New York, New York escrita por P B Souza


Capítulo 4
The luxury of having it all but one




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Eu não fazia a menor ideia de para onde estávamos indo quando descemos alguns metros a pé até a travessia com a 79th St Transverse.

— Taxi! — Joseanne chamou um carro com a janela aberta.

O típico carro amarelo continuou parado, e piscou as luzes.

— Vamos, anjo da guarda. — Gwen disse apontando para o carro e entramos. Eu olhando para fora, buscava o irmão dela, sequer ouvi para onde íamos quando Joseanne disse o destino ao motorista.

— É bom sairmos logo antes que comecem as fotos. — Joseanne dizia.

— Acho que eles já tiraram fotos, até demais. — Eu respondi, ainda sentindo o coração acelerado no peito. Eu não acredito que estou em um taxi com duas desconhecidas. — Prazer, Ulisses.

— Mexicano? — Ela perguntou já pegando o celular do bolso.

— Brasileiro.

— Escutei maravilhas do Brasil. — Gwen quem disse, então olhei para o outro lado. Eu estava no meio entre as duas, no banco de trás. — Muito obrigado por salvar minha vida, Ulisses. Eu sou a Gwendolyn Bentnick, pode me chamar de Gwen. Essa é Joseanne Montgomery.

— Ulisses Alargel.

— Vai querer alguma recompensa? — Joseanne perguntou rolando os olhos.

— Eu...

— Anne, que grosseria. — Gwen se virou encarando nós dois. — O que ela quer dizer é que foi muito gentil da sua parte me salvar e se a gente puder fazer algo em retorno. Ainda mais depois de você ter aceitado me ajudar a irritar meu irmão. Estou em dívida com você, Alargel.

— Chegamos. — O motorista do taxi disse então.

Eu sequer havia visto para onde estávamos indo, mas havíamos chegado. Anne quem sacou a carteira, uma Yves, de relance eu vi que haviam mais cartões que dinheiro, mas ela sacou uma nota de vinte dólares e entregou ao motorista.

— Pode ficar com o troco. — Disse e olhando para nós, fez um gesto com a mão para que saíssemos pelo lado da calçada, aonde estava Gwen.

Estávamos na frente de um café de esquina com mesas de calçada cobertas com o toldo verde-musgo, e cercados por um murinho de metal pintado de branco repleto de flores lilás entre as barras do murinho. Eu olhei em volta e vi, na placa marrom do poste, escrito “Lexington” em letras brancas.

— Ele é um turista, Gwen. — Anne disse enquanto elas andavam, quase me deixando para trás. — Já pensou se vai ir no Black Tie no domingo?

— Agora que o Astor voltou? Ele vai me fazer ir!

— Meninas. — Chamei as duas antes que entrássemos, eu estava com meu celular na mão, mas não havia nenhuma mensagem, embora elas não soubessem já que não estavam me dando o mínimo de atenção. — Infelizmente eu vou precisar ir,

Você precisa jogar com cuidado agora.

— Vamos, a gente só vai beber alguma coisa. — Anne quem disse, subitamente menos... intimidadora.

— Essa hora? — Eu respondi com um sorriso e olhei para cima, para os prédios. Aquela parte da ilha não tinha muitos deles, a maioria não passava do terceiro andar. Upper East Side, Historic District. O top notch de Manhattan. — Eu preciso chegar no Civic Center logo, ou sabe como é, vou perder meu investidor.

— Eu não sei se ele tá tirando uma com a nossa cara ou falando sério. — Anne disse para Gwen.

— É seríssimo, como eu disse, sou do Brasil. Estou buscando investidores para uma ação filantrópica contra a dengue, causa muito nobre lá, mas é como dizem, tempo é dinheiro.

— A questão é; você está disposto a desperdiçar esse dinheiro? — Anne sorriu para mim, seus cabelos brilharam com os raios tímidos de sol.

— Eu tenho certeza que vocês podem esbanjar o tempo que quiserem. — Respondi então vi que no púlpito da entrada, aonde ficava o maître, havia também uma caneta afixada com cordinha de metal e uma pilha de folhas de rascunhos trespassadas em um espeto dourado. — Com licença senhor. — Puxei uma das folhas e anotei meu número rapidamente, então olhei para Anne, e depois para Gwen, para quem dei o papel. — Mas eu não disponho, hoje, nem de tempo ou dinheiro para desperdiçar! Deixo o país em alguns dias, eu não perderia a oportunidade de um reencontro, seja com qual for das duas, são maravilhosas, não tenho dúvidas. Mas a decisão agora é de vocês, não minha!

Então me virei e deixei as duas na entrada do estabelecimento que com toda certeza eu não teria como pagar nada do menu. Não olhei para trás, porque esperava que ambas estivessem me olhando, buscando entender quem eu realmente era, porque de certa forma isso era um mistério, assim como elas eram, para mim, um mistério.

O primeiro taxi que parou eu entrei. Então olhei pela janela

— Para onde? — O motorista perguntou, mas eu olhava para as duas, acenei e sorri, então voltei a minha atenção ao motorista.

— Só contorna o quarteirão. To tentando impressionar aquelas garotas.

Ele não pareceu contente, mesmo assim o fez, o taxímetro começou a rodar e o carro também. Quando contornamos a esquina, eu desci do carro na Third Avenue e paguei dois dólares na corrida. Meu dinheiro diminuía a cada dia, e eu precisava tomar cuidado com onde gastava o quê. Taxis é um luxo que não posso me dar. Olhei no mapa aonde eu estava exatamente, e o caminho que eu precisaria fazer para chegar no metro mais próximo.

Do lado oposto do quarteirão, eu acelerei o passo para que elas não me vissem andando pelas ruas do Upper East Side quando eu “estava indo encontrar investidores”. Precisei subir três quarteirões, da 74th Street até a 77th com a Third, então segui pela esquerda da 77th até chegar na Lexington novamente. Nova York é assim, essa malha de quarteirões perfeitos, construídos e loteados sem becos ou vielas, fácil de se encontrar e de se perder. Toda rua é, por definição, um corredor aonde não dá para ver o começo ou final.

Ali na encruzilhada da Lexington com a 77th, ficava também o Lenox Hill Hospital, um dos préidos mais altos do distrito histórico. Eu parei um momento e olhei ao meu redor antes de entrar no metro. Dava para ver descendo a Lexington a St. Jean Baptiste Church com sua arquitetura diferenciada, uma igreja sempre destoava do resto da cidade e seus arranha-céus, mesmo ali não havendo arranha-céus. Não sei bem, mas por ser um distrito histórico, os únicos prédios com muitos andares aparentam ser velhos, torres antigas provavelmente pre-war.

Então comecei a descer a escada para o metro, em NY não existem grandes estações para acessar o metro, exceto pelo Grand Central ou Penn Station, todas são escadinhas discretas nas calçadas levando para debaixo da cidade.

Enquanto eu descia o celular apitou uma vez, mensagem. Peguei o aparelho e enquanto desbloqueava e adentrada o metro, o vi perder o sinal. Então abri a conversa de um número desconhecido.

“Hey, it’s Gwen, hope u ain't leaving till next week”


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