Cupido, Traga Meu Amor escrita por Tricia


Capítulo 23
Quando Caminhos Se Cruzam


Notas iniciais do capítulo

Definitivamente eu tenho mais coragem e disposição para fazer as coisas no começo da semana e sabendo as coisas que vai acontecer nessa semana pra mim então é bom me adiantar. Espero que gostem.
Boa leitura



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A cupido fitou longamente o copo de latte que fora oferecido pela colega de trabalho, o apelido estava escrito com caneta preta e sabendo de onde viera só podia esperar algo delicioso.

Se afastar totalmente era tão torturante e sentir um gostinho disso através das comidas e bebidas não era o ideal, mas estava tão sedenta por isso e milagrosamente a amiga se dispusera a ajudar a suprir essa pequena vontade, mesmo que fosse sob pequenos protestos.

— Não é ruim mesmo – Alix comentou quando tomou um pouco da própria bebida, Marinette sorriu levando o copo aos lábios.

— Eu te disse.

A cupido poderia se orgulhar de ver a mesa toda organizada e quase vazia. Embora estivesse suja do queijo que Plagg comera e agora dormia preguiçosamente entre as migalhas e papel de comida – antes que pudessem se quer piscar ele já estava atacando a comida que não comia há tanto tempo quando estava se afastando das coisas dos humanos por extensão ele também o fizera, talvez por solidariedade, talvez porque não havia mais quem fosse comprar. Marinette não saberia dizer qual das opções mais seria a verdadeira – não podia julga-lo dessa vez.

— Você só bebia isso lá?

— Eu bebi vinho uma vez. Acredita que cupidos podem ficar embriagados? É uma sensação de leveza estranha ao mesmo tempo em que você solta mais coisas do que deveria porque a trava da consciência...ela parece ficar invisível – divagou balançando o copo.

“– Algumas coisas que vocês normalmente acham desagradáveis são na verdade maravilhosas – a cupido divagou entregando-lhe a taça, ele a colou sobre a mesinha voltando logo os olhos para a mulher sorridente.

— Tipo o que?

— Aqueles encontros em família, aquele frio na barriga quando você esta prestes a fazer algo que lhe é desconhecido e você esta com medo em falhar, porque mesmo que você falhe naquele momento você pode tentar de novo às vezes. Vocês têm chances. É maravilhoso.”

— Talvez a gente deva tentar qualquer dia.

Marinette suspirou audivelmente fitando o teto de seu pequeno local privado de trabalho, tão cinzento comparado ao lado de fora com os humanos. 

— Se fizermos isso tem o risco de você também acabar sendo punida de alguma forma.

Um desconfortável silêncio se alastrou enquanto tomava cada uma sua bebida e ocasionalmente olhavam o ser adormecido pacificamente se remexer e resmungar coisas baixinhas e nada compreensíveis.

— Eu sei que não devia Mari, mas posso perguntar qual foi sua punição?

Desde o primeiro minuto que a recebera não ousara contar a ninguém e Alix tão pouco perguntara antes, nem mesmo Plagg que sempre se mostrava tão curioso demonstrou o interesse em saber, se o fez limitou-se a respeitar o espaço que precisava e Marinette estava mais do que grata ao cogitar essa possibilidade.

— Minha punição me faz querer saber mais de quem fui ao mesmo tempo a que também me faz ter medo toda vez que fecho os olhos e sinto a agonia me tomar por completo, quebrando-me até o momento que acordo e tento me reconstruir para ser quebrada uma vez mais.

— Talvez com o passar do tempo isso vá embora e você possa ter momentos de paz – Alix tentou consola-la após minutos necessários para digerir a informação.

— Eu os tenho, são poucos e acontecesse raramente, mas eu os tenho para me ajudar a continuar aqui.

A não enlouquecer, ela quis tanto dizer.

— E como eles são?

— São sonhos em que eu estou na cafeteria conhecendo Adrien Agreste quando todo o problema começou talvez. Os famosos minutos antes do caos – contou com a cabeça tombando para o lado e um sorriso tão pequeno e frágil.

— Você se arrepende de ter conhecido ele?

Os dedos alcançaram o pingente vermelho. Ele nunca pareceu tão incomodo como era atualmente. Tão pesado.

Para o alivio da cupido o surgimento de Tikki a poupou de precisar dar uma resposta para a pergunta. Falar sobre qualquer coisa relacionada a Adrien perto de Tikki era uma coisa que não deveria fazer quando sua dedicação com o dever sempre viria em primeiro lugar. Certo e errado sempre seriam respeitados pela kwami não importando o quando fossem próximas.

Marinette assistiu os lábios da colega se curvarem enquanto olhava os papeis da pasta que lhe fora dada pela kwami vermelha dedicada a explicar todo o progresso do cupido anterior para a missão que não havia sido bem sucedida e consequentemente arquivada há 3 anos.

Talvez demorasse mais algum tempo até receber uma nova missão com qualquer nível considerável para se divertir; de acordo com Plagg ela não deveria nem ousar pedir uma, pois não estava capacitada para isso no atual momento. Ouvir isso do kwami mais irresponsável era ofensivo, mas em comparação as outras vezes que não ouviu, tentar fazer uma vez não seria tão ruim.

— Eu acho que já vou dar uma olhada nisso – a cupido anunciou se despedindo rapidamente e saindo com a kwami vermelha em seu ombro ainda falando.

Com um novo suspiro Marinette se pôs a recolher as coisas, tirando o kwami adormecido com cuidado de cima do papel.

Arrependia-se de conhecer Adrien Agreste?

Os dedos tornaram a apertar o pingente.

— Você esta pensando algo demais – ouviu o pequeno ser murmurar se remexendo e bocejando – Essa carinha me preocupa. Dificilmente acaba bem.

— Acho que eu preciso respirar um pouco, Plagg.

— Mas a Alix não esta mais aqui para sair com você.

— Eu sei – a culpa cintilou nos olhos da cupido, um frio percorreu todo o corpo do pequeno ser com a perspectiva de um novo problema para a amiga encarar – Eu preciso ficar um pouco sozinha.

— Não deixe que ninguém te veja então – aconselhou por fim. Ela provavelmente não ouviria qualquer conselho para continuar onde estava, quietinha e segura.

— Farei isso. Serei cuidadosa.

Era uma garantia que Plagg já não acreditava muito vindo da amiga/imã de problemas ambulantes.

Os cupidos estavam mais ocupados com suas próprias missões para dar atenção à cúpida problemática que trouxe a divindade do amor para puni-la. Tempo e missões eram mais importantes que uma cupido insignificante.

Com as mangas do vestido sendo esticadas ela atravessou a porta, a noite fria a abraçou no instante que pisara os pés para fora de um estabelecimento qualquer. Carros passando, pessoas andando e a semiliberdade eram um sopro bem-vindo que a fez aspirar profundamente para logo em seguida expirar enquanto andava pela calçada desviando de cada um que passava e não a via graças ao colar.

Mesmo sabendo que Alix talvez demorasse para voltar se estivesse muito animada em coletar informações o tempo ainda era tão curto, entretanto, Marinette ainda ignorou apenas se deixando ir, sem rumo, sem expectativas.

Os passos a guiaram até o parque iluminado por lâmpadas que tantas vezes estivera acompanhando encontros. Conseguia visualizar esses momentos ainda se fechasse os olhos por um instante.

“Todos merecem conhecer pelo menos um amor na vida”        

Como humana, como havia sido seu amor? O responsável por ter sido transformada em cupido.

Lhe rendera momentos meramente felizes? Ou fora tudo apenas decepção? 

— Adrien – a voz conhecida, o nome tão conhecido chamou-lhe a atenção e fez todo seu corpo ficar tenso. Não poderia ser, repetiu para si mesma ao se virar lentamente.

Todavia, era mesmo Adrien Agreste.

Sua atual ruina pessoal na opinião de qualquer cupido.

— Mari – leu nos lábios do homem que tornou a se aproximar com o outro em seu encalço.

Não...

— Adrien, aonde você esta indo cara?

— Eu vou falar com a Marinette.

— Espera, você sabe aonde ela esta todo esse tempo? E fica sofrendo à-toa? Tu é burro, irmão? – ouviu Nino perguntar atordoadamente chegando a parar de seguir o amigo.

— Ela esta aqui agora – a resposta parecia tão obvia ao tom do loiro. Ver Nino olhando ao redor a fez prender a respiração aguardando a resposta deste, mas...ele não a olhou.

Pelo menos não diretamente.

— Ela não esta aqui, Adrien.

— Mas ela esta.

Verdes contra azuis. Medo, confusão...felicidade e talvez algo mais que a cupido não sabia como identificar se cruzavam com intensidade.

Os dedos subiram ate o colar, ele havia funcionado com todos, mas porque não com Adrien? Ele não poderia ter a capacidade de vê-la. Mas ele estava, ouviu a própria consciência gritar enquanto o homem dava mais alguns passos em sua direção, mais lentamente, mais hesitantes.

— Cara você ta estranho – Nino comentou sem dar mais passos.

— Pare, Adrien – ouviu a própria voz soar um pouco desesperada e agradeceu muito por mesmo assim ele a ter obedecido – Você pode mesmo me ver?

Ele maneou a cabeça positivamente.

— Mari. O que esta acontecendo? O que significa isso?

— Por favor, não se aproxime mais. Vá para a sua casa e eu irei até você e explicarei tudo – pediu olhando de esguelha para o homem que estava mais atrás claramente preocupado com o amigo que teimava em falar “sozinho”– Eu prometo.

— Adrien, to ficando preocupado com tigo.

Os breves minutos de silêncio que se passaram foram uma verdadeira eternidade preocupante na opinião da cupido. 

— Eu acho que exagerei no vinho – Adrien começou se voltando para o amigo, bagunçando um pouco os cabelos e soltando uma risada constrangida. Marinette suspirou aliviada quando com um ultimo olhar ele se foi com o amigo para longe.

Havia conseguido arrumar um novo problema.

 

O cenário de cupidos ocupados com suas missões era um borrão na visão da cupido que corria de sua pequena sala para todos os espaços do lugar atrás do kwami negro. Os pés bateram freneticamente no chão quando o encontrou conversando com um cupido sobre algo que não lhe era importante. Os olhos verdes do pequeno ser a analisaram por um breve instante antes das palavras deixarem sua boca com profundo desgosto.

— Você aprontou alguma coisa de novo.

Sem pensar duas vezes o puxou pelo lugar até seu pequeno espaço de trabalho as pressas ignorando a chance de ser vista por alguém.

— Dessa vez eu não fiz nada. Se eu fiz eu definitivamente não sei como.

— Explica isso.

— Adrien me viu.

— Então você se deixou ser vista pela última pessoa que deveria te ver?! – Plagg questionou carregado com sarcasmo.

— Ai que ta o problema, eu não deixei! Nino estava com ele e não me viu, mas ele me via.

— Isso não faz sentindo.

— Por isso que eu estou perdida aqui. Uma coisa assim não deveria acontecer, certo?

O pequeno ser que levitava desceu pousando sobre a mesa, por mais que os olhos dele estivessem sobre ela não parecia realmente a ver. Ele estava buscando uma resposta que a cupido esperou ansiosa e desesperadamente.

— Isso nunca aconteceu, talvez o tempo que seu colar ficou com os humanos ao invés de estar com você fez ele dar defeito – justificou por fim.

— Mas só deu defeito com uma pessoa especifica?

— Mais um motivo para você ficar longe dele, se bem que talvez devêssemos relatar isso para o caso de talvez acontecer de novo – era a opção que Plagg definitivamente não gostaria de recorrer, isso traria muito mais peso ao problema da jovem amiga.

— Isso vai causar problemas ao Adrien?

— Isso vai causar problemas a você, criatura! – Plagg exclamou com raiva – Esquece ele aqui. Foca em você. Por favor.

 – Então... – os olhos se desviaram do pequeno ser coçando a cabeça levemente.

— Lá vem...

— Eu disse que explicaria para ele a situação. Ele estava extremamente confuso lá e eu não sabia o que fazer para poder ir embora sem causar mais estrago.

— Ta tudo bem, humanos são confusos por natureza.

— E se ele enlouquecer enquanto procura uma resposta para isso tudo?

— Ai ele é internado num hospício pelo pai e todos os problemas vão com ele. Final perfeito.

— Plagg, isso é cruel!

— Mas não deixa de ser eficiente – o outro retrucou como se fosse a coisa mais obvia do mundo que estivesse explicando para uma criança birrenta.

— Eu não vou fazer isso com o Adrien.

— Se você se meter de novo com esse humano poderá sim acabar virando pó nas mãos da Divindade do Amor. Você quer isso?

— Se isso acabar resolvendo pelo menos alguns do problemas que criei, então, eu posso aceitar esse final.

— Você pode se arrepender dessa decisão. Ninguém em sã consciência quer um final trágico para a própria vida – Plagg aconselhou, mas ele sabia.

Aquele olhar...

Ela não o ouviria...

Ela se mataria por aquela pessoa...

— Eu sinto muito, Plagg.  


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Notas finais do capítulo

Bom, Adrien não ta louco um encontro agora já podemos considerar certo, a questão é o que acontecerá.
Plagg pode parecer meio maldoso, mas ele ta sendo apenas super protetor. Acham que ele exagerou?
Me contem o que acharam do capítulo
Bjs



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