Os segredos de Sakura escrita por NinjadePapel


Capítulo 25
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Pela última vez em Segredos de Sakura, desejo a vocês todos uma boa leitura.



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Havia um provérbio que a mãe de Sakura gostava de usar em todas as ocasiões: "O fruto da árvore, volta para a árvore”. Quantas vezes a rosada não revirou os olhos para a sabedoria popular que sua mãe jogava em seu colo sempre que podia. O discernimento inexperiente de uma criança, especialmente uma presunçosa como ela foi, não era capaz de compreender a verdade por trás daquelas palavras, agora no entanto, vendo a volta que sua vida deu nos últimos tempos, ela entendia perfeitamente.

 

A vida é um ciclo.

 

Quando uma árvore cai ela se transforma na matéria que dará vida a outra, quando alguém morre, seu corpo é devolvido à terra que lhe supriu por toda a vida e assim por diante. Deitada na sombra de uma frondosa árvore, a rosada agradeceu em seu coração por poder se reunir outra vez com sua família, mesmo depois dos anos separados, do perturbado e atribulado ciclo que por fim lhes trouxe para o mesmo lugar, para estarem juntos.

 

Sarada e Sasuke saltam e correm em um combate caloroso sob o sol da tarde, o suor escorrendo por seus rostos com a troca de golpes e movimentos rápidos de mãos ao lançarem suas armas um no outro. Ser apaixonado por treinar era algo que pai e filha compartilhavam e não foram poucas as vezes que Sakura teve que buscar ambos nos campos de treinamento altas horas da noite.

 

Por um lado isso havia tido um papel muito importante na aproximação deles desde o início, e se aprofundou conforme o tempo passou de tal forma que eles tinham uma forma silenciosa de conversar enquanto cruzavam lâminas. Sarada se beneficiou grandemente disso já que foi privada de uma educação formal nos primeiros oito anos de sua vida, e mesmo que não tenha tido dificuldade ao ingressar na academia ninja, com certeza a atenção especial de seu pai teve grande peso ao tê-la se formando como a primeira da turma.

 

A bandana com o símbolo da folha refletia o sol com um brilho satisfatório e por um momento Sakura mal pôde acreditar que quatro anos tinham se passado desde que voltara com ela para a vila. Se aquele ano tinha sido de intensa luta e provações, os que se seguiram trataram de compensar com tranquilidade e calmaria bem vindas. Mesmo as negociações de paz com o novo daimyo do País do Chá tinham sido livres de desentendimentos.

 

O irmão mais jovem de Yoshiro tinha se mostrado um apoiador ferrenho da paz entre as nações e não se dispôs a contestar as ações dos ninjas de Konoha ao lidarem com seu irmão, o que tirou um peso imenso do coração aflito de Sakura. Às vezes tudo aquilo parecia um sonho distante, um pesadelo em que ela acordava meio assustada algumas noites, apenas para ser abraçada por Sasuke enquanto sua respiração fazia cócegas no rosto dela.

 

O vento primaveril trouxe o aroma suave das flores escondidas na floresta em torno do campo de treinamento, bagunçando o cabelo rosado da médica contemplativa. Sakura bocejou e apertou os olhos contra os raios de sol que se infiltravam pelas folhas da árvore que lhe fazia sombra, ela se mexeu em busca de uma posição mais confortável para quem sabe tirar um cochilo no meio da tarde apoiada no tronco gentil.

 

Ela esticou o pé descalço para arrumar a ponta dobrada da manta que havia sido bagunçada pelo vento, o movimento enviou uma pontada de dor para o ligamento e ela resmungou. Sakura mal tinha sentido algumas das manifestações mais comuns da gravidez quando carregou Sarada atravessando o continente, naquela época ela estava mais preocupada em sobreviver e manter seu bebê vivo e o mais saudável possível. A paranoia constante lhe mantinha alheia aos enjoos e ao sono maciço de forma que ela se manteve ativa o máximo que podia antes do parto.

 

Desta vez, no entanto, ela se descobriu uma gestante muito volúvel, cheia de vontades e desejos mirabolantes de comida, enjoada e principalmente sonolenta. Qualquer oportunidade e lugar eram passíveis de se tornar o local do próximo cochilo de Sakura, na semana anterior Sasuke, o estóico e frio Sasuke Uchiha, riu descaradamente ao flagrá-la no meio de uma mísera pausa enquanto cuidava de sua horta, tudo bem que ela estava com terra salpicada no nariz e usava o saco de adubo como travesseiro, mas isso não era motivo para tanta risada.

 

Sakura pousou a mão devota na barriga de seis meses que já havia lhe feito desistir das calças e adotar os vestidos qipao de vez. Ela mudou de posição novamente, incapaz de encontrar alguma em que sua barriga não pesasse ou ficasse desconfortável, e fechou os olhos para entrar no mundo dos sonhos. A sonolência já lhe puxava pela mão rumo à inconsciência quando ela sentiu que estava sendo observada.

 

Apenas a birra lhe deu forças para lutar contra o peso de suas pálpebras e encontrar um par de Uchihas olhando para ela, ambos com pequenos sorrisos no canto dos lábios.

 

— Eu não estava dormindo.

 

Sarada revirou os olhos e se sentou a seu lado, gotas de suor viajando pela lateral de seu rosto - Claro que não mamãe, só estava de olhos fechados.

 

— Não ligue pra ela - Sasuke começou a falar, ele se sentou bem ao lado de Sakura e como ela não era tola decidiu que o marido era bem mais confortável de se escorar do que a casca da árvore. Ela deitou a cabeça na curva do pescoço dele e sentiu quando o braço rodeou sua cintura para lhe acomodar melhor - Sarada só está amarga porque perdeu.

 

A moreninha bufou em discordância - Não fique muito feliz, é só questão de tempo até eu dominar o sharingan e me tornar melhor que você papai.

 

Foi a vez de Sakura revirar os olhos para a arrogância da menina. Sarada tinha despertado o doujutsu a menos de um mês, quando se viu em uma situação de vida ou morte para salvar Boruto, seu companheiro de equipe. Ainda era apavorante para Sakura imaginar sua menina em situações como essa, mas sabia que ela era capaz de se proteger. Sasuke estava muito orgulhoso da filha, mas ainda mais aliviado que ela tenha conseguido sair da situação sem se ferir e com seu amigo vivo e bem.

 

Desde então eles tinham intensificado seu treinamento, entre as missões dela como gennin e as dele como os olhos de Naruto fora da aldeia. Sakura praticamente não saía em missões externas desde que fora reintegrada ao corpo shinobi da vila, ela estava mais do que confortável em passar a maior parte do dia no hospital e em projetos de saúde e treinamento de ninjas médicos, já tinha viajado bastante por muito tempo, fincar raízes era uma experiência maravilhosa.

 

Salvo as três missões estritamente médicas e algumas expedições de pesquisa que fez nos últimos anos, sempre acompanhada de Sasuke, a rosada só tinha saído de Konoha para visitar seus amigos em Taki. Ela fazia questão de ir ao menos uma vez por ano para a terra das cachoeiras e encontrar Jung e companhia, Sarada sempre ficava eufórica e Sasuke já estava bem acostumado e confortável com a viagem.

 

Em sua última visita ela até mesmo ficou sabendo de um certo flerte entre Jung e uma kunoichi da Pedra que estava prestando serviços para a Taverna recentemente. Sakura e Sarada importunaram o ruivo por dias e era maravilhoso ver as bochechas do homem assumirem a mesma cor de seu cabelo. Ela estava feliz por ele.

 

— Não tenha tanta pressa - a voz de Sasuke a trouxe de volta para o presente - leve o tempo que precisar para entender o sharingan.

 

— Ouça a voz da experiência - Sakura completa sarcástica e Sasuke revira os olhos diante da piada.

 

Ela observa Sarada largar a garrafa de água e se dirigir a sua barriga redonda - Quando for sua vez vai ter que me aguentar ser a voz da experiência.

 

— Não há garantias de que seu irmão ou irmã vá despertar o sharingan, mesmo entre o clã inteiro era uma ocasião rara - ela sente os dedos esguios brincarem com as pontas do seu cabelo - Um bebê de cabelo rosa ou olhos verdes seria justo para equilibrar.

 

— Nesse caso eu vou continuar sendo minoria nessa família - ela boceja - Teremos mais um perfeito exemplar Uchiha de cabelo e olhos negros. 

 

— Meu irmão nem nasceu ainda mamãe - Sarada resmunga de seu lugar mordiscando um cacho de uva que a gestante faminta tinha trazido para si - Não tem como saber se ele não vai ter cabelo rosa.

 

— Ou olhos verdes - Sasuke adicionou.

 

Sakura suspira desapontada - Sinto informá-los mas as chances são mínimas, quase nulas - ela estende a mão para a filha que faz biquinho ao lhe entregar o restante do cacho - É genética básica. Imagino que vocês não vejam pessoas com cabelo rosa e olhos verdes, especialmente os dois juntos, com tanta frequência.

 

— Olhos verdes mais do que cabelo rosa - Sarada aponta.

 

— Sim, a questão é que são características bem menos comuns do que cabelo e olhos castanhos ou negros certo?

 

— Hn - Sakura revira os olhos para a resposta monossílaba de ambos.

 

— Isso é porque a cor escura é uma característica dominante, enquanto que rosa e verde são absolutamente recessivos - ela lança um dos caroços da uva na filha que desvia sem dificuldade. A médica vê o olhar confuso na menina, mesmo que Sarada fosse inteligente aquela era uma informação muito específica, ela imaginou se Sasuke estava tendo a mesma dificuldade em entender - basicamente, se fossemos um arsenal, minhas características seriam comparáveis a uma senbon e a de vocês uma kunai, mais popular e mais expressiva.

 

Ela observou a filha assentir em entendimento. Sakura protegeu as uvas restantes com as mãos e se aproximou mais de Sasuke quando a moreninha se esticou para tentar roubar uma de suas frutas - Não seja mesquinha mamãe.

 

— Eu estou grávida - ela diz indignada - você está sendo mesquinha com seu irmão ou irmã.

 

A Uchiha mais nova se levanta dando um sorriso debochado para o casal - Nesse caso vou procurar comida em outro lugar - ela começa a se afastar mas antes de se virar fala outra vez - Boa sorte com a bolota resmungona papai!

 

Sakura joga uma de suas uvas com força aprimorada na menina que já não está mais lá para receber o golpe - Tanto esforço para ser chamada de bolota no final!

 

— Pra onde ela vai? - Sasuke perguntou, de repente intrigado.

 

— Provavelmente Ichiraku com Boruto - responde entre uma uva e outra.

 

— E Mitsuki?

 

— Pode ser que sim - ela joga o talo fora e se deita de vez no colo de Sasuke, aproveitando que estavam sozinhos agora para se aconchegar mais nele - Mas não necessariamente, às vezes é só o Bolt mesmo.

 

Sasuke olha para ela com olhos desiguais, de sua posição ela vê a ruga se formar entre as sobrancelhas e a mandíbula se contrair levemente - Sozinha com o filho do Naruto? - ela acena em concordância e o menor sinal de surpresa passa pela expressão do moreno - você sabe disso, e está tranquila assim?

 

— Claro que sim - ela ajeita a cabeça sobre a perna dele e observa a forma como o cabelo escuro cai sobre o rosto - ele foi o primeiro amigo dela em Konoha, e eles são muito próximos.

 

— Pensei que eles vivessem brigando - da forma como a voz soa para a rosada eleparece quase traído.

 

— Você e Naruto tentaram se matar mais de uma vez e ainda assim são como irmãos, embora eu ache que o relacionamente de Sarada e Bolt não seja tão fraternal.

 

Sasuke arregala os olhos e é impossível para Sakura não gargalhar com a expressão do moreno. Ele começa a se remexer no lugar - Talvez devêssemos passar alguns anos em Taki.

 

— Oh Sasuke-kun não seja dramático - ela lhe dá um tapinha na perna para se aquietar e ele encontra uma posição em que ela fica mais confortável - além disso eles estão entrando na adolescência agora e aposto que ainda vai demorar alguns anos para entenderem os próprios sentimentos.

 

Ele suspira aliviado e volta a sua postura mais rígida, traça linhas no couro cabeludo dela com delicadeza e Sakura logo está bocejando - Ela é uma Uchiha afinal, será uma adolescente tranquila.

 

O sono se vai outra vez quando as palavras despertam Sakura de sua moleza - Uma Uchiha né? Você não foi um adolescente nada tranquilo, que eu me lembre nos deu bastante trabalho.

 

— Isso é completamente diferente - ele fecha os olhos arrogantes.

 

Sakura levanta a mão e embrenha entre os fios negros que caem sobre seu rosto quando Sasuke se curva para chegar mais perto dela - Se ela puxar a mim nesse aspecto com certeza vai ser uma dolescente tranquila.

 

— Sakura - ele toca os lábios na testa dela, é quente, doce e carinhoso - você nunca foi tranquila.

 

— Isso é ridículo - ela resmunga baixinho, muito bêbada de Sasuke para protestar demais.

 

— Irritante - ele beija a ponta do nariz pequeno e arrebitado.

 

— Arrogante.

 

Sakura está de olhos fechados quando sente o calor dele ainda mais próximo, o beijo agora contra sua boca. É uma carícia suave, deliciosa e cheia de amor que faz um movimento diferente em seu estômago, um que não tem nada a ver com o bebê que cresce ali. Seu coração bate calmo mas forte, e acelera quando ele se aproxima, as borboletas que mesmo depois de tanto tempo nunca desapareceram ainda lhe fazem ter arrepios. O amor deles é a coisa mais linda do mundo, e agora eles teriam mais uma vida como fruto desse amor.

 

O mundo é pacífico, mesmo que essa paz seja passageira, e sua família está reunida. Em breve ela teria dois filhos para lhe chamar de mãe, todo esse amor mal cabia em seu peito e ela amava isso, amava que sua vida fosse repleta de amor.

 

— Descanse um pouco Sakura - a voz de Sasuke é distante mas ela pode ouvir a felicidade nela, e isso a faz ainda mais feliz.

 

— Quando eu acordar - ela sussurra de volta - vamos comer anmitsu.

 

Um som estranho e agradável enche seu mundo, é a risada de Sasuke ela percebe, é maravilhosa - Tudo bem.

 

A melhor coisa de adormecer agora, é saber que o sonho não termina ao acordar.

 


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Notas finais do capítulo

É emocionante marcar uma história como concluída. Sou eternamente grata aos meus amados leitores que fizeram isso possível, porque sim vcs tem parte nisso me incentivando e querendo ler o que escrevo. Sou muito grata pela paciencia com os meus longos períodos de sumiço, sou imensamente grata pelo carinho em cada comentário.
Obrigado.

Ps. já comecei a publicar a história nova!



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