Crônicas de Calendôr: Canção de Ouro escrita por purplespook


Capítulo 3
A Chegada de uma Bruxa.




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— Sinto magia. Ela está se aproximando de Calendôr, tenho que ficar atenta. - Laurelin disse a si mesma em voz alta enquanto caminhava nas terras da antigas de Calendôr.

A elfa estava acompanhada de seu cavalo Verão. Ela o considerava como um familiar, assim como as bruxas que tinham seu familiar pelo resto da vida, sendo o seu terceiro olho para as artes sombrias. Mas Verão tinha a vida de um cavalo comum, para os padrões humanos, e como um cavalo mais forte, alto e ativo que outros, acabou sendo a maior companhia de Laurelin nos últimos anos lhe servindo com gentileza. O grande porte de Verão carregava uma pelagem dourada como o sol, semelhante a cor dos cabelos de Laurelin. Inteligente e sábio, um presente da natureza para a elfa da floresta que fez o parto da adorável Fitz, a ascendente de Verão.

Verão observava o ágil mover de olhos de Laurelin que podia detectar magia à quilômetro de onde estava. Ela andava em círculos, depois fechando os olhos, como se sua mente varresse as terras, ela seguia o rastro de magia.

Elfos têm grande alcance em sua visão, mais intensos que a visão de uma águia, mas Laurelin era uma feiticeira antiga e habilidosa, podia não ver mas podia sentir. Sua mente podia entrar na mente daquele que ela detectou, contudo, desta vez a estrutura da mente estava fechada, era magia, alguém que carregava magia que sabia mexer com os blocos mentais impedindo que qualquer um com magia suficiente pudesse entrar em sua mente. Podia detectar a força mágica de quem se aproximava. Era de alta magia, um tanto sombria mas lhe parecia controlada em suas intenções.

Ainda pelo poder da mente Laurelin mandou alerta aos habitantes de Calendôr, de que um visitante atravessava as suas terras. Os seres mitológicos de Calendôr eram experientes nestas artes, pois sendo raros e muitos considerados como monstros, bestas e demônios, sabiam muito bem o que a presença de um estranho significava.

— Isto é bruxaria - disse mentalmente aos habitantes. - bruxos podem reivindicá-los e usá-los para preparo de magia ou os escraviza-los. Não consigo entrar na mente deste e com toda certeza preciso olhar de perto, sabemos que são de mal caráter. 

Laurelin varreu seus olhos de elfo novamente, caminhava na direção intuitiva e Verão a acompanhava, até que que tudo chegou ao seu alcance. Ouviu a voz e detectou bem a magia e a forma do estranho.

— É uma bruxa com aparência demoníaca. Ela se aproxima de forma lenta, não consigo entender porquê. - Contatou Laurelin - Ela tem uma aparência que nunca vi em bruxas comuns, Verão. 

Verão apenas encarou a elfa com os grandes olhos negros de um cavalo, como não podia ver ele não poderia opinar, mas estava em alerta e apreensivo. Bruxas são astutas e maléficas, foi o que Verão aprendeu, poderia ser uma ameaça pois a bruxa também podia detectar Laurelin e a magia oculta dos seres e da própria Calendôr.

 Azul, o exuberante e orgulhoso pavão, encostou na mão de Laurelin e ela agachou para seu amigo lhe dizendo que estava tudo bem, o pegou em seu colo e, seguida por Verão, ela caminhou para mais perto da bruxa. Se fosse necessário ela teria de se apresentar e de algum modo dispensa-la.

— Um alaúde! - Laurelin percebeu. Azul não reparou na expressão de surpresa da elfa que o carregava nos braços, assim como não ouviu as notas do instrumento como Laurelin. Verão sendo um cavalo de orelhas aguçadas podia ouvir notas distantes.

Era um alaúde, disso tinha certeza, uma bruxa tocando um alaúde, isto é muito incomum, o que deixou Laurelin com seus sentidos em alerta. Agora podia ver a aparência da bruxa com forma demoníaca. Ela tinha chifres, sua pele era vermelha como sangue, usava vestimenta de couro de animal um vestido longo mas que deixava os membros superiores livres, seus cabelos longo e negros, ostentava-se de modo despreocupado tocando seu instrumento sem maiores preocupações. Podia ser assustadora sua aparência para alguns, mas Laurelin já havia visto coisas piores por onde caminhou. Verão e Azul ainda não podiam vê-la, e Laurelin os poupou da visão.

— Uma barda. Uma bruxa barda. - Ela disse à Azul e Verão. - vamos sair daqui, talvez ela esteja só de passagem e logo siga seu caminho e esteja longe, facilitarei as saídas enquanto isso, mas digam a todos para ficarem em alerta, certo? Bardos costumam não ter bom comportamento.

Azul e Verão pareceram confusos mas assentiram. Eles sabiam que Laurelin não tolerava bruxos ou bruxas por uma a ter enganado certa vez. Eles ainda não podia ver a aparência e quanto a isto podiam imaginar o que fosse e então estariam tranquilos.



***



“Está andando em círculos, Senhor”

Laurelin emitiu as palavras em pensamento ao homem que percorria Calendòr.

— Minha Senhora! Finalmente após  caminhos tortuosos ouço claramente a sua doce voz. Não pude suportar a solidão e precisava encontrá-la, pois meu amor clama por ti.

O homem esforçou-se em esperança dizendo estas palavras em voz alta, pois sua emoção era tão grande que não conseguia se conter para uma conexão mental.

“Meu amor, sabe bem que não pode me procurar”

— Perdoe a minha impaciência, mas sabe bem que minha vida é curta demais comparado a Senhora, e pretendo, nem que seja por um instante, ter certeza de que não enlouqueci.

“Não está louco, Senhor.”

— Então não entendo meus sentimentos por ti. O que senti na época em que esteve no Castelo. Gostaria de entender, e por isso a procurei. Vou enlouquecer com isto em meu coração.

Laurelin vacilou por um momento, quase movida pelo sentimento do homem que conheceu em certa ocasião. Ela também havia sentido algo pelo homem. Sentia falta dos seus olhos azuis encantadores sobre seu rosto, do seu toque, do lugar seguro que era seus braços. Isto foi a tanto tempo.

— Meu Senhor! 

Ao ouvir tais palavras o homem sobre o cavalo rapidamente olhou por cima de seus ombros em direção a voz que aqueceu seu coração. E com a sua própria voz presa em na garganta com o coração acelerado tentou proferir alguma palavra diante daquele bela senhora elfa dos tempos antigos, mas estas custavam a sair. Seus olhos se encheram de paixão e esperança, ele não havia enlouquecido afinal, estava diante da Senhora elfa das Terras Abençoadas, por quem ele havia se encantado e se apaixonado.

Ele desceu apressadamente de seu cavalo e caminhou a passos largos em direção à elfa de cabelos acobreados. Em instinto, ela pousou sua mão no rosto do homem e ele estremeceu ao seu toque.

— Brian do Castelo da Águia de Cristal! Meu amor. 



***



Laurelin passou os dias após a chegada da bruxa a Calendôr, examinando cada movimento dela. A elfa muito paciente acreditou que só seriam por alguns dias a estada da bruxa, contudo ela pretendia se instalar na calmaria das Terras Abençoadas.

Tocando o seu alaúde dia e noite, despreocupada, a forma demoníaca parecia estar em um mundo só seu alheio a tudo ao seu redor. Seus dias eram preenchidos por música, bebida que surgia de dentro de sua pequena bolsa e mal via-se comida para se alimentar, e ela não se importava, depois disso caia num sono profundo.Os elfos não são criaturas que têm sono, a eles não é necessário dormir e isto dava espaço para que Laurelin pudesse transitar e até mesmo se aproximar da bruxa com cautela, cuidar de suas terras e dos animais que ali habitam. 

Dias que se tornou uma semana. E então duas, depois três e os dias passavam. Laurelin estava um tanto farta de vigiar a bruxa, de afastar ela de Calendôr, precisava tirar ela de uma vez que todos eram livres naquelas terras sem intrusos, Laurelin nunca permitiu uma estadia tão longa de alguém por estas terras.

A bruxa dormia sobre a sombra de uma bela árvore no dia em que Laurelin teve de se apresentar. A elfa da floresta estava preparada para qualquer ataque, mas preferiu estar com Verão naquele momento, ele sempre lhe dava segurança e ela mesma se sentia menos uma lenda e mais uma elfa comum quando estava com Verão por perto.

— Não consegue me deixar em paz, não é? - Emitiu a voz da forma vermelha deitada à sombra. Verão quis dar um passo atrás mas Laurelin o conteve.  - Vigiando-me dia e noite, isto é cansativo. Sabia que tentar entrar na mente dos outros é falta de educação?

E a figura se levantou e encarou Laurelin. A elfa não vacilou diante daquela forma. Verão se assustou, ele nunca havia visto aquela espécie, nem em Calendôr, para ele o vermelho de sua pele era tão assustador quanto seus chifres. “Se parece com um demônio, mas tem formas femininas”, disse Laurelin a Verão “mantenha-se Verão, eu sempre o protegerei.”

— Quais as intenções bruxa? - disse Laurelin na sua voz mais firme e confiante que muitos homens tolos corriam ao ouvir.

— Uma elfa ! Hum uma elfa nobre. Nobre e muito velha.  Fin Caran! a lenda dos homens, isto é real posso ver. - e a bruxa riu com escárnio.

— Vou repetir, qual a sua intenção!? - novamente Laurelin entona sua voz firme que fez a bruxa recuar. - Você deve partir destas terras. 

A bruxa riu novamente, Verão estava amedrontado, ela era mais horripilante quando ria, mas Laurelin se manteve.

— Fin Caran! - e riu novamente. 

— Se conhece este nome então deve temê-lo, bruxa! - a voz de Laurelin mais firme desta vez fez a bruxa calar o seu riso.

— Não se parece com a descrição dos homens. É apenas uma elfa frágil em um vestido com flores. Não é a Senhora da floresta com cabelos vermelhos e com forte magia em suas veias. É uma velha elfa, sim.

Neste instante, não controlados por seus impulsos, Drogbal e Abot, o casal de hipogrifos de Calendôr, companheiros de Laurelin, caminhavam graciosamente em seu tamanho e graça em direção a bruxa. Sendo metade águia e metade cavalo, o animal poderia ser confundido como uma besta perigosa, contudo o que não se sabe é que neles possui amor, e a repulsão a eles causa raiva e portanto assim se tornam agressivos. 

— Vi apenas esta espécie de ser em livros!

A bruxa recuou diante da imagem dos hipogrifos se aproximando. Por mais que Laurelin os tenho mentalmente avisados para que se afastassem, eles estavam certos de que iriam apoiar a elfa para expulsar a bruxa com forma de demônio. Antes que Drogbal e Abot se prepararem para um ataque Laurelin com seu poder liberou um raio dos céus, seus pés livres levintaram do chão e a ponta dos seus dedos da mão estavam em brasa. Como um vento a elfa levitava sobre a bruxa que recuou, os hipogrifos se debatiam batendo seus cascos no chão. A bruxa preparava uma magia quando Laurelin entoou sua voz.

— Como ousa convocar sua magia diante de mim! Sua magia não passa de uma molécula de elemento diante do meu poder. Saia destas terras agora , bruxa ! Jamais volte, ou conhecerá Fin Caran em seu poder!

Não era do perfil de Laurelin atacar ou lesionar alguém, ela tem a essência dos elfos da floresta de uma alma pura e boa. Enquanto ainda estava em levitação sobre a bruxa amedrontada, Laurelin teve um conexão mental com  ela, assim que seu olhar se fixou ao dela. A bruxa vermelha estava com os seus blocos mentais desmoronados pelo temor da criatura a sua frente. Foi então que Laurelin pode vasculhar sua mente, seu passado e presente.

— Traidora ! Bruxa dos infernos! És a traidora de seu povo! - Laurelin voltou ao seu estado normal, sem levitação ou brasa nas mãos. - Saia das minhas terras agora traidora ! Vi em sua mente a sua podre reputação e perversa traição. Você merece ser enforcada e queimada pelo seu povo! Está se escondendo nas minhas terras! Estas são terras de paz e você não é bem vinda. Parta agora para cumprir o seu destino de morte!

— Senhora! - a bruxa lutou com suas palavras. A elfa encontrou sua mente. Sim, ela era uma fugitiva, seu passado podia ser de traição, mas ela não queria morrer, era uma bruxa poderosa e merecia viver. - Senhora das Terras Abençoadas eu lhe imploro para que …

— Não é de pedir perdão Kalissa, e eu não sou piedosa com traidores como você!

A elfa se enchia de fúria diante da mente da bruxa e seus atos do passado. Para ela a bruxa era imunda. Laurelin viu a natureza sofrendo, pessoas sofrendo no que foi uma tragédia provocada pela bruxa vermelha. Pôde ver o seu povo, eles pouco pareciam-se com a bruxa a sua frente, eram pessoas sem a maldição da bruxaria, sem sua malícia e sede de poder, não eram ambiciosos como ela. Ela castigou o seu povo. 

A bruxa Kalissa procurava palavras para a Senhora elfa, pois aquelas terras foram o único lugar em que ela havia encontrado paz após o seu incidente que castigou o seu povo, não que ela se importasse, mas estava jurada de morte e era uma fugitiva. Ela conjurou um feitiço para jogar na elfa a sua frente. Foi como um vento sendo cortado pela rocha, Laurelin dispensou o ataque de Kalissa. Ela proferiu magia novamente e Laurelin era impenetrável, mas também não a atacava o que a deixava amedrontada pois a magia de Laurelin poderia incinera-lá num instante sem ela perceber. A elfa levitou novamente e suas mãos se tornaram chamas raios dos céus bradavam, os hipogrifos avançavam.

 Kalissa estava perdida e amaldiçoou o dia que chegou nestas terras, ela não podia evitar o ataque certeiro da elfa e sabia que assim seria seu fim, morta por Fin Caran. 

Houve um vento forte que fez Laurelin desviar seus olhos em direção aos céus, Kalissa ainda amedrontada estava procurando uma forma de fugir daquilo mas estava confusa, sua mente não a permitia se mover, e logo percebeu que a elfa havia confundido sua mente e a deixou paralisada. Laurelin correu com seus pés nu no chão. A bruxa percebeu que os hipogrifos estavam à sua frente assim como o belo cavalo de da elfa de cabelos cor de fogo, mas havia um figura azul que a encarava, o valente pavão.

Pôde se ouvir um bater de asas profundo que espalhava toda folha do chão, Laurelin corria com esperança e logo avistou Cristal, a água gigante de Calendôr. Quando chegou perto de Cristal, Laurelin se encheu de paixão, a abraçou como uma amiga e havia lágrimas em seus olhos. Kalissa conseguia ver a cena, e impressionada agora estava paralisada não pelo feitiço de Laurelin que confundia sua mente, mas pela visão da ave mais bela que já viu em sua vida e pela familiaridade que a elfa a recebeu. 

— Cristal ! - entonou Laurelin com alegria - Brian! - disse com paixão, porém, de imediato a elfa observou que seu amor não estava com Cristal - Onde está Brian? - perguntou, e a ave lhe entregou um envelope.

Mesmo de longe, Kalissa  viu o rosto antes tão cheio de luz de Laurelin se transformar em tristeza.


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