Chuva de Prata escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Chuva de Prata I


Notas iniciais do capítulo

Serão apenas dois capítulos. Boa leitura.



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O último encontro com o bardo Jaskier foi na hospedaria em Figueira, uma vila de passagem de viajantes, em sua maioria mercadores. Depois desse encontro do destino, milimetricamente calculado pelo bardo, Geralt de Rívia achou que ficaria alguns anos sem vê-lo novamente. Entretanto, uma situação embaraçosa os vez reunir novamente.

Dessa vez, os dois se encontraram em Salvia, uma terra povoada por um grupo de ciganos que buscavam criar laços naquele território desde que a rainha dos ciganos se mudou para aquelas terras há cinquenta anos. O lugar era rodeado por montanhas de difícil acesso, por isso pouco se via do exterior. Geralt estava ali a trabalho, fora contratado para proteger o príncipe cigano de uma outra comunidade longe dali para conhecer sua futura esposa, filha da rainha cigana.

A viagem foi agradável e o príncipe não dava trabalho, uma surpresa agradável para o bruxo que estava acostumado com as birras dos nascidos nobres. O príncipe, um rapaz de quinze anos, era tímido. Durante viagem, o bruxo notou sua ansiedade, mas as experiências que tivera até aquele momento não ajudaria o jovem em quase nada. Quando ele o perguntou se havia alguém especial, Geralt desviou o rumo da conversa e evitou falar no assunto.

Assim que chegaram, foram recepcionados com uma festa. Diziam que os ciganos festejavam por dias, e a julgar pela quantidade de barris de bebida e as chamas acessas das fogueiras assando leitões, aquela festa duraria a semana inteira.

Assim que entregou o jovem príncipe nas mãos da rainha, Geralt decidiu ir embora, o acordo era apenas levá-lo até ali, já que ele se casaria e viveria junto a nova família. Contudo, a rainha não permitiu que ele deixasse suas terras sem antes provar suas bebidas, suas comidas, e um pouco da música.

A melodia dos instrumentos musicais era alegre e intesa. Apesar da idade avançada, a rainha tinha uma postura sofisticada. Usava pulseiras douradas nos pulsos, aliás, eram muitas pulseiras que tilintavam enquanto ela se movia. O vestido possuía uma longa saia arredondada, mas não pesada como se via nas cortes. O tecido era maleável para que a rainha cigana pudesse se locomover com rapidez e dançar com graça ao redor da fogueira, conforme fazia agora. A princesa não era muito diferente de sua mãe, levantou-se e iniciou uma apresentação, segurando um pandeiro cheio de fitas com a mão. Geralt via o olhar do príncipe para cima dela, ali ele já não tinha dúvidas de que o rapaz estava seduzido pelo que via.

Ele sorriu e levantou-se, indo buscar mais uma caneca com bebida. O bruxo não acreditava em coincidências. Tudo, um mundo tão grande como aquele ele tinha que estar na mesma festa que o único Bardo não queria ver tão cedo. Quando buscou sua bebida, ouviu um toque de Lira já conhecido. Ele revirou os olhos e resmungo alto. Havia tantas festas naquele mundo porque ele estava na mesma que Jaskier?

O bardo cantarolava junto ao grupo de músicos ciganos, divertindo-se com o dueto ao qual mostrou-se muito habilidoso, recebendo vários elogios ao final da canção.

Desde que o conheceu, Geralt não o vira sorrir tanto. Parecia que o bardo havia se encontrado como músico e ser humano, estava em meio a pessoas alegres, a letra da música falava sobre amizade e amor. Nada sobre aventuras com Elfos e demônios. A expressão no rosto do bardo era de puro êxtase. Quando seu olhar cruzou com o de Jaskier, O sorriso ainda maior delineou seus lábios.

Dessa forma, Geralt esperou ele se aproximar.

— Meu querido amigo de estrada e aventura, que honra poder encontrá-lo novamente. — Aquelas palavras soaram um tanto quanto exageradas e, pela experiência do bruxo, carregadas de sarcasmo.

— Como você conseguiu chegar aqui vivo? — Ele o olhou de cima abaixo. — Ou pelo menos com a maior parte do corpo intacto.

O bardo gargalhou, olhando para o lado e falando com o ciganos sobre como o bruxo era engraçado. Jaskier Se aproximou, e sussurrou para que apenas um bruxo pudesse ouvir.

— Aqui me chamo de Gerart. Não complique a minha situação.

Geralt estreitou os olhos, e soltou um longo suspiro. Não era de se imaginar que ele estava ali aprontando alguma coisa.

— Por que o seu nome é parecido com o meu?

— Hora, é diferente. — Ele levou uma mão na cintura e gesticulou com a outra. — Em vez do L tem o R, percebe a diferença?

Geralt crispou os lábios e levou o caneco a boca. Ele decidiu não falar mais nada, deixando o bardo criar suas próprias histórias. No final daquela noite, o bruxo estava cansado, a viagem não foi perigosa no sentido de encontrar monstros no caminho. Mas, a estrada era difícil de cruzar, E por isso ele ficou se perguntando como é que o bardo chegou ali.

Ao retirar a roupa, o bruxo entrou dentro da banheira com água que foi oferecida. Relaxar os músculos na água era gratificante Depois de tantos meses na estrada trabalhando sem parar. Não que o bruxo tivesse interesse em se aposentar agora, mas às vezes não bastava apenas matar monstros, embora essa fosse sua designação.

Os pensamentos de conflito pessoal foram cortados quando ele ouviu um barulho vindo de fora da tenda que estava abrigado. Jaskier estava parado com a mão no rosto, em sua frente uma mulher o amaldiçoava. Assim que ela girou a saia, se afastou, levando consigo o barulho das pulseiras douradas.

— Dia difícil? — Perguntou bruxo com os braços cruzados. Ele havia vestido apenas a calça, seu corpo ainda estava molhado inclusive os pelos do peito onde o bardo encarava. — Os meus olhos estão aqui em cima.

— Não foi nada demais, ela estava insistindo para que eu fosse com ela até a sua tenda, mas eu disse que eu não sou esse tipo de homem. — Ele falava como se o bruxo fosse acreditar naquela mentira. — Vejo que você ganhou uma tenda, a única coisa que eu ganhei foi um tapa na cara.

— Nem pensar, você está proibido de entrar nessa barraca.

— Achei que éramos amigos. É assim que você trata o homem que cantou suas aventuras pelo mundo. Que grosseria, esperava mais de um bruxo da sua estirpe.

O bruxo virou, dando as costas para o bardo e fechando a cortina da tenda. Ele ainda ouviu Jaskier reclamar do lado de fora, mas nada fez. Deitou-se na cama e fechar os olhos ignorando completamente a voz do bardo.

Geralt não dormiu, achava difícil conseguir dormir, com toda aquela cantoria do lado de fora penetrando seus ouvidos. Era verdade então que o ciganos gostavam de longas comemorações.

Passaram-se dois dias e eles ainda cantavam, bebiam e dançavam. Uma energia invejável para qualquer membro da corte mais animada que poderia existir no mundo dos homens.

A voz do bardo não saía da sua cabeça, isso porque ele estava naquele momento cantarolando e batendo a palma da mão em um pandeiro de fitas coloridas.

Em busca da rainha, Geralt caminhou pelo acampamento, eventualmente sendo parado por crianças curiosas com seus cabelos brancos mesmo ele não sendo um idoso como os que havia por ali. Os animais também chamavam a atenção do bruxo, os cavalos eram bem tratados e os bichos que engordavam para o abate pareciam redondos o bastante para alimentar muitas pessoas.

Não havia mais nada que o prendesse ali, então por que ele ainda não havia ido embora?

O bruxo puxou o ar puro para dentro do corpo longamente, ignorando o pensamento que surgiu. Era inadequado, impossível e completamente errado o que havia passado pela sua cabeça. Então decidiu ir embora, mas ao encontrar a rainha, ela ofereceu-lhe um emprego rápido, precisavam afastar alguns invasores de suas terras. Ela não queria que o bruxo matasse aquelas pessoas, mas que desse um susto, assim eles demorariam para voltar a atrapalhar a região.

Embora fossem ciganos que se divertiam, eles possuíam uma boa quantidade de armas que poderia proteger a todos. Ao ressaltar essa questão para a rainha, Geralt a viu gargalhar.

— A arma é para os tolos que não dialogam, infelizmente há mais tolos no mundo do que eu imaginava.

O bruxo aceitou a missão e foi em busca de quem tentava invadir as terras. Descobriu mais tarde se tratar de uma briga pessoal entre a cigana e um rei ao qual ela rejeitou. O susto ocorreu em forma de ameaça de violência, o bruxo concordou que poucos dialogam naquele mundo. Ao retornar, foi informado de que o casamento ocorreria ao pôr do sol, por isso Geralt estava convidado.

Novamente, não havia nada de errado em ficar mais num pouco para comer e beber. O bruxo viu casamentos de todos os tipos ao longo de sua vida, nenhum o surpreendia. Porém, aquele parecia um dos poucos em que o casal parecia verdadeiramente feliz e haviam se conhecido em menos de uma semana.

— O amor juvenil não é lindo? — Jaskier falou, parando ao seu lado. Geralt não o respondeu e ele continuou falando sobre como o amor encontrava as pessoas e as transformava em doces criaturas. — O amor verdadeiro é uma benção para pouco.

— Nada do que você diz faz sentido. — Geralt bebeu mais um gole do líquido que ardia quando descia pela sua garganta. Ele balançou a cabeça e encheu mais o caneco.

— Não faz sentido porque você é um ser desprovido de coração, me diga, bruxo, já amou alguém nessa vida?

— Minha experiência com as pessoas não foram tão profundas assim.

— Verdade, mas, e com animais? — O bardo virou-se para ele, de forma séria, mas depois começou a rir. — Oh! Deus, é brincadeira, não me olhe como se fosse rasgar minha garganta por causa disso.

O bardo se afastou e levou sua voz irritante para longe.

Geralt novamente encontrou-se com a rainha e fechou o acordo do trabalho.

— Aproveite a festa, será uma noite de paixão. — Ela insistiu e preenchida pela animação do momento, ficou em pé e começou a contar uma antiga lenda ao redor da fogueira. Suas mãos giravam no ar, fazendo as pulseiras balançarem. Ela era dramática com os movimentos da saia, balançando-a com força. — A primeira noite de núpcias de Gravos com sua esposa Makita foi abençoada pelos deuses. As estrelas caíram do céu como uma chuva de prata, derramando sobre eles o amor, que floresceu em seus corações. Nesta noite, a chuva de prata vai cair sobre nós. Aquele que nunca amou, amará. Aquele que nunca se entregou, se entregará.

A rainha cigana ergueu os braços para o alto e a fogueira subiu, causando um frenesi em todos ao seu redor. A música voltou a tocar e os recém-casados dançaram juntos sua primeira música como marido e mulher.

 


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Notas finais do capítulo

Eu revisei, mas é madrugada, deve ter alguma coisa pra corrigir rs

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