Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 13
Capítulo 13 — Noite Estranha




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Rosalie se pegou com um sorriso no rosto, olhando o reflexo no espelho, ainda segurando o celular na mão. Estava adorando que Joshua e o pai estivessem se dando bem. Finalmente, fazendo parte da vida um do outro. Sentiu-se aliviada em poder falar com o filho antes de ele dormir, visto que Emmett alertou sobre isso não acontecer quando o levou de casa. Deixou o telefone na bancada, decidida terminar a maquiagem e sair então para se divertir como sugeriu a mãe que fizesse.

Terminou a maquiagem e trocou o roupão pela roupa escolhida para ocasião. Olhou-se uma vez mais no espelho de corpo inteiro. Pensou no filho e, como resultado, o pensamento de querer desistir voltou incomodar.

Como desconfiasse, Alice telefonou no exato momento que pensou em desistir.

— Estou aqui na frente — disparou no instante que Rosalie atendeu a chamada. — Vim te buscar. Não vou correr o risco de ouvir dizer que resolveu ficar em casa. Não vou mesmo.

O rolar de olhos teria dito que acertou. Pena que não estava em uma chamada de vídeo para ver.

— Está pronta ou terei de entrar e resgatar você de si mesma?

— Alguém já te disse ser muito exagerada?

— Praticamente o tempo inteiro. Já nem me incomoda mais.

— Não será necessário vir aqui me resgatar, estou pronta. Já estou saindo. — Finalizou a ligação saindo para o corredor e assim passando pela sala. Bastou chegar ao jardim, Alice apertou a buzina de seu carro amarelo. Rosalie se apressou pelo jardim cruzando o pequeno portão de madeira se colocando ao lado do carro.

— Para quê tudo isso? — questionou, se inclinando ao lado da janela do veículo.

Alice abriu um sorriso.

— Para você se animar. Está indo para se divertir. Não faça cara de velório. Felicidade, minha filha. Quero ver você feliz. — Destravou a porta no lado do carona para Rosalie entrar, finalmente. — Vamos nessa! — disparou.

— Por que no seu carro, e não no meu?

— Porque meu carro é alegre. É exclusivo.

— Não sabia que seu carro sorria — provocou, disfarçando um sorriso.

— Que engraçada você — ironizou Alice. — Olha só o tamanho do meu sorriso. — Fez cara de séria, a melhor que conseguiu. — Entra logo nesse carro, garota.

— O meu carro também é legal — Rosalie se acomodou ao assento batendo a porta.

— Seu carro diz: “Criança no banco de trás”. Ele meio que escancara a maternidade.

— E daí?

— Rose, entenda, não precisa chegar escancarando que é mãe. Quer espantar os caras antes mesmo de conhecer?

— E quem disse que quero conhecer alguém?

Alice fez cara de tédio.

— É sério isso? Garota, você é linda. É jovem. Tem um filho, okay. Só tem de entender que ele não está com você essa noite. Custa aproveitar? Cara, sua própria mãe pediu que saísse para se divertir.

— Já entendi.

— Mesmo assim, quero falar mais um pouquinho.

— O que foi agora? — Rosalie terminou de pôr o cinto.

— Se meu lance não fosse ficar com garotos, te pegava fácil.

— Liga logo esse carro — Rosalie deu um empurrão no braço dela, se divertindo com seu jeito alegre e expansivo.

— Quero mesmo é seu irmão.

— Com certeza você quer. Tem feito muitas perguntas ultimamente.

O carro já estava em movimento, quando Alice voltou a falar:

— Royce está na cidade.

— Eu sei. Encontrei com ele no mercado outro dia.

— Acredito que voltou por você.

— Claro que não. Royce veio visitar os pais. Esqueceu que eles vivem na cidade?

— Às vezes, você me irrita — acrescentou Alice. — Ele pode até ter vindo visitar os pais, mas o que queria mesmo era encontrar você.

— Bem, ele já encontrou. Já pode voltar para o lugar onde estava.

Alice acabou sorrindo.

— Podia usar Royce, para fazer ciúmes a quem realmente te interessa.

— Isso não vai acontecer.

— O que não vai acontecer? Você usar Royce ou o pai de seu filho não ficar com ciúmes?

— As duas coisas.

— Se você está dizendo…

O assunto passou ser outro dali em diante. Enquanto Alice estacionava em frente à casa noturna, Rosalie pensou que não sabia como fazer aquilo. Se divertir com algo que não envolvia o filho.

Alice fez os pedidos no balcão do bar. Rosalie se sentiu deslocada. A música alta, o jogo de luz incomodou no início. Vozes se fundindo ao som da música. Casais, amigos, todos eles aproveitando o momento. E ela, pensava apenas que não queria estar ali. Queria mesmo era estar com Joshua e o pai dele, não importava se em New Bern, Raleigh ou Nova Iorque.

Alice lhe entregou o drink. Resistiu um instante até prová-lo finalmente.

O barman, um negro alto, de braços com músculos trabalhados, cabelos raspados, se inclinou no balcão enquanto falava:

— Sua amiga parece pouco à vontade.

Alice provou do próprio drink.

— Está enferrujada. Daqui a pouco — indicou o drink na mão da amiga —, ela se anima. — Ficou de frente a Rosalie, pegando-a pela mão arrastando-a para a pista de dança. Alice mostrou intimidade com a música balançando o corpo bem à vontade.

Rosalie provou mais um pouco do drink. Pegou-se pensando em todas às vezes que saiu com Emmett para se divertir. O quanto funcionava bem quando estavam juntos. Isso a fez pensar no agora, em como a relação deles estava mal. Levou a mão ao celular, a imagem de Joshua, ainda bebê, sorriu para ela no visor.

— Guarde esse telefone — Alice exigiu, se fazendo ouvir mesmo com a música alta. — É sério, Rose. Não vai funcionar desse jeito. Precisa se desligar de tudo. — Para sua surpresa, Rosalie concordou. O celular voltou para o bolso. Ela provou um pouco mais do drink. Ao poucos, começou se soltar. — É isso aí, garota.

Não levou muito tempo para Alice estar interagindo com outras pessoas. Rosalie aproveitou o momento para sair de fininho, tomando o caminho do banheiro. Precisava avaliar se estava disposta a conhecer alguém essa noite. Chegou à conclusão, diante o espelho refletindo as repartições atrás de suas costas, não tinha interesse, não agora com o amor do passado tão presente. Não deu certo antes de Emmett saber sobre Joshua, agora que sabia seria praticamente impossível. O amor que sentia por ele estava mais forte que nunca. Dificilmente poderia entregar seu coração a outro alguém.

Buscou o telefone celular novamente, era terceira vez que via as fotografias da recepção de boas-vindas a Joshua na casa dos avós paternos. Era capaz de jurar que Joshua obrigou o pai enviar as fotografias para seu número. Em algumas, o menino aparecia com cada membro da família, em outras, todos eles se aglomeravam, sorridentes, sendo o melhor que podiam para seu filho. Joshua estava tão feliz. Em todas as fotografias o sorriso que a mãe tanto amava estava registrado. O carinho e cuidado estava presente em cada gesto das pessoas ao lado dele. O olhar de Emmett, o olhar de um pai apaixonado a cada descoberta e aprendizagem do filho. 

Estar longe de Joshua tinha seu preço. Mas tudo bem, ele estava feliz. O pai sendo cuidadoso, como imaginou que seria. Ainda assim, não conseguia se sentir feliz. A resposta era apenas uma; queria estar ao lado deles.

Saiu do banheiro ainda com o celular nas mãos, as fotografias o centro de sua atenção. Esbarrou em alguém, desculpou-se imediatamente sem dar muita atenção. Continuou indo em frente, quando um puxão no braço a obrigou parar de repente. Ainda se recuperando do susto, encontrou Royce com um sorriso no rosto. Um copo de uísque numa das mãos, a outra, em seu braço.

— Royce — olhou a mão que a segurava —, você me assustou.

Royce afastou a mão ainda que o desejo de mantê-la onde estava fosse maior.

— Não esperava encontrar você aqui — comentou, após um gole de uísque.

— Para ser sincera, eu também não esperava te ver aqui.

— Está sozinha? — Ele olhou para os lados como fosse encontrar mais alguém.

— Vim com Alice. Você lembra-se dela?

— A baixinha espevitada?

Rosalie acabou achando do comentário.

— Adoro esse sorriso — Royce encostou a mão em seu queixo, deixando-a incomodada.

— Royce… — Ela se afastou.

— Ah, qual é? — um sorriso torto marcou seu rosto. — É só um elogio inofensivo. Está muito na defensiva, Rose.

Ela mudou o celular de mão, pensando em sair dali.

— Que bom que deixou o garoto com seus pais, assim pude te encontrar essa noite. Está sempre trabalhando ou cuidando do garoto. Que sorte a minha ter vindo justamente para cá.

— Josh não está com meus pais.

— Não? — se surpreendeu Royce. — Imagino que com uma babá, então?

— Também, não.

A expressão no rosto dele dizia não saber como.

— Josh foi passar o fim de semana com o pai.

Royce não poderia obter resposta menos provável. Não conseguiu esconder o incomodo que a informação trouxe.

— Finalmente resolveu assumir a paternidade do garoto? Com alguns anos de atraso, não?

— Não é bem assim. Emmett não sabia de Josh. Não é como tivesse renegado o nosso filho.

— Tinha me esquecido que esse era o nome dele.

— Emmett. Sim, esse é nome do pai de meu filho.

— Imagino que Joshua esteja muito feliz.

— Ele está radiante.

— E você, como está? — sondou Royce.

 — Tentando lidar com tudo que está acontecendo.

— Posso te pagar um drink?

— Desculpe, vou ter de recusar.

— Um drink, Rose. Nada mais que isso.

Rosalie calou-se, pensando em algo para dizer.

— Tudo bem — aceitou, por fim. — Mas será apenas um — emendou quando Royce se mostrou animado demais.

Alice viu os dois passando a caminho do bar. Ficou animada, acreditando que Rosalie e Royce estivessem se curtindo, ao menos por aquela noite. Rosalie sacudiu a cabeça ao sinal de joinha da amiga.

Royce se encostou ao balcão ao fazer o pedido. Tendo de mudar quando Rosalie se recusou aceitar o que escolheu. O que a levou pensar em Emmett, ele nunca erraria no seu pedido. Conhecia seus gostos como ninguém, ao menos na época que namoravam.

Buscaram um lugar para sentar onde o movimento era menor. Mesmo com a música alta conseguiram manter uma conversa. O problema é que Royce estava cheio de segundas intenções, a maior parte do tempo, cuspindo indiretas. Rosalie já estava se cansando do joguinho dele, por isso, decidiu que iria embora.

— Eu preciso ir. — Se colocou de pé.

— Disse que não trabalha amanhã. O garoto não está na cidade. Por que a pressa? — Ele se levantou também.

— Acho que perdi o costume de ficar até tão tarde fora de casa.

— Posso te acompanhar?

— Não é necessário. Como disse, vim com Alice.

Royce deu a volta ao redor da mesa, se colocando próximo a ela. A mão chegando tocar sua cintura. Rosalie recuou um passo, mas ele insistiu, beijando-a mesmo antes que pudesse reagir. Rosalie pensou em Emmett e, Royce, não tendo conhecimento de seus pensamentos, tirou proveito do momento de fragilidade.

— Caramba! — exclamou, esbanjando sorriso. — Uau!

Rosalie o empurrou para longe no minuto que a figura de Emmett passou ser a de Royce novamente.

— Sabia que também queria.

— Não — Rosalie negou, as mãos nos lábios como quisesse se livrar do beijo. — Eu não queria isso. Entendeu tudo errado.

— Você retribuiu ao beijo, Rose.

— Não estava pensando em você — ela disparou. — Tenho de ir embora. — Se afastou, desviando das pessoas no caminho. Procurando por Alice no meio de tanta gente.

O que não sabia é que suas palavras ficaram martelando na cabeça de Royce de forma negativa. Diante a raiva que sentiu, ele arremessou o copo com o resto de uísque na parede de tijolos marrom.

— O que foi? — berrou ao ver um grupo de pessoas olhando a cena.

[…]

Emmett estava tendo dificuldades para dormir. Sentado no colchão ao lado da cama onde Joshua dormia, olhou a fotografia antiga de Rosalie retirada do mural de fotos. Revivendo memórias de um tempo feliz, como tem feito desde que o deixou. Evitou pensar no futuro. O forte desejo de estar com ela o levou apertar o celular na palma da mão.

— Não vou fazer isso — resmungou, apertando o telefone nos dedos. Não resistiu em abrir o álbum de fotos do celular procurando pela única fotografia, enviada por engano, onde ela aparecia com o filho beijando seu rosto, sorridente. — Foi a única a quem meu coração pertenceu — falou consigo mesmo. — Me deu o que de mais valioso tenho hoje. — Ele olhou o menino dormindo. — Mas também foi quem mais me magoou. — Um rugido de fúria se fez audível, o punho acertou o colchão. Joshua se mexeu na cama. Emmett afagou suas costas. — Está tudo bem filho… — murmurou. Ouviu Joshua chamar pela mãe, depois por ele, enquanto dormia. Voltou olhar a fotografia antiga. Escondeu embaixo do travesseiro evitando pensar nela. Verificou o horário no visor do celular, a fotografia de Joshua estava na tela, da mesma forma que no telefone de Rosalie.  Substituiu a foto pela que Joshua estava com a mãe. Desistiu, deixando a do menino apenas.

[…]

Ao buscar por Alice, Rosalie esbarrou em algumas pessoas. As mãos estavam trêmulas, nervosa com tola aquela situação. Não era para ter beijado Royce como beijou. Não queria ter feito isso. Encontrou a amiga dançando com um grupo de pessoas a mesma coreografia, se divertindo como ela não conseguiu. Nem sabia mais se tinha sido uma boa escolha sair de casa essa noite.

Alice tropeçou nos próprios pés ao ser arrastada por Rosalie para fora da pista de dança.

— O que deu em você, garota? — disparou no susto. Concentrou a atenção no rosto da amiga e pôde reconhecer o quanto parecia perturbada. — O que está acontecendo? Você perdeu o juízo?

— Preciso ir embora, agora.

— Mas por quê? Como assim? — Alice conseguiu se liberar do aperto no braço. — Que diabos você aprontou? Pensei que esse fosse meu papel. Você é a politicamente correta, pelo menos desde que se tornou mãe.

Rosalie se moveu com impaciência.

— Royce me beijou.

— E daí?

— E daí que eu não queria.

— Ele te forçou?

— Não.

— Então?

— Então que retribuí o beijo. Acontece que não estava pensando nele quando aconteceu.

— Se eu não soubesse que essa loucura toda é por não saber lidar com o retorno e, de certa forma, a indiferença daquele que foi sempre seu amor, pensaria que Royce tem um bafo tenebroso. Quem sabe um vírus mortal.

— Royce entendeu tudo errado — Rosalie interrompeu. — Ele acredita que o beijo aconteceu porque penso em voltar com ele.

— Falasse a verdade.

— E eu falei. Com certeza magoei os sentimentos dele. Quem sabe até o deixei com raiva.

— Pode ser. O que vai fazer agora?

— Ir embora. Para mim essa noite já deu o que tinha de dar. Você pode ficar se quiser.

— Nem pensar. Viemos juntas, juntas iremos voltar. Eu, hein. Se acontece alguma coisa a você, não saberia lidar com a culpa.

— Desculpe Alice — a expressão no rosto era de alguém que realmente sente muito.

— Amigas são para essas coisas.

— Para acabar com a diversão umas das outras? — Rosalie ironizou.

— Isso foi o que você fez — admitiu. E começaram sair do salão. — Está me devendo uma.

— Eu sabia — brincou Rosalie. — O que vai querer?

Alice abriu um sorriso de orelha a orelha.

— No momento certo você saberá.

— Tenho medo quando sorrir desse jeito.

— Bobinha. — O alarme do carro foi desativado. As duas entraram no veículo ao mesmo tempo.

— Vai dormir sozinha? — perguntou Alice. — Por que não vem dormir na minha casa? Sabe que é bem-vinda a qualquer hora.

— Chega de atrapalhar.

— Posso dormir na sua casa, se quiser — Alice ofereceu.

— Não é necessário. Dormi outras vezes sozinha, quando Josh estava na noite do pijama com os amigos.

— Se você está dizendo.

O estacionamento da casa noturna ficou para trás. Por todo o trajeto de volta para casa, conversaram coisas sem importância e até riram em alguns momentos.

— Se cuida — Alice gritou da janela do carro. Rosalie acenou para ela, a outra mão no portão de madeira.

— Vá para casa — Rosalie alertou.

— Para onde mais eu iria?

— Boa noite, Alice.

— Nesse caso, talvez o mais apropriado fosse me dizer bom-dia.

— Bom dia, boa noite, você escolhe.

— Eu prefiro boa-noite mesmo. Afinal, vou chegar em casa e cair na cama. Quero nem saber.

Alice se afastou com o carro. Rosalie passou para o lado de dentro no jardim, olhando a rua ao fechar o portão com ferrolho. Percorreu o caminho de pedras até a porta da frente. Buscando as chaves na bolsa, reconheceu o barulho do motor de carro passando pela rua. Não conseguiu perceber bem o modelo ou mesmo a cor, apenas as luzes dos faróis enquanto se afastava. Abriu a porta da casa, ficando com a impressão de ser o carro de Royce.

Resolveu não pensar mais nisso. Talvez estivesse confundindo as coisas como aconteceu na casa noturna quando o beijou. Jogou as chaves no aparador, a bolsa no sofá e foi para o quarto. Retirou toda a maquiagem, vestiu o pijama e escovou os dentes antes de se deitar.

O visor do celular se iluminou ao ver o horário, a fotografia de Joshua bebê, sorrindo para ela na tela. Quatro da manhã. Pensou em Joshua e no pai, desejando outra vez poder estar ao lado deles.

Roye passou de carro em frente a casa  indo até à esquina, onde estacionou retornando a pé. Parou diante o portão olhando a fachada da casa e o jardim. Desejou cruzar o portão e tocar a campainha. Chegou abrir o ferrolho, mas acabou desistindo. Mesmo antes de ir embora, parou no meio da rua olhando a casa uma última vez.

Rosalie levantou da cama com a impressão de ter ouvido o portão bater. Podia jurar ter fechado o ferrolho quando chegou. Puxou a cortina para olhar pela janela. Escuro demais lá fora, dificilmente enxergaria qualquer coisa sem acender as luzes no jardim.

— Não foi nada — falou para si mesma. — É coisa da minha cabeça. — Acabou voltando para a cama.

[…]

Emmett acordou com Joshua levantando seu braço para ficar embaixo. Com ele trazia o dinossauro de pelúcia. Fingiu não perceber o que fazia. O menino se aconchegou a ele, se remexendo algumas vezes até encontrar posição confortável. Voltava cochilar quando ouviu sua voz.

— Papai. Está dormindo?

Mesmo no quarto escuro, Emmett abriu os olhos.

— Oi, filho?

— Posso telefonar para minha mãe agora?

Emmett esticou o braço procurando o celular perto do colchão. Acendeu a lanterna, conseguindo assim enxergar o rosto de Joshua.

— Se ligar agora vai assustar sua mãe. Você está se sentindo mal? Precisa que o papai faça algo por você?

— Eu sempre vou para cama da mamãe quando não consigo dormir.

— Você pode ficar aqui comigo. — Prestou atenção no rosto de Joshua. — Está com saudades dela — concluiu.

Joshua balançou a cabeça.

— Você sente saudades de minha mãe, também?

— Senti saudades de sua mãe por muitos anos.

— Eu não conseguiria permanecer anos sem ver a mamãe. Mas também não quero ter de ficar outros longos anos sem ver você, papai.

— Isso não vai acontecer filho. Serei figura constante em sua vida.

— O que isso significa?

— Que nunca mais deixaremos de nós ver. Não importa o que aconteça.

— Gwen é mesmo sua amiga?

— O que te preocupa, Josh?

— Não quero que fique com Gwen. Quero que fique com minha mãe.

Um sorriso se formou nos lábios de Emmett.

— Não se preocupe com a Gwen. Ela não é uma ameaça.

— Então não fale com ela.

— Não é assim que funciona, Josh. Como se sentiria se te pedisse que deixasse de falar com Summer?

Joshua virou o rosto para o outro lado.

— Summer é minha amiga desde a pré-escola. Ela e Dilan nunca riram de mim. Nem zombaram por você nunca estar presente no meu aniversário ou mesmo nas comemorações ao dia dos pais na escola.

Emmett abraçou o filho, beijando sua cabeça loura.

— Ninguém vai te pedir para deixar de falar com seus amigos, filho. E eu prometo, estarei presente em todos os seus aniversários e comemorações ao dia dos pais de sua escola, ou qualquer que seja a data comemorativa.

— Eu te amo muito papai.

Emmett se pegou sorrindo, apaixonado pelo garotinho que herdara a cor de seus olhos e também o seu sorriso de covinhas.

— Eu te amo mais. Muito mais. Agora tente dormir. Prometo que pela manhã dou meu telefone para poder conversar sua mãe.

Joshua se remexeu procurando outra vez a melhor posição para dormir, sem sair de debaixo do braço do pai. A pelúcia de dinossauro com ele o tempo todo.

Emmett desligou a lanterna, deixando tudo escuro mais uma vez. Passados alguns instantes, Joshua conversou enquanto dormia.

— Tem de ficar perto, papai, senão ele vai voltar.

A luz da lanterna tornou iluminar parcialmente o cômodo.

— Quem vai voltar filho? — Joshua não respondeu, estava dormindo. Ficou com a fala dele na cabeça, até estar dormindo também.

[…]

Emmett entrou pela porta da cozinha onde Joshua tomava o café da manhã na companhia dos avós. Deixou o menino com eles enquanto conversava com a mãe por telefone. Durante esse tempo foi à garagem buscar uma bola de futebol para jogar com ele logo que terminasse o café.

— Já terminou de falar com sua mãe, filho? — a bola na mão. Encontrou o celular sobre a mesa e Joshua comendo panquecas com xarope de bordo.

— Já sim, papai. Pode pegar seu telefone de volta. — Mordeu a panqueca, o xarope de bordo escorreu no queixo e nos dedos. Carmen entregou a ele guardanapos. — Obrigado, vovó.

— Por nada, meu bem — respondeu, sorrindo para o neto.

Emmett pegou o telefone, guardando no bolso então.

— Josh, quer jogar futebol com o papai? — Emmett convidou.

Joshua se agitou na cadeira, levando o copo de leite à boca, tomando um gole apressado.

— Quero, sim — a resposta veio mesmo ainda enquanto segurava o copo próximo à boca.

— Ei, vai com calma. Eu posso esperar você terminar.

— Já terminei — o copo de leite estava pala meta ao ser colocado de volta na mesa.

— Não acabou não.

— Acabei, sim, papai. — Ele limpou o bigode de leite no guardanapo.

Emmett avaliou antes de dar uma resposta:

— Tá bom, vai. — Moveu a mão convidando Joshua se levantar.

O menino pulou da cadeira no chão.

— Quer jogar bola com a gente, vovô?

— Por que não? — respondeu Eleazar. Retirou o relógio do braço deixando em cima da mesa junto com o telefone celular.

— Maneiro! — Joshua vibrou.

Emmett abriu a porta que dava para os fundos da casa e permaneceu segurando até os dois passarem.

— O vovô Carlisle não gosta muito de jogar futebol. Ele gosta mesmo é de jogar minigolfe. Mesmo assim, joga futebol comigo às vezes. Depois reclama de dores no corpo — uma risadinha acompanhou a declaração. Emmett acabou rindo junto com ele.

— Pensa rápido — disse, atirando a bola nas mãos de Joshua. O menino segurou com facilidade a bola.

— Ei — falou de repente —, é o nome de minha mãe aqui. — Se espantou ao encontrar o nome de Rosalie escrito com caneta permanente no couro da bola. — Por que o nome da mamãe está escrito aqui?

— Foi sua própria mãe quem escreveu.

— Quando ela fez isso? — pediu, achando o máximo.

— Foi na época que começamos a namorar. Parei de usar essa bola logo que ela escreveu o nome aí. Meus amigos ficavam zombando, então, acabei guardando. Por isso existe até hoje.

— Minha mãe era igual a Summer.

— É? — Emmett quis saber como.

— É. Garotas legais. Summer às vezes joga futebol comigo e com Dilan. Também brinca com dinossauros e carrinhos.

— E você acha que sua mãe ainda é legal?

— É sim. Só que agora ela também é uma mãe legal. — Fez uma careta ao completar: — De vez em quando fica brava e eu fico de castigo.

— Você apronta muito, Josh? — o avô perguntou.

A expressão travessa quando deu a resposta:

— Quase nunca.

— Não sei por que, estou lembrando alguém.

Emmett ergueu as mãos.

— Dificilmente eu aprontava.

 Joshua achou graça, porque pareceu ele falando. Jogou a bola no chão, chutando para o pai.

— Ei, filho! — Emmett apoiou o pé à bola. — Quer ficar com essa bola para você?

— Tipo, minha de verdade? — Os olhos mostraram surpresa, mas também interesse. — Eu vou poder levar para minha casa?

— Sim. Para você, de verdade. Pode fazer com ela o que quiser.

— Que legal! Obrigado, papai.

O jogo finalmente teve início.

— Três gerações de homens da família McCarty — Isabella comentou, parando ao lado da mãe. Numa das mãos trazia uma sacola de papel. Edward estava com Renesmee no colo.

— Quem poderia imaginar que seu irmão já era pai — Carmen comentou.

— Pois é. Rose sacaneou a gente — prestou atenção ao celular nas mãos da mãe. — O que está fazendo?

— Registrando o momento em um vídeo.

— Aposto que meu irmão vai querer que envie para ele depois. Ei, Josh! — chamou pelo sobrinho.

Joshua parou de correr, girando na direção contraria, seguindo o som da voz.

— Vem até aqui um minuto.

Ele olhou o avô e o pai jogando, então, correu para junto da tia.

— Oi, tia.

— Oi, gatinho. Olha! — Mostrou a sacola a ele. — Trouxe um presente para você.

— Obrigado, tia Bella. — Joshua olhou na sacola. — Que legal! Um livro sobre dinossauros. — Avaliou a capa e contracapa ao pegá-lo na mão.

— Como você adora dinossauros e também ler muito com sua mãe, achei que gostaria. Espero que não tenha esse ainda.

— Ainda não.

— Que bom. Então, você gostou do presente?

— Adorei.

— Se quiser, posso guardar para você enquanto joga futebol com eles. Pode ser?

— Sim, pode ser. — Joshua entregou o presente à tia de volta. A abraçou e voltou correndo para o jogo. — Obrigado, tia.

— De nada, seu lindo.

[…]

Rosalie encontrou a mãe cuidando do jardim, com um enorme chapéu na cabeça, luvas de jardinagem e ferramenta na mão. Ajoelhada na grama enquanto mexia na terra.

— Oi, mamãe.

Esme ergueu a cabeça ao olhar para ela.

— Oi, querida. — Largou a ferramenta na grama e se colocou de pé. — Você está bem? — avaliou a expressão em seu rosto no momento da pergunta.

— Estou bem. Falei com Josh agora a pouco. E ontem à noite também. Ele está se divertindo bastante.

— E você com medo que o pai fosse sumir com ele.

— É…

— Então — pediu Esme, mudando de assunto. — Como foi ontem à noite? Conseguiu se divertir?

— Na verdade, foi bem esquisito no começo. Na metade, ficou mais ou menos e no final, desandou de vez.

— Vamos sentar um pouco, assim me conta melhor essa história.

As duas seguiram juntas rumo à sombra a mesa com guarda-sol no jardim.

— Aqui está bom — comentou Esme, retirando as luvas de jardinagem.

— E o papai, onde está? Foi jogar minigolfe?

— Está lá dentro. Disse que está feliz por Joshua estar com o pai, mas que sente falta dele aqui com a gente.

— Ele faz muita falta — concordou Rosalie. — Não vejo a hora de ele chegar à noite. Irei abraçar até não poder mais. Até ouvir reclamar que estou deixando ele sem ar.

Esme serviu dois copos de suco de laranja com gelo. Rosalie contou a mãe tudo sobre a noite de ontem.

— Acho que voltei para casa um pouco neurótica — concluiu. — Porque tive a impressão de ter visto o carro de Royce passando na minha rua na mesma hora que cheguei.

— O que Royce iria fazer na sua rua uma hora daquelas? Isso significaria que estava te seguindo. Um pouco assustador, se for mesmo o caso.

— Pois é. Deve ser coisa de minha cabeça. — Tomou um pouco do suco. — Hummm… muito bom esse suco, mamãe. — Olhou o jardim.  — Está tudo tão lindo. Sempre teve mãos de fada.

— Obrigada, querida. Dá um pouco de trabalho, mas o resultado é maravilhoso.

Rosalie avistou a figura do pai saindo da casa pela porta da frente.

— Os pássaros estão animados hoje — comentou Carlisle indo ao encontro delas.


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