Behind every door is a fall escrita por Vihctoria


Capítulo 5
Capítulo 5




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Capítulo 5

(Música: Savior – Rise Against) 

As nuvens de chuva encobriam a lua cheia que teimosamente tentava aparecer, como se pretendesse oferecer um pouco daquele brilho seu para todos os alunos que erguiam suas varinhas, em oração, aos céus. Em cada um deles, mesmo os que nunca tiveram qualquer contato diverso das boas vindas com o diretor, havia um sentimento profundo de mágoa. Na verdade, eram poucos os que realmente acreditavam no que estavam vendo bem diante dos olhos: alguns achavam que era uma brincadeira de mau-gosto, e que logo mais as nuvens se dispersariam e a voz do diretor mais brilhante de Hogwarts seria ouvida aos fundos, consolando os corações dos mais aflitos. 

Mas nada disso aconteceu.

Os olhos de Harry estavam marejados e Ginny segurava sua mão esquerda, enquanto eu o abraçava pela cintura. Rony estava segurando minha mão com igual firmeza, e por duas vezes tentara deitar no meu ombro, não conseguindo pela nossa diferença gritante de altura. A Professora Mcgonagall parecia estar entorpecida pelo que acontecera, mas todos sabíamos que era uma mulher forte demais.

E eu também.

No fim, as luzes das varinhas acesas em todos os cantos da Escola de Magia e Bruxaria foram suficientes para iluminar aquela noite fria, e todos os olhos repousaram no caixão branco enterrado com o máximo de leveza na terra fofa próxima ao Lago, quando a fênix finalmente cantou uma última vez, e a morte de Albus Dumbledore ficou gravada na memória de todos os presentes para a eternidade. 

— Não voltarei para Hogwarts ano que vem. Preciso terminar a tarefa que Dumbledore me deu, e assim ter uma chance de derrotar Voldemort, de uma vez por todas. – Nós sempre soubemos que seguiríamos Harry até o fim, não importa aonde ele fosse. E a despedida era inevitável. 

— Iremos para A Toca, para o casamento de Bill e Fleur, e depois iremos todos juntos, Harry. Sempre. – Ele não discordou. Não muito.

E as malas estavam prontas antes do esperado, com o final forçado do ano letivo, e não havia mais nada em que eu pudesse pensar, então as lembranças dele me invadiram como o fogo, que queima ao primeiro toque e faz gritar, mas eu não podia. Não podia me dar o luxo de sofrer por ele, que me abandonara quando as coisas saíram do controle. 

Não queria. 

Mas caminhei com passos perdidos até o banheiro dos monitores, onde nos vimos de verdade pela primeira vez. Avancei com os dedos tocando as paredes gélidas, as unhas curtas arranhando a superfície lisa demais, o esmalte marrom escuro contrastando com os vitrais coloridos, cuja sereia chorava lágrimas de sangue pela morte de Dumbledore. Passaram-se três dias, mas aquele sentimento de desordem nunca mais parecia passar. 

Virei as costas para sair, sabendo que Draco Malfoy havia ido embora para sempre, quando vi a rosa branca sob a beirada da banheira, de certa forma tão brilhante quanto os vitrais da sereia. Aproximei-me com o coração doendo, e os espinhos do talo machucaram minhas mãos, fazendo o vermelho do sangue contrastar de forma gritante com aquelas pétalas brancas, que representavam a pureza mais irônica do mundo: a cor dos cabelos dele. 

—.-.-

A lua continuava escondida sob as nuvens, de forma que seus olhos precisaram se acostumar com a escuridão da floresta para encontrar o caminho que levava ao Lago. Não ousou usar a varinha para iluminar seus passos, tampouco se preocupou se houvesse algo esperando por ele dentre as árvores; não conseguia sentir mais nada, e acreditava que o medo havia se esvaído no momento em que perdeu a capacidade de discernir o bem do mal. Usou um feitiço simples para deixar a rosa sob a banheira, mas não sabia se Hermione a encontraria. Uma parte sua, gritante, esperava que ela nunca mais pusesse os pés naquele lugar. Imaginou que seria fácil para ela esquecer, afinal. Sua menina-mulher de olhos astutos tinha mais com que se preocupar no momento, porque ele tinha certeza que eles fugiriam. Com a morte de Dumbledore, não havia mais nada que estivesse no caminho de Voldemort. Ele tomaria o Castelo e mataria Harry Potter, assim como todos que o acompanhavam, inclusive ela. Era isso que esperava. 

Não era isso que queria. Nunca foi, realmente. 

Os pingos de chuva tocaram seu rosto assim que ele se aproximou do túmulo. Havia fugido junto com os outros quando do ataque, porém fora o único que presenciara a morte do diretor. Seu peito estava aliviado de não ter sido aquele que pronunciara a maldição final, mas a bile ainda lhe amargava a garganta toda vez que pensava no que quase chegara a fazer. Draco ouvira dizer que matar alguém lhe tirava a inocência, mas duvidava que isso fosse verdade. 

Sua inocência fora perdida há muito tempo.

 E a dela também. 

A chuva se confundiu com as lágrimas e ele se permitiu sentir o gosto salgado na ponta da língua. Os cabelos muito brancos cobriram o rosto sempre pálido e os ombros tremeram com o choro. Não havia ninguém mais para ver, exceto ela. Sempre ela. 

— Não fui eu quem o matei. – As palavras se perderam com o vento, sendo arrastadas para longe conforme ele soluçava.

— Eu sei. – Hermione se aproximou um último passo. Ambos encaravam o lago, imerso naquela escuridão azul, brilhando como se estivesse vivo. Como se gritasse para aqueles dois intrusos que perturbavam o sossego daquele que foi o maior bruxo do mundo. Nas mãos, ela segurava com firmeza a rosa branca. 

Outro contraste.

— O que você teria feito? – Era uma pergunta complicada, porém ele sabia que a grifinória teria uma resposta pronta. Simples. Nada do que ele jamais seria capaz.

— Eu teria morrido. – Como ele esperava: simples. A convicção dela era surpreendente. – Mas eu não estava lá. – E o silêncio preencheu o restante da conversa, até que Draco Malfoy estendeu a mão, e Hermione a pegou. A chuva não deixava que vissem o que os aguardava do outro lado do lago. Era hora de seguirem caminhos diferentes, mas nenhum deles queria se soltar. Naquele momento, a única coisa que importava era o sentimento que tinham um pelo outro. 

Amor?

Nunca souberam definir. 

— Você tem que fugir, Granger. Convença Potter a fugir do país, e quem sabe vocês consigam sobreviver. – Ela abriu um sorriso curto, triste. 

— É impossível, Harry é ainda mais teimoso que você. Ele vai lutar contra Voldemort até o fim. – Draco quase tremeu com a pronúncia do nome. 

Quase.

— E você? – Foi a vez dele abrir um sorriso triste, mas convincente. Não fazia sentido mentir mais para Granger. 

— Vou sobreviver. – E ela também chorou. Chorou pela morte de Dumbledore, chorou pela jornada que tinha pela frente, e chorou por Draco Malfoy. Eles se abraçaram na chuva, e não havia mais qualquer distinção entre o verde e o vermelho, o sangue-puro e o sangue-ruim, o bem e o mal. No fim, o que importou sempre foi o sentimento (indefinido, indescritível, inalcançável), e eles se despediram com um beijo, acreditando que, onde quer que estivessem, iriam lutar.

—.-.-

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu amo demais essa história e espero que vocês gostem também, apesar do final não ser feliz. Caso tenham lido até o final, me mandem um alô!



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