Expecto Patronum escrita por Saturn


Capítulo 1
Expecto Patronum


Notas iniciais do capítulo

É uma one-shot Jily, bem clichê e fofinha.
Espero que gostem!



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Era final da tarde, e eu estava treinando o feitiço do patrono nos jardins, perto do lago, aproveitando os últimos raios alaranjados de sol, que faziam meu cabelo brilhar como fogo e fazia a neve reluzir, quase machucando meus olhos. Eu me esforçava o máximo que podia, tentando lembrar de algo feliz o suficiente para produzir um patrono corpóreo, mas nada parecia o suficiente para produzir algo além de uns fiapos prateados ou um balão disforme. 

Eu suspirei,fazendo uma pequena nuvem de vapor pairar em frente ao meu rosto, quando o hálito quente entrou em contato com o ar gelado. O sol já baixara completamente e uns poucos raios avermelhados restavam no céu. Eu resolvi tentar uma última vez antes de entrar no castelo quentinho e jantar. 

Fechei meus olhos e me concentrei, em busca de uma lembrança forte o suficiente, e então algo passou pelo meu subconsciente, me deixando com a vaga lembrança de uma bolinha dourada com asas frenéticas sendo estendida na minha direção. 

Eu fixei essa imagem incompleta no meu cérebro, tentando lembrar do restante, e falhando miseravelmente, enquanto chacoalhava a varinha em um pomposo movimento e falava em um tom de voz firme, porém pouco mais alto que um sussurro:

— Expecto Patronum. 

E funcionou. 

O que antes era um grande balão disforme prateado, começou a tomar forma. Quatro patas, alto, esguio e majestoso. Era uma corça. 

Quando vi a forma que tinha tomado, balancei a varinha desesperadamente fazendo o patrono sumir, olhando para os lados tentando procurar sinais de que alguém tinha visto e feito a conexão. Quando não vi ninguém, respirei um pouco mais aliviada até que ouvi um farfalhar nos arbustos perto de mim. 

Virei o rosto depressa, vi apenas um pedaço de uma capa vermelha e preta da Grifinória enfurnada nas folhagens. E eu fiz o óbvio a se fazer naquela situação. 

Eu corri. 

Desesperadamente. 

Enquanto eu corria para o castelo, esquecendo-me até mesmo do ar frio e cortante que batia em meu rosto com agressividade, a lua cheia subia, brilhante e imponente, dona da noite. 

Ouvi um uivo ao longe, e me virei milimetricamente para ver se encontrava a origem do som, mas em meio às árvores, era quase impossível distinguir qualquer coisa que fosse, exceto um animal grande entrando na floresta como se sua vida dependesse daquilo. 

Limpei minha cabeça daqueles pensamentos e me dirigi ao Salão Principal, ainda tentando processar a informação do que tinha ocorrido apenas alguns minutos antes e me esforçando mais ainda para relembrar qual era a memória que fora tão forte para produzir um animal prateado daqueles. 

Balancei a cabeça para os lados, como se limpasse meus devaneios, e foquei em caminha até a mesa da Grifinória, sentar ao lado de Lene, e comer o máximo que eu pudesse colocar para dentro. 

Depois de terminar de comer, bati os talheres no prato dourado, me inclinando para trás e passando o olhar pela mesa, e nenhum dos Marotos estava lá, não que eu me importasse. 

Lene pareceu perceber que tinha algo dominando minha cabeça e me deu um cutucão com força nas costelas, pedindo:

— O que aconteceu para você estar tão distraída? 

Eu me sentei direito em um sobressalto e olhei para ela, como se tivesse acabado de acordar e respondi, em uma voz meio rouca:

— Eu consegui fazer um patrono corpóreo. 

Ela dá um gritinho de felicidade, eu a mando calar a boca e digo que vou contar tudo para ela depois. Então subo para o dormitório, me esquivando das perguntas, tomo um banho, me troco rapidamente e me enfio debaixo das cobertas, fingindo dormir quando as meninas entram no quarto. 

Depois de muito tempo encarando o teto, eu consigo pegar no sono, e meus sonhos são repletos de bolinhas douradas com asas e borrões prateados.

Acordei em um pulo, quase atrasada para a aula de feitiços. Me troquei em um minuto, escovei os dentes e desci correndo para a sala de aula do Prof. Flitwick, tentando dar um jeito no meu cabelo no meio do caminho, sem desacelerar um segundo sequer. 

Entrei com tudo na sala, fazendo o maior estardalhaço e chamando a atenção de todos para mim, e reparo que todas as mesas foram deslocadas para os cantos, deixando um espaço razoavelmente grande no meio da sala, onde os alunos estavam posicionados desorganizadamente com as varinhas nas mãos. Prof. Flitwick acena para que eu me posicione também, e eu acabo em um lugar entre Lene e Potter. 

Então, o professor diz as palavras que gelaram o meu sangue e me deixaram paralisada:

— Então alunos, hoje nós vamos treinar o Feitiço do Patrono. 

Eu ouço murmurinhos de empolgação, mas eu escutava tudo como se fosse um zunido, minha cabeça girava e eu definitivamente não sabia o que fazer nos próximos minutos. 

— Lily?

Potter me chama, meio receoso, e eu acordo do meu transe.

— O que foi, Potter?

Minha pergunta saiu de uma forma calma, suave, totalmente diferente dos gritos estridentes com os quais eu era acostumada a responder cada frase daquele ser de cabelos bagunçados. Ele também percebe isso, e se fica surpreso, não demonstra, e responde a minha pergunta: 

— Desculpe, mas você estava parada encarando o nada pelos últimos cinco minutos, comecei a pensar que você tinha tido um derrame. 

Eu sorri de leve, balancei a cabeça e falei:

— Não é nada. Obrigada, James. 

Aí sim eu vejo a surpresa tomando conta do seu rosto e me dou um tapa mentalmente, embora eu não pudesse mais negar que já fazia um bom tempo desde que ele deixara de ser Potter, e se tornara James para mim. 

Eu respiro fundo, procurando uma lembrança não tão feliz, para não correr nenhum risco de uma corça sair saltitando da ponta da minha varinha e ir para perto do cervo prateado que agora rodeava James, fazendo os olhos dele brilharem de uma forma tão alegre, que dava vontade de guardar aquela expressão na memória para sempre. 

Ainda pensando nisso, sem ao menos outro pensamento riscar meu subconsciente, eu murmurei o feitiço para a varinha e então, brotou uma massa gigante prateada na forma de uma corça. 

Eu dei um gritinho de espanto, e antes que James ou qualquer outra pessoa pudesse ver, eu desfiz o feitiço. 

Olhei de soslaio para o lado e vi James me encarando curiosamente, mas o ignorei e passei os últimos vinte minutos de aula, me esforçando para não produzir um patrono. 

No momento em que acabou a aula, eu peguei minha mochila e corri para a biblioteca, onde fiquei o resto do dia, me escondendo de possíveis perguntas intrometidas. E lá, eu tomei a decisão mais importante da minha vida. 

Eu não podia esconder meu patrono para sempre.

Não dos meus amigos.

Não dele. 

Suspirei, sabendo o que eu tinha que fazer, peguei minha mochila e fui a procura de certo ser despenteado.

Rodei Hogwarts toda sem encontrar o famigerado, então decidi ir ao Salão Principal, com certeza eu encontraria ele no jantar.

Dito e feito, enquanto eu mastigava vagarosamente um pedaço de cenoura na manteiga, ele sentou-se na minha frente e me cumprimentou com um aceno de cabeça, fazendo o cabelo se desarrumar mais ainda e ficar ainda mais bonito. 

Eu abri a boca, tomando coragem para pedir que ele me encontrasse em algum lugar. Mas a coragem falhou e eu acabei pedindo para que ele me passasse o molho. 

Me chamei de idiota o resto do jantar inteiro, até que desisti de chamá-lo para contar sobre meu patrono hoje. Ia ficar para amanhã mesmo. 

Terminei de jantar e me levantei da mesa, me dirigindo ao corredor que levava à Torre da Grifinória, mas, depois de alguns lances de escada, sinto uma mão grande tocar de leve meu braço. 

Me viro, e lá está James, com um meio sorriso envergonhado, uma mão no bolso e uma soltando meu braço devagar e caindo ao lado do corpo. Um choque percorreu o meu corpo e eu desejava que ele jamais tivesse soltado a mão do meu braço e então ele abre a boca e fala, baixinho:

— Preciso falar com você. 

Eu congelei no lugar, mas assenti e ele disse para lhe encontrar na Torre de Astronomia em meia hora. Eu concordei e voei para o dormitório, deixar as minhas coisas e bolar exatamente o que eu ia falar.

Eu troco meu uniforme por uma roupa mais confortável, e quando puxo uma blusa da gaveta, uma bolinha dourada rola pelo chão e vem parar nos meus pés. E então, subitamente, eu lembro. 

Da carta da minha mãe, dizendo que papai tivera um infarto, eu chorando no jardim, segurando o pedaço de papel amassado, de James ter me visto chorando e ter corrido para dentro do castelo buscar a bolinha, empurrando ela para a minha mão, dizendo que tinha sido um presente do seu pai, para a sua mãe quando se conheceram, e tinha sido o último presente dela para ele, antes de morrer em uma missão. Eu tinha tentado negar, mas ele insistira, dizendo que eu precisava mais do conforto dela do que ele, então aceitei, sorrindo em meio às lágrimas e o pomo tinha começado a se mexer, voando ao redor das nossas cabeças e me fazendo rir e esquecer a preocupação por um momento. 

Eu pisco, chocada comigo mesma por ter esquecido daquilo, tinha sido o momento mais triste e mais feliz do quarto ano, e eu tinha totalmente apagado aquilo. 

Coloco o pomo no bolso e corro em direção à Torre de Astronomia, querendo encontrá-lo logo e falar de uma vez por todas o que eu vinha guardando e suprimindo por tanto tempo. 

Quando chego, o vento gelado bate contra meu rosto, me fazendo estremecer por um momento, mas quando o vi, apoiado na janela, com o vento forte batendo em seu rosto e fazendo seu cabelo e gravata voarem,  eu esqueci tudo. Esqueci o vento batendo em mim, esqueci o frio, esqueci o texto que eu tinha preparado para falar. 

Eu solto um gemido baixo, por ter esquecido o que ia dizer, então ele percebe a minha presença, se vira e me dá um sorriso tímido. 

Eu retribuo, chego perto dele e sinto o vento castigar meu corpo, então eu desando a falar rapidamente e atropelando as palavras:

— James, eu tenho algo para te mostrar. Eu tentei esconder mas acho que não iria conseguir fazer isso por muito tempo, e depois de passar o dia todo entocada na biblioteca, eu decidi que eu não podia esconder, principalmente de você, daí eu pensei em todo um discurso enorme  e poético, mas cheguei no quarto e dei de cara com o pomo de ouro que você me deu anos atrás, lembrei daquele dia e vim correndo, aí cheguei aqui e esqueci tudo o que ia dizer e...

Ele me interrompe com uma risada, alta e contagiante, que me fazia querer rir junto. Mas eu resisti e ergui uma sobrancelha para ele, que levou como um sinal de parar de rir e falar o que queria. 

— Lily, eu sei o que você vai me mostrar, eu vi. Era sobre isso que eu queria conversar. 

Eu fico boquiaberta, então me lembro dos arbustos e da capa no jardim e pergunto:

— O que você estava fazendo no jardim? Espionando?

— Não, Lily, não me entenda mal, eu acabei lá por acaso, eu estava indo ajudar Remus. 

Eu balanço a cabeça devagar, afinal, eu sabia exatamente no que ele estava indo ajudar Remus. E voltamos a encarar o horizonte estrelado em silêncio. 

Decido que não posso mais enrolar, preciso fazer o que vim fazer, antes que a coragem novamente me abandone. 

Fecho meus olhos, respiro fundo e vou mais para o meio da torre. Foco meus pensamentos na imagem que vi na aula de feitiços, dele rindo, com os olhos brilhando e sendo rodeado por um patrono brincalhão. Sorrio de leve enquanto falo o feitiço, e uma corça prateada irrompe majestosa da minha varinha, e fica nos rodeando com passos leves. 

Eu me viro para James e ele está com os lábios levemente separados, puxados em um sorriso de canto da boca, enquanto estende a mão para acariciar a corça prateada.

Ele vira para mim, estupefato e sem parar para pensar, eu digo em voz alta:

— Eu estou apaixonada por você, James. 

E antes que eu pudesse dizer algo a mais, ele me beija, como se estivesse esperando a vida toda para fazer isso.

Enquanto entrelaçava meus braços no pescoço dele, puxando-o mais para perto, eu tive certeza. 

Essa seria a lembrança que eu usaria nos próximos patronos.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Espero reviews, recomendações e favoritos!
Até a próxima :*



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