Kadamon, A Travessia escrita por Kyrion


Capítulo 11
Canto 11




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O fim da escada desembocava em um pequeno corredor, com uma porta lateral aberta. Empurrando-a sem ruído, Kyrion viu-se em um aposento amplo como o atelier embaixo dele, com chão e paredes de madeira. Tinha muitos pufes, cadeiras e um largo sofá. Uma mesa grande, com oito cadeiras, indicava que por vezes o quarto era frequentado por um grupo numeroso, ou o fora em outros tempos. Aqui e ali também havia grandes e belos vasos de planta, além de cinco belos quadros pintados provavelmente pelo próprio senhor Arborie. Contemplando um deles, as mãos cruzadas nas costas, estava Nokto.

 

“Esse quadro foi pintado na juventude do senhor Arborie. Se sua técnica ainda não estava madura, a intensidade das cores distrai o observador deste detalhe.” Nokto enunciou sem se virar. Seus ouvidos de músico haviam feito o que seus olhos não poderiam, anunciando sua companhia.

“De fato, é belíssimo nas cores. Especialmente o céu.” Disse Kyrion, aproximando-se do quadro para inspecionar. Era uma tela média, retratando uma ilha contra o pôr do sol marinho. A julgar pela ondulação suave das águas, era um momento bastante pacífico para aquelas orlas estrangeiras.

Kyrion sentiu o amigo virar-se, mas não para encará-lo. Seus olhos deviam pousar no instrumento às suas costas. “Não devo retardar o encontro dos amantes. Aqui está seu instrumento, Nokto.” Ele passou a alça sobre a cabeça e estendeu o instrumento ao amigo.

O outro o pegou com suavidade, pousando olhos serenos em seus contornos. Era um olhar de cumplicidade. Dirigiu-se a uma cadeira no outro lado do quarto, ignorando todos os outros assentos disponíveis, e lá se sentou, como se já o tivesse feito um sem número de vezes. Kyrion pensou que aquele devia ser seu pouso habitual para a música, e a cadeira fazia parte de seu significado. Lembrou-se do que o velho Arborie disse sobre caprichos de artista.

“Venho aqui desde que era pequeno, para praticar. Cheguei a Kadamon com poucos anos de vida, tutelado por um ser maravilhoso, a quem devo tudo o que sei. Infelizmente, ele já partiu.” Nokto disse sem encarar o companheiro, mirando algum ponto do chão. Sua voz era macia, mas não dolorida. Kyrion temia interromper esse momento tão raro de intimidade com perguntas indesejáveis, preferindo deixar o outro falar. Alojou-se em um pufe próximo, e continuou ouvindo.

“Aqui eram reunidos vários músicos, em momentos de criação muito intensos, às vezes por dias inteiros sem pausa. O senhor Arborie era não somente gentil, solícito e paciente com esses encontros, como também se dizia grato por serem todos uma eterna fonte de inspiração para suas obras. Infelizmente o grupo já se havia diluído quando alcancei habilidade o bastante para acompanhá-los.”

Kyrion atreveu-se a perguntar “Ainda habitam Kadamon, esses músicos?”

“Tenho contato com três deles. Com um quarto, mantenho por cartas e este, por sua vez, conta-me as notícias que tem de um quinto. Outros dois não sei como encontrar. Meu tutor, como disse, já partiu.”

“E por que não tenta reagrupá-los para criarem juntos agora?”

Essa pergunta, Nokto ignorou. Em vez disso, adotou a posição correta para tocar o instrumento e disse apenas. “Vou ver se ainda sou digno de acompanhá-lo, Bastian.”

Seus dedos montaram o primeiro acorde e sua canção começou.

***

A canção tinha um começo suave, mas o grande conhecimento de Nokto se fez evidente prontamente. Ele estendia a vibração de uma única corda dentro do arranjo, ou fazia o som permanecer mesmo quando parecia soltá-lo. Conseguia arranhar as cordas como faria o arco de um violino. Seus dedos não se esbarravam nenhuma vez em seu perfeito bailar. Kyrion, que esperava ver uma transformação completa de seu amigo sisudo enquanto tocasse – de onde tirou tal ideia? – viu com surpresa que ele em nada se alterara. Não havia qualquer tensão gerada pela falta de prática, ou qualquer timidez com seu espectador. Em seu rosto havia pura concentração, quase contemplativa, como se lesse um de seus livros favoritos.

Essa canção tinha um sabor completamente diferente de tudo o que Kyrion ouvira ou tocara até então. Era lenta de uma maneira que soava imponente, e não melancólica. Seu arranjo o fazia pensar em épocas de guerra, na imponência dos reis, no desfilar de uma realeza rutilante de joias, em bailes vaidosos e promessas falsas. Parecia coberta com a poeira das coisas perdidas, mas cujo brilho se negava a apagar. Talvez como os olhos do próprio bibliotecário.

Então tomou nova cadência, trazendo um tom orgulhoso, um porte vitorioso, um marcar de passos que se assemelhava a uma marcha. Kyrion imaginou um exército armado, o peso de suas posses e proteções, os brados confiantes de seus guerreiros, a condecoração meritória de seus líderes. Tinha a vibração profunda e curiosa da violência revestida pelo brilho fugidio da prepotência.

Essa agressividade cresceu em tom, as cordas mais graves tendo sua voz elevada a nova intensidade. Esse exército marchava para a guerra, para o enfrentamento, defendendo os monstros que queriam corromper seu modo de vida, ofuscar seu brilho, roubar-lhe a glória. E uma corda aguda marcou o primeiro som metálico das espadas.

Kyrion, que já estava embevecido pela canção, sentiu dentro de si algo despertar com aquele ruído rascante. Concentrava-se ao mesmo tempo no deleite de ouvir e no espanto com a habilidade crescente do amigo que tocava. Sua mão deslizava, frenética, pelas cordas, compondo o mover dos milhares de soldados. Quem ouvisse, poderia crer que havia não um, mas ao menos três músicos, tamanha a variedade e velocidade dos tons produzidos por aquelas mãos magras e longas. A dezena de cordas desdobrava-se em infinitas notas, brotando mais e mais antes que as anteriores pudessem morrer no ar ou contra as paredes do quarto.

A batalha tornara-se um terror, e o exército via sua prepotência ruir, cruelmente apunhalada. Seu orgulho fugira, belo demais para vestir-se com a derrota iminente. A guerra nada tinha da beleza anunciada, mas era uma realidade fria e monstruosa, de aço, sangue, e lama. De lâminas, suor e coragem.

As mãos do artista, impassíveis deusas que teciam o destino daqueles que guerreavam, não se comoveram de sua má sorte. Anunciaram, num arranjo triunfante, sua derradeira queda; proclamaram os vitoriosos e coroaram os inimigos. Terminaram anunciando uma paz vindoura, em que o país estrangeiro tornava-se mestre e as guerras cessavam. O monstro tornava-se não esfinge destruidora, mas um sábio dragão que muito tinha a ensinar a este povo orgulhoso e vazio. E os últimos acordes guardavam a promessa de tempos melhores para o povo conquistado.

A última nota soou. Kyrion piscou e lembrou-se do quarto, de Nokto e tudo o mais.

“Precisei começar leve. Não poderia me forçar a algo muito difícil, assim de primeira...”

O mendeva não conseguiu responder ao amigo. Apenas lhe ergueu os olhos, pensando se somente ele notava que as pessoas ali diziam coisas absurdas. Com enorme frequência.

***

“Isso foi... incrível. Nunca ouvi nada parecido. E a maneira como incentiva a imaginação...!”

“Bom, diferente dos prodígios que você cria com sua música, Kyrion, não sou capaz de formar imagens. Cabe a cada um formular na mente aquilo que quer, com pequenas dicas. É bem mais pessoal.”

“Mas eu jamais conseguiria tocar dessa forma! Foi brilhante!”

 

“Obrigado. Mas não exagere; talvez você tenha a eternidade para praticar, enquanto tive apenas minhas poucas décadas.”

“Isso só confirma o que eu disse! É pouco tempo para adquirir tamanha habilidade!”

“Apenas tive um bom mestre. Basta isso.”

“Mas como pode dizer que quis começar com algo fácil, tocando algo dessa complexidade?”

“Dizer que algo é fácil não é dizer somente quanto ao seu nível de sofisticação.

Disse fácil – para mim – porque essa música é de minha composição...” “... sua composição...?”

“...sendo portanto bastante familiar, enquanto as compostas por meu tutor me são... bem mais difíceis.”

“...Mas gostaria de tocá-las também?”

“Sim... eu preciso.”

“Precisa?”

“Foi uma promessa. Eu preciso vencer isso em mim.” “Elas são tão difíceis assim?”

“Sim... e se ainda consigo tocar, quero pegar a mais difícil de todas. Tem um arranjo muito mais simples do que essa. Mas ainda assim...”

Kyrion nunca vira Nokto interromper uma frase para suspirar. Na verdade, aquele era um dia cheio de singularidades para Nokto. Mas talvez a mais estranha delas – e talvez a mais sutil – foi o que suas mãos mostraram por uma fração de segundo antes de adotar a primeira posição da canção. Hesitação.

***

O começo dessa canção era tão suave que mal se podia ouvir. Notas longas, sussurrantes. Não parecia sequer um som. Era um olhar.

Um olhar muito triste.

Essa tristeza dava passos inseguros, querendo se aproximar, mas afastando-se. Era uma tristeza dividida, porque queria ficar, mas haveria de ir-se. Precisava. Tinha a natureza fraturada daquilo que deseja fortemente, mas que é confrontado com uma realidade muito diferente. Não era uma tristeza perdida. Tinha uma noção muito clara sobre seu destino. Apenas repudiava-o. Queria ficar.

Aquele sentimento característico manifestava-se de muitas formas. Carregava consigo o ar solene de um funeral. O tatear confuso da frustração. A melancolia inerente a toda saudade. O férreo peso da resignação. Mas tudo isso era perpassado por um tom mais cortante, que feria de forma quente, mas suavemente.

Era amor.

A canção bailava sua valsa funesta, sombria, tentando acalentar alguma esperança, alguma ilusão. Erguia-se de promessas de areia ao alcance da maré. De palavras de nuvens ao sabor do vento. De compromissos coloridos em bolhas de sabão. Tudo nela partia e se perdia.

Sobrevinha um frenético estertor de negação. Uma barreira intransponível de vontade. Mas esta liquefazia, agonizava e ficava, mansa e obediente, sob o jugo de uma decisão fora de alcance. Isto doía, ferroava. Uma dor que não cresceria, mas pulsaria, talvez eternamente.

Não era uma canção longa, por mais profundos que fossem seus significados. Ela reuniu tudo o que tinha e apresentou-se, sem máscaras ou muros, sem mentiras. Veio novamente   como   tristeza,   de   olhos   resilientes   e   mãos   carinhosas,   desta   vez aproximando-se, sem dar passos atrás. E quanto mais perto chegava, mais fácil era amá- la, e mais lancinante era a dor de sua presença. Se essa tristeza falasse, diria “Você é importante para mim.” Se suas lágrimas falassem, diriam “nunca mais”.

Era tão clara, tão luminosa essa dor! Desde a primeira nota, todas elas, disseram seu nome ao Kyrion. Mas foi a última que trouxe o verdadeiro peso de todas as outras. Foi o silêncio que se seguiu, vazio, que tornou realidade o que a música quis dizer todo o tempo.

Era uma despedida.

Os olhos turquesa não conseguiam divisar nada, turvados de lágrimas. Apenas por uma sensibilidade infinita, puderam divisar que os olhos do músico, voltados para o chão, também estavam transbordando profusamente. Isso causou uma impressão tão profunda quanto a música que já se silenciara.

***

Kyrion lembrava-se de ter tirado delicadamente o instrumento das mãos do bibliotecário, que não opôs nenhuma resistência. Conseguiu guiá-lo até o sofá e fazê-lo sentar, sentando ao seu lado, e passando um braço ao redor do corpo do outro. Ele próprio saltava, com soluços contidos, enquanto o músico parecia perfeitamente relaxado, não dando mostras de seu turbilhão interior. Somente os olhos, fixos no vazio, traíam seu sofrimento.

“Essa canção... ele nunca mostrou a ninguém. Nem mesmo... a mim. Eu o flagrei tocando sozinho, aqui. Fiquei atrás da porta. Ouvi cada nota. Nunca mais a esqueci. Nem um instante sequer. Ela me é clara em cada tom, em cada nuance... Ela foi o presente que roubei dele. Só não me sinto tão culpado... porque desde o primeiro minuto eu soube que ela era para mim.”

Kyrion aproximou o corpo do outro, que colou o rosto a seu peito, molhando sua roupa com as lágrimas. Lá ficou longamente, sem torcer-se, gritar ou soluçar. Talvez estivesse muito petrificado para isso. Talvez não fosse a hora. De tudo o que se passava em seu interior, somente essas poucas palavras encontraram caminho por sua boca:

“Sinto falta dele Kyrion. Meu mestre. Eu o amei demais. E ele se foi.”

Os olhos do músico fecharam e Kyrion fechou os dele. Somente o instrumento Bastian fora testemunha da fragilidade que Nokto trazia em si mesmo.

***

O dia já se encerrara quando os dois amigos se puseram de pé para descer do quarto. Kyrion guardou o repouso de Nokto, apoiado em seu colo e as pernas recolhidas sobre o sofá. Nunca descobriria se o amigo dormira ou não, pois nada lhe denunciara. Mas ficou satisfeito de ver os olhos serenos e brilhantes quando sua cabeça se ergueu novamente para encará-lo.

“Obrigado.” Era uma palavra simples, com muito significado. O mendeva sorriu. Sabia que o amigo não falaria muito do ocorrido, ainda que não parecesse constrangido com o que aconteceu. Seu interior era inescrutável a qualquer um, se abrindo somente ao mestre que lhe causara tamanha impressão. Palavras de consolo eram desnecessárias; Nokto era muito sensato e sábio, compreendia tudo melhor do que ninguém. Ele superaria sozinho, aos poucos, cada vez melhor.

O novo brilho aceso em seu olhar parecia indicar que aquele episódio, mesmo triste, fora mais benéfico e purificador do que traumático, e agora seu espírito tinha melhores condições de lidar com sua saudade, sem o peso da dor que se negara tão ferrenhamente a liberar.

Desceram as escadas lentamente, e encontraram o velho Arborie trabalhando na mesma tela, como se tivessem subido ao quarto apenas por alguns minutos.

“Senhor Arborie, obrigado por ter-nos emprestado o quarto uma vez mais.” Disse Nokto, ajeitando os óculos no rosto.

O velho saiu detrás da tela, ainda com dois pincéis. Kyrion viu que tinha os olhos vermelhos e adivinhou a cena. O sensível senhor ouvira a música e tivera seu momento de pranto também.

“Eu é que lhe agradeço, jovem músico. Pudera eu ouvi-lo mais vezes!” sua voz trazia a rouquidão habitual, e não tinha tristeza “Quando a tela estiver pronta, mandarei imediatamente a você. Considere um agradecimento por me devolver a inspiração na pintura, sim?” O velho sorriu seu rosto vincado, e girou a tela inacabada para mostrar aos dois jovens.

Colinas verdes serviam de campo para os últimos sinais de uma batalha. Bandeiras estavam desfraldadas e lanças estavam fincadas no chão. Armas apareciam largadas aqui e ali. Mas a única personagem da tela não estava ferida, e figurava imponente na corcova da colina mais alta, observando os arredores. Era evidentemente um general do exército vencedor, com uma expressão pacata, satisfeita, mas pouco vaidosa. Sua armadura estava suja, e sua espada ainda pendia de sua mão. Kyrion percebeu com sua boa visão, que o general tinha o mesmo tom pálido de verde nos olhos que seu amigo bibliotecário fazia brilhar em seu rosto.

“Ainda não está pronta. Vou pintar o céu, colocar alguns detalhes. As árvores não me satisfizeram. Mas creio que será uma tela formosa, se me permitem a pouca modéstia.” O velho disse, satisfeito.

“Senhor Arborie, é magnífica. Gosto dela imensamente. Sou muito grato por sua gentileza.” Nokto disse, sorrindo um sorriso pouco mais largo do que Kyrion vira até então.

“Nokto, volte a tocar.” Kyrion disparou num ímpeto. “Não prometi tocar nada em breve. Sabe que não faço ensaios. De forma que é só emprestar-me novamente no dia em que me comprometer a criar alguma coisa. A música me serviu muito bem, mas fará ainda mais bem a você, que dela se nutre de maneira especial.”

O bibliotecário baixou os olhos por alguns instantes, antes de erguer o rosto outra vez “Tudo bem. Farei isso. Posso conseguir entrar em contato com o antigo grupo, e ver se algum deles se dispõe a tocar novamente. Pelos velhos tempos.”

O velho Arborie juntou as mãos, misturando as tintas de suas manchas. “Maravilhoso! Este lugar será um berço da arte outra vez!”

“Amanhã mesmo estarei de volta, senhor Arborie. Talvez em alguns dias, acompanhado de mais alguém do grupo.”

“Oh, vocês fazem muito feliz o coração deste velho! Jovem senhor Kyrion, muito obrigado por trazer meu músico de volta! Ah! Isso me faz lembrar...” ele precipitou-se para o fundo do atelier, onde várias telas sem molduras estavam recostadas na parede. Pegou uma pouco maior do que uma bandeja pela armadura de madeira, temendo sujá- la com as mãos. “Fiz-lhe uma promessa. Por favor, aceite, compreenda meu capricho, jovem senhor.”

Kyrion pegou a tela para vê-la melhor. Um lago, cercado por arbustos e árvores escuras ao anoitecer, todo em tons de azul. A única fonte de luz era o luar, vindo de uma lua cheia brilhante bem no centro do céu. A maior riqueza estava em seu reflexo, nas águas: no lugar da imagem da lua, uma figura alada, emanando uma energia sutil como uma névoa, braços estendidos como se desse uma bênção. Uma imagem de bondade e pureza.

“Muito obrigado, senhor Arborie! É uma pintura lindíssima! Vou colocá-la em meu quarto. Mas por que mereço esse presente?”

O velho pintor deu de ombros, dizendo apenas. “Merece-o, simplesmente. Fico feliz que tenha gostado. Ainda está sem moldura, mas pode escolher a que quiser no meu amigo Figas, apenas um andar acima de nós. Um andar da torre, quero dizer. Basta falar-lhe que é presente meu e ele a montará de bom grado”.

Kyrion adiantou-se e deu um abraço desajeitado no velho pintor, tentando não esbarrar com a tela que tinha em mãos. Surpreso, este não sabia como reagir. Quando se separaram, o mendeva tinha uma pequena mancha no braço, totalmente ignorada.

“Sou mesmo muito grato, senhor Arborie. Amanhã voltarei para assistir um pouco das músicas de Nokto, se ele também não se incomodar.”

“De forma alguma, Kyrion. Virei aqui depois do almoço.” Respondeu o bibliotecário.

“Então está combinado. E vou servir-lhes um chá e biscoitos, para mostrar que posso ser melhor anfitrião. Se eu tivesse esposa, com certeza ficaria horrorizada com meus modos. Mas conto com a compreensão dos jovens senhores.” O velho sorriu franco.

Após a breve despedida, Nokto encaminhou-se para a biblioteca, enquanto Kyrion separou-se dele com o pretexto de encomendar a moldura, embora esta não fosse sua única intenção. O quadro lhe dera uma ideia muito incômoda para ignorar. Mas ao virar- se uma última vez para ver o amigo partindo, poderia jurar que andava ainda mais ereto, orgulhoso, portando Bastian, o precioso instrumento de seu mentor, e seu único tesouro.


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