Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 11
Capítulo 11— Indo Ao Treino Com O Papai




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Por todas as noites, pelo resto da semana, Joshua conversou com o pai por chamada de vídeo. Sempre depois de falar com ele, Emmett encerrava a chamada mesmo antes de o celular voltar às mãos de Rosalie. Dessa vez não havia sido diferente.

Olhava a tela escura do aparelho, sentindo-se frustrada. Deixada de fora da relação tão bonita que estavam construindo pai e filho. Joshua levantou e saiu de seu lado.

— Josh? — chamou Rosalie. — Aonde vai, filho?

O menino gritou a resposta a caminho do quarto.

— Preciso deixar tudo pronto para o treino de amanhã. Meu pai vai chegar bem cedinho para me levar.

— Já está tudo pronto, vida.

Ele parou, deu de ombros e respondeu:

— Tudo bem, eu vou ver mesmo assim. Nem consigo acreditar que isso está prestes a acontecer na minha vida.

Rosalie ouviu seus passos, ele estava correndo a caminho do quarto. Levantou e foi atrás dele. Parou no limiar da porta, recostada ao batente, o vendo mexer na mochila do treino conferindo tudo o que tinha em seu interior. O uniforme esticadinho sobre a poltrona e as chuteiras limpas no chão.

— Você sabe que sempre faço isso. — Rosalie fez questão de lembrar. — Sempre deixo tudo pronto durante a noite. — Nunca precisou conferir nada.

Joshua respondeu sem mesmo olhar em seu rosto.

— Vai ser a primeira vez que meu pai me leva ao treino de futebol. Estou muito ansioso. Quero muito que chegue logo amanhã.

Rosalie observou o filho alguns instantes sem dizer nada, por fim, arriscou o convite.

— Quer brincar de parque dos dinossauros?

Em vez de responder, Joshua levantou do tapete onde estava a mochila e foi conferir o uniforme na poltrona.

— Quero que chegue amanhã logo — tornou dizer.

— Josh — Rosalie chamou novamente —, eu estou falando com você. Por que está me ignorando?

Reconhecendo a mudança no tom da voz da mãe, Joshua, finalmente, lhe deu devida atenção.

— Desculpe mamãe, não foi por maldade. É que estou me sentindo muito ansioso para estar com meu pai outra vez.

— Estou vendo.

Joshua foi até ela, enlaçando os braços em volta de sua cintura.

— Não fique com ciúmes, mamãe. — Ele olhou para cima, em seu rosto. — Estive minha vida inteira com você, desde a barriga. — Cutucou na barriga dela como fizesse cócegas. — Já com o meu pai, foi pouquinho tempo.

Rosalie o abraçou, apertado.

— Me perdoe, vida. — pediu ela. — Errei feio com vocês. Só preciso que entenda, em momento algum, fiz o que fiz pensando em machucar aos dois.

— A vovó disse que é normal erros serem cometidos. O que não pode acontecer é a pessoa errar sempre. Permanecer no erro. Não cometa mais erros com meu pai, tá bom?

Um sorriso de olhos marejados se fez presente no rosto de Rosalie.

— Nem mesmo comigo — Joshua concluiu.

— Quando tomei a decisão que nos afastou de seu pai, Josh, eu não pensei que estivesse cometendo um erro tão grande assim. Eu era só uma menina, estava assustada, com todas as mudanças que, eu sabia, iria acontecer.

— Não precisa ter medo, mamãe. Estou aqui com você agora. Temos o papai também, ainda que ele viva em outra cidade. Você já viu o tamanho do muque do braço dele? Com um soco, apaga qualquer um.

Rosalie não resistiu a uma gargalhada. Joshua a acompanhou. Ele havia sido sua melhor decisão, em meio a tantos erros cometidos.

 — Meu pai bem que poderia acertar Royce bem no queixo, assim ele deixa a gente em paz.

— Isso não teve graça, vida — respondeu, parando de rir.

— Antes você achou graça — ele avaliou o rosto da mãe para ter certeza se o que disse foi mesmo tão ruim assim.

— Porque foi engraçado o modo como falou do físico de seu pai. Agora, quanto a machucar os outros, não tem graça alguma. Ainda que em algumas ocasiões aconteça com o uso de palavras. Nem toda agressão é física, filho.

— E se a pessoa em questão merecer? — arriscou Joshua.

O olhar de Rosalie para ele foi de alguém que avalia segredos.

— Royce merece? — pediu, desconfiada.

Antes de obter uma resposta, o som do telefone celular tocando sobre o sofá da sala mudou o foco da conversa.

— Será que é o meu pai? — disparou Joshua.

— Impossível, ele acabou de falar com você.

— Ele pode ter esquecido de dizer alguma coisa importante.

— Não acredito que seja seu pai. — Ela o soltou. — Vou lá atender. Já volto!

— Vou pegar os dinossauros para a gente brincar.

Rosalie estava no corredor quando respondeu:

— Isso, pegue todos eles. Mamãe já volta.

Após falar com Alice ao telefone, brincou com Joshua por um bom tempo. Leram juntos e ele, finalmente, conseguiu dormir. Estava tão inquieto que chegou pensar que não dormiria essa noite.

Pensar que veria Emmett pela manhã mexeu com seu sono também. Quando, por fim, conseguiu dormir o dia estava amanhecendo. Não era nem seis e meia da manhã quando Joshua entrou em seu quarto gritando.

— Mamãe, mamãe, mamãe.

A porta bateu na parede com um baque que fez a cabeça latejar. O susto a fez pular sentada na cama, os cabelos bagunçados encobrindo o rosto, imaginando o que estaria acontecendo.

Os gritos de Joshua continuaram.

— Já é dia. Meu pai logo estará aqui para me levar ao treino de futebol. Já é dia.

— Josh — resmungou Rosalie, se permitindo deitar a cabeça no travesseiro novamente. — Pelo amor de Deus.

Joshua pulou em cima da cama, e então sobre a mãe.

— Vamos, mamãe. Acorde! Acorde, acorde, acorde.

— Josh — Rosalie gemeu, puxando o cobertor até se encobrir por inteira. Joshua se enfiou embaixo do cobertor até estar outra vez olhando em seu rosto.

— Mamãe, mamãe.

— O quê, vida?

— Por que não quer levantar? Não vai me dar comida antes de eu sair para o treino? Vou ficar desnutrido.

— Vou, vida. Eu já vou. Me dê só mais um minuto.

Ele começou empurrar ela.

— Vamos mamãe, levante. Levante, levante, levante. Meu pai vai chegar daqui a pouco. — Colocou um sorriso presunçoso no rosto ao ver como reagiu ao mencionar o pai.

— Já levantei. — Estava outra vez sentada na cama, com cabelos bagunçados, pensando em como iniciar aquele dia com Joshua elétrico, a pouco tempo de Emmett estar a sua porta. — Vá vestir o uniforme. Te encontro na cozinha em alguns minutos.

— Não vá voltar a dormir — ele alertou.

— Claro que não.

— Está preguiçosa hoje.

— E você muito abusado.

Joshua saiu da cama com um pulo, e então correu para fora do quarto, os pés descalços no assoalho, ela notou. Pegou-se pensando como pode ser tão agitado àquela hora da manhã?

— Mamãe? — Joshua gritou do quarto dele.

Rosalie finalmente saiu da cama.

— Oi? Já levantei.

— Pode fazer ovos mexidos com bacon?

— Tá, eu faço.

Após algum tempo, Joshua retornou ao quarto da mãe, já de uniforme.

— Por que está se arrumando tanto? — questionou desconfiado.

— Eu sempre me arrumo.

— Acontece que hoje caprichou.

— Não caprichei, não.

— Caprichou, sim. É para o meu pai?

Ela não olhou para ele, respondendo com outra pergunta:

— Por que está fazendo tantas perguntas?

— E por que você não está olhando para mim? — Ele se enfiou embaixo do braço dela, buscando ver seu rosto. A mãe acabou rindo.

— Ataque de beijos — disparou atacando ele com tantos beijos que o menino se contorceu buscando uma rota de fuga.

[…]

Um garotinho impaciente aguardava com a porta da frente aberta. Foi e voltou até a cerca branca olhando a rua. Escalou o batente da porta uma segunda vez.

— Olha mamãe! — chamou. — Tenho superpoderes de Homem-Aranha.

Rosalie chegou à sala para vê-lo.

— Vai ter o superpoder de ficar de castigo se não descer daí agora mesmo.

Ele saltou com a mão no chão, imitando a pose do super-herói. Levantou e foi até ela.

— Por que meu pai não chega logo? Não aguento mais ter de esperar. É muito chato.

— Eu estou vendo.

— Parece que meu pai está preguiçoso igual você hoje. Telefone para ele — pediu.

Mesmo enquanto Joshua falava, Rosalie ouviu o barulho do motor de um carro, uma porta batendo, então, a figura grande de Emmett surgiu no outro lado da cerca branca.

— Não será preciso — disse ao menino.

Joshua olhou na porta aberta, o lado de fora. O sorriso se alargou no rosto. Num instante, estava ao lado da mãe em casa, no outro, se encontrava correndo para os braços do pai. Emmett cruzou o portãozinho de madeira para encontrar-se com ele. Agarrando Joshua no ar quando se lançou em seus braços.

— Papai!

— E aí, garotão. — Emmett bagunçou seus cabelos louros. — Caramba, como senti sua falta.

— Não mais do que eu — desafiou o menino.

Emmett beijou seu rosto então o colocou no chão.

— Pronto para irmos?

— Tenho de pegar a mochila.

— Tudo bem — disse Emmett. — Vá lá pegar. Eu espero por você. — Ele avistou Rosalie no vão da porta, tão linda que deixou os sentidos perturbados. Viu o filho passar por ela apressado, a mão dela bagunçar seus cabelos. Ela estava sorrindo, e não deixou de sorrir mesmo quando o olhar cruzou com o seu.

Emmett se aproximou. Tinha coisas a dizer, porém, gostaria de poder sentir o perfume dela, ainda que não ousasse tocá-la. Rosalie ficou ansiosa, reconheceu na forma como mexeu as mãos, igual na época que começaram namorar.

 — Oi, Emmett — ela foi quem falou primeiro. — Josh estava me enlouquecendo, por achar que estava demorando chegar para levá-lo ao treino. A verdade, é que ele madrugou.

Emmett olhou sobre os ombros dela o interior da casa, verificando se Joshua estava voltando. Rosalie balançou a cabeça, aceitando que estava sendo ignorada. Para sua surpresa, ele lhe dirigiu a palavra.

— Meus advogados estão cuidando da papelada que fará de Joshua meu herdeiro. Em breve ele terá meu sobrenome em seus documentos. Todos os direitos dele estarão assegurados.

Ela meneou a cabeça, sentindo o nó na garganta, feliz por Joshua, mesmo que infeliz por já não haver o casal. E talvez, por culpa sua jamais voltasse existir.

— Josh vai adorar saber disso — garantiu. Viu Emmett olhar outra vez no interior da casa sobre seus ombros.

— Depositei uma quantia na conta que me enviou no nome dele. Espero que seja suficiente por algum tempo. Posso depositar mais a qualquer momento, caso seja necessário.

— O dinheiro que depositou é muito mais do que precisava. É uma quantia exageradamente grande. Não pretendo mexer nesse dinheiro. O que ganho é suficiente para suprir as necessidades de Josh por agora.

A expressão aborrecida no rosto de Emmett foi visível.

— Joshua é meu filho, também. Quero contribuir com suas despesas.

— É como se tivesse dando a ele o suficiente pelos anos que esteve longe.

— Ele é meu filho.

Rosalie meneou a cabeça, aceitando.

Emmett mudou de assunto.

— Josh tem de ir a mais algum lugar, depois do treino?

— Não, você pode trazer ele de volta assim que terminar.

— Sendo assim, o levarei para tomar sorvete.

— Ele vai adorar. Tomar sorvete depois do treino é uma das coisas favoritas dele.

— Vim para ficar com ele. É isso que vou fazer. — Avistou Joshua voltando, apressado, trazendo a mochila na mão.

— Pronto papai! Já podemos ir. — Passou correndo pela mãe como não tivesse visto ela ali.

— Josh — Rosalie chamou. — Não vai me dar um beijo?

O menino ajeitou a alça da mochila no ombro, voltando até ela. Passou os braços em volta de seu pescoço ao lhe beijar no rosto. Foi tão depressa que não pôde apertar ele nos braços como sempre fazia.

— Se comporte — avisou.

— Tchau, mamãe — Joshua correu para longe. Abriu o portãozinho chegando ao outro lado. — Vamos, papai! — gritou de onde estava.

— Aonde vai almoçar? — Rosalie arriscou.

— Ainda não sei. Preciso ver com Josh o que ele vai querer.

— O que significa que serão apenas os dois?!

— Exatamente.

— Cuide dele.

— Não precisa pedir. É claro que vou cuidar dele — com essa resposta, virou-se de costas e foi se encontrar com Joshua.

Rosalie ficou olhando eles entrarem no carro. Joshua ocupou o assento elevatório no banco de trás. Percebendo então que o carro não era o mesmo que usou na primeira vez que veio a casa deles. Esse era maior, com certeza, mais caro que o outro também.

Aguardou Joshua dar tchau, mas, ele estava tão empolgado em estar indo ao treino na companhia do pai que nem mesmo olhou fora do carro quando partiu.

Joshua passou o endereço ao pai que, com auxílio do GPS, não teve dificuldades em encontrar o local.

O time se preparava para iniciar o treino quando chegou. Pai e filho caminharam um ao lado do outro para lá.

— Vai ficar para assistir o treino papai?

— É claro que sim. De forma alguma perderia isso.

Ambos ouviram Dilan chamar por Joshua. Em seguida, correu para perto deles.

— Oi, pai do Josh.

— E aí, carinha? — Emmett o cumprimentou tocando suas mãos no alto, um high five.

— Seu pai veio mesmo — comentou Dilan.

Joshua sorriu orgulhoso olhando de um para o outro.

Emmett avistou as outras crianças se aglomerando em volta do homem de uniforme cuja camisa se apertava na região da barriga. A bola embaixo do braço, e um apito pendurado no pescoço.

— Aquele ali é o treinador? — pediu aos meninos.

O som de um apito chamou atenção para aquele espaço no campo. O treinador estava convidando os dois garotos a se juntar aos demais.

— Não falem com estranhos — orientou mesmo a distância.

— Que bobo — disseram os dois meninos.

— Venham para cá — insistiu o treinador.

Emmett caminhou pelo campo com os dois meninos, um em cada lado seu.

— O que faz aqui com os meninos? — quis saber o treinador Harrison. — Nunca te vi por aqui antes. — Olhou no rosto dos meninos como buscasse algum sinal de algo estar errado.

Emmett estendeu a mão.

— Não nos conhecemos ainda — disse. — Sou o pai de Joshua. — Levou um tempo para o treinador tocar sua mão, avaliando o tamanho de seus braços, se certificando que era seguro o cumprimento.

— Então esse é o seu pai — falou com Joshua.

O menino estava radiante ao responder:

— Eu disse que meu pai viria.

Emmett olhou para ele. E Joshua completou:

— Ele está aqui agora.

Harrison pareceu não gostar muito da informação. Outra vez, avaliou o quanto Emmett era grande e forte. Disfarçadamente, avaliou o próprio braço.

— Onde está sua mãe, Josh? — perguntou então.

— Por que quer saber da mãe dele? — arriscou Emmett, incomodado com o que poderia ser ciúmes. Harrison ignorou a pergunta. Emmett viu no dedo dele a aliança de casamento. — Sua esposa sabe que pede informação a respeito das mães dos garotos?

— Estava tentando descobrir se Josh voltaria para casa com você ou com a mãe.

— Estou aqui, não estou? É comigo que ele vai voltar.

Joshua e Dilan olhavam de um para o outro de forma automática cada vez que um dizia algo.

O treinador voltou com Dilan a se juntar aos demais garotos. Joshua ia logo atrás deles, quando Emmett o chamou.

— Josh, esse cara anda importunando sua mãe?

— Às vezes.

— Bom saber — Emmett olhou o treinador, que olhou para ele também.

— Posso ir agora?

— Pode sim, filho. Vai lá! — Deu um tapinha amigável no ombro dele. — Vou estar bem aqui. — Mostrou um lugar na arquibancada praticamente vazia. — Assistindo ao seu treino.

— Tá bom — Joshua foi se juntar aos demais. Nesse momento, começaram falar ao mesmo tempo, e olharem em sua direção. Emmett acenou para eles. Não tinha dúvidas que era a origem da conversa. O melhor de tudo foi ver a felicidade estampada no rosto de Joshua.

Já o treinador, parecia bem aborrecido com sua presença.

Emmett achou uma piada que se insinuasse para Rosalie. Ele nem mesmo fazia o tipo dela. Ficou bem incomodado que usasse seu filho para isso. Como não bastasse, era casado. Definitivamente, o treinador de Joshua não o agradou. Tentou não pensar a respeito, Joshua era o que importava ali. E ele gostava de fazer parte do time.

Assistiu ao treino atento às jogadas do filho. Excedeu-se ao orientar o menino como fosse ele o treinador, não o outro em campo. Ignorou a cara amarrada de Harrison, até mesmo o som do apito, quando esse foi usado para fazê-lo silenciar.

Ao final do treino, Joshua foi chamado pelo treinador para conversar. Depois disso, Emmett observou o filho pegar uma toalha e secar o suor do rosto, tomar um pouco de água e sentar para amarrar os cadarços da chuteira. Tornou levantar e pegou a mochila. Notou-o cabisbaixo enquanto cruzava o campo ao seu encontro. Bagunçou seus cabelos de um jeito brincalhão assim que o menino o alcançou.

— Mandou muito bem, carinha.

Joshua ainda parecia desapontado.

— Ei, o que foi?

— O treinador Harrison disse que preciso me concentrar mais. Estava muito distraído hoje — contou.

— Não ligue para ele. Estava incomodado com minha presença. Não é nada com você. Você jogou muito bem.

— Você falava o tempo todo — lembrou Joshua, risonho.

— Harrison ficou com medo de perder o reinado. — Emmett pegou Joshua no braço, segurando na lateral do corpo como fosse uma bola de futebol americano. O menino gargalhou se divertindo. O que fez Emmett pensar o quanto havia perdido. Poder estar ali agora, vivendo esse momento ao lado de Joshua, não tinha preço. Chegou à conclusão que sua família merecia viver o mesmo.

— Papai, papai — Joshua chamou, interrompendo seus pensamentos. Trazendo a certeza, ser chamado de papai por aquele garotinho tão incrível, era o que queria para a vida. Gargalhou junto com o filho. Ao colocar Joshua no chão, um olhou no rosto do outro, o ar risonho ainda em seus rostos. — Eu amo você, papai.

Emmett se abaixou ficando na mesma altura que ele.

— Eu amo você, carinha.

Joshua passou os braços em volta de seu pescoço. Emmett retribuiu com igual carinho e afeto.

— Nós vamos tomar sorvete agora? — quis saber Joshua.

— Por acaso não disse que me ama só para ir tomar sorvete, não é?

— É claro que não — a expressão em seu rosto deu entender que a pergunta o deixou perturbado.

Emmett segurou seus ombros pequenos.

— É brincadeira filho. Eu sei que não foi pelo sorvete.

O sorriso voltou enfeitar o rosto de Joshua. Emmett riu com ele como fosse automático o sorriso puxar o outro.

— Posso chamar meu amigo Dilan para ir com a gente?

— Você quem manda.

A resposta deixou Joshua radiante.

— Ei, Dilan! — gritou ao amigo. — Espera um pouco. — Dilan estava com o pai a poucos metros de onde estavam. Joshua correu para lá. Emmett observou falar com o amigo todo agitado. Pai e filho olharem em sua direção. Então, Dilan implorou que o pai deixasse ir junto.

— Deixo ele em casa assim que terminar o sorvete — ajudou os meninos falando ao pai de Dilan.

Os garotos aguardaram a resposta. E quando o pai de Dilan o liberou para o passeio, os dois voltaram correndo risonhos para junto de Emmett.

— Ele deixou, ele deixou — diziam.

— Você sabe onde fica sua casa, Dilan? — Emmett perguntou. — Só para saber onde deixar você depois. — O menino balançou a cabeça. — Ótimo! Podemos ir, então.

Os garotos comemoraram outra vez. A caminho do estacionamento, Joshua percebeu um grupo de três mulheres, cochichando ao olhar na direção deles.

— Por que estão olhando a gente e cochichando? — comentou com o pai. Antes que Emmett pudesse responder, estava falando com as mulheres. — Ele não vai me sequestrar. É o meu pai.

Emmett pôs a mão em seu ombro.

— Acho que estão assim por outro motivo — disse. Olhou então para as mulheres e acenou. Sorrisos e balançar de mãos foram inteiramente para ele.

— Acho que elas estão paquerando seu pai, Josh — Dilan chegou à conclusão.

— Meu pai não vai namorar nenhuma de vocês, suas assanhadas. Ele já tem uma namorada que é a minha mãe — disparou Joshua. — E ela é muito linda.

Uma gargalhada gostosa fez chacoalhar o peito de Emmett.

— Olha lá o carro que meu pai alugou — disse Joshua, parecendo já ter esquecido as mulheres paquerando o pai. Os dois correram para junto do carro. Emmett se apressou em abrir a porta para eles entrarem.

— Coloquem o cinto de segurança — orientou.

— Podemos tomar quantos sorvetes quisermos papai?

— Quantos quiserem e aguentar. — Fechou a porta percebendo ainda Dilan dizer.

— Seu pai é tão legal.

Gostou de saber que o melhor amigo do filho pensava isso a seu respeito.

— Seu pai entende de futebol. Deixa você tomar todo sorvete que quiser — Dilan ainda dizia, quando Emmett sentou diante o volante.

Na sorveteria, os meninos se apressaram em escolher e fazer seus pedidos. Emmett observava Joshua o tempo inteiro, encantado com o como parecia com ele mesmo e com Rosalie. A junção perfeita dos dois. Joshua se virou olhando para ele quando recebeu o sorvete que pediu.

— Não vai querer sorvete, papai?

— Vou querer, sim. Só que sem todos esses docinhos que escolheu.

— Meu pai vai querer o mesmo que eu — disse a atendente — só que sem os confeites.

Pedidos feitos foram sentar os três numa mesa do lado de fora da sorveteria.

Emmett não resistiu ao ver Joshua sorrindo com a boca suja de sorvete, as bochechas vermelhas ainda do treino de futebol, as têmporas úmidas de suor, pegou o celular registrando o momento em uma fotografia, que enviou imediatamente a Carmen no aplicativo de mensagens. Levou cerca de dez minutos até ela responder de volta.

“Ele é tão adorável, filho. Quando poderemos conhecê-lo?”

Olhou o filho terminando o sorvete.

— Josh —pediu sua atenção — O que acha de irmos visitar o vovô e a vovó?

— Eu gosto muito da vovó e do vovô, mas é nosso dia juntos. Quero ficar com você, papai.

— Estou falando dos meus pais. E também de minha irmã.

Joshua deixou cair sorvete na camisa do treino.

— Maneiro! — comemorou. — Quando nós vamos?

Emmettt pegou um guardanapo usando para limpar a boca dele e o queixo.

— Hoje mesmo, se você quiser.

— Então vamos, papai.

— Antes vamos ter de passar na casa de sua mãe. Você precisa de um banho. E deixar Dilan na casa dele, também.

— A gente pode fazer tudo isso.

— Já terminou?

— Sim.

— E você, Dilan?

— Eu também já terminei.

— Não vão querer mais sorvete?

— Meu cérebro está congelado — brincou Dilan.

— Quero ir logo conhecer minha avó e meu avô. E também minha tia. Eles moram todos na mesma casa?

— Sua tia mora em outra casa com o marido e a filha. Mas vai estar lá assim que souber que está chegando.

— Minha mãe também vai?

— Será apenas você e eu.

— Um passeio só dos caras?

Emmett achou graça do comentário.

— Tipo isso — concordou.

[…]

Apenas Emmett saiu do carro ao estacionar na frente da casa de Dilan para entregar o menino aos pais. A mãe foi quem recebeu. E, a julgar pela forma como o recebeu e distribui sorrisos, soube que apreciou seu tipo físico da mesma forma que as outras três no treino de futebol dos meninos.

— Obrigado pelo sorvete, pai de Josh — Dilan agradeceu, quando a mãe sugeriu que o fizesse.

— Amigo de meu filho é amigo meu também. — Eles bateram um high five, e Emmett se afastou.

— Tchau, Dilan — Joshua gritou da janela do carro.

[…]

Rosalie deixou o almoço em cima do fogão para atender a porta. Joshua passou por ela feito um furacão, carregando a mochila com as coisas do futebol.

— Aonde vai com tanta pressa, rapazinho?

Ele voltou, largando a mochila no chão. Rosalie notou a sujeira em seu uniforme. Sentiu a presença de Emmett na porta, o perfume alcançar o olfato antes mesmo de vê-lo. Olhava para ele quando Joshua começou falar:

— Vou tomar banho para sair com meu pai. Ele vai me levar para conhecer meus avós. Não é a vovó Esme e o vovô Carlisle. São os pais dele, Carmen e Eleazar.  E também minha tia Isabella.

O olhar de Rosalie outra vez estava em Emmett. Aborrecida, e assustada também. Joshua se preparou para correr.

— A mochila — lembrou ao menino, sem mesmo olhar para ele. — Não se esqueça da mochila. — Joshua resmungou, mas levou a mochila para o lugar correto.

— O quê? — questionou Emmett ao ser olhado daquela forma por ela.

— Não me disse que levaria Josh para conhecer seus pais hoje.

— Não tinha planejado, decidi de última hora.

— Não pode fazer isso.

— Isso o quê?

— Tomar decisões que envolvam Josh sem falar comigo antes.

— Quando são tomadas por você, tudo pode.

— Do que está falando?

— Fez isso desde o começo, Rose. Tomou decisões sobre a vida do meu filho sem me consultar.

— Nosso filho — corrigiu exaltada.

— Sim, nosso filho. Mas, sempre achou que fosse apenas seu.

— Você sabe que não foi assim.

— Qual o seu medo Rose? Que eu roube o menino de você? — O olhar apavorado dela dizia que sim. — Não vou roubar ele. Estou apenas levando nosso filho para conhecer minha família, que é família dele também.

— Tinha que ter me avisado antes.

— Está sabendo agora.

— Não pode levar ele assim…

O retorno de Joshua à sala não deixou que terminasse o que pretendia dizer.

— Eu quero ir com meu pai.

— Josh… — Ela virou para olhar no rosto dele. Joshua voltava da área de serviço vestindo apenas a cueca com estampas infantis. Tinha deixado toda roupa suja junto com a chuteira e mochila.

— Por que não quer me deixar ir? — pelo tom de sua voz, sobe que estava prestes a chorar.

— Não é isso, vida.

— É o que então? — insistiu o menino. Se colocando ao lado do pai, o que acabou por magoar Rosalie um pouco mais.

— Josh…

— Quero ir com meu pai. Quero ir com meu pai. — Ele estava chorando agora.

— Viu o que você fez? — ela acusou Emmett.

— Eu não fiz nada, Rose. Você é quem está fazendo.

Olhando no rosto de Joshua, ela o chamou.

— Vida, vem cá.

— Não — Joshua se recusou ir com ela. — Quero meu pai.

Emmett viu como essa atitude a magoou. Os olhos dela marejaram. Ele pôs as mãos nos ombros do filho.

— Vá com sua mãe, Josh.

Chorando, Joshua questionou:

— Não quer mais me levar com você, papai? Eu prometo que vou me comportar.

Emmett se abaixou até estar na mesma altura que o filho.

— Quero, sim. É o que mais quero. Mas, não é certo falar assim com sua mãe. Você sabe que ela te ama tanto quanto eu te amo. E eu sei que é louco por ela.

Joshua relanceou o olhar à mãe, balançando a cabeça ao concordar com o pai. Vagarosamente chegou perto de Rosalie.

Ela olhou para Emmett ao afirmar.

— Vou colocar ele no banho. E preparar outra mochila com as coisas que vai precisar.

— É melhor assim — respondeu Emmett.

De mãos dadas com a mãe, Joshua parou e olhou para o pai.

— Não vá sem mim, papai.

— Não, filho. — Ele indicou o sofá com a mão. — Estarei bem aqui, esperando por você.

Observou os dois de costas se afastando, Joshua ainda fungava. E sabia, Rosalie estava quase chorando também. Não queria magoar a ela, mas, caso dificultasse a relação de Joshua com o lado de sua família, não teria escolha.

 


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