Redemption escrita por Aislyn


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Talvez alguns termos técnicos e coisas do tipo não estejam como normalmente deve ser, confesso que tem partes que não entendo sobre administração de uma empresa, então me dei a liberdade de escrita pra fazer como achei melhor.

Boa leitura!



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Intercalando olhares entre os recém-chegados, Mikaru praguejou mentalmente por Yuu ter dado com a língua nos dentes. Não havia pedido para ele guardar segredo do próprio irmão, mas não queria também que saísse comentando sobre estar hospedado ali. Queria esperar a situação acalmar um pouco mais antes de encarar algumas pessoas e alguns problemas, mas Mikaru nunca foi uma pessoa muito sortuda.

 

Voltou o olhar para a tela do notebook, terminando de escrever um email e enviando, mas não encarou novamente os visitantes depois disso, claramente ignorando-os. Sabia que os dois não iriam embora tão cedo, mas não sabia como confrontá-los. Imaginava que Takeo seria um bom ouvinte, tentaria entender seu lado, mas também ia lhe dar um bom sermão. Katsuya por outro lado, ia exigir algumas respostas e com razão.

 

Ouviu passos se afastando e, ao erguer o olhar, Mikaru viu o amigo deixando o cômodo com o celular na mão. Ele devia avisar alguém, possivelmente Izumi, sobre tê-lo encontrado. Aquele vocalista idiota e curioso… porque duvidava de preocupação vindo dele.

 

Kurosaki continuou no mesmo lugar, observando-o fixamente ao ponto de incomodá-lo. Não queria dar o primeiro passo… o que havia para explicar? Viu os noticiários e alguns jornais; a notícia havia se espalhado rapidamente. Mikaru voltou o olhar para o notebook, mas não tinha nada para se distrair ali.

 

— Eu estava preocupado com você… – Katsuya começou após um instante, se cansando do silêncio entre eles.

 

— Imagino…

 

— Por que não foi me procurar? Por que não contou o que estava acontecendo?

 

— Não é como se você pudesse me ajudar a resolver o problema, Katsuya. Seria apenas um peso pra você.

 

— E não está sendo pro irmão do Takeo-san? Ou ele está te ajudando a resolver alguma coisa? – Mikaru não respondeu, apenas negando com um aceno. O rapaz estava certo – Eu posso oferecer apoio moral, ao menos isso… Talvez não seja grande coisa pra você, ganhar um abraço quando as coisas estão ruins…

 

— Isso não é hora para ser sentimental…

 

— Ia se esconder até quando? – Katsuya odiava as respostas evasivas do namorado. Estava preocupado com a segurança dele, enquanto Mikaru parecia estar brincando de esconder.

 

— Estou num interrogatório? Tenho direito a um advogado? – era por isso que estava fugindo; para não dar satisfações, para não ser pressionado. Katsuya merecia respostas, mas não estava pronto para dá-las.

 

— Eu sou o advogado! Como posso defender sem saber os motivos?

 

— Não lembro de ter contratado um…

 

— É um serviço gratuito oferecido pelo governo. – Katsuya rebateu no mesmo instante, arrancando um sorriso de Mikaru.

 

— Está ficando bom nisso. – Mikaru fechou o notebook com um suspiro pesado, levantando e se aproximando do namorado. Odiava ser encarado de cima, aquela sensação de estar indefeso, mas não podia continuar fugindo – Acredito que viu as notícias. Meu pai fez o favor de perder a empresa. Eu e todos os funcionários de lá fomos chutados pra rua, sem chances de recorrer.

 

— Mas você é o dono…

 

— Tecnicamente sou filho do dono. Ex-dono… – se corrigiu no mesmo instante – A palavra final era dele para algumas decisões e agora não tenho nada para administrar. Pra melhorar, tem uma média de cem a duzentos processos sendo abertos contra a empresa.

 

— Processos? Por quê?

 

— Como, por quê? A empresa faliu, todos perderam seus empregos; sem pagamento, sem direitos, sem nada. Meus bens estão retidos, vão tomar casa, carro e qualquer outra coisa que estiver no meu nome e do meu pai para leiloar e então pagar o máximo de pessoas que puderem.

 

— Não tem nada que possamos fazer? Acertar com todos aos poucos? – Katsuya se sentia impotente, mas queria confortar o namorado. Não importava que Mikaru não gostasse de demonstrações de afeto, estavam só os dois ali na cozinha, então não segurou a vontade de abraçá-lo.

 

— Tudo que eu podia fazer já está em andamento. Meu advogado está a par de tudo e me repassando o que é possível resolver.

 

— Entendi… então só podemos esperar. – Katsuya ignorou a falta de retorno no abraço, mas não o soltou. Queria mostrar que estava ali por ele.

 

— Sim, eu tenho que esperar. Isso não vai afetar em nada sua clínica ou a cafeteria. Tomei providências para que não acontecesse.

 

— Passou sua parte na sociedade pra mim e pro Takeo-san… – então não havia lido errado o documento que Izumi lhe entregou. Ele havia mesmo feito aquilo.

 

— O que tem eu? – Shiroyama questionou ao voltar para a cozinha, ignorando o casal e indo abrir a geladeira, resmungando com o conteúdo – Vocês estão saindo pra comer todo dia?

 

— Nós pedimos pra entregar. – Mikaru respondeu sem dar muita importância, mas se afastou do abraço de Katsuya – Espero que não conte pra ninguém que estou aqui.

 

— Não pode? Acabei de contar pro Hayato. – Takeo deu de ombros, despreocupado, apoiando no balcão e voltando a encarar o amigo – Acha que vai ser preso ou algo assim?

 

— Preso? – Katsuya pareceu horrorizado com a ideia, mas Mikaru não se alterou.

 

— Acredito que não. Vão conseguir um bom retorno com o leilão da casa e dos carros, o prédio da empresa em Kyoto… acho que vai ser o suficiente para arcar com a maioria das despesas.

 

— Ficou sem nada?

 

— Eu tinha algum dinheiro em casa. Não se preocupe.

 

— Quando fecharmos as contas do mês da cafeteria, eu trago sua parte no lucro.

 

— Usem pra algo importante com-

 

— Ele passou a cafeteria pro nosso nome. – Katsuya se intrometeu na conversa, achando que aquele era um ponto importante a ser comentado. Mikaru não havia feito aquilo sem pensar nas consequências.

 

— Nosso quer dizer o meu e o seu? – Takeo apontou para si e para Kurosaki, recebendo um aceno afirmativo, então voltou a atenção para Mikaru, encarando seriamente – E a parte do Hayato?

 

— Está intacta. Eu não tenho autonomia pra mexer na parte dele, não se preocupe.

 

— Pensei que precisasse da minha assinatura pra algo do tipo.

 

— Foi uma doação, então só precisei da assinatura de Izumi. – Mikaru abriu um pequeno sorriso, se parabenizando por ter pensado naquilo.

 

— Ele concordou com isso? – Takeo questionou incrédulo, recebendo um aceno negativo do empresário.

 

— Era por isso que ele estava estranhando alguns documentos mais cedo. – comentou Katsuya, indignado – Ele viu os papéis, mas não se lembrava de assinar.

 

— Claro que o idiota não lembrava! Ele assina sem ler tudo que passa pela minha mão primeiro, confiando que está certo.

 

— Você traiu a confiança dele… – Katsuya pareceu chateado com aquela atitude, mas Mikaru não se comoveu com a acusação.

 

— Confiança? E desde quando eu pedi pra ele confiar em mim? Fez por vontade própria!

 

— Fez porque vocês são amigos…

 

— Eu não o considero um amigo e você sabe disso.

 

— Se não considera, então por que fez isso? – Takeo questionou curioso – Por que afastar a cafeteria do risco de ser confiscada junto com seus outros imóveis?

 

— Por sua causa, por que mais seria? A cafeteria é sua também e você é meu amigo, Shiro. Ele não.

 

— Ah, sim… claro… – mas o sorriso sacana do guitarrista mostrava que Takeo não acreditava em nada daquilo. Mikaru nunca ia assumir que considerava Hayato um amigo – E agora, o que vai fazer?

 

— Nada. Vou esperar instruções do meu advogado.

 

— Está pensando em continuar por aqui?

 

— Seu irmão reclamou de alguma coisa? – pela primeira vez Mikaru pareceu preocupado. Tudo bem se os problemas estavam caindo em cima dele, mas não queria afetar pessoas próximas e que sabia que se importavam com ele – Eu não posso voltar pra minha casa. Tem um pessoal da mídia rondando e não deve demorar até algum juiz confiscar oficialmente. Não posso voltar nem pra pegar minhas coisas…

 

— Ele não reclamou, relaxa, mas acho que está preocupado em te deixar sozinho com tanto problema pra resolver.

 

— Não acho que seja bom ir para um hotel… eles podem passar informação e tentar ganhar em cima… algum outro lugar seguro… – Mikaru murmurou mais para si do que para os amigos, arrancando uma risada de Takeo, até que Katsuya sugeriu o óbvio.

 

— Vamos pra minha casa.

 

— O que? – Mikaru encarou-o incrédulo, negando com um aceno – Sua família está morando com você, não tem espaço pra mais gente e isso pode bagunçar a rotina de todos.

 

— Mikaru, eu não sei o tipo de criação que você teve, mas numa família grande sempre cabe mais um. – Katsuya acariciou-lhe os cabelos com um cafuné, sendo afastado prontamente – Minha mãe está sempre preocupada com você, se está se cuidando e comendo bem, meu pai gosta de conversar com você sobre carros e morre de vontade de desmontar o seu algum dia e minha irmã te adora!

 

Takeo saiu da cozinha de fininho, comentando sobre pegar as coisas de Mikaru. Só sendo muito idiota para não acompanhar o namorado depois daquela declaração. E Mikaru realmente precisava de pessoas que se importavam à sua volta.

 

— Tenho certeza que eles não vão se importar em ter você morando por lá. A casa é grande e se eu tenho ela hoje, é graças a você! Ela é sua também.

 

— Não acho que seja uma boa ideia… pode aparecer alguém fazendo perguntas… eles podem ser seguidos e pressionados…

 

— Se ninguém te achou aqui, então não vão te achar lá. E como você mesmo disse, o que podia fazer, está sendo feito. Não vamos nos preocupar antes da hora.

 

— Vai tirar a liberdade da sua família dentro de casa… os gastos vão aumentar… por enquanto não posso mexer em nada que tenho no banco…

 

— Eu vou assumir todas as suas despesas, então pare de arrumar desculpas. – Katsuya voltou a se aproximar, envolvendo-o num abraço – Você me ajudou com a faculdade, com a casa, o emprego na cafeteria, me deixou morar com você quando briguei com meus pais… Se alguém está em dívida, sou eu. Agora é minha vez de cuidar de você.

 

— Tem certeza que não tem problema? – finalmente Mikaru saiu da letargia, correspondendo ao abraço – E se seus pais não gostarem da ideia?

 

— Acho mais fácil você estranhar no começo. – Takeo se intrometeu na conversa ao voltar com a mochila do amigo, sorrindo divertido – Vai ver como é ter uma família de verdade; casa cheia e barulhenta pelas manhãs, as brigas por quem comeu o último pedaço, dividir as tarefas e ver quem vai limpar e cozinhar… apesar que não recomendo você fazer essa última parte.

 

Família de verdade… aquelas palavras acenderam na mente de Mikaru e não pareciam nada ruins. Ele nunca teve aquilo. Claro, tinha seus pais, mas estavam sempre viajando, trabalhando e raramente passavam um tempo juntos quando ele era criança. Após entrar pra vida adulta o contato se tornou mais escasso, ao ponto de vê-los no máximo duas vezes ao ano, sempre em reuniões da empresa.

 

Como seria ter uma família de verdade? Pais presentes, irmãos, um bichinho de estimação… sentia uma pontada de vergonha por não ter noção daquilo. O pouco que conhecia foi do tempo que passou com Shiroyama na adolescência. A mãe dele era uma pessoa incrível, assim como a família Kurosaki.

 

— Vamos? Acho melhor irmos no seu carro e depois eu volto pra pegar a moto. – sugeriu Takeo, guiando o grupo para fora do apartamento – E sobre a cafeteria, mesmo tendo passado uma parte sua pra mim, o lucro ainda é seu. Vou continuar te repassando todo mês, como sempre fazemos.

 

— Use para manutenções ou outra coisa que precisar. – Mikaru seguiu ao lado de Katsuya, as mãos entrelaçadas trazendo-lhe segurança e conforto.

 

— Isso sempre foi dividido entre nós três e vai continuar assim. A sua parte é sua. Eu não vou te deixar sem nada. A cafeteria nem teria saído do papel se você não tivesse ajudado o Hayato.

 

— Você teria dado um jeito… enfim, faça como quiser. – não ia discutir com o amigo. Conhecia Takeo e sabia que quando colocava algo na cabeça, ninguém o fazia mudar de ideia.

 

O lucro do café ajudaria e muito naquele momento, mesmo que não chegasse perto do lucro que tinha com a empresa do pai. Ele sabia controlar seus gastos e também não estava em posição de ficar saindo para passeios. Deixaria tudo com Katsuya e a família dele para que cuidassem do que fosse necessário.

 

Aquilo era estranho… depender de alguém, quase que por completo. Nunca precisou disso. Abusava da amizade de Takeo, sempre pedindo colo e conselhos, atrapalhando o namoro dele, mas em nenhum momento deixou que o amigo tomasse conta de tudo em sua vida. E agora seguia Katsuya para sua casa, confiando na promessa de que ele iria cuidar de si.


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Notas finais do capítulo

Continua!



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