Meu querido sonâmbulo 2 escrita por Cellis


Capítulo 32
Minha querida luta


Notas iniciais do capítulo

Depois de tirar alguns dias de "férias" nesse início de ano, aqui estou eu novamente! Espero que todos estejam seguros, saudáveis e aguentando firme os momentos tensos, pois é isso que eu venho fazendo por mim mesma, ainda mais nesses dias de folga kkkkk.
Enfim, sem mais enrolação, tem alguém aí preparado para sofrer um pouco hoje rsss?

Boa leitura!



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Dois dias.  

Dois dias já haviam se passado desde o ocorrido no parque de diversões abandonado, onde todos os três presentes precisaram ser socorridos e levados em uma emergência hospitalar naquela mesma noite, e Namjoon continuava a viver naquela angústia de não fazer a menor ideia do que estava acontecendo do lado de fora do seu minúsculo quarto de hospital. Na verdade, ele não sabia, de fato, se haviam se passado dois dias exatamente, mas imaginava que sim ao contar a passagem de tempo pelo cair da noite, o qual ele só podia ver através da janela de vidro embaçado posicionada quase ao lado da sua cama, e pelas refeições que as enfermeiras, todas de cabeça baixa e muito assustadas, traziam. Também pudera, se ele tivesse que cuidar de alguém que passava praticamente as vinte e quatro horas do dia algemado numa cama e, de bônus, tinha a entrada do seu quarto vigiada por um par de policias carrancudos, ele também não ousaria olhar nos olhos de tal pessoa.  

Só poderia se tratar de um criminoso, obviamente. 

Por isso, ninguém ousava lhe dizer absolutamente nada — os funcionários do hospital por medo e, por sua vez, os guardas de pé na sua porta por terem recebido ordens expressas para não o fazer. Seu coração se apertava em angústia e, com o passar das horas as quais ele desconhecia, diminuía cada vez. Na primeira manhã no hospital, a primeira coisa que perguntou ao abrir os olhos e conseguir se localizar foi por Shinhye, mas ninguém o respondeu. Naquele mesmo dia, quando o médico veio lhe explicar sobre a condição crítica do seu joelho e sobre a bateria de exames que ele precisaria ser submetido, o Kim protestou e aumentou a voz; mas, mesmo assim, nem mesmo o tal doutor pode lhe dar informações sobre a terapeuta.  

— Por favor, eu só preciso saber se ela está viva... 

Nem mesmo o pedido em tom de súplica adiantou. Os que não o tratavam como um verdadeiro criminoso perigoso, apenas o ignoravam. Com o passar do tempo, Namjoon foi emudecendo, seus ombros foram caindo e o seu pulso preso pela algema parou de lutar contra a mesma. Depois da primeira noite, ele se recusou a tomar café da manhã — não por um ato de rebeldia, mas sim por simplesmente não ter mais vontade de comer. Aquilo se repetiu no almoço e, com a chegada das primeiras horas da tarde, o médico achou melhor colocá-lo no soro. Assim, pelo menos, o Kim não morreria sob os seus cuidados.  

Outra noite se passou e, na manhã seguinte à mesma, um outro médico veio junto com a enfermeira responsável pelo seu café da manhã. O homem, alto e que já deixava aparecer os primeiros cabelos brancos, lhe avisou que deveria comer, pois logo mais os policiais o levariam embora do hospital. 

— Para aonde irão me levar? — Namjoon perguntou com a voz fraca. 

Contudo, no fundo, havia um fio de esperança na sua pergunta. Saindo dali, mesmo sem saber para aonde poderia acabar sendo levado, ele ao menos teria a chance de ter contato com o mundo exterior e, num golpe de sorte, poderia descobrir sobre o estado de Shinhye.  

E aquela era a única coisa que importava para si naquele momento. 

— Para o tribunal. — o médico respondeu, sério. — Eu ouvi dizer que hoje começa o seu julgamento.  

Aquele, certamente, não tinha sido o melhor jeito de receber aquela notícia, mas nem mesmo o maior dos especialistas conseguiria embelezá-la: Namjoon seria julgado em um tribunal por um júri popular; na verdade, tanto ele quanto Min YoongiEle só tinha notícias do mais velho por causa daquilo, só assim tomando conhecimento de que Taehyung havia lhe acertado um tiro no ombro que, no máximo, lhe deixaria dependente de uma tipoia por algumas semanas. Yoongi passara por uma cirurgia de emergência e, já no dia seguinte, fora enviado para uma cela isolada na principal delegacia de Seul. Ao contrário de Namjoon, que um par de horas depois de recusar novamente o seu café da manhã, recebeu uma visita de um defensor público que lhe contara tudo aquilo e viera o visitar para se apresentar e explicar os jeitos menos destrutivos para atravessarem aquele julgamento, o Min tinha contratado um advogado particular, o qual tentou entrar com um pedido judicial para que o seu cliente pudesse se recuperar da cirurgia no ombro no hospital e não numa delegacia; pedido esse, obviamente, que não tardou a ser negado.   

O Kim, na verdade, não ligava para nada daquilo. O seu defensor público era jovem, talvez os dois tivessem a mesma idade, e parecia repassar os detalhes do julgamento para as paredes conforme falava, pois Namjoon já não o ouvia mais. Enquanto fitava o sol mudando de posição pela janela do quarto — talvez já estivessem no meio da tarde, ele já não sabia dizer ao certo — o Kim repetiu a mesma pergunta que fizera a todos os que tinham entrado naquele quarto nas últimas quarenta e oito horas.  

— Você sabe alguma coisa sobre Kim Shinhye? — questionou um tanto sem esperança, pois já fazia ideia da resposta que estava prestes a receber. 

O defensor pausou sua fala — que, na verdade, tinha sido interrompida — e pensou por um instante.  

— A testemunha que não vai poder comparecer? — o rapaz respondeu com tamanha inocência que, por um momento, Namjoon custou a acreditar no que estava ouvindo. 

Virou-se e fitou o homem, que estava de pé ao lado da sua cama.  

— Testemunha? — perguntou, incrédulo. — Então isso significa que ela...  

— Está internada, sim. — o outro afirmou, já que o Kim parecia que não conseguiria terminar a sua própria frase. — Eu não sei direito quanto ao estado de saúde dela, mas disseram que não podiam adiar o julgamento até que soubessem como ela ficaria. Acho estranho estarem correndo tanto com esse julgamento, até porque...  

Depois da primeira resposta do defensor, Namjoon, novamente, já não ouvia mais as palavras que saíam da boca do outro — contudo, por um bom motivo dessa vez. Pela primeira vez em dois dias, ele tinha uma resposta, por mais nublada que a mesma pudesse ser. 

— Ela está viva. — constatou em voz alta, porém, num sussurro contido e um tanto aliviado.  

Kim Shinhye estava viva. 

— O que disse? — o defensor público indagou, sem ter ouvido o sussurro que, novamente, interrompera a sua fala. Ao contrário de impaciente, o rapaz parecia curioso.  

Namjoon voltou a fitar o outro e, pela primeira vez, o defensor o viu olhar diretamente em seus olhos.  

— Almoço. — o Kim disse, simples. — Você sabe quando irão trazer o meu almoço? Eu estou com fome. 

— Bem... — começou a responder pego um tanto desprevenido pela pergunta repentina. Coçou a nuca, sem jeito. — Eu posso ver com as enfermeiras, se você quiser.  

Dito aquilo, o Kim balançou a cabeça positivamente e o rapaz designado para defendê-lo hesitou, mas logo deixou o quarto buscando ao máximo atender o pedido do seu réu — se ele conseguisse fazê-lo, talvez Namjoon se abrisse um pouco mais e, finalmente, se despusesse a ouvir as propostas que o defensor tinha para ele. Por um outro lado, novamente sozinho em seu quarto, o Kim repentinamente sentiu vontade de lutar por si próprio como já vinha tentando fazer antes dos incidentes do parque de diversões — porém, agora, passaria a lutar também por ela

Shinhye não merecia nada daquilo pelo qual tinha sido obrigada a passar apenas para ajudar o Kim e, mesmo sabendo que estava sendo manipulado no momento, Namjoon não conseguia evitar de pensar nas palavras que Yoongi havia lhe dito no parque: você a arrastou para essa lama. Se ele tivesse recusado a sua ajuda ou, ao menos, tivesse ido até a delegacia se entregar quando decidiu fazê-lo... Shinhye não estaria internada naquele momento — e ele sequer sabia, de fato, qual era o real estado de saúde dela. 

Mas de nada adiantava se lamentar naquele momento. Namjoon estava cansado de sofrer e se martirizar pelo o que tinha ou não tinha feito no passado, inclusive em relação à própria Shinhye. Culpar-se por tudo o que tinha acontecido a ela não a ajudaria em absolutamente nada, porém, por outro lado, lutar em sua própria defesa faria valer os esforços quase sobre-humanos dela para que ele, por fim, conseguisse provar a sua inocência de algum modo; inclusive para si mesmo. 

De repente, Namjoon ouviu murmúrios do lado de fora do quarto — ou era como a conversa soava para si, já que ele não conseguia escutar muita coisa — e, logo em seguida, a porta do seu quarto foi aberta sem nenhuma hesitação, o que não acontecia com muita frequência já que apenas funcionários amedrontados do hospital costumavam visitá-lo. Sem ter visão imediata da porta devido à arrumação do quarto, o Kim imaginou que o defensor público estivesse voltando com alguma notícia entusiasmada do seu almoço, mas a figura que surgiu por detrás de uma parede branca foi a que Namjoon menos esperava ver naquele momento.  

— Kim Taehyung? — perguntou, surpreso.  

O mais novo, por sua vez, usava a sua habitual jaqueta de couro, calça jeans e uma camisa branca e, assim que viu Namjoon, fez um rápido gesto com o indicador direito, levando-o até os seus próprios lábios.  

“Silêncio, não diga nada.” 

— Mas você tem certeza disso? — uma outra voz masculina veio seguindo Taehyung e, logo, um par de policiais fardados apareceu por detrás do Kim mais novo.  

De cara, Namjoon percebeu que aqueles deveriam ser os dois que estavam de plantão guardando a porta do seu quarto naquele dia. Sem entender o que estava acontecendo, ele fez exatamente o que Taehyung havia lhe pedido: se calou e esperou.  

— Você quer mesmo ligar para o Promotor Lee para confirmar? — Taehyung rebateu, sério, e virou-se para a dupla. Estava parado ao lado da cama de Namjoon, enquanto os policiais acabaram parando aos pés da mesma. — Bem, se esse for o caso, eu lhes desejo sorte. — disse, o que deixou os dois oficiais confusos. Riu, cético. — Vocês não sabiam que ele é o promotor responsável pelo julgamento desse homem hoje? Por isso, se ele chegar a atender ao telefone, não será do modo mais educado possível.  

Ao tomarem ciência daquele fato, um dos oficiais encolheu os ombros e fitou o outro, mais novato, que ainda não parecia se dar conta da gravidade da situação. Assim, o mais velho se inclinou na direção do outro e sussurrou: 

— Melhor deixar isso quieto. Deixa o Oficial Kim levar ele, está bem? 

— Mas a gente não deveria... 

— Não. — o guarda interrompeu, sério. — Vai por mim, a gente não deveria fazer nada. 

Ao ouvir aquilo, o oficial mais novo apenas balançou a cabeça positivamente e, mesmo um tanto contrariado, resolveu acatar a decisão do seu veterano. Ao perceber que a breve discussão dos dois havia terminado, Taehyung estendeu a mão direita na direção deles, que não entenderam sobre o que exatamente aquele gesto se tratava. 

— Vocês querem que eu leve a cama junto com ele? — o Kim questionou com o seu típico jeito não muito agradável ou simpático.  

Finalmente compreendendo, o oficial mais velho sacou a chave das algemas do bolso do uniforme, porém, parou com a mesma suspensa no ar por um momento antes de entregá-la a Taehyung.  

— Mas você vai levá-lo sem as algemas? — questionou, confuso e hesitante. 

— Ele parece estar em condições de fugir? — o Kim rebateu num tom desafiador e um tanto sarcástico. — O homem não consegue sequer ficar de pé. 

Depois de pensar por um momento, o oficial apenas concordou — afinal, desde que começara a fazer a escolta na porta do quarto de Namjoon, pelo menos nos seus turnos, ele nunca tinha visto ou ouvido falar que o homem tinha se levantado sem ajuda da cama. Quando precisava ir ao banheiro, inclusive, o detido tinha que solicitar a ajuda de algum enfermeiro, já que a condição da sua perna realmente não era das melhores. Assim, o guarda apenas entregou a chave da algema para Taehyung, depositando o pequeno metal frio na palma da mão do mesmo. 

Feito isso, o Kim mais novo se inclinou na direção do pulso de Namjoon, que estava preso à guarda da cama, mas parou no meio do caminho quando percebeu que os dois guardas ainda estavam ali. 

— Vocês podem voltar aos seus postos de origem agora, estão dispensados. — afirmou transmitindo confiança em sua voz. — A República da Coreia do Sul agradece pelos seus serviços prestados.  

Ao ouvir aquilo, ambos os oficiais bateram continência e, logo em seguida, saíram porta afora pelo hospital, finalmente deixando Taehyung e Namjoon sozinhos no quarto.  

— O que acabou de acontecer aqui? — o Kim mais velho indagou enquanto o outro abria a algema que prendia o seu pulso.  

Quando finalmente pode sentir aquela liberdade, Namjoon esfregou com o dedão a área arroxeada ao redor do seu pulso, marca essa que aparecera ali depois de ele muito tentar se soltar das algemas. Agora, parecia ter sido livrado de um enorme peso, o qual estava o puxando cada vez mais para baixo. 

— Considere como uma última boa ação minha como policial. — o rapaz respondeu e, em seguida, apanhou uma cadeira de rodas que estava em um canto do quarto apenas esperando para ser usada. — Vem, eu o ajudo a descer da cama.  

Namjoon estava extremamente confuso, já que Taehyung parecia ter mentido para os policiais sobre ter recebido ordens direto do Promotor Lee para levá-lo embora do hospital, porém, o Kim mais velho apenas confiava o suficiente nele para não precisar levantar maiores questionamentos. 

Só havia uma única dúvida rodeando os seus pensamentos naquele momento.  

— Por que você está me ajudando? — Namjoon questionou e, apesar da dor constante em seu joelho e que só piorava quando ele tentava movê-lo, conseguiu se ajeitar com maior facilidade na cadeira de rodas graças à ajuda de Taehyung. O mais novo tinha, até mesmo, levado em consideração a lesão do outro e, por isso, ergueu um dos apoios de pé da cadeira antes que Namjoon se sentasse, para que assim a sua perna pudesse ficar completamente esticada e não exercer nenhuma pressão sobre o joelho machucado. — Digo, depois de tudo o que aconteceu com a sua irmã por minha causa, eu não entendo como...  

— Você está certo. — o policial o interrompeu, sério. Destravou a cadeira de rodas e começou a guiar Namjoon em direção à porta. — Quando eu vi a localização dela, eu imediatamente soube que havia algo de errado. Naquele mesmo instante, enquanto eu dirigia para aquele parque feito um louco, eu jurava que aquele tiro que eu acertei no Yoongi seria para você. 

Os dois já estavam no corredor do hospital quando aquelas palavras foram ditas por Taehyung e, naquele exato momento, um par de enfermeiras que passava por eles se assustou com a afirmação do Kim mais novo, mas acabaram seguindo o seu caminho enquanto apenas cochichavam entre si.  

— Eu sinto muito. — Namjoon sussurrou e abaixou a cabeça, acabando por não perceber que, quando Taehyung se aproximou do elevador empurrando a cadeira de rodas, apertou a seta que apontava para cima ao invés daquela que os levaria até o andar térreo do hospital. 

— Não sinta. Afinal de contas, eu não atirei em você. — as portas do elevador se abriram e, felizmente, o mesmo estava vazio. O mais novo entrou empurrando a cadeira, que cabia confortavelmente dentro da caixa metálica, e apertou o botão para dois andares acima do que estavam. — Sinceramente, eu não faço ideia do que aconteceu entre vocês três naquela noite, mas uma coisa eu notei assim que cheguei no parque: não foi você quem machucou a minha irmã. Eu ainda não gosto de você, Kim Namjoon, mas eu sei que você lutou por ela naquela noite, e esse é o único motivo pelo qual eu estou fazendo isso. 

Durante mais um momento, Namjoon manteve a cabeça abaixada, só então processando as palavras do Kim mais novo. Assim, ele ergueu a cabeça e o fitou por cima do ombro direito com o cenho franzido.  

— Isso o que? — questionou.  

Taehyung respirou fundo e, no instante seguinte, as portas do elevador se abriram no décimo primeiro andar do hospital onde estavam. 

— Você já vai descobrir.  

 

*** 

 

Quando a cadeira de Kim Namjoon foi parada por Taehyung diante da porta de um dos quartos daquele andar, onde costumavam ficar internados casos mais difíceis de serem compreendidos ou tratados, a primeira coisa que o Kim mais velho fez foi ler o nome escrito na plaqueta amadeirada que ficava ao lado da mesma. De repente, seus olhos se arregalaram e a sua boca se emudeceu.  

— Sim, é aqui que ela está. — o mais novo disse em voz alta o que Namjoon tinha acabado de constatar dentro da sua própria mente. Suspirou. — O que você está prestes a encontrar pode não ser o que você esperava, contudo, não deixe isso transparecer para ela, por favor. O que a noona mais odeia nesse mundo é que tenham pena dela. 

Taehyung não percebia, mas a sua voz pesava cada vez mais conforme ele dizia aquelas palavras. Sua irmã já estava há dois dias naquela situação e ele simplesmente não aguentava mais vê-la daquele jeito. Talvez, ele pensou como quem atira no meio da escuridão total, a presença de Namjoon pudesse fazer alguma melhora no quadro dela, o que o levou a passar por cima de qualquer princípio ou julgamento e, assim, acabar por levar o Kim mais velho até Shinhye. Se fosse uma pessoa religiosa, ele estaria rezando naquele momento para que aquilo realmente desse certo — mas, infelizmente, Kim Taehyung nunca tinha sido ensinado a rezar. 

Abriu a porta do quarto que, ao contrário do de Namjoon, era espaçoso e até mesmo agradável considerando se tratar de um quarto branco e que cheirava ligeiramente a desinfetante de hospital. Também diferindo da acomodação de Namjoon, não havia uma parede mal planejada que bloqueava a visão entre a porta do quarto e a cama do paciente, o que fez com que a primeira coisa que o Kim mais velho visse ao ter sua cadeira conduzida para dentro do quarto fosse a visão de Kim Shinhye deitada sobre uma cama hospitalar. Os olhos fechados, o corpo imóvel e parte da face coberta por uma máscara de oxigênio. Os braços posicionados cada um de um lado do seu tronco, os cabelos secos e o rosto pálido.  

Não parecia haver vida nela, o que automaticamente chocou Namjoon. 

Nem mesmo Taehyung, que agora empurrava a cadeira de Namjoon na direção da cama da irmã, que já vinha há um par de dias vendo aquela mesma cena estática, conseguia se acostumar com aquilo, então ele apenas permaneceu em silêncio e esperou que o Kim mais velho lidasse com aquilo do seu próprio jeito. Parou a cadeira o mais próximo que conseguiu da cama e travou suas rodas ali.  

— Ela ainda não acordou. Desde aquele dia. — o mais novo explicou com a voz embargada. — Os médicos encontraram um coágulo que se formou atrás da cabeça dela, um pouco acima da nuca, e dizem que isso pode ter ligação com essa espécie de coma que ela está. De qualquer jeito, ninguém sabe dizer quando ela vai acordar. Se ela vai acordar... — pausou e pigarreou, controlando uma lágrima insistente que desejava tomar conta da sua visão. — Bem, eu tenho certeza de que aquele guarda novato vai acabar ligando para o Jihoon para confirmar a minha história e, quando ele descobrir que eu menti, eles mandarão toda a força policial para cá. Eu não sei quanto tempo nós temos até nos acharem aqui, mas não deve ser muito. Sinto muito, mas isso é tudo o que posso fazer.  

Sem coragem de pronunciar uma única palavra, Namjoon apenas balançou a cabeça positivamente para deixar claro que tinha entendido a mensagem — ele queria agradecer Taehyung e dizer que ele já estava fazendo muito mais do que lhe cabia, mas as palavras simplesmente travavam na sua garganta. Assim, o Kim mais novo deixou os outros dois sozinhos no quarto, se posicionando na porta exatamente do mesmo jeito como os guardas que vinham escoltando Namjoon naqueles últimos dias. No cós da calça jeans estava guardada a sua arma e, naquele momento, ele apenas focou em se preparar para sacá-la dali quando precisasse.  

Dentro do quarto, Namjoon estava perto o suficiente da cama para alcançar a mão fria e pálida de Shinhye, mas o medo simplesmente o impedia. Ergueu a sua própria mão, a esticou e, primeiramente, a deixou pendente no ar, hesitando — porém, por fim, ele finalmente resolveu acatar a ordem que o seu impulso lhe dava e abraçou a mão direita da Kim com a sua com todo o cuidado do mundo.  

O medo não era de machucá-la, mas sim, de perdê-la

Naquele momento, seu peito foi esmagado por uma sensação ansiosa e triste, algo semelhante ao que ele sentira ao perceber que não se lembrava sequer de quem ele mesmo era ao acordar do seu coma. Agora, era Shinhye quem estava naquela situação agonizante, e ele preferia mil vezes estar no lugar dela do que ter que assisti-la passar por aquilo. 

E por sua causa. 

— Como eu posso fazer isso? — o Kim questionou e, quando percebeu a voz trêmula, soube o que logo viria a seguir. — Eu acabei de prometer que seria forte, que lutaria... Mas como eu posso fazer isso vendo você assim? — de repente, a primeira lágrima escorreu do seu olho direito. Todos aqueles sentimentos e emoções que vinha enterrando há tempos dentro de si agora estavam querendo extravasar todos de uma vez. — Eu não queria mais me culpar, mas olhe para você. Como eu posso não ser o culpado por isso?  

Naquele momento, Namjoon não seria capaz de se reprimir nem mesmo se quisesse. Não tardou para que uma lágrima virasse duas, que viraram mais duas e que, em seguida, estavam sendo acompanhadas por soluços. 

— Por favor, continue lutando comigo. — ele implorou e apertou a mão dela entre as suas. — Eu sinto muito em decepcioná-la, mas não sou forte o suficiente para fazer isso sozinho. Sem você. 

E ele realmente não era, de fato. Antes de conhecer Shinhye, Namjoon não tinha nenhuma vontade de lutar ou ajudar a si próprio, apenas vivia a sua miserável vida conforme as pessoas ao seu redor lhe ditavam. Fora por influência dela que ele começara a querer resistir e enfrentar isso, contudo, ainda era instável e abalado demais para perceber a força que realmente tinha dentro de si. Com Shinhye ao seu lado, ele conseguia enxergar a si mesmo com mais clareza e confiança, como se ela fosse capaz de jogar um feixe de luz na escuridão que ele guardava dentro de si há tantos anos. Não que ele quisesse ser dependente dela, pelo contrário, sabia que caminhar com as próprias pernas em algum momento seria necessário naquele processo, mas era capaz de reconhecer que ainda não era capaz de fazê-lo. 

Ainda precisava daquele feixe de luz. 

— Eu sinto muito. — disse com a fala já embolada pelo choro. — Acorde para que você possa ouvir o pedido de desculpas que você merece, hm? Por favor...  

Infelizmente, com a mesma rapidez que Namjoon pensava ter conquistado a sua confiança, ele estava vendo a mesma ruindo diante dos seus olhos e de uma Shinhye tão fragilizada daquele jeito. Abaixou a cabeça, o que fez com que as lágrimas começassem a pingar diretamente na calça hospitalar que usava. 

Porém, de repente, o Kim sentiu algo se movimentar lentamente sob as suas mãos. Ergueu novamente a cabeça de forma um tanto abrupta e se deparou com uma Shinhye ainda imóvel, contudo, não tardou a constatar que ela tinha acabado de mexer a sua mão, mesmo que em um movimento fraco.  

Ela estava lutando. 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Min Yoongi é um psicopata, mas vocês conseguiram descobrir quem é o verdadeiro vilão para o Namjoon? Quem respondeu que é ele mesmo, ganha um bombom e um afago depois desse capítulo não muito feliz! Ah, não se esqueçam de torcer pela Shinhye (ou de ameaçar a autora pela melhora dela).

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo. Nos vemos em breve ♥



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