio Jasper tem um presente para mim?

Terminou de arrumar Joshua e ajudou com a lição de casa, enquanto Emmett ficava pronto.

[…]

Joshua correu para abraçar o tio logo que chegou à casa dos avós maternos.

— Como está o meu sobrinho favorito nesse dia tão especial?

— Estou muito bem.

Jasper o abraçou, sacudindo até ele sorrir.

— Você parece maior que a última vez que o vi pessoalmente.

— Sim, eu cresci alguns centímetros desde então. — Escapou dos braços do tio para cumprimentar a avó e o avô.

Rosalie cumprimentou o irmão. Emmett ficou logo atrás de suas costas, pouco à vontade de estar na casa dos pais dela, quando sabia que não estava sendo agradável ultimamente.

Jasper reconheceu uma nota de tristeza em seu olhar. Tomou a irmã em um abraço que quase a fez chorar.

— Como você está? — pediu em seu ouvido.

— Tentando — sussurrou em resposta.

O abraço foi finalizado. Jasper cumprimentou Emmett com um aperto de mão.

Rosalie viu quando Joshua foi para a cozinha com a avó, fazendo perguntas quanto ao jantar dessa noite.

Carlisle cumprimentou Emmett, que pareceu bastante desconfortável.

Questionou a filha da mesma forma que o irmão dela havia feito.

— Como você está?

— Está tudo acontecendo como Josh desejou…

— Vocês conseguiram se entender?

Moveu a cabeça, negando, e, de alguma forma, controlando a vontade de chorar.

— Tio Jasper — a voz de Joshua rompeu o clima estranho, revelando que estava de volta. — A vovó me disse que trouxe presentes.

— Venha! — Jasper moveu a mão convidando o sobrinho a ir com ele. — Está no escritório de seu avô.

— O que comprou tio?

— Vai ter de abrir para descobrir. Não seja tão ansioso.

Esme retornou à sala, cumprimentou Emmett com habitual gentileza com que cumprimenta a todos, mesmo sabendo que não estava merecendo.

— Maneiro! — ouviram quando Joshua comemorou no escritório. Em poucos instantes, estava de volta à sala carregando a caixa de um videogame e também um livro.

Rosalie agradeceu ao irmão pelos presentes dado a Joshua.

— Deu o livro para eu não reclamar, não foi?

— E eu estava certo, não?

Ambos os irmãos riram.

Joshua ficou no tapete da sala abrindo os presentes que ganhou dos avós: uma pista de corrida enorme e alguns carrinhos. Claro que ele quis montar no momento em que a viu, mas Rosalie conseguiu convencê-lo montar somente na casa deles.

Algum tempo depois do jantar, Emmett se afastou para atender a uma ligação.

Joshua estava no sofá da sala tentando aprender com o tio como tocar violão.

Emmett saiu pela porta de vidro, na lateral da casa para o jardim, com o telefone na mão. Sentou numa espreguiçadeira na área da piscina.

— O aniversário dele é hoje.

Rosalie o ouviu falar e foi atrás, sem ser vista, para ouvir o restante da conversa.

— A comemoração com os amigos vai ser no domingo.

Notou que estava em uma chamada de vídeo.

— Você parece ótimo — a voz feminina elogiou.

— Estou feliz em poder estar com meu filho hoje. Josh é um garoto incrível.

— Um pouco ciumento — Gwen lembrou. Ambos riram relembrando a vez que Joshua viu Gwen em uma chamada de vídeo com Emmett. — Gostaria de dar os parabéns a ele.

— Ele está lá dentro, aprendendo com o tio a tocar violão.

— Que adorável.

— Ele não para, tem uma energia incrível. Está sempre em movimento.

— Ele parece você.

— Josh é muito melhor que eu.

— Papai — ouviu quando Joshua chamou por ele da mesma porta por onde passou instantes atrás.

— Olha ele ali — disse.

— Papai.

— Oi, filho.

— Vem ver o que consigo fazer… — parou ao ver que o pai estava ao telefone.

— Venha até aqui, Josh.

— Com quem está falando? — sondou com desconfiança.

— Gwen quer te dar parabéns pelo seu aniversário. — Moveu a mão com o celular. — Venha até aqui, falar com ela.

— Não quero.

— Josh…

— Você não pode me obrigar. — Virou as costas e voltou correndo para dentro de casa.

— Me desculpe — Emmett pediu a Gwen, sem saber que Rosalie o espiava.

— Não faz mal. Sabemos por que ele não gosta de mim.

Emmett lembrou a conversa que teve com Joshua em seu antigo quarto, na casa dos pais em Raleigh.

— Josh tem uma missão — Gwen lembrou. A risada dela soou junto à de Emmett no jardim.

Rosalie voltou para dentro de casa sem ser notada. Joshua estava se queixando com o tio sobre Gwen ser chata e intrometida. Subiu a escada e foi se isolar no quarto de hóspedes.

Emmett voltou à sala pouco depois de Joshua se recusar cumprimentar Gwen ao telefone. O menino aproveitou para mostrar ao pai o que aprendeu tocar no violão.

Embora não tenha comentado com ninguém, Emmett estranhou a ausência de Rosalie e até sentiu sua falta. Não levou muito tempo, Joshua começou procurar por ela na casa dos avós.

— Alguém viu a minha mãe? — a pergunta despertou o interesse de Emmett em saber, também, a resposta.

— Já olhou lá em cima, querido?

— Ainda não, vovó.

— Vou ver se está lá. Espere aqui, está bem?

— Quero ir também, vovó.

— Tudo bem, você pode vir. — Esme moveu a mão convidando ele a ir junto.

Emmett ficou olhando os dois subirem a escada, querendo descobrir onde estava Rosalie. Viu-se desejando ir com eles.

Joshua seguiu, abrindo todas as portas no trajeto onde passou acompanhado da avó. A porta do quarto de hóspedes, onde costumavam dormir sempre que ficavam para passar a noite, estava trancada com a chave pelo lado de dentro.

— O que foi Josh?

— Esta não abre vovó.

Esme se aproximou, tentou abrir a porta, com Joshua impaciente ao seu lado.

— Rose.

— Mamãe — Joshua chamou.

— Querida, você está aí?

— Mamãe — tentou Joshua mais uma vez, forçando a maçaneta.

— Tenha calma, Josh.

— Por que está fechada, vovó?

— Eu não sei querido. Rose?

— Mamãe. Será que ela não está aí, vovó?

Esme notou o barulho na fechadura.

— Ela está abrindo — disse ao menino.

Esme olhou com atenção seu rosto. Embora Rosalie tenha secado as lágrimas, ainda dava para ver que chorou.

— Mamãe, por que está aí? E por que trancou a porta? Eu procurei por você na casa inteira. Você estava chorando?

— Está tudo bem, mamãe só estava descansando.

— Você chorou? — insistiu.

— Não chorei.

— Chorou, sim.

— Impressão sua.

— Eu acho que chorou. Me conte o motivo.

— Não chorei. — Apertou as bochechas dele e deu um beijo. — Vá juntar seus presentes que nós já vamos embora.

— Tá bom. — Joshua aceitou sem questionamentos. Ele saiu apressado pelo corredor.

— Não corra na escada — lembrou.

— Eu sei.

Emmett virou o rosto, olhando na escada assim que ouviu passos.

— Encontrou sua mãe?

— Sim. Mamãe estava trancada no quarto de hóspedes da vovó.

— Ela está bem? — Jasper perguntou.

— Está, sim. Papai, você me ajuda pegar os meus presentes. A mamãe já quer ir embora.

Preocupado com Rosalie, Emmett voltou olhar no alto da escada. Ela vinha logo atrás de Esme. Não viu seu rosto como gostaria de ter visto, porque Joshua o puxou para ajudar carregar os presentes que ganhou essa noite.

Despediram-se após carregar tudo para o carro. Conseguiu prestar atenção no rosto dela somente quando estavam no carro em movimento. O tempo todo, Rosalie evitou olhar em sua direção. O que lhe deu a certeza que havia chorado. Não sabia o motivo, mas certamente tentaria descobrir.

Joshua perguntou se estava com sono. Ela concordou, porém, Emmett duvidou que fosse essa a verdade.

 


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Notas finais do capítulo

Não se esqueça de deixar o seu comentário se você está gostando de acompanhar esta história, do contrário, não terei como saber.

Até breve!