Pictures of Us escrita por Ellen Freitas


Capítulo 18
The Wedding Part. 3 || Caitlin


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!

E hoje chegamos ao final da saga de casamento Olicity! Tem sido uma jornada e tanto, hein? Nesse capítulo veremos tudo que não foi contado por nosso casal lindo.

Quero agradecer a todos que tem lido e deixado reviews lindos, sei que podem ter achado demais tantos capítulos tão próximos um do outro, mas comemorar o amor nunca é demais!!

Por favor, leiam as notas finais, tenho uma notícia muito importante lá.
Até lá.. Boa leitura!! Bjs*



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#10 horas antes do casamento

Quando Felicity começou a me mandar mensagens naquela manhã, eu já estava acordada e de banho tomado, quase pronta para sair. Eu conhecia bem minha amiga, se não fosse assim, talvez ela tivesse algum tipo de derrame.

Cada mínimo detalhe foi repassado por ela quando cheguei em sua casa, desde coisas grandes como o DJ, o vestido ou o bolo, até especificidades como o tipo de flor auxiliar do arranjo da lapela dos padrinhos, que era diferente do enfeite do noivo. Mas toda aquela preparação só me deixou com uma certeza: se fosse pra ser assim, eu nunca ia casar.

Pra minha sorte, Felicity era organizada demais, o fichário do dia, o último da trilogia dos fichários de casamento, era bem detalhado e achei que não teria problemas em seguir, já que tudo estava encomendado há semanas. Quebrei minha cara logo no primeiro lugar, onde fui buscar os smokings e o meu vestido.

Dirigir enquanto falava ao telefone com a papelaria que havia trocado a cor do suporte dos nomes nos lugares da mesa de dourado para prata, mais os sacos com as roupas voando do assento traseiro e atrapalhando meu acesso ao câmbio, mais os motoristas irresponsáveis de Star City quase me fizeram bater o carro.

É, eu precisaria de ajuda.

Já parecia que eu batia naquela porta há horas. Segundo os cálculos da Felicity, eu tinha exatamente 23 minutos para dar okay em cada tópico da lista, o quase acidente me atrasou dez, e agora já tinha perdido mais três. Minhas previsões estavam certas, eu ia ficar maluca e já estava arrependida de não ter aceitado a ajuda de Kara.

― Tinha que ser… ― Thomas-mau-humorado-Merlyn foi a pessoa a abrir a porta com cara de quem havia acabado de acordar, Oliver sentado no sofá de um jeito bem parecido. Já eram quase onze da manhã, não seria surpresa para mim que eles dormissem até tarde, mas era o dia do casamento!

Entrei sem convite no apartamento como uma bala, deixando os sacos com as roupas em cima da poltrona e não poupando uma briga por serem tão relaxados. Se ninguém dissesse nada, eles voltariam a dormir e se atrasariam para o evento que ambos tinham grande parte.

Mas foi só depois de estar dentro, foi que percebi que Thomas não usava mais que suas roupas íntimas, uma cueca com desenhos infantis, bem equivalente à sua idade mental, mas indiscreta demais para se atender uma porta.

― Dá pra colocar uma roupa?

― Os incomodados que se retirem.

Deu de ombros e eu grunhi, para logo em seguida ser dispensada para ir embora como fosse uma das garotas malucas o bastante para passarem a noite com aquele irresponsável. E só pra completar, assisti chocada ele ligar o videogame. Que raiva!

Não, não. Eu não ia me matar enquanto esse padrinho, teoricamente com o mesmo grau de importância que eu no casamento, fica aqui jogando de pernas para cima. Era uma ideia péssima, eu sabia, talvez no fim do dia Oliver e Felicity ao invés de votos teriam um mútuo assassinato para lidar, mas era minha única opção a tempo.

Os dois ouviram meu discurso sobre a importância daquele dia como não tivesse ninguém falando ali. Oliver tentava não rir enquanto o moreno não poderia parecer mais indiferente, atento ao seu jogo.

― …padrinho minimamente útil que vai colocar uma roupa e vai vir comigo!

Thomas ficou de pé instantaneamente, e já começou a despejar argumentos que o afastavam da função de ajudante, como se eu fizesse questão e tivesse outra opção, o que eu não tinha.

Para minha sorte (ou azar, vai saber como o dia andaria), Oliver me apoiou e mesmo sob os protestos de traidor do amigo, o empurrou a me ajudar. Eu havia deixado de implicar com Oliver já tempos, e quando aceitei que ele seria a pessoa certa para minha melhor amiga, até gostava do cara, principalmente agora, até o loiro jogar a frase seguinte.

― Relaxe, no dia do casamento de vocês dois, você fica jogando videogame e eu faço essas coisas chatas aí com Felicity. ― O encarei com olhos arregalados apenas para a sugestão.

De onde ele havia tirado isso? Será que Felicity comentou sobre o abraço na delegacia três semanas atrás? Com certeza, já que aqueles dois juntos às vezes mais pareciam uma dupla de comadres fofoqueiras do que um casal. Mas havia sido só que eu disse na época, um abraço inocente de empatia. Thomas estava ferido, quis dar algum consolo, o que minha amiga estava transformando em algo maior que não era mesmo verdade.

Thomas ficou tão chateado com o comentário quanto eu, o que fez ele acabar se rendendo ao meu pedido apenas para sair dali, enquanto Oliver estava se achando algum tipo de profeta do amor. Eu hein, não apoio mais esse relacionamento Olicity!

― Como ela está? ― me perguntou, suas feições assumindo uma felicidade genuína apenas em falar de Felicity. Okay, apoio eles de novo.

― Feliz, muito feliz ― Ignorei o nervosa, ansiosa e surtada. Mas eu sabia que ele sabia a verdade.

― Tem certeza que não precisa de ajuda? ― questionou, me provando estar certa. Suspirei, afastando os sacos com os smokings para sentar na poltrona.

Fiquei tentada a aceitar, Oliver seria uma companhia bem menos irritante, mas se o noivo se atrasasse por estar me ajudando, quem surtaria seria Felicity, e só por isso o dispensei, pegando suas chaves e apenas o lembrando de não perder a hora, como já era quase um costume crônico seu fazer.

― Você é uma pessoa particularmente insuportável, garota! ― Thomas voltou para a sala terminando de se vestir e usando uma bermuda ridícula, igual um adolescente. Ele tinha mais de trinta e não estávamos indo à praia, custava colocar uma calça como um adulto normal? ― Madrinhazilla! ― Passou por mim, pegando as pontas do meu cabelo e jogando para cima, apenas para me provocar.

― Eu não vou andar com você usando essa bermuda, dá pra colocar uma calça? ― O segui para fora do apartamento.

― Olha uma novidade: você não manda em mim ou nas minhas roupas ― retrucou teimoso.

― Sua voz é irritante, sabia?

Sua voz é irritante ― me imitou. ― Deixe eu te dizer uma coisa, eu tenho a voz de um príncipe da Disney, sua voz é irritante!

― Cala a boca. ― O soquei no ombro.

― Não me bate.

― Então para de falar!

― Você para de falar! ― retrucou. ― Onde estão as benditas chaves? ― Estendeu a mão parando perto do meu carro do lado do motorista.

Apertei o metal gelado entre os dedos. Colocaria meu lindo carrinho nas mãos de um maluco? Tempos desesperados, medidas desesperadas, Caitlin, respire fundo e só entregue.

― Você tem seguro, certo? ― questionou com um sorriso, agarrando habilmente o molho de chaves que lhe joguei.

― Oh, Deus ― murmurei entrando no carona. ― Que apenas ele morra, que apenas ele morra ― fiz a prece baixinho, colocando o cinto de segurança, mas ele apenas balançou a cabeça para os lados e riu mais amplamente, quase maléfico, dando partida no carro e já indo para o endereço que lhe dei.

― É lógica básica ― Thomas caminhava atrás de mim com as mãos nos bolsos. ― Se eu dirijo mais rápido, chegamos mais rápido, eu me livro de você mais rápido, todo mundo feliz.

― Não fala comigo, eu vou vomitar ― falei colocando uma das mãos sobre o estômago e outra na boca.

― Imagina se estivéssemos na minha moto…

― Nunca vai acontecer ― determinei. ― Como você ainda está vivo dirigindo desse jeito pela cidade? ― Me virei pra ele, que deu de ombros.

Inspira, expira, pense em coisas boas ou vai colocar todo o café da manhã pra fora. Coisas boas, tipo pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans. Pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans. E não é que estava melhorando?

― Seguinte, só precisamos pegar algumas caixas aqui na papelaria e então vamos para a joalheria, tá?

― Buscar as alianças? ― supôs e meu estômago revirou de novo, agora de nervoso. Pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans…

― Não, porque as alianças estão com você, não estão? ― perguntei tentando a todo custo manter a calma, e ele puxou uma respiração curta, como se desse conta de algo só agora. Ah, não. ― Felicity me disse que Oliver te daria pra guardar, por tudo que é mais sagrado, Thomas Merlyn, me diz que elas estão com você! ― falei pausadamente, lhe dando tapas nos ombros e peito.

― Para com isso, garota, claro que estão comigo. ― Se afastou de mim, andando para trás. Eu quase podia ouvir as engrenagens do seu cérebro trabalhando em uma mentira. ― Não aqui, lá em casa.

― Thomas, eu juro por Deus…

― Elas estão lá em casa, relaxe, madrinhazilla. Alguém já te disse que precisa ver algum psiquiatra pra terapia de controle da raiva?

― Se quando eu te deixar lá elas não estiverem protegidinhas na sua casa, você vai precisar de um médico, um cirurgião plástico! ― gritei, entrando na papelaria.

Conferi uma a uma as plaquinhas com os nomes dos lugares, estavam na fonte, tamanho, espaçamento e molduras de acordo com o modelo de Felicity, e já haviam até providenciado a troca dos suportes que solicitei antes. Já estava organizando tudo de volta nas caixas para irmos embora, quando olhei para Tommy e ele estava no telefone, ignorando novamente os preparativos do casamento.

― Com quem você está falando?

― Com o Ollie, arreda, satanás! Eu vou já. ― Saiu da loja com o aparelho no ouvido. Cara inútil.

― Tudo certo com as plaquinhas, só coloca as dez extras que combinei com vocês e pode embalar. Obrigada. ― A mulher assentiu e logo me entregou as três caixas grandes. ― Aqui o resto do pagamento. ― Lhe entreguei o cheque.

Olhei ao redor e nada de Thomas. Pra que eu trouxe ele mesmo, não está me servindo de nada além de me dar enjoo pelo modo nada seguro que dirigia meu carro e enchia meu saco.

― Eu não falei que já estava indo? ― Chegou até mim logo que eu estava fora da loja. ― Tinha que pegar tudo de uma vez, pra acabar derrubando com essa mão furada e nunca mais terminarmos isso.

― Você que me deixou lá sozinha pra fofocar com seu amigo! ― reclamei, mesmo que as caixas limitassem minha visão dele.

― Cala a boca, me dá essas caixas aqui.

― Agora não precisa mais, deixa que eu levo! ― Tentou pegar as minhas mãos.

― Não, eu levo. ― Resisti que ele as levasse, mas essa brincadeirinha de puxa-empurra, fez com que todas as caixas saltarem de minhas mãos para o chão. ― Mão furada ― recriminou.

― A culpa é sua! ― acusei de volta e já íamos começar uma briga aos gritos no meio da rua, quando meu telefone começou a tocar. ― Oi, senhor Diggle. ― Apontei para o chão, ordenando um "pega" com os lábios para Thomas.

― Você já está chegando no local do casamento? Já estou aqui com os gêmeos para o ensaio final.

― Não, ainda não, tive uns atrasos, desculpa. ― Mesmo sem convivermos muito, o tenente sempre foi muito educado comigo, não havia motivos para não ser assim de volta. ― Tem como segurar as pontas aí por mais uma horinha?

― Vou tentar, mas Sara e JJ estão mais agitados do que nunca, e Lyla nem está aqui pra ajudar, teve um chamado para o trabalho, só vai chegar em cima da hora.

― Eu vou correr, prometo. ― E desliguei.

― Todas as caixas seguras no carro, sem drama, okay? ― Thomas falou quando voltei para perto dele.

― Seguinte… A gente poderia passar o dia entre essas discussões bobas, mas isso só nos atrasaria e levaria minha energia toda. Sei que seu cérebro de ervilha é difícil de assimilar as coisas, nas podemos fazer uma trégua, só hoje? Em nome desse casamento e da Felicity e do Oliver?

― Em nome do Oliver e da Felicity ― aceitou a condição, depois de ponderar por alguns instantes. ― E pra terminar logo com isso.

Thomas calado era um poeta, e esse foi o meio que ele achou para lidar com nossa trégua, não falando comigo, apesar de flertar com as atendentes das lojas que fomos. O meu meio de lidar foi não reclamar por ele ficar cantando exatamente todas as músicas que tocavam no rádio e dirigir como se não tivesse amor à própria vida.

― Tio Tommy, tio Tommy! ― Os filhos de Diggle chegaram no moreno logo que colocamos os pés para dentro do salão, o agarrando pelas pernas e quase o derrubando.

― Atenção, esquadrão… Sentido! ― Foi tão fofo quando os dois assumiram a posição, os bracinhos juntos ao corpo e olhando para Thomas esperando o próximo comando. ― Muito bem. Descansar.

― Faz o foguete duplo, faz o foguete duplo!

― Graças a Deus, senhorita Snow. ― Diggle chegou até mim. ― Eles são meus filhos e eu os amo, mas quem ensinou essas crianças a serem tão ativas? ― Olhei para os gêmeos que estavam cada um sobre um ombro de Thomas, que corria com eles pelo lugar, como se voassem. ― Imagino que está tendo o mesmo trabalho com o detetive Merlyn.

― Você nem imagina.

― Boa sacada tirar ele de perto do Oliver, os dois conseguem ser piores que meus filhos quando ficam sozinhos e juntos, são minhas crianças grandes da delegacia. ― Assenti, sem surpresa nenhuma para a informação.

― Senhorita Snow, sou a cerimonialista. ― Uma jovem de longos cabelos cacheados se apresentou. ― Zoe.

― Prazer, pode me chamar de Caitl…

― Thomas Merlyn, a seu dispor. ― Ele se materializou ao meu lado, pegou a mão dela, a beijando. Zoe sorriu sem graça. ― Tommy, se preferir.

― Oh, meu Deus, sai daqui! ― O empurrei. ― Como estão as coisas por aqui?

― Bolo chegou e já está na copa, junto com os aperitivos e docinhos. Todas as mesas e cadeiras prontas para colocar nos nomes dos lugares. Ah, a florista ligou dizendo que o buquê e as flores dos padrinhos já estão prontas para buscar.

― Okay. Deixa as flores comigo, passo lá depois daqui, as plaquinhas e o mapa dos lugares está no carro. ― Olhei para Thomas, que ainda ria sem vergonha pra garota. ― Vai buscar, inútil!

― Quer vir comigo, Zoe?

― Ela tem trabalho a fazer, Thomas ― expliquei o óbvio.

― Toda ciumentinha ela. ― O descarado apontou para meu nariz franzindo o seu, e saiu assoviando.

― Desculpa, eu não sabia que vocês…

― Não estamos ― esclareci. ― Gostou, fica à vontade, vou começar a ensaiar com as crianças ― falei indicando o lugar por onde ele havia seguido. Percebi o interesse dela, mas não o seguiu, talvez para não parecer desesperada, tarde demais. O que todas essas garotas viam nele?

O trabalho com Sara e JJ estava sendo mais exaustivo do que pensei. Diggle tinha razão, eles estavam inquietos, e sem a mínima vontade de obedecer a comandos, o que estava dificultando tudo.

― Caitlin, seu telefone ― Dig me mostrou o aparelho. ― Um tal de senhor Curran.

― Pode atender pra mim, é o ministro ― pedi. Eu estava nos fundos, onde começaria a marcha nupcial, e o tenente perto do altar, chamando a atenção dos filhos. Demoraria mais se eu fosse lá e voltasse. ― Ele deve estar querendo confirmar o local e horário da cerimônia. Agora nós três… ― Me virei para os gêmeos. ― Sabe o que a gente pode fazer? Um acordo! Se fizerem tudo direitinho, a tia dá doce.

― Que doce? ― JJ quis saber.

― Qualquer doce, só façam isso logo pra gente poder ir pra casa.

― A gente quer cinquenta ― a pequena Sara propôs.

― Vocês nem tem idade pra saber contar até cinquenta!

― Nada feito.

― É assim que você fecha seus acordos na defensoria? ― Thomas, que estava sentado com os pés em uma cadeira perto dali, se aproximou. ― Ei, mini esquadrão, que tal uma mágica? Vocês ficam com o dinheiro que conseguirem nela.

― Sim! ― exclamaram juntos, erguendo as mãozinhas.

Era injusto o quanto esse cara era bom com crianças com tanta facilidade, enquanto eu me esforçava tanto para nada.

― Okay, vamos lá… ― Se agachou para ficar à altura deles. ― Estão vendo essa moeda mágica? ― Tirou uma moeda de 25 centavos no bolso. ― Ela vai desaparecer, mas primeiro vocês vão soprar. ― As crianças deram um pequeno sopro. ― Não tirem os olhos dela…

Thomas abriu a mão esquerda e com a direita deslizou a moeda pela palma aberta. Depois de uma contagem até três e um movimento pequeno, mas rápido, ela sumiu.

Quê? Como assim?

― Agora quando a gente contar até três de trás pra frente, ela volta. ― As crianças se juntaram a ele na contagem regressiva e do nada Thomas tirou a moeda de trás da orelha de Sara. ― Agora a moeda do JJ. Soprem ― ordenou indicando a mão fechada, e quando abriu, eram duas moedas idênticas.

― Wow! ― os gêmeos estavam impressionados, e eu também, confesso. Era um truque besta, mas meu choque era por não ter conseguido descobrir como foi feito.

― Faz de novo! ― Ele me olhou de baixo com curiosidade, nem havia percebido que eu também era sua plateia. ― Você não é um mágico tão bom assim, eu quero saber como fez ― falei cruzando os braços.

― Olhem, crianças, a Caitlin está duvidando dos poderes mágicos do tio Tommy. Me empresta a moeda? ― pediu, e Sara lhe entregou. ― Quer saber como fiz aquilo? ― Ficou de pé, parando na minha frente.

― Qual o truque?

― O truque, querida Snow… ― Deu um passo à frente. ― Está no sopro. ― Me mostrou a moeda. ― Vai, sopra. ― Rolei olhos, mas cedi à pequena brincadeira.

Ele repetiu o que havia feito antes e a moeda sumiu de novo, dessa vez com ainda mais precisão. Droga, eu ainda não fazia ideia.

― E ela se foi! ― Mostrou as palmas abertas e vazias. Não era possível! ― Agora vamos trazer o dinheiro de Sara de volta.

Mais um passo a frente e a distância entre nós não passava de um palmo. Retesei o corpo quando sua mão percorreu meu pescoço e tocou minha orelha, o metal redondo voltando em seus dedos e um sorriso arrogante em seus lábios.

― Tcharam! ― falou baixinho. Engoli seco pela aproximação estranha, dando uns bons dois passos para trás. Thomas se moveu desconfortável para voltar a se abaixar perto das crianças, devolver a moeda a Sara e passou negociar com eles comportamento até o fim do ensaio.

O que tinha acabado de acontecer aqui?

― Caitlin, temos uma situação sobre o ministro ― Dig chamou minha atenção.

― Ele vai atrasar?

― Não, ele não vem.

― Como é? ― gritei, indo até a frente, onde Diggle estava.

― Teve uma infecção intestinal ou algo do tipo, está internado com desidratação.

Okay, respira. Pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans.

― E não vai conseguir sair a tempo? Ou mandar outra pessoa no lugar?

― Não, o coitado vai ficar no hospital até amanhã de manhã e… Espera, onde estão nossas crianças? ― questionou olhando ao redor.

― O quê?

― Sara, JJ e Tommy, onde estão?

― Diggle estamos no meio de um problema grande o bastante aqui!

― Se você tivesse filhos, saberia que eles sumirem em silêncio por dois segundos já é o bastante para problemas bem maiores.

― Zoe, você viu as crianças?

― Acho que na cozinha com Tommy.

― Oh, não.

Imaginei que os três delinquentes estariam roubando docinhos ou algo do tipo, mas o cenário que encontrei era bem pior, quase catastrófico.

Assisti em câmera lenta quando Sara e JJ puxaram a ponta da bandeja, o enorme e branco bolo de casamento de três andares indo em direção ao chão, parte caindo em cima deles como uma chuva de glacê, o impacto respingando em todos nós, inclusive em Thomas, que estava de costas para as crianças e roubando docinhos.

O grito de "não" ficou preso na minha garganta, desespero tomando conta de mim. Felicity ia me matar. Eu seria uma pessoa morta em exatas três horas, quando ela chegasse aqui e não encontrasse seu bolo perfeito.

― Oh, Deus ― Thomas falou chocado para a cena. ― Tenha misericórdia.

― Crianças! ― Diggle brigou. ― Por que fizeram isso?

― Tio Tommy disse que ia pegar docinhos, a gente queria pegar também.

― Caitlin, me desculpa, eles são terríveis.

Eu sentia o toque no meu ombro. Ouvia ao longe a bronca que os gêmeos estavam levando e até Tommy perguntar a Dig se eu estava passando mal. Eu não estava completamente no meu corpo nesse momento, meu sangue gelado provavelmente havia congelado meus músculos também.

― Acho que é melhor levar eles para um banho. ― Diggle segurou na mão deles e saiu.

Como se pressentisse a tragédia, Felicity começou a me ligar. Ela tinha instalado câmeras aqui? Na dúvida, chequei as paredes, sem câmeras, apenas o bom e velho sexto sentido das noivas.

― Você quer ir pra casa também ou... ― Olhei para Thomas enxergando vermelho. Isso aí, a raiva estava derretendo o choque, mas não tinha tempo para brigar agora. Eu não ia desistir desse casamento. ― Okay, sair correndo para o lado de fora ― falou me seguindo a passos rápidos, eu limpando rapidamente onde havia sido atingida por glacê.

Entrei no carro, consultando o fichário página a página se havia algo que me ajudasse ali, mas nada de útil. Era o último, ali não haveria informações sobre o que Felicity decidiu com Oliver logo no início da preparação do casamento.

― A gente pode procurar comprar outro bolo ― sugeriu, depois de alguns minutos de silêncio dentro do carro. ― Ou mandar fazer, sei lá.

As sugestões eram tão absurdas que me faziam querer bater nele. Felicity foi muito detalhista sobre seu bolo, assim como seu vestido. Ela foi em todos os lugares da cidade, até limitar a dez, classificando por qualidade de sabor da massa, do recheio, cobertura, decoração e atendimento. Não era qualquer bolo, era o bolo.

― A gente pode ver se recupera aquele, não estava tão destruído assim.

― Para de falar comigo, por favor ― murmurei entredentes.

― Okay. ― Começou a batucar no volante, apenas por não conseguir ficar quieto um segundo sequer, igual meu celular com a ligações da minha amiga. ― Vamos ficar aqui por muito tempo?

― Felicity, vamos pra casa da Felicity.

― Pra casa da Felicity então.

Enquanto Thomas estacionava na frente da casa da noiva, peguei meu celular, que estava sendo ignorado dentro da minha bolsa, para mandar mensagem para que ela descesse e economizar o tempo de tocar a campainha.

Caitlin Joanne Snow, eu juro por Deus que se você não me retornar em dois minutos eu vou pro salão de festas! Se meu casamento está arruinado, você precisa me contar! ― Ouvi uma de suas mensagens, então cliquei na outra. ― Amiga, minha melhor amiga do mundo inteiro, a mais linda e perfeita de todas. Eu sei que você deve estar ocupada, mas entenda que se não me der alguma notícia, eu vou ter um infarto e não vai ter mais casamento. Me liga.

― Ela vai me matar, com muita dor e sofrimento ― lamentei ao ouvir as últimas mensagens. ― Só preciso pegar o telefone das confeitarias aprovadas, vai dar tudo certo, Caitlin.

― Seu nome do meio é Joanne? ― perguntou curioso, mas o ignorei.

― Fica no carro, eu já volto.

Quando Felicity abriu a porta, ela parecia muito nervosa e seu penteado apenas pela metade, vários fios escapando de seu coque, um forte cheiro de produto de limpeza na casa toda. Ela havia feito faxina? Quem faz isso no dia do próprio casamento?

― O hotel pegou fogo, não foi? ― estranhei a sugestão absurda, mas considerando tudo que estava acontecendo, bem que podia ser possível.

― Claro que não. ― Ainda não.

Entrei em busca do fichário, ele deveria estar em algum lugar na estante da sala, mesmo com Felicity não me deixando em paz com perguntas sobre o porquê do meu nervosismo e até revelando que, como eu já imaginava, Thomas mentiu e as alianças nunca estiveram com ele.

― Caitlin, já conseguiu os telefones das outras confeitarias? ― Thomas estragou tudo de vez, quando colocou apenas metade do corpo para dentro da casa.

Os olhos de Felicity quase saltaram das órbitas ao ouvir o que ele disse. Ele tentou disfarçar com sorrisos, piadas ou desvios, mas minha melhor amiga era mais inteligente que isso, sabendo na hora que havia algo de errado com seu bolo perfeito. E só para completar suas certezas, ela, como um verdadeiro lince, enxergou uma mínima gota de glacê que restou no cabelo dele.

― Isso é glacê no seu cabelo?

― Não, claro que não ― me apressei em correr até ele, colocando o boné de Oliver para cobrir os cabelos dele antes que lunática da Felicity fosse lá lamber para confirmar suas teorias, porque ela faria isso com certeza.

O despachei para fora, e por mais que tentasse convencê-la que tudo estava andando bem, nada era o bastante. Medidas desesperadas, com certeza já estávamos lá.

― Seguinte, respira fundo que vou te fazer um chá relaxante. ― Sem deixar mais margens para discussão fui para a cozinha.

Aquela noiva doidinha precisava de um calmante, um de verdade, chá não seria o bastante. Busquei em seu armário o chá, e lá estava, a solução dos meus problemas, ou ao menos desse problema. O frasco de remédios para insônia de Felicity.

Depois de preparar um chá de camomila e colocar o pó de um dos comprimidos dentro, me achei uma monstra. Eu devia mesmo dopar minha melhor amiga no dia do casamento dela? Uma amiga que se soubesse que não tínhamos mais ministro, nem bolo, nem crianças ensaiadas, nem alianças, nem uma cerimonialista sensata o bastante para não cair na conversa de Thomas Merlyn, surtaria? Melhor colocar mais um comprimido e me certificar que ela não acordasse antes que eu resolvesse tudo.

― Se você conseguir alguns minutos de sono vai ver que estará bem melhor depois ― orientei, já subindo com ela para pegar o fichário lá em cima.

― Boa sorte com isso. ― Segurou firme em mim, quando começou a reclamar de tontura. ― Nem o calmante e o vinho que tomei mais cedo conseguiram fazer com que eu sentisse pelo menos um pouquinho de sono.

― Espera. ― Parei bruscamente. ― Você já tomou um calmante hoje?

― Só um, mas nem fez efeito. ― Ela já se deitou, fechando os olhos.

Oh, não! Vinho e agora mais três calmantes, aquilo derrubaria até um elefante, imagina aquela pessoinha baixinha que Felicity era.

― Okay, okay, vai ficar tudo bem, Caitlin! ― falei comigo mesma. Pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans. ― Um problema de cada vez, vai ficar tudo bem!

Peguei o fichário e desci as escadas correndo, o desespero me tomando, nada ia ficar bem, nunca! O casamento estava arruinado.

― Ai, meu Deus. Ai, meu Deus. Ai, meu Deus! ― Cobri o rosto com as mãos ao sentar no carona do carro e fechar a porta.

― O que foi agora?

― Eu arruinei o casamento da minha melhor amiga, tá bom pra você?!

― Pensei que eu tivesse estragado tudo, estou mais tranquilo agora. ― Sorriu.

― Você não entendeu, eu… Não devia ter feito ― sussurrei, como se falar mais alto tornasse mais real do que já era.

― Se for algo ilegal, você sabe que vou ter que te prender, né?! ― Se virou na minha direção ainda sorrindo, mas quando percebeu que eu falava sério, parou. ― Tenho uma boa notícia, Diggle vai oficializar o casamento, acabei de confirmar com ele. ― Mostrou o aparelho. ― Jogar culpa nos pestinhas foi uma boa solução. Agora respira e me diz qual problema devemos adicionar a nossa lista?

― Não, não pensa nisso agora, Caitlin, vai ficar tudo bem. Pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans ― repeti meu mantra pessoal.

― O que você está falando, criatura?

― É meu mantra pra acalmar, coisas que me deixam feliz. ― Fechei os olhos e puxei uma inspiração profunda. ― Pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans. Pudim de leite, filhotes de Golden, Chris Evans.

― Chris Evans não é grande coisa ― desdenhou.

― Thomas, é o seguinte… ― Me virei pra ele. ― Nós temos duas horas para começar esse casamento. Não temos ministro, não temos bolo e a noiva está em outro mundo essa hora com todos os calmantes que coloquei no chá dela. ― A expressão dele mudou para surpresa quando falei a última parte. ― Estou com o número e endereços de todas as confeitarias aprovadas pela Felicity, então você vai dirigir o mais rápido que puder sem matar a gente ou sermos detidos pela polícia, okay?

― Fechado. ― Ele sorriu de lado, colocando o cinto. Também fechei a fivela. ― Só uma coisa…

― Hm?

― Não devia ter pedido isso pra mim.

Eu não devia ter pedido isso a ele, foi o descobri nos primeiros minutos, mas devo admitir que estava sendo eficiente. Nas confeitarias mais distantes eu ligava, nas mais perto, íamos pessoalmente, sem resultado positivo ainda.

― É impossível, um bolo de casamento leva três dias para ser feito, não vamos encontrar um agora. ― Conferi em meu relógio de pulso. ― Falta uma hora para o casamento. ― Me encolhi no banco, mordendo as unhas dos meus dois polegares.

― Quer fazer uma oração? ― sugeriu ao olhar de relance para mim.

― Só dirige, por favor, temos ainda mais dois lugares para ir, os dois últimos lugares para ir. Nossa última esperança.

Quando entramos no estabelecimento, nem o cheiro bom de chocolate e as cores pastéis da penúltima loja serviram para me acalmar.

― Boa tarde, meu nome é Tamara, como posso ajudar o lindo casal? ― Uma jovem oriental nos recebeu na porta.

― Não som…

― Deixa que eu falo, querida. ― Empurrou meu ombro para trás de si, e tomou a frente, me olhando como se não tivéssemos tempo para explicar toda a nossa relação. ― Queremos um bolo de casamento.

― Ótimo, eu posso mostrar vários modelos e sabores. Vocês têm alguma preferência?

― Não, doçura, você não entendeu ― sorriu charmoso, invadindo seu espaço pessoal, o antebraço sobre o balcão. ― A gente quer um bolo de casamento para hoje, mais especificamente 17h, hotel Deluxe, salão de eventos C.

― Seu noivo está brincando, certo? ― Ela riu nervosa, apontando para Thomas.

― Primeiro de tudo, ele não é meu noivo, Deus me livre, eca. Nojinho. ― Fiz sinal com meu indicador em direção à minha garganta. ― Segundo, infelizmente não é brincadeira, você pode nos ajudar ou fica muito difícil dar uma resposta tão simples?

― Você falar assim com as pessoas não resolve, Snow ― me repreendeu.

― E você dar em cima de todo mundo também não!

― Na verdade... ― Tamara saiu de trás do balcão, consultando uma prancheta.

― O flerte dele funcionou? ― questionei chocada. ― Por mim tudo bem. Vai, leva ele pra casa. ― Empurrei Thomas na direção dela.

― Eu só ia dizer que temos um bolo. ― Recuou um pouco. ― Um casal havia encomendado, mas ela descobriu uma traição ontem, vocês acreditam? Casamento cancelado, já íamos ligar pra os eventos de hoje, ver se alguém queria um extra ― explicou.

― Branco, três camadas? ― perguntei, sentindo a onda de excitação me dominar.

― Sim, a maioria dos noivos querem assim.

― Graças a Deus pelos cafajestes iguais a você, Merlyn! O casamento está salvo! ― gritei com as mãos ao céu, abraçando a mulher em seguida.

― O que minha colega escandalosa quis dizer, foi... Sentimos muito pelo casal e vamos querer o bolo, obrigado. Agora solta a moça, Snow. ― Me afastou pelos ombros dela, que me olhava assustada.

― Delivery, por favor ― completei com calma, sorrindo inocentemente.

Thomas pagou, e não fez mais do que obrigação, já que a culpa foi dele por não supervisionar as crianças como deveria e quando íamos embora, ele me dispensou para ir na frente, porque ainda tinha coisas para fazer lá dentro.

― Tava pegando o telefone daquela garota, não estava? ― Desencostei do carro quando ele voltou, abrindo a porta do carona.

― Me conhece tão bem ― cantarolou, entrando no banco do motorista. ― Pra onde agora?

― Floricultura e pronto.

― Partiu.

Pegamos o buquê de Felicity, os das damas de honra, as flores para as lapelas dos padrinhos e noivo e já deixamos tudo no salão, avisando para Zoe que um novo bolo seria entregue em breve.

― Pro meu apartamento agora?

― Só encosta antes em uma farmácia, preciso da minha enzima da lactose e do meu remédio da alergia. Todo esse estresse tá ferrando com minha imunidade.

― Você é toda estragada por dentro, né?

― Cala a boca. ― Neguei com a cabeça, rindo de leve.

Ainda demoramos mais do que o planejado na farmácia, já que Thomas passou dez minutos escolhendo shampoo e não chegava a lugar nenhum, até eu pegar qualquer um e passar junto com minha compra.

― Se meu cabelo ficar ressecado, a culpa é sua ― ameaçou, abrindo a porta do próprio apartamento.

― Me culpe, não me importo. Só preciso ver se as alianças estão seguras.

Ele foi ao quarto e logo voltou com a caixinha em mãos, abrindo para me mostrar os dois círculos dourados.

― Feliz?

― Cadê o Oliver? ― me dei conta dos dois smokings ainda em cima da poltrona.

― Você disse uma hora de antecedência, já deve estar lá.

― Pelado? ― Apontei para o saco preto. ― Thomas, cadê o noivo? ― perguntei pausadamente, quando na verdade estava uma pilha de nervos de novo.

― Calma.

― Não dá pra ficar calma! ― Sentei no sofá hiperventilando. ― Não temos ministro, quase não temos um bolo, a noiva está dopada e o noivo sumiu! Não vai ter mais casamento!

― Exagerando como sempre, olha só... Dig vai ministrar, o bolo está a caminho, dá umas super doses de café pra Felicity e o Oliver? O Oliver, vou ligar pra ele agora mesmo. Viu como estou resolvendo tudo hoje? Viu?

Discou algo em seu celular e já colocou no ouvido. Na mesma hora senti algo vibrar debaixo da almofada. Peguei o celular com uma foto de Thomas brilhando na tela.

― Alô? ― atendi.

― Oliver? ― questionou franzindo a testa.

― Não, não é o Oliver! ― gritei para o aparelho, o desligando.

― Caralho! ― xingou mordendo o punho fechado

― Quer saber, não vou me estressar com isso. ― Fiquei de pé, pegando minha bolsa. ― Faltam só quinze minutos para o horário marcado, eu ainda estou toda desarrumada e o noivo é função sua.

― Mas…

― Se vira!

A companhia de Thomas durante o dia me ensinou um ou dois maus hábitos, e fiz uso deles para ultrapassar todos os limites de velocidade e estar em casa me arrumando.

Tomei um banho rápido, soltei meu cabelo do coque que ele ficou preso o dia inteiro, arrumei as ondas por cima com o babyliss e prendi uma parte com uma fivela dourada, fiz uma maquiagem simples apenas com o batom vermelho, colocando o vestido de madrinha e um casaco já prevendo o frio da noite que se aproximava.

Quando cheguei na casa de Felicity, tudo estava escuro e ela ainda dormia. Ótimo, noiva ainda abatida. Liguei para as outras madrinhas clamando por socorro, e logo todas elas estavam lá.

― Três comprimidos, sério, Cait?! ― Thea estava com as mãos na cintura, com um beicinho de pena para Felicity na cama.

― Eu sei, desculpa! Mas ela estava muito nervosa, e… E como eu ia adivinhar já tinha tomado um mais cedo?

― Tudo bem, vamos pensar… ― Todos olhamos com a atenção para Sara, talvez uma boa ideia viesse dali. ― Como acordar uma noiva que foi dopada pela dama de honra? ― Começou a gargalhar na minha cara.

― Isso não é engraçado, Sara ― a recriminei.

― É um pouquinho sim.

Meu celular anunciou a chamada de um número desconhecido. Se fosse algum problema com o buffet ou qualquer outra coisa, podia me enterrar agora enquanto Felicity ainda estava dormindo e lhe poupar o trabalho de me matar com as próprias mãos.

― Quem é?

O salvador do casamento ― reconheci a voz e o tom de deboche na hora.

― O que você quer, Thomas? ― Bufei.

Achei o noivo, estaremos lá em meia hora ou menos.

― É melhor estar. ― E desliguei.

― O que meu irmãozinho queria?

― Dizer que achou o Oliver e já está quase a caminho da cerimônia.

― Oliver tinha sumido? ― Kara questionou. Todas me olhavam com surpresa.

― Só um pouco ― Tentei escapar pela tangente, quando percebi que já tinha falado demais.

― Igual Felicity está "só um pouco" dopada? ― Thea deduziu. Encolhi os ombros diante da pergunta. ― O que aconteceu hoje o dia todo, Caitlin?

― Vocês nem vão querer saber ― falei cansada, me jogando na poltrona.

Curtis chegou com os super expressos e energéticos, e depois de algumas sugestões absurdas, um sopro de esperança iluminou meu coração quando a vi se mexer. Corri até lá, sentando ao seu lado na cama e segurando sua mão.

― Amiga, abre os olhos ― supliquei.

Ela o fez, mas de um modo tão letárgico que não ia funcionar levá-la assim a lugar nenhum. Convoquei todo nosso esquadrão para seguir um novo plano, onde Kara e Thea a arrumavam novamente, e Curtis e Sara tentavam acordá-la, e logo estávamos no carro a caminho do hotel.

Ainda foi preciso dar várias voltas no quarteirão do hotel já que, sabe-se lá Deus a razão, Oliver e Thomas estavam ainda mais atrasados que a gente. Quando Felicity começou a dar piti, decidimos entrar e esperar lá dentro mesmo, só que a confusão só ficou maior, quando adicionamos Donna e os gêmeos àquela equação maluca. Despachei todos para o salão, ficando só eu, a noiva e a mãe desta.

― Então porque ele ainda não chegou? ― ela falava inconformada. ― Eu sei que noivos podem ter desses surtos na véspera, vocês não assistiram o episódio do casamento da Mônica com o Chandler? ― Os surtos da Felicity eram os melhores, e mesmo que eu, assim como Sara disse antes, estava para começar a dar outra festa do desespero, só consegui sorrir. ― Para de rir, isso é sério!

― Ele não fugiu, okay? Quer saber, vou falar com o Thomas, tenho certeza que o atraso do Oliver é culpa dele. ― Peguei o celular do bolso para ligar para ele, o que foi inútil, já que todas minhas ligações estavam sendo rejeitadas na cara dura.

― Por que você não me atendeu? ― Estapeei seu braço quando chegou, em busca de respostas. Já fazia quase uma hora que ele havia dito que tinha encontrado Oliver, o porquê de demorarem tanto era um mistério para mim.

― Sai fora, garota, você não é minha mãe ou minha esposa, não tenho a menor obrigação de te atender ― retrucou malcriado.

― Você é um imbecil, cavalo! E o noivo, cadê?

― No altar, claro, onde todas as ovelhas para o sacrifício costumam ficar esperan… Donna Smoak! ― Rolei olhos quando ele parou a frase no meio para ir dar em cima (como sempre) da mãe de Felicity.

Aproveitei o momento para ir avisar que podiam começar a tocar a marcha nupcial e as crianças entrarem logo, para adiantarmos a bendita cerimônia antes que tudo começasse a dar errado de novo. Tirei meu casaco para arrumar meu vestido, já que aquele modelo ombro a ombro facilmente saia do lugar.

― Pronto, já podemos começ… ― Thomas veio até mim, mas por algum motivo, parou de falar e ficava me olhando estranho. Doido.

― O que é? ― cobrei uma resposta.

― Nada. ― Balançou a cabeça para os lados, como se afastasse qualquer que fosse o pensamento que o atingiu. ― Melhor a gente dar a volta e ir lá pra frente. ― Assenti com a cabeça concordando, mas ao olhar para seu rosto, ele estava com a testa encharcada de suor.

― Espera, você está todo suado, vai ficar brilhando nas fotos. ― Usei a manga do meu casaco para impedir que aquele maluco, que resolveu fazer exercício logo agora, saísse como um vampiro de Crepúsculo em cada clique. ― E olha essa gravata, toda torta! ― Me aproximei para ajustar a gravata borboleta mal amarrada. ― Vai, me diz o que aconteceu com vocês dois ― cochichei.

― Oliver ficou trancado no meu porão o dia todo por causa de uma porta com defeito e depois o shampoo que você comprou na farmácia tinha colorante verde. Deu um trabalhão pra tirar.

― Que casamento amaldiçoado, eu hein? Se alguém falar o nome “madrinha” perto de mim de novo, eu fujo para Nárnia!

― Madrinhazilla ― brincou, e eu bufei.

― Você está pronto, podemos dar a volta. Espera aí... Thomas, suas mãos estão verdes? ― questionei, já deduzindo que se devia ao caso da tinta verde.

― Okay, eu não vou entrar nessa das mãos coloridas e ninguém vai dar a volta. ― Felicity chegou até nós, segurando a saia do vestido. ― A música já está tocando há horas, ou os dois entram por aqui ou não entram mais!

― Uau, ela sempre foi brava assim? Talvez devesse dar outro daqueles seus chás a ela. ― O olhei de cara feia. Não conseguia manter a boca fechada.

― Você não precisa comentar tudo, Thomas.

Reclamamos em cada segundo que nossos braços se tocavam para caminhar para aquele altar, mas se não tinha mais jeito, era melhor só ir. Ainda tivemos o atraso já que Thomas não poupou Felicity de um último surto quando mentiu que o ministro havia morrido, mas logo assumimos nossos lugares ao lado dos outros padrinhos e madrinhas lá em cima.

O casamento em si só estava começando, eu ainda tinha muito pela frente para supervisionar, mas só de ver o olhar de Oliver para Felicity e vice-versa quando ela entrava, fazia tudo valia a pena. Havia sido um dia de cão, mas eles estavam felizes e era só isso que importava no fim das contas.

~

― Agora teremos o brinde do padrinho e da madrinha. ― Zoe anunciou ao microfone.

Me surpreendi com o anúncio, já estávamos lá? Ergui o rosto da prancheta, meu olhar cruzando com o de Thomas, que estava do outro lado do salão, por apenas um segundo, e já li suas intenções. Não, não importa nossa trégua, não ia deixar que ele falasse primeiro.

Foi como se alguém tivesse balançado aquelas bandeirinhas para dar largada a uma corrida, por logo nós dois nos direcionamos para lá com a maior velocidade possível.  Eu estava mais perto, mas ele não usava salto alto ou um vestido, a pobre cerimonialista recuando e protegendo o rosto quando quase a atropelamos ao chegar lá ao mesmo tempo.

― Me dá o microfone, Thomas ― exigi, quando ele roubou o objeto. ― Eu cheguei primeiro.

― Ficou doida, eu cheguei primeiro, eu vou falar primeiro!

― Todo mundo viu aqui que eu cheguei aqui primeiro, em saltos altos! ― Apontei genericamente ao redor. ― Me dá essa coisa. ― Lhe estendi a mão.

― Alguém aí estava filmando? Eu exijo conferir com o vídeo arbitragem!

― A gente não tem isso em um casamento, obviamente.

― Eu não vou te entregar essa coisa, então dá um passinho para trás, madrinhazilla. ― Grunhi quando ele tomou a frente. ― Boa noite, pessoas incrivelmente bem vestidas! Excelência, você por aqui, Tommy Merlyn, lembra? ― Apontou para si mesmo e eu baixei a cabeça, com vergonha alheia.

― Vai rápido com isso, eu quero falar! ― O apressei.

― Meu momento, Snow, meu momento! ― falou entredentes olhando para trás. ― Felicity, quando eu conheci, eu te odiei. Eu meio que ainda odeio, sério, uma advogada de defesa? Quando o problema de todas as outras mulheres, cara, olha pra você poderia conseguir algo bem... ― Lhe dei um beliscão nas costas. Onde ele ia com aquela história? ― Enfim, você me mostrou que não é a pior pessoa, quando me apresentou a sua melhor amig... Para de me beliscar! ― brigou comigo, todo mundo caindo na risada. ― Aceitei você, porque nunca tinha visto Oliver tão feliz e nunca tinha visto ele tão feliz como hoje. Ollie, você é meu melhor amigo no mundo inteiro, nunca passamos mais do que três dias sem nos ver, desde de crianças. Você é minha rocha, e agora casou com essa daí e vai viajar por um mês... ― Engoliu seco, parecendo prestes a chorar. ― Vai viajar por um mês e eu vou ficar aqui sem você... ― Sua voz ficou chorosa e eu não acreditava no drama que aquele ser estava fazendo, até Oliver e Felicity estava ficando constrangidos. ― Ainda dá tempo de comprar passagens para Aruba?

― Cara, olha a vergonha ― falei baixinho atrás de si.

― Ao Oliver e Felicity! ― Todos repetiram suas palavras e erguendo as taças.

― Já chega, né, queridão?! ― Tomei a dianteira. ― Boa noite a todos, para quem não me conhece, sou Caitlin Snow, a madrinha!

― Sem graça... ― cantarolou. O olhei feio, mas não lhe respondi como queria, me voltando às pessoas.

― Tem sido uma alegria assistir o amor de Oliver e Felicity crescer.

― Muito sem graça!

― Cala a boca, Thomas! ― briguei com ele, sorrindo em seguida para as pessoas que acharam que nós dois faziam parte do show de humor do evento. ― Muito obrigada aos dois por me deixarem fazer parte desse dia tão especial para vocês, e eu desejo que sejam muito felizes para sempre, assim como desejo que todos aqui sejam amados como vocês dois são. Então ergamos nossas taças ao Oliver e Felicity! ― Os convidados também repetiram o que disse. Quando me virei para trás, Thomas fingia que dormia, encenando até um ronco. Idiota.

Desci para receber um abraço dos noivos e voltei a tomar de conta dos detalhes da cerimônia.

― A área leste está com copos vazios, vão, vão, vão!

Estalei os dedos para os dois garçons, que foram prontamente para aquela direção, minha enxaqueca já ameaçando voltar. Já fazia mais de uma hora de desde o brinde, o jantar já havia sido servido e tudo já se encaminhava para o fim. Graças a Deus!

― Eles podem cuspir no seu copo, sabia? ― Kara se encostou ao meu lado no bar. Sorri fracamente para ela, depositando a prancheta sobre o balcão e soltando um suspiro cansado. ― Já pode relaxar, sabia? O casamento aconteceu, e foi lindo. Deu tudo certo, sua vez de aproveitar.

Tinha sido de fato lindo. Os votos deles com certeza haviam feito até o coração mais duro amolecer, os sorrisos e beijos trocados, as mãos que não se soltaram desde que se encontraram no altar, tudo sobre o casal irradiava amor. Teve a gracinha de Oliver na pista de dança, forçando uma situação comigo e o melhor amigo dele, mas logo procurei algo o que fazer, o que não foi difícil de achar.

― Não sinto que posso, é como se mais alguma coisa fosse dar errada a qualquer momento ― declarei.

― Não vai, e se der, deixa comigo. ― Kara pegou a prancheta de minhas mãos. ― O que não dá é essa nuvenzinha negra sobre sua cabeça e do Bar a noite toda. ― Sem combinar, olhamos na direção de Barry, que estava sentando sozinho em um dos sofás com cara de que só queria ir embora. ― Eu odeio vê-lo assim, sempre foi um dos mais animados das festas.

― Tadinho, eu sei como se sente ― falei lembrando de como fiquei quando Ronnie terminou comigo. Todos os sonhos e planejamentos de uma vida a dois sendo despedaçados por uma pessoa que, naquele momento, você nem consegue odiar por ainda amar tanto.

― Vem, vamos animá-lo. ― Me puxou pelo braço na direção dele. ― Bar, seu lindo! Vamos dançar? ― convidou animada, fazendo passinhos na frente dele, que fez uma careta. Toda felizinha, a dona do buquê.

― Não, valeu. Só estou esperando mais alguns minutos para ir embora desse lugar super romântico me lembrando do que não tenho mais.

― Nossa, que deprê.

― Deixa ele em paz, Kara ― falei sentando ao seu lado.

― Deixa ele, nada. E nem deixo você, vamos os três para a pista, eu só preciso que mudem essa música. ― Olhou na direção do DJ, que no momento, tocava uma música romântica e tranquila que embalava uns poucos casais. ― Está dando vontade de dormir. ― E foi correndo até lá.

― Ela não vai desistir.

― Quer saber, ela está certa. ― Fiquei em pé de um salto, antes que ficar muito tempo parada me fizesse não levantar mais. ― É o casamento dos nossos amigos, nada nem ninguém deve impedir que a gente se divirta ao menos um pouco.

Nesse momento, a música trocou e começou uma batida empolgada de metais, várias pessoas já se animando para irem para a pista de dança. Eu conhecia aquela música, era de um musical famoso e dava vontade de dançar apenas em ouvir as primeiras notas.

― Ah, eu amo essa música! ― Pulei no lugar, o ritmo também me dominando. ― I got chills, they're multiplying, and I'm losing control…

― Não, não, não. Você não vai confundir Grease com Hairspray na minha frente e esperar que eu fique calado. ― Ficou em pé revoltado. ― Você está cantando You're that I want, está tocando You can't stop the beat, e minha alma musical está sendo machucada bem agora ― dramatizou, batendo o punho fechado na frente do peito.

― Mas não é aquele filme com o John Travolta?

― Os dois tem o John Travolta!

― Venham! ― Kara chegou nos puxando pelo braço para o meio das pessoas. ― Sei que você ama um Twist, Barry, todo mundo gosta.

Começou a se movimentar no ritmo e vou dizer, ela era muito boa e sabia toda a letra, inclusive uns passos característicos. Eu só ficava me mexendo do jeito que achava que era certo (e claramente não era), e Barry parado no meio de todo mundo.

― Se mexe, garoto! ― Balancei os ombros dele.

― Posso me juntar ao grupo? ― Monel chegou abraçando Kara por trás, beijando seu rosto. ― Caitlin, você é muito ruim, Barry você está parado, e você está maravilhosa como sempre, meu amor! ― falou apontando para cada um de nós.

― Ofensivo ― falei.

― Já que estamos aqui, quer que eu te ensine alguns passos parar de passar vergonha em público? ― Barry propôs. ― É mais divertido quando a gente sabe ao menos um passo.

― Mais ofensivo ainda ― encenei drama. Geralmente eu ficaria com vergonha, mas tinha muita gente ali, eu seria só mais uma descoordenada que já havia bebido duas taças de champanhe no grupão de gente dançando. ― Tá bom, vamos.

― Okay, movimento básico do twist. Cotovelos para trás, tronco parado, mexe os pés em conjunto com os quadris, pra um lado e para o outro. ― Observei ele mostrar, e era algo que eu sempre via em coreografias dos anos cinquenta e sessenta, mas jamais conseguiria reproduzir, por mais que Barry fizesse parecer uma brincadeira.

― É, não vai rolar ― neguei, mordendo a unha do polegar.

― Claro que vai, é fácil. ― Imitei o que ele fez, mas só parecia que estava com algum tipo de dor forte de barriga. ― Okay, vamos pra um mais fácil, batendo com as mãos agora. Perna, perna, palma, palma, polegar pra direita, polegar pra esquerda e giro. ― Finalizou parando no mesmo lugar como um profissional, as palmas estendidas em minha direção.

― Isso é mais fácil? ― Ri de mim mesma, nunca ia conseguir.

― Tenta, já está acabando a música! ― me incentivou. ― Me segue. Perna, perna, palma, palma, polegar pra direita, polegar pra esquerda, giro e passinho. Você conseguiu! ― Me parabenizou quando fiz. ― Agora tudo junto, mais rápido e seguindo a música.

― Barry, eu não…

― Vem, Caitlin! You can't stop the beat… ― começou a cantar e conseguimos fazer os passos certinho, e no final ele me estendeu a mão, que peguei e girei até parar em seus braços, entre gargalhadas. A música e suas mágicas de levantar humor.

― Tem razão, é mais divertido. ― Olhei para cima, seu rosto tinha um sorriso e em seus olhos verdes de volta o brilho que já estávamos acostumados. ― Eu dancei! ― Os olhinhos dele ficaram pequenos quando seu sorriso ficou maior.

― Esse sim é o sorriso que gosto de ver ― Kara veio dançando para o nosso lado. Me soltei de Barry para ficar repetindo o que tinha acabado de aprender. ― Cait, cola nele que você vai aprender tudo sobre musicais.

― Incluindo diferenciar Grease e Hairspray?

― Não, o que ela disse? ― Kara ficou estática de repente e perguntou como se eu tivesse falado alguma blasfêmia ou coisa assim.

― Confundiu essa música com You're that I want, dá pra acreditar?

― Elas nem são parecidas e nem acontecem na mesma década!

― Eu sei!

― Papo nerd musical, você se acostuma ― Monel falou para mim.

Logo começou outra música animada, não de musicais ou antiga, mas ainda assim divertida de passar com os amigos, então logo Curtis e o marido se juntaram a nós no meio do salão. No final, Kara estava certa, eu precisava relaxar e mais nada deu errado.

Já era bem tarde quando todos começaram a ir embora, inclusive Oliver e Felicity. Me despedi os dois, que partiriam no dia seguinte para a lua de mel em Aruba. Roy havia me dito que tinha sido um presente de Moira, mas que Thea assumiu como se fosse seu para ser aceito sem problema pelos noivos. Prometi que ficaria até tudo ficar minimamente limpo e ser liberado e os coloquei em um taxi.

― Já despachei os noivos, você está livre ― avisei para Thomas, que se encontrava jogado em um dos sofás brancos mais do fundo da recepção, gravata borboleta desamarrada e smoking aberto de qualquer jeito, uma garrafa de champanhe pela metade em uma das mãos. ― Todos já foram embora também.

― Finalmente! Porque o Senhor continua honrando os justos! ― exclamou com o indicador para cima.

― Eu nunca entendi essa sua fixação por religião enquanto continua sendo um cafajeste despudorado! ― observei, segurando a barra do vestido para sentar no estofado. Meus pés já estavam me matando, dançar foi divertido, mas agora cobrava seu preço.

― Não, não! Senta aí não! ― Sua fala tão efusiva me fez olhá-lo com estranheza. ― Esse lugar aí está reservado para a garota que vai desfrutar da minha companhia essa noite, e você, queridona, não é ela. ― Tomou mais um gole direto no gargalo.

― Você é um imbecil, sabia? ― Me ergui para ir embora, seria pedir demais continuar uma trégua com aquele idiota quando não tínhamos mais um milhão de coisas pra nos manter ocupados de brigar.

― Relaxa, garota, estou brincando. ― Me impediu de sair, puxando meu pulso sem delicadeza alguma para voltar a estar sentada no sofá, mais perto dele dessa vez. ― Você é sempre essa chata que leva as coisas tão a sério?

― E você, nunca leva? ― rebati sem paciência. ― Aliás, melhor eu ir aproveitar essa deliciosa garrafa de champanhe em outro lugar, logo isso aqui vai virar uma versão decadente de um clube das mulheres em cima de você.

― Ei, fica! ― Franzi a testa estranhando o pedido, foi quando vi que ele falava e ria bobamente para minha garrafa. Descarado.

― Você já está bêbado, Merlyn?

― Só um pouquinho assim. ― Mostrou o indicador e polegar separados por uma pequena distância, seu rosto em uma careta engraçada. ― E fica de boa, sem versão de clube das mulheres por hoje, até já dispensei a... ― Franziu o cenho tentando lembrar o nome. ― Dispensei a menina que organizava as coisas, a gente só deu uns beijos e ela já queria ficar de grude e carinho.

― Gostar de quem te maltrata não é mentalmente saudável ― pontuei.

― Se me maltratar com jeitinho, por que não? ― Rolei olhos para o jeito malicioso como falou aquilo.

― Você tem uma capacidade de colocar um duplo sentido sujo em tudo que fala que deveria ser estudada, Thomas.

― É um dom. ― Sorriu. ― Enfim, estou exausto, tomara que mais nenhum amigo meu se case. Nunca mais.

― Experimenta fazer isso tudo em um salto de quinze centímetros ― reclamei, colocando a garrafa fechada entre nós e tirando as sandálias, fazendo uma rápida massagem nos pés, então me recostando de qualquer jeito no sofá. ― Pelo menos não fui eu que perdi o noivo no dia do casamento.

― Você dopou a noiva ― retrucou me acusando.

― Você deixou as crianças destruírem o bolo e o cabelo do noivo ficar verde.

― Cara, você dopou a noiva! ― falou mais alto, virando para mim, com uma perna dobrada sobre o sofá. ― Não tem como ser pior que isso.

― Acho que podemos concordar que somos péssimos nesse trabalho. ― Lhe concedi aquela pequena vitória, estava cansada demais para levar uma discussão adiante.

― Sei lá, acho que não. ― Deu de ombros, tomando mais um gole e voltando à sua posição inicial, bem parecida com a que eu estava agora, braços ao lado do corpo, cabeça no encosto do sofá encarando o teto. ― Tudo deu certo no final, não deu?

― Foi uma linda cerimônia ― concordei. ― E, eu vou negar que disse isso se contar a alguém, mas você foi bem hoje. Ajudou bastante ― falei ainda olhando para cima. Luzinhas bonitas!

― Foi pelo Oliver. E, eu também negarei até a morte, mas você não foi mal. Consertou um casamento quase arruinado e eles nem ficaram sabendo o que rolou.

― Trouxas apaixonados. ― Olhei de relance para o lado e Thomas tinha um pequeno sorriso no rosto, que acabei retribuindo sem que ele visse.

― Pega, fez por merecer. ― Me ofereceu sua garrafa, que aceitei.

― Qual o porquê da gentileza?

― Sei lá, pena de você estar aí jogada como um trapo de gente no fim da festa. Ah, e interesse na sua garrafa cheia.

― Canalha idiota ― resmunguei dando um tapinha em seu braço com as costas da mão, tomando uns três goles. Estava com sede, cansada e aquela bebida estava deliciosa.

― Vai com calma, Snow, deixa um pouco pra mim. ― Um meio sorriso brincava em seus lábios quando ele virou sua cabeça que estava tombada sobre o encosto em minha direção.

― Prometi a Felicity que cuidaria dos últimos detalhes, mas não prometi que faria isso sóbria. ― Tomei mais dois goles, repetindo seu movimento de cabeça, só que na direção dele. ― Abre logo a outra.

― Aí sim. Você é uma das minhas!

Logo que a primeira garrafa se foi, caímos na gargalhada só com o barulho da rolha da segunda estourando, e no final dessa, eu já estava super leve e rindo à toa. E muito alta.

― Mentira, você usou a simpatia do limão e sal grosso?! Eu usei pimenta e vinagre! ― Talvez eu estivesse gritando, mas a esse ponto, a festa já estava quase vazia, só algumas pessoas da limpeza circulavam pelo local.

― Aquela mulher era uma charlatã, disse que funcionaria para separar eles ― falou a contragosto. ― Eu devia saber quando ela tirou uma carta de tarô de dentro da…

― Pelo amor de Deus, se essa frase for terminar do jeito que acho que vai, por favor, não termina! ― o interrompi, tapando os ouvidos com as palmas das mãos.

― Você que sabe, era uma boa história. ― Deu de ombros. ― Mas a coisa é que nada separa Oliver e Felicity, já desisti.

― O casal mais improvável que acabou se mostrando o mais apaixonado ― concordei com um suspiro. ― Droga, acabou! E nem fizemos um brinde com ela ― reclamei fazendo beicinho virando a garrafa de ponta cabeça, uma última gotinha pingando em meu dedo. Lambi minha digital, aproveitando daquele último gostinho, com uma concentração digna de um julgamento na Suprema Corte. Seria muito difícil conseguir mais alguma bebida a essa altura, não que meu fígado já gritasse para eu parar desde meia hora atrás.

― A que você queria brindar?

― Hm? ― murmurei distraída, me surpreendendo ao encontrá-lo encarando meus movimentos.

― O brinde. Seria a quê?

― Ah. ― Sentei melhor no sofá, virando um pouco em sua direção, erguendo a garrafa vazia. ― A Oliver e Felicity, que sejam felizes como merecem ser. ― Thomas pegou a outra também vazia, que estava a seus pés, e ergueu.

― Ao champanhe, que nunca vou admitir que gosto tanto. E a todas as outras bebidas também, pras coitadas não se sentirem rejeitadas!

― Aos bolos de casamento destruídos, cabelos verdes, calmantes em chás e portas de porões com defeitos! ― gritei rindo sem motivo algum.

― A esse tal de amor, que une até os casais mais improváveis.

― E às tréguas que a vida nos obriga a dar! ― concluí.

― Tipo eles dois, ou tipo, você e eu? ― perguntou erguendo uma sobrancelha, um sorriso no canto dos lábios, seu indicador deslizando do meu ombro por meu braço. Estranho, ele não costumava me tocar.

― Tá flertando comigo, Thomas Merlyn? ― respondi sua pergunta com outra, soando surpreendente divertida. Devia ser a bebida.

― Estamos bêbados o bastante para isso? ― Se aproximou, o braço tomando um lugar no encosto atrás dos meus ombros. E eu não me afastei. Eita, bebida! ― Caitlin, me diz uma coisa ― sua voz ficou mais baixa, quase um sussurro ao meu ouvido.

― Bêbada o suficiente para dizer até duas. ― Apontei para mim.

― Até quando vai durar nossa trégua?

― Por que quer saber? ― Minha boca estava seca, o que constatei quando precisei umedecer os lábios com a língua, o assistindo de perto fazer um movimento parecido.

― Só pra saber se dava tempo de fazer isso.

Sem mais nenhum aviso eu já tinha seus lábios nos meus e eu retribuindo seu beijo em seguida. E meu único consolo é que, dado nosso nível alcoólico, amanhã não lembraríamos de nada e seria como se nunca tivesse acontecido.


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Notas finais do capítulo

E esse final, meu povo?! Chocada em Cristo!! E se estão se perguntando, eles não vão lembrar, ninguém vai descobrir e será um segredo só nosso, tá bom? Mas mesmo sem memórias disso, vai mudar alguma coisa em SnowMerlyn? Sim!! Afinal, foi um dia inteiro juntos e ninguém morreu ou foi hospitalizado, se isso não é pelo menos uma amizade, não sei mais o que é.
Ah, uma recomendação... Se tiverem algum tempo, releiam todos os capítulos do casamento em sequência agora, para observar os detalhes que coloquei com muito cuidado neles. Sem dúvida, são os meus preferidos!!

Agora um assunto bem sério com vocês...
Pictures of Us entra oficialmente em um hiatos depois desse capítulo. Não será longo, prometo, mas preciso desse tempinho para organizar como será a próxima parte, os acontecimentos, quem entra e quem sai da história e por aí vai, espero que entendam. O casamento foi como a Season Finale da primeira temporada de POU.
Daqui a pouco estarei postando um capítulo especial, tipo Behind the Scenes, de como tudo foi construído, sobre os personagens e o que teremos mais para a frente. Não terá influência para o andamento história, mas pode abrir a mente de vocês mais um pouco sobre como funcionou a minha cabecinha ao criar nossa estrelinha.
Ah, Ellen, mas não vai ter lua de mel? Sim, serão os primeiros capítulos na volta. E a delegacia e a defensoria, como ficam? E SnowMerlyn? E Mia? Calma, calma, minha gente, apenas confiem em mim. Coisas lindas estão por vir.

Fiquem de olho, estarei compartilhando em breve histórias que já estão escritas há um tempo, só pra não morrer de saudade de vocês. Muito obrigada para quem tem acompanhado até agora, tem sido uma alegria e um prazer poder compartilhar essa história com vocês. E se acham que ela merece, favoritem, compartilhem, recomendem!! Me deixaria muito feliz e inspirada!!
Vejo vocês nos reviews.. Bjs*



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