Meu querido sonâmbulo 2 escrita por Cellis


Capítulo 7
Meu querido eu


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, eu deixei passar algo batido no último capítulo e queria esclarecer aqui (coisa boba, prometo). No capítulo anterior, houve uma pequena referência a "Meu querido sonâmbulo", a parte 1 que não está ligada a essa história, pois se passam em universos diferentes. Foi algo bem sutil, porém, nesse capítulo acontece novamente e com um pouco mais de presença marcada. Se você por acaso não leu a primeira história e se sentiu um pouco confuso com a aparição do Jimin por aqui, não hesite em me perguntar sobre para que eu esclareça qualquer dúvida que possa ter ficado! E bem, era esse o aviso kkkkk.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785822/chapter/7

Quando Shinhye chegou com Namjoon no consultório que gerenciava, o Kim ainda não tinha a exata noção do que estava acontecendo e, sendo sincero, tinha para si que estava apenas seguindo o fluxo — o fluxo das ordens e instruções de Shinhye, no caso. Namjoon, antes mesmo do episódio do atropelamento e da sua brusca perda de memória, costumava ser uma pessoa que confiava com uma certa facilidade nos outros, especialmente quando se tratavam de pessoas que se diziam especialistas em algo. O Kim não era, de fato, alguém curioso o suficiente para fazer grandes questionamentos sobre algo que estava fora do seu campo de conhecimento e, por isso, preferia apenas aceitar o que lhe era dito ou repassado por alguém que aparentava entender mais do que ele sobre certo assunto; o que podia ser um risco, dependendo de quem o instruísse e sobre o quê. Certa vez, há um par de anos, o atendente da cafeteria quase tinha caído em um golpe envolvendo uma imobiliária claramente de fachada e, se não fosse pela intervenção de Yoongi, ele certamente teria perdido o pouco dinheiro que tinha na época.  

O que deveria ter servido como uma lição para fazê-lo aprender a desconfiar mais das pessoas, mas não adiantou de muita coisa. O Kim continuava a ser um tanto ingênuo e por isso, mesmo sem saber ao certo o que estava indo fazer naquela clínica do sono, ele estava acomodado com tranquilidade naquele carro que cheirava a novo enquanto Shinhye o levava para onde bem entendesse. Mas também pudera, aquilo não se tratava apenas dele não desconfiar da Kim, mas de fato de confiar na terapeuta. Ele não sabia o que tinha acontecido na noite na qual ela o encontrou na rua coberto de um sangue que não era o seu e, mesmo assim, o acolheu em sua casa e cuidou do mesmo; mas ela também não fazia ideia e, mesmo assim, o fez. Apesar de não conhecer muito bem Shinhye, ele já tinha percebido nela uma pessoa que queria ajudá-lo, sabe-se lá o porquê, então tinha tomado a decisão de que apenas confiaria na mulher e, se algo acabasse dando errado por conta disso, ele apenas decidiria e consertaria depois.  

Inclusive, aquele também era um traço bem marcado da sua personalidade: tinha o péssimo hábito de deixar as coisas para serem resolvidas em alguma outra hora. Na verdade, se Shinhye o conhecesse bem o suficiente para já ter notado aquilo, acharia o Kim irritantemente parecido com Jungkook nesse aspecto, que deixava até a louça para ser lavada mais tarde — tarde aquela que nunca chegava e a sua caneca sempre suja dentro da pia da cozinha costumava ficar lá para provar isso.  

Costumava, felizmente. Pelo menos nesse ponto Namjoon era infinitas vezes mais consciente e higiênico do que o Jeon, então Shinhye não precisaria se preocupar com aquilo.  

Não que eles fossem um casal, claro. Pelo menos não naquele momento, mas, como de costume, vamos deixar essa parte para mais tarde.  

Namjoon saltou do carro basicamente junto da Kim, que logo acionou o alarme do veículo e fez uma nota mental de devolver as chaves para Haechan assim que o encontrasse pela clínica, pois sabia que já estava abusando demais da boa vontade e prestatividade do assistente. Sim, vez ou outra ela tinha essa consciência, ainda que um tanto raramente. Shinhye pediu para que Namjoon a seguisse pelo estacionamento e, assim que alcançou a porta de vidro da clínica, a abriu primeiro e segurou até que o Kim passasse pela mesma. 

Quando Namjoon de fato entrou no local, seus olhos acabaram se perdendo em meio a tantas coisas que pareciam estar ali para chamarem a sua deslumbrada atenção e que, inclusive, o Kim nunca as tinha visto tão limpas e lustrosas antes. Logo no hall de entrada, o que não era de vidro estava pintado de branco, como as poltronas da sala de espera e os móveis da recepção que estava vazia devido ao horário já avançado e que, inclusive, era separada do restante da sala justamente por uma parede de tijolos de vidro. Pendurado no meio do cômodo, havia um lustre feito de pequenos e brilhantes cristais e, fora isso, pouquíssimos eram os objetos que destoavam da decoração minimalista e monocromática típica de um consultório médico; como o porta-revistas azul bebê, por exemplo. Namjoon observava tudo com uma atenção que beirava ao embasbacado, já que não era do seu costume frequentar lugares como aquele. 

A última vez que tratara de algo ou fizera qualquer exame fora no Hospital Geral de Daegu, que não era em nada parecido com uma aconchegante clínica do sono. Ali não haviam acidentados sendo transportados às pressas de um lado para o outro, por exemplo, mas sim reinava um silêncio um tanto acolhedor e pacífico. Namjoon respirou fundo e, mesmo que não fosse do seu feitio se sentir confortável em lugares desconhecidos logo de primeira, aquele foi exatamente o modo como ele se sentiu já na recepção da clínica. 

Por um momento, Shinhye, que caminhava a um par de passos na frente do Kim e o guiava pelo consultório que tanto conhecia, tirou um breve momento para fitá-lo por cima do ombro para espiar a sua reação durante o seu primeiro contato com a clínica. Acabou encontrando um Namjoon que não conseguia sossegar seus olhos, fitando tudo o que lhe era permitido ao seu redor mesmo com a luz reduzida do ambiente devido ao fato de que já era tarde da noite. O Kim era um homem alto, passava de um metro e oitenta de altura, contudo, naquele momento, parecia mais uma criança um tanto encantada com o que estava vendo. Mesmo que Shinhye tivesse uma noção básica de tudo pelo o que ele já havia passado ao longo de sua vida, ela via nele um áurea um tanto inocente e desprovida de malícias — o que a fez, mesmo que inconscientemente, se questionar se ele poderia mesmo ser um assassino.  

Balançou a cabeça e respirou fundo na tentativa de afastar as teorias de que Namjoon poderia ter de fato matado alguém. Tinha prometido a si mesma que não o acusaria antes de ter alguma prova e estava disposta a manter a sua palavra, mesmo que tivesse sido dada apenas para si mesma. 

— Gostou da decoração? — ela perguntou, quebrando o silêncio que lhe fazia pensar demais. 

Eles tinham acabado de deixar a recepção e agora caminhavam pelo corredor de consultórios e salas de exames, todos separados por portas de vidro esfumaçado. 

— Sim, gostei. — ele respondeu, inutilmente tentando ver o que havia por trás de todas aquelas portas. — Fez com que eu me sentisse num ambiente limpo e calmo. 

E assim, como peça mal pregada do destino, bastou Namjoon fechar a boca para algo estranho chamar a atenção de ambos os Kim. Shinhye parou de caminhar quando se deparou com a antepenúltima porta do corredor escancarada, sendo que barulhos de cacos de vidro sendo remexidos e pisoteados pareciam estar vindo de dentro daquela sala em específico.  

Uma sala exclusiva de polissonografia. 

Namjoon acabou sendo obrigado a parar de caminhar também, porém logo retomou suas passadas quando Shinhye fez o mesmo, apressando-se na direção da porta aberta. O Kim acompanhava tudo espiando com facilidade por cima do ombro da terapeuta, um bônus dado pela diferença de altura entre os dois, e a cena que acabou encontrando dentro da tal sala o pegou de surpresa e destruiu em um instante toda a calmaria que o consultório havia lhe transmitido há poucos minutos.  

— O que diabos aconteceu aqui?! — Shinhye exclamou confusa ao entrar na sala de polissonografia e encontrar todo aquele caos. 

Basicamente, a sala específica para a realização do exame de polissonografia consistia em dois ambientes diferentes: um que imitava um quarto normal, porém que, ligadas à cama que ficava bem no centro do mesmo, estavam algumas máquinas que monitoravam o sono do paciente que ali dormia, e outra de onde os médicos responsáveis pelo exame acompanhavam tudo, menor e ainda mais equipada do que a outra. Os dois lugares eram divididos por um daqueles vidros típicos de salas de interrogatórios policiais, posicionado estrategicamente para que o paciente não conseguisse ver os médicos, mas que isso não acontecesse na outra via — e era justamente aí que estava o problema.  

A cena consistia no tal vidro estilhaçado pelo chão, seus pequenos cacos espalhados em sua grande maioria pela sala dos médicos, sobre a mesa dos computadores e também pelo piso branco do lugar. Haviam dois médicos que, sem saber ao certo o que fazer, caminhavam com cuidado de um lado para o outro sobre os pedaços de vidro, o que produzia o barulho um tanto incômodo que Shinhye e Namjoon tinham escutado ainda no corredor.  

E por falar nos dois, a Kim tinha o cenho franzido em confusão e o Kim, por sua vez, estava com os olhos arregalados em completo choque e pavor quando Haechan — um dos médicos que caminhavam sobre os cacos de vidro — notou a presença dos dois devido à exclamação espantada da chefe.  

— Dra. Kim, que bom que a senhora chegou! — o assistente se aproximou às pressas, partindo em pedaços ainda menores os cacos de vidro sob os seus tênis. — Houve um pequeno acidente durante a polissonografia do paciente Park Jimin, na verdade... Foi ele quem causou esse estrago.  

Haechan ainda estava tão transtornado que sequer notou a presença de Namjoon logo atrás de Shinhye.  

— O que? — a terapeuta questionou, confusa. — Como alguém que deveria estar dormindo conseguiu quebrar um vidro da grossura do meu polegar? E onde o Park está, ele se machucou? 

Dito isso, sem que ninguém percebesse, Namjoon notou que alguns dos cacos de vidro estavam manchados com um líquido vermelho escuro que ele, infelizmente, conhecia muito bem: sangue. Não eram muitos, mas ainda assim indicavam que alguém havia se ferido ali, o que assustou ainda mais o Kim.  

— Ele está bem, felizmente teve apenas alguns cortes nas mãos dos quais o próprio Dr. Yoon já cuidou. — o Lee esclareceu e Shinhye pode respirar um pouco mais aliviada. — Depois que tudo aconteceu, o Dr. Yoon o levou junto da sua acompanhante para a sua sala e eles ainda estão lá, se eu não me engano.   

— E como isso aconteceu? — a Kim continuou questionando, ainda sem entender o que tinha acontecido ali para resultar em todo aquele estrago.  

— Nós não sabemos direito o porquê, mas o paciente Park estava dormindo calmamente e o exame corria bem, até que ele se levantou dizendo que precisava sair para salvar alguém, tudo isso ainda dormindo. — Haechan explicou, lembrando-se assustado da cena desesperadora que tinha presenciado. — Ele começou a socar o vidro, parecia que poderia morrer se não saísse dali para sabe-se lá aonde. Até que o vidro finalmente se partiu e ele acordou sem fazer a menor ideia do que tinha acontecido. — o assistente finalizou a história que mais parecia um conto de ficção. — Eu nunca tinha visto algo como aquilo antes, Dra. Kim.  

Shinhye olhou novamente para dentro da sala, analisando todo aquele estrago da soleira da porta. Park Jimin deveria ter uma força descomunal para conseguir quebrar aquela vidraça ou, ainda, ter algum trauma extremamente enraizado dentro de si para lhe fazer agir daquele jeito desenfreado. Sendo sincera, ainda que já tivesse visto diversos casos de sonambulismo diferentes, Shinhye também nunca tinha visto algo sequer parecido com aquilo. 

— É realmente possível que alguém que esteja dormindo consiga fazer algo tão agressivo assim?  

A pergunta feita pausadamente e num tom de medo veio detrás de Shinhye e, só então, ela se lembrou de que Namjoon ainda estava ali. Virando-se para o Kim, ela encontrou um misto de espanto e choque de realidade nitidamente estampados no seu rosto, como se ele estivesse se vendo ou diretamente se colocando no lugar de Jimin, imaginando o que poderia ter feito enquanto ele próprio dormia. Seus olhos estavam colados no vidro despedaçado, em especial naqueles pequenos cacos manchados de sangue. Shinhye o encarou, culpando-se pelo erro de tê-lo deixado ver todo aquele estrago e, ainda por cima, saber da história por trás do mesmo.  

— Namjoon-ssi, por que você não me espera na minha sala? — a terapeuta sugeriu no tom mais sutil que conseguiu, chegando a levar uma mão até o seu braço numa tentativa de acalmá-lo. — É a última desse mesmo corredor. Você pode me esperar lá enquanto eu termino de resolver as coisas por aqui? 

Pela primeira vez desde que encontrara toda aquela cena, Namjoon finalmente desviou o olhar dos destroços de vidro, pousando-os na expressão compreensiva e pacífica de Shinhye. Mesmo assustado consigo mesmo e com a possibilidade de que poderia ter feito algo ainda pior do que quebrar uma parede de vidro enquanto dormia, o Kim se permitiu se acalmar um pouco quando encontrou um feixe de paz no olhar da terapeuta. Ele respirou fundo e a fitou de volta, balançando a cabeça positivamente num ato ainda discreto.  

— Posso sim. — concordou. — Eu espero lá.  

Assim, mesmo que ainda um tanto desnorteado, Namjoon deixou aquela bagunça para trás em direção à sala de Shinhye e com um único pensamento em mente: o que andava fazendo enquanto dormia? 

O que teria quebrado para ter tanto sangue manchando suas roupas na noite que a Kim o encontrara? 

 

*** 

 

Depois de resolvido todo o assunto com relação ao paciente Park Jimin, Shinhye retornou para a sua sala o mais depressa que conseguiu; sendo sincera, estava com medo de não encontrar Namjoon por lá. Quando ela viu o olhar perdido e bastante espantado estampado no rosto do Kim diante do incidente na sala de polissonografia, teve medo de que ele fosse se assustar o suficiente para desistir de tudo. Não sabia direito o que se passava na cabeça dele, mas viu na sua expressão apreensiva a possibilidade de que ele simplesmente quisesse esquecer da sua condição de sonâmbulo e, assim, fosse embora da clínica e se fechasse por completo perante à ajuda que a Kim estava lhe oferecendo. Ele nitidamente estava assustado consigo mesmo, o que Shinhye sabia que não era nada bom.  

Contudo, Namjoon estava lá quando ela abriu a porta, sentado na cadeira de costas para a porta e iluminado apenas pela fraca luz do anoitecer. Shinhye entendeu o que aquilo significava e, respeitando o espaço do Kim, ela manteve a luz apagada quando entrou no consultório apenas para chamá-lo para uma outra sala, a que restara intacta para a realização do exame de polissonografia. Namjoon a seguiu sem dizer sequer uma palavra e, já devidamente preparado, agora encontrava-se sentado na cama com as pernas pendendo para baixo, evitando sacudi-las para que não esbarrasse em Shinhye, que estava de pé logo diante de si. A terapeuta estava terminando de colar os eletrodos em Namjoon nos locais necessários para que o seu sono fosse melhor monitorado pelo computado, espalhando os pequenos círculos descartáveis pela sua cabeça e também pelo seu colo, esse exposto pela camiseta branca que ele estava usando. Os dois estavam um exatamente de frente para o outro e, por isso, mesmo que a Kim estivesse fazendo o seu trabalho com atenção, era inevitável que vez ou outra se pegasse encarando a expressão um tanto pesarosa que Namjoon exibia.  

— Eu nunca imaginei que alguém sonâmbulo fosse capaz de fazer aquilo. — o Kim quebrou o silêncio primeiro, parecendo distante. Ele fitava o chão, mas acabou atraindo o olhar de Shinhye diretamente para si com a frase dita tão repentinamente. — Eu acho que nós estamos acostumados com os filmes, não é? Com aqueles sonâmbulos engraçados que levantam de madrugada para fazer um lanchinho... 

A Kim o encarou, compadecida.  

— O que aconteceu hoje é uma exceção à regra. — afirmou. — Em todos os anos nos quais eu trabalhei lidando com os distúrbios do sono, nunca tratei de um paciente com um quadro de sonambulismo agressivo.  

— Então o que diabos eu estava fazendo todo ensanguentado em um beco naquele dia? — Namjoon rebateu no mesmo instante. Seus olhos se encontraram diretamente com os de Shinhye e a terapeuta os viu brilhando, marejados. — E por que você me ajudou? Eu podia ter lhe feito algo de ruim, assim como posso ter feito a alguém antes de você me encontrar. 

— O atendente de uma cafeteria que correu por quarteirões atrás de mim até me alcançar para, enfim, devolver a minha bolsa esquecida sobre o balcão não faria isso. — ela respondeu séria, sustentando o olhar do outro. — Eu não lhe conheço muito bem e certamente não o conhecia naquela noite, mas de uma coisa eu tenho certeza: você não teria me machucado.  

Namjoon balançou a cabeça e voltou a abaixá-la, já que não queria que Shinhye continuasse vendo-o naquele estado tão frágil.  

— Depois do acidente, quando eu perdi a memória, eu pedi para a minha mãe que não me contasse sobre a minha vida antes daquilo tudo. Eu soube o básico, como informações pessoais sobre mim mesmo e sobre a minha família, mas não quis saber do resto... — comentou, deixando a melancolia tomar conta da sua voz por um instante. — O médico tinha dito que eu dificilmente conseguiria recuperar as minhas memórias, então eu decidi não viver à sombra de quem eu fui um dia. Eu não queria me tornar alguém frustrado com a vida que perdeu ou, ainda, tentando ser alguém que eu não era mais.  

O Kim fez uma longa pausa. As lembranças de tudo o que tinha vivido naquela época ainda eram duras demais e, mesmo que ele lutasse para aprender a conviver bem com as mesmas, vez ou outra elas ainda conseguiam vencê-lo. Shinhye esperou o tempo do Kim em silêncio e posicionou o último eletrodo um pouco acima do seu peito, fazendo com que o gelado do pequeno pingo de cola presente no mesmo o fizesse retornar para a realidade. 

— Hoje, pela primeira vez, eu tive medo de descobrir. — ele continuou, agora com a voz sobrecarregada. — E se quem eu era reflete no que eu faço hoje enquanto não estou consciente? E se eu me torno aquela pessoa enquanto durmo? Será que eu realmente já fui capaz de machucar alguém? 

Depois de longos anos guardando tudo aquilo somente para si, aquela era a primeira vez que Namjoon se permitia expressar seus medos em voz alta — o medo de si mesmo — e ainda mais para uma outra pessoa; alguém que, tecnicamente, era uma completa desconhecida. Ele não sabia exatamente o que era, mas algo em Shinhye fazia com que as palavras fluíssem da sua boca sem grandes amarras, como se estivessem esperando o momento certo para serem ditas durante todos aqueles anos. Talvez fosse toda aquela situação ou o fato de ela ser uma estranha, já que diziam que as pessoas costumavam se abrir melhor com alguém que não conhecem e não pretendem encontrar com frequência, mas, no fundo, Namjoon sabia que ela também tinha a sua participação na sua sinceridade repentina. E por isso, mesmo não sabendo o porquê, ele se percebia um pouco menos perdido ao saber que se sentia confortável o suficiente com alguém para se abrir.  

— Honestamente, eu tive sim medo de você. — Shinhye disse, atraindo de volta o olhar do Kim para si. — Eu sentia que você não tinha machucado ninguém, mas era inevitável ter medo. Você era um estranho que eu encontrei ensanguentado na rua, no meio da noite, mas que eu sabe-se lá o porquê resolvi acolher na minha casa. Eu não sabia de onde você tinha vindo ou o que tinha feito, então eu tive medo... Mas, ainda assim, eu o ajudei. Sabe por quê? — pausou, vendo-o balançar a cabeça em uma negativa. — Porque eu simplesmente não achei que você fosse uma má pessoa. Eu obviamente não sei quem era o antigo Kim Namjoon, mas não acho que ele seja muito diferente do atual. 

— E se você estiver errada sobre o atual? — Namjoon a questionou, visivelmente cansado.  

Shinhye encarou o homem diante de si, agora sem quase nenhuma diferença de altura. Até algumas horas atrás, estava se questionando se não tinha, de fato, ajudado um assassino a escapar da polícia. Teve medo de descobrir a verdade sobre Namjoon, ao mesmo tempo que chegou a querer colocá-lo atrás das grades — contudo, aquilo tinha se transformado um tanto que radicalmente e numa velocidade assustadora. A Kim ainda queria investigá-lo, claro, mas estava realmente disposta a manter a sua promessa pessoal de fazer aquilo com o intuito de inocentá-lo. Ela tinha consciência de que ninguém mais sabia o que tinha acontecido naquele beco escuro, porém, ainda queria inocentar Namjoon diante dos seus próprios olhos, assim deixando de desconfiar dele de uma vez. Era do tipo de pessoa que confiava no seu instinto e o mesmo estava, naquele momento, gritando para que ela descobrisse toda a verdade enterrada tão profundamente dentro do Kim.  

— Eu acho que isso é o que nós temos que descobrir. — ela respondeu, por fim. — Juntos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Nem acredito que estou conseguindo trazer capítulos mais rápido, ainda que ainda não seja na velocidade que vocês merecem.
Espero que tenham gostado desse, pois eu gostei um pouquinho de judiar do Namjoon rssss.

Até breve ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Meu querido sonâmbulo 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.