Fantasmas De Um Homem escrita por JennyMNZ


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Uma coisa antiga que eu escrevi pra October Maiko Week 2015, e nunca tinha tido coragem de importar pro português, mas que finalmente está pronta (eu acho). Mas é sério, essa coisa é muito grande... Nem sei como eu consegui escrever tanto...

Aproveitem a pequena Izumi (eu amo essa garota) e tenham uma boa leitura!



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Seu pai, Izumi logo veio a entender, era um homem assombrado.

Sua noção não começou exatamente assim. Quando ela era bem jovem, e ainda acreditava em contos de fadas, ela simplesmente achava que tinha coisas que ele queria esconder - ou só não queria contar para ela. Coisas que ele evitava responder.

Mas é claro, muitas dessas coisas eram provavelmente porque ele não tinha tempo o suficiente para ver como era uma pergunta completamente plausível e aceitável, como quando ela perguntara “porque o céu é azul?” e também “quem colocou os patos-tartarugas na lagoa?”. Ele dizia para ela perguntar para a mãe, e a mãe dela iria apenas suspirar e dizer para ela que o Senhor do Fogo estava apenas sendo bobo e não queria admitir que ele não sabia, ninguém sabia. Ela iria então sair emburrada e pensar nas respostas sozinha.

As vezes ele iria simplesmente dizer que responderia em outra ocasião, como se não fosse algo tão importante que ela precisava saber imediatamente, mesmo que realmente fosse e ela estivesse muito curiosa e ele fosse o único que podia contar a história desde o começo e ainda fazer vozes engraçadas para fazê-la rir. Como quando ela queria saber “como você encontrou Druk?” ou “como você e o Avatar se tornaram amigos?”, e ele simplesmente dizia não, outro dia, porque já estava muito tarde e ele já tinha contado três histórias para ela, então ela devia dormir logo, ele contaria para ela da próxima vez. Mas ele nunca iria se lembrar na próxima vez, e quando ela finalmente o lembrasse ele já teria contado outras três histórias e já seria hora de dormir mais uma vez.

No entanto, haviam perguntas que o machucavam, ela conseguia ver isso. Quando ela perguntava coisas como “onde o seu pai está?” ou “quando a sua irmã vai voltar?” parecia que ela havia acabado de socá-lo no estômago. Ele iria sempre olhar para baixo, seus olhos tristes e presos no passado, então ele iria oferecer a ela um pequeno sorriso forçado. Ele iria afagar o seu cabelo e então prometeria contar a ela outro dia.

— Papai, como você ficou com essa cicatriz? — Aquela pergunta era uma delas.

— É uma longa história, meu bem, — ele disse suavemente, — Eu te conto outro dia, quando você for crescer, tá bom?

Então ela iria ficar quieta e apenas concordar, e seu pai iria caminhar pelos corredores com os ombros baixos. Lembrando coisas que ele havia tentado esquecer. Ela sabia que, assim como todas as outras perguntas dolorosas, ela nunca faria essa pergunta e ele novamente. Então ela também ficaria um pouco triste, porque ela nunca quisera magoá-lo pra começar.

Mais tarde, durante o jantar, sua mãe teria que lidar com os dois sendo pensativos em frente à mesa, e Izumi sabia que ela não tinha paciência para aquilo.

Ela não teve a coragem de perguntar ao pai novamente, então ela recorreu à sua mãe.

— Foi uma pessoa ruim que fez aquilo, — foi tudo o que ela respondeu. Izumi enterrou a cabeça mais fundo no seu cabelo negro longo e sedoso e sua mãe a abraçou mais forte. Ela sempre sabia quando sua filha estava fazendo de tudo para impedir as lágrimas de tristeza caírem.

— Mas por quê? — Ela sempre achara que havia sido um acidente, e descobrir que uma pessoa fizera aquilo de propósito era assustador.

— Pessoas ruins fazem coisas ruins, — Mai respondeu com uma voz suave, acariciando os cabelos da filha.

— Doeu? — Izumi soluçou depois de ficar tanto tempo em silêncio.

— Muito, — sua mãe respondeu, ainda se lembrando dos gritos daquele dia.

— Ainda dói?

Mai pensou no rosto do seu marido, marcado com crueldade. A sensação que sua cicatriz deixava toda vez que ela tocava seu rosto. Seu antigo ferimento não queimava mais, me ela tinha certeza de que, apesar das reclamações ocasionais de como ela afetava a sua aparência, a cicatriz não o feria. Fisicamente.

E porque ela sabia o que sua filha queria realmente saber, sua resposta foi diferente das outras vezes que pessoas lhe haviam feito aquela pergunta.

— Às vezes.

— Fantasmas? — Sua voz era cética. Izumi não acreditava em fantasmas.

— É, essa é uma forma de dizer, — o dobrador mais poderoso do mundo respondeu sem jeito.

Aquela era uma explicação estúpida e Izumi sabia, e ela não ia fingir que fazia sentido, mesmo que quem tivesse dito fosse, de fato, o Avatar em pessoa.

A mãe dela que lhe ensinara assim.

— Sabe, para um homem sábio você pode ser muito bobo. — Aang sentiu as facas no olhar afiado da garotinha.

— Bem, — ele tentou se explicar, — É claro que eu não estou dizendo que o seu pai está vendo almas de pessoas mortas, se é isso que você achou.

Ela cruzou os braços, mas não se moveu da sua posição sentada em frente ao melhor amigo do seu pai. Seu cenho estava franzido em confusão e ela continuou em silêncio por alguns momentos, pensando no que ele acabara de dizer

— Eu ainda não entendo o que você está dizendo, — ela confessou frustrada.

Aang sorriu para sua expressão confusa e tentou explicar mais uma vez.

— Veja bem, todo mundo gosta de lembrar das coisas boas que aconteceram no passado, certo? — Izumi concordou, ela conseguia entender aquilo muito bem, ela sempre gostava de se lembrar das últimas férias que ela passara com os pais na Ilha Ember.

Quando ela confirmou, ele continuou.

— E também tem as coisas ruins do passado que nós lembramos, mas que não gostamos de pensar nelas. — Ela concordou mais uma vez, entendendo o que ele dizia, ela ainda se lembrava do dia em que acidentalmente botara fogo no sofá do seu quarto e tivera muita dificuldade em apagar as chamas. (Aquela foi a primeira vez que sua mãe gritou com ela.)

— Mas também existem outras coisas, — Aang continuou a explicar, — Coisas muito ruins que as pessoas prefeririam não se lembrar em hipótese alguma. Elas tentam esquecer essas coisas, mas quanto mais elas tentam, mas elas se lembram delas. Quando elas pensam que se esqueceram, tudo volta de uma vez só depois. E machuca muito mesmo, mas eles nunca conseguem se livrar delas.

Dessa vez Izumi não fez que sim com a cabeça. Não porque ela não tinha entendido o que ele lhe contara, mas porque ela não conseguia se lembrar de nada do tipo acontecendo com ela. Que tipo de coisa ruim poderia fazer aquilo com uma pessoa?

— Então, — ela deu voz aos pensamentos, insegura, — Você está dizendo que uma coisa muito ruim aconteceu com meu pai, e agora ele não consegue se esquecer. E é por isso que ele fica triste quando eu pergunto sobre isso.

Foi a vez de Aang concordar.

— Você ainda é muito nova, então deve ser um pouco difícil entender…

— Nunca aconteceu comigo, mas eu acho que entendendo, — ela disse quietamente, olhando para as mãos no seu colo, — Essas memórias, elas são como um fantasma. Nós enterramos os mortos, mas a alma não nos deixa tão facilmente. Elas sempre voltam, mesmo quando a gente deseja que elas não voltem.

Aang piscou, e então sorriu. Aquela era a filha de Zuko e Mai afinal.

— É. Exatamente.

— Fantasmas? — A voz dele era meio incrédula, meio divertida, — Eu não sabia que você acreditava em fantasmas, Izumi.

— Eu não acredito, — ela explicou rapidamente, — Eu quis dizer os fantasmas figurados. Sabe, memórias ruins que não vão embora.

— Ah, certo, esses fantasmas. — Ele serviu mais uma xícara de chá para eles, — Você acha que está tendo alguns fantasmas, Izumi? — Ele perguntou com uma voz entretida.

— Não, não é isso. — Ela hesitou em como se explicar melhor sem revelar a origem da sua curiosidade.

Mas aquele era o tio Iroh, e quando ele riu em voz alta, ela soube que ele já sabia.

— A maioria das pessoas que presenciou uma guerra tem um fantasma ou dois, — ele começou suavemente. — É por isso que algumas pessoas dizem que a guerra não acabou de verdade, porque nós ainda carregamos pedaços dela.

— Os fantasmas. — Izumi queria ter certeza que estava entendendo tudo corretamente.

— Sim, os fantasmas, — o semblante de Iroh ficava mais solene conforme ele continuava, — No entanto, você não precisa ir para o campo de batalha para tê-los, você só precisa de um evento trágico em sua vida. E geralmente as pessoas que compartilham as mesmas experiências não compartilham os mesmos fantasmas. Tudo depende do que eles valorizam e do quanto eles estão dispostos a sacrificar para protegê-lo.

Ele bebeu seu chá silenciosamente, ainda incerta se havia compreendido direito.

Ele riu mais uma vez antes de continuar.

— Você ainda é nova demais para entender esse assunto completamente, minha querida, — ele disse em um tom gentil.

— Você… — ela perguntou cuidadosamente, — Você tem algum fantasma?

— Alguns, — ele respondeu com sua voz alegre de sempre, — Eu não me queixo deles, embora eu esteja feliz que alguns deles tenham ido embora.

— Eu também vou ter fantasmas? Quando eu crescer? — Sua voz era baixa, mas curiosa.

— Eu certamente espero que não! E tenho certeza que seus pais vão dar o melhor de si e ainda mais para impedir que você os tenha.

Ela tomou outro gole de chá e ficou em silêncio por um tempo, assimilando tudo o que começara a perguntar sobre fantasmas. Iroh desfrutou do seu chá e de sua presença, mesmo que ela não estivesse fazendo tantas perguntas como de costume e que sua expressão de preocupação estivesse começando a preocupá-lo também.

Finalmente, depois de muito refletir, ela quebrou o silêncio.

— Quando os fantasmas vão embora, tio?

Ele suspirou, sabendo o que ela queria que ele respondesse, mas tendo que contrariá-la.

— Às vezes eles nunca vão, — ele respondeu pensativo, — Outras vezes, no entanto, só precisa de um pouco de esforço da pessoa em se tornar mais forte do que eles. Se você consegue ficar um pouco mais feliz com as coisas que antes deixavam você triste, então os fantasmas vão eventualmente desaparecer, e você estará livre.

Os ombros dela se relaxaram e a preocupação no seu rosto reduziu consideravelmente. Ele sorriu, aliviado. Contanto que ela tivesse seus pais com ela, ele sabia, ela estaria muito bem.

— Mais chá? — Ele perguntou, sua voz alegre mais uma vez.

— Sim, por favor, — Izumi sorriu então. Tio Iroh sempre sabia como fazê-la se sentir melhor.

— Um beijo de boa noite? Você não está grandinha demais pra isso, patinha? — Ele já havia contado três histórias para ela e embrulhado-a confortavelmente em sua cama quando ela fizera seu pedido.

— Eu também estou grandinha demais pra ser chamada de “patinha”! — Ela não estava, ela sabia que não. Ela não estava grandinha demais para um beijo de boa noite também, mas como uma garota mais velha ela tinha que fazer alguns sacrifícios para provar que ela já havia crescido.

No entanto, ela estava disposta em deixar seu pai mimá-la mais uma vez, mesmo que ela fosse negar tudo com a maior veemência no dia seguinte.

Então depois que os lábios de seu pai deixaram sua testa e ele começou a se afastar ela o segurou pelo pescoço e beijou seu rosto, o lado ruim - com a cicatriz, e então sorriu para ele.

— Eu espero que seus fantasmas desapareçam logo, papai.

Ele pareceu chocado num primeiro momento, mas então ele riu e sua expressão de surpresa se derreteu em uma de afeição.

— Eu também, patinha, — ele disse gentilmente, — Eu também.

E quando seu pai sorriu suavemente para ela, ela soube que eles não ficariam por perto por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

P.S.: Eu só sei que comecei a escrever e ninguém me impediu. Fiquem com isso agora!
P.S.²: Na versão original Zuko chamava Izumi de 'turtleduck' (pato-tartaruga), mas ficou feio deixar no literal
P.S.³: Essa era minha maior one-shot na época. De todos os meus anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece. Aproveitem, é por tempo limitado (muito limitado).

Opiniões são bem-vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

E também eu estava muito cansada pra verificar se tinha algum erro, então se você ver algum pode comentar ou me avisar por MP que eu agradeço

:)



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