Crônicas de Calendôr: Canção de Ouro escrita por purplespook


Capítulo 1
A Lenda de Fin Caran.




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Laurelin Yávërómen. Lauren em élfico significa Canção de Ouro, e Yávërómen, o sobrenome de sua família, significa Fruto do Leste. Pode ser chamada de Fin Caran que traduzindo do élfico significa Cabelo Vermelho, por seus cabelos serem de um cobre intenso. Entre os homens ela é também chamada de Raio de Sol ou na língua antiga Ruadh que significa vermelho.

O nome de sua família é antigo. Seus ancestrais atravessaram o mar vindo do leste até se fixarem no que, na época, era o ainda pouco habitada vilarejo chamado pelos primeiros elfos de Calendôr, em élfico Terra Verde, no conhecimento comum Terra Abençoada ou Floresta Verde, nomes ao qual ainda se é chamado. 

Calendôr é um nome antigo e a muito esquecido. Poucos elfos podem se lembrar deste nome. Esta região esconde um segredo ao qual ninguém jamais soube ou saberá. Os viajantes veem o que é preciso ser visto, apenas uma floresta com vegetação nobre das plantas mais raras e ricas em propriedades, cores intensas de variedades infinitas, animais que não são vistos em outras regiões e uma infinidade de flores que não se é possível catalogar. Mas Laurelin conhece cada vegetação, cada espécime desta floresta, cada pedaço de Calendôr ela conhece muito bem, pois foi o lugar onde nasceu, onde se tornou adulta, e também é o lugar ao qual ela condenou seus longos anos de um elfo a proteger e guardar da má-fé dos seres.

Laurelin é a única na Terra Abençoada, onde ela persiste em sua missão de manter as terras verdes, as plantas sua vivacidade e os animais em paz. Não há ninguém nesta terra nos dias atuais, todos os elfos que ali viviam não tiveram descendentes, toda história élfica que ali existia desapareceu, restando apenas o único e último Fruto do Leste.

 

A muitos anos, quando Calendôr ainda era agraciada pela presença dos elfos, a família Yávërómen habitava em serenidade, seus dons advinham da natureza, das plantas, dos animais. Tinham extrema facilidade em lidar com plantas, excelentes boticários que resgatam a mais pura propriedade de uma planta, raiz ou flor e a transformavam em essência ou em um remédio simples. Todos procuravam os Yávërómen em necessidades ao qual eles fossem úteis em suas artes, mas principalmente porque eram descendentes de muitos elfos que foram grandes feiticeiros. Era raro nascer um elfo Yávërómen abençoado com as artes da feitiçaria, pulando algumas gerações, mas principalmente porque era necessário um sofrimento psicológico profundo o suficiente para provocar o feiticeiro dentro de si, algo muito abstrato e ainda mal compreendido pelos membros da família, mas eles sabiam que em algum momento nasceria um feiticeiro.

Em uma tarde, enquanto Laurelin descansava sobre o sol após um dia de trabalho de coleta de raízes e plantas, para reabastecer os frascos com elementos, Laurelin sentiu a essência de uma fragrância que nunca havia sentido, aquela magia a envolveu por completo atraindo a de forma magnética, era uma magia pura, ela podia perceber, e o aroma imensamente agradável, irresistível, docemente suave, cheirava a pura mágica da natureza ela constatou, e com todas as suas coisas mais belas. Seguindo seus instintos, Fin Caran seguiu fugazmente aquele aroma delicado até chegar a uma clareira repleta pequenas árvores com grandes galhos que, de tão longos, descansavam na grama, cada galho longo estava coberto por folhas de um verde escuro e diversas pequenas flores rosa pálido que exalavam o aroma que Laurelin havia sentido, só que ao chegar cada vez mais perto, o aroma era mais maravilhoso e envolvente ainda. Não perdendo tempo, e pedindo permissão a natureza, a elfa colheu a maior quantidade que poderia carregar em seus frascos, de modo a levar para casa, catalogá-la e verificar suas propriedades. Sua descoberta a respeito daquela flor foi o marco de sua vida naquele momento, pois dela conseguiu extrair o chá que poderia curar até as feridas mais profundas da alma, algo realmente fantástico que os elfos jamais experimentaram. Uma bebida envolvente, com dose de sabor na medida e o aroma imensamente suave. Era reconfortante para a alma com apenas um gole, aquilo deixava qualquer um maravilhado, toda Calendôr se rendeu ao chá de Laurelin, que era tão encantadora quanto a sua maravilhosa descoberta.

A natureza concedeu a Laurelin a livre coleta daquela espécie de flor, de modo que logo os galhos daquela árvore não seguiam o ritmo com que eram colhidos, até o dia em que tão surpreendente como surgiu assim desapareceu, a bela planta do chá mágico de Laurelin. Foi então que ela partiu para uma viagem  para encontrar a essência pela qual se apaixonara, assim como para buscar novos conhecimentos, sentir novas terras em baixo de seus pés. Sua busca por conhecimento e pela flor mágica decorreram-se por um ano e meio para além de Calendôr. Neste tempo, ela nunca encontrou o flor novamente, apesar de ter se saciado com sua sede de conhecimento, nos lugares por onde andou, dos seres que conheceu, estava decepcionada por não ter encontrada a bela flor novamente.

A elfa retornou um tanto decepcionada para seu amado vilarejo, e também esperançosa em poder encontrar a sua flor novamente na clareira que a avistou pela primeira vez. Novamente, a pequena árvore graciosa não estava lá, mas Laurelin podia sentir ainda o seu aroma no ar, mas os seus sentidos estavam mais fortes desta vez. O cenário de Calendôr era bestial. Macrabismo, e a penumbra de morte que os olhos de um elfo jamais viu. O que havia ocorrido em Calendôr na ausência de Laurelin foi o mais profundo frenesi da mente humana, aquilo que pode se dizer que é pior que a morte, a loucura. Não se era possível verificar se havia sido um extermínio a princípio, mas não demorou muito para Laurelin esbarrar em corpos de elfos mutilados e constatar que tais ferimentos foram provocados pelo próprio elfo. Se tratava de um suicídio em massa. A psique era levada ao extremo, o maior sofrimento da alma, a mais derradeira dor de seu ser, e então depois chegava a morte o qual o autor era si mesmo. Devastador foi a explosão de sofrimento quando deparou-se com seu pai, com seu corpo pútrido estendido na bela rua de flores que ele diariamente caminhava. Ela correu até sua casa e viu seus irmão, todos mortos. Gritou por ajuda. Gritou e gritou novamente. Seu corpo começou a fraquejar e ela desabou, e juntamente com a visão dos acontecimentos em Calendôr durante a sua ausência.

A visão de Laurelin se alternava entre neblina e escuridão, ao final delas ela deslumbrou a magnífica flor que ela mesma havia colhido e apresentado aos elfos de sua terra. A flor foi muito bem recebida, as demandas eram insuficientes para os Yávërómen. Tudo estava bem, todos se sentiam bem com o chá daquela flor, até que algo incomum aconteceu naquela vila, um elfo havia morrido. Acreditaram ter sido assassinado, depois outra morte e logo outra, diziam ser um assassino em série, até que estes que espalharam boatos também morreram, e se espalhando como uma praga todo o extermínio acontecia. A elfa em sua visão viu as mortes, uma após a outra, a loucura tomando a mente daqueles que ela amava e então o suicídio de cada um. Por fim como que por zombaria, a flor rosa pálido tomou por inteiro a visão de Laurelin, a envolvendo, a atraindo e a deixando enlouquecida. Ela despertou de sua visão, e com os olhos ainda cobertos por lágrimas de dor ali estava, brotando dos corpos dos mortos, a flor que ela tanto procurou naqueles últimos anos, então que aquela flor foi a responsável pela loucura dos elfos e por suas mortes. O uso das suas propriedades e até o seu aroma, se usado a longo prazo, oferecia o frenesi da mente. A flor astuta como era tinha este objetivo, o extermínio, confundir as mentes e matá-las, trazer dor, sofrimento, ódio, repulsão, incertezas, compulsões, impulsões, solidão, medo, desesperança… Laurelin amaldiçoou o dia que havia descoberto aquela flor maldita. Odiava-a, mas também a temia. Dos corpos as flores não paravam de brotar, e o aroma foi tomando o lugar do cheiro de morte, enquanto a elfa cobria cada nervo de seu corpo de raiva e dor ao qual ela não podia controlar. O corpo todo se encolheu e de seus olhos lágrimas escorriam ao ponto de não poder abrir os olhos, um raio saiu da planta de seus pés e fogo da sua alma explodiu. Seus braços se estenderam e seu corpo saiu do chão, o fogo que havia em si se espalhou queimando, sua raiva varria tudo o que havia pela frente e seu grito de terror e poder foi alto o bastante para ocasionar um terremoto. Toda Calendôr foi incinerado com a magia que fluia de Laurelin. 

A magia havia despertado diante do sofrimento delirante e do cenário devastador que a marcou para toda a vida. Não era algo ruim, mas também não era bom. Os Yávërómen nunca compreenderam a magia que acompanhava o seu sangue por infinitos anos, e não sabiam como despertá-la, mas agora, a última Yávërómen descobriu o enigma de sua família e também não queria que ninguém mais tivesse que passar pelo que ela passou. 

Laurelin dedicou seus longos anos de um elfo solitária, mas também ela guardava Calendôr para que aqueles que retornassem jamais encontrassem o caminho daquelas terras abençoadas, ou se perdessem tentando. Ela usava sua sensibilidade com a natureza para sentir os forasteiros e educadamente se apresentava quando necessário, mas sempre indicava o caminho errado para que se perdessem ou não voltassem a tentar seguir o caminho. 

Com o passar dos anos humanos a Ruadh ou Fin Caran, como era chamada pelo homens, se tornou uma lenda. As lendas eram diversas ao modo de quem as contava. Amante da natureza ou uma sagas por sangue. Diziam que ela protegia a Floresta Verde em sua esplêndida natureza em fauna e flora ou que ela fazia com que suas vítimas se perdessem para que ela saciasse sua sede de sangue, mas nada disso importava pois ela jamais saiu daquelas terras e preferia ser esquecida. Laurelin Yávërómen permanece em Calendôr mesmo que os anos dos homens e dos elfos a tenha esquecido, ela amaldiçoou a flor maldita a chamando de Loth Mirruk que significa Jóia do Diabo, e a tenta eliminar com sua magia esta praga das Terras Abençoadas e de qualquer outro lugar que ela estiver, enquanto cuida da natureza e dos animais daquela região.

As propriedades da Loth Mirruk permaneceram nos segredos de Laurelin por anos até que ela entregou este conhecimento a uma bruxa que transcreveu em seu grimório, mas Laurelin se arrependeu de tal ato por achar que talvez aquele conhecimento poderia trazer a tona o cenário que a tanto perturbava. Ela procurou pelo grimório, mas nunca o encontrou.


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