A Herdeira escrita por Nany Nogueira


Capítulo 6
As núpcias




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Na cabeça, Anita sustentava a coroa de Seráfia do Sul, dada por sua avó Helena.

Heitor, por sua vez, ostentava a coroa de Seráfia do Norte, presente do seu avô Augusto.

Açucena era a única que parecia contrariada no altar. Antes que o filho tomasse o seu lugar de noivo, ainda comentou com o rapaz:

— Essa moça desfaz de tu e não te merece.

— Mãe, sabemos quais são as circunstâncias desse casamento, não está sendo fácil para ninguém. Melhor irmos agora.

Açucena tomou o braço de Heitor e, ainda a contragosto, acompanhou o jovem no altar.

O pároco começou a cerimônia. Os revoltosos não tiraram os olhos de Felipe no altar.

Veio a pergunta aguardada por todos:

— Heitor Araújo D’ávila, aceita Anita como sua legítima esposa?

— Sim, aceito.

— Anita Peixoto Avignon de Toledo, aceita Heitor como seu legítimo esposo?

Anita ficou muda, como perdida numa realidade paralela. O silêncio dela começou a preocupar os presentes. Heitor fechou a expressão, preocupado. Os revoltosos já ameaçavam se levantar. Como se ela tivesse voltado a si respondeu:

— Sim, aceito.

Todos respiraram aliviados.

— Eu os declaro marido e mulher, em nome do pai, do filho e do espírito santo. O noivo pode beijar a noiva – concluiu o padre.

Heitor aproximou-se de Anita engolindo em seco, sem saber direito o que deveria fazer. Não tinham combinado nada sobre o momento do beijo. Anita percebeu o embaraço do rapaz e ela mesma tomou os lábios dele num beijo rápido e estalado, suficiente para satisfazer o desejo de romance de “conto de fadas” do povo de Seráfia.

Saíram de braços dados sob uma chuva de pétalas de rosas brancas. A moça pensou: Bem apropriado para o nosso casamento branco.

Durante a grande festa nos salões do Palácio de Seráfia do norte, onde os noivos concordaram morar para terem a supervisão de Maria Cesárea e Rei Augusto nos negócios do reino, deu-se a grande festa de casamento.

Os noivos cortaram o bolo juntos, tomaram champanhe com os braços entrelaçados, dançaram valsa e receberam os convidados... tudo conforme o figurino.

Heitor olhou em volta e por um momento sentiu como se tudo fosse real, mas, fez questão de afastar rapidamente os pensamentos ao se recordar claramente dos termos exigidos pela esposa.

O padre se aproximou com ministros de Estado e falou baixo:

— Está na hora dos noivos se recolherem para a consumação.

Anita ficou pálida e perguntou:

— O que disse? Acho que não escutei direito.

Um dos Ministros explicou:

— É um velho costume de Seráfia. Quando os noivos são reis, acontece a cerimônia de consumação para que todos saibam que o casamento é válido e que a noiva era virgem. Dissipando todas as dúvidas e receios quanto à linhagem dos herdeiros do trono.

Foi a vez de Heitor perguntar, encabulado:

— Vocês querem que a gente faça... ahn... na frente de vocês?

— Nem morta! – falou Anita, exaltada.

O Padre esclareceu:

— É claro que não, meus filhos. Isso seria imoral. Vocês vão se recolher aos aposentos reais, de portas fechadas. Ficaremos em oração e vigília do lado de fora até o amanhecer. Oraremos pela saúde e fertilidade do casal. Pela manhã, vamos bater na porta, esperar que estejam recompostos e pegar o lençol com o sangue da noiva. Ele será estendido na sacada principal do Palácio para que todo o povo saiba da virtude de sua rainha.

Anita se manifestou:

— Isso é um absurdo! É machista, ultrapassado! Que eu saiba não houve nada disso quando do casamento de Rei Augusto com Maria Cesárea.

— Rei Augusto já era Rei e Maria Cesárea uma plebéia. A ela nunca foi conferido o título de Rainha regente, mas apenas de Rainha consorte. Já vossa alteza, princesa Anita, será a Rainha regente e sua pureza e garantia de prole é importante para o povo, principalmente por ter sangue nobre – explicou outro Ministro de Estado.

— Eu não vou me sujeitar a isso – falou Anita, contrariada.

— Isso nos leva a concluir que a princesa não é mais virgem, o que gera um problema para a descendência e o casamento temerário, podendo ser desfeito agora mesmo – explicou um dos Ministros.

Heitor, sempre mais ponderado disse:

— Minha noiva é virgem, tenho plena convicção disso. Ela apenas está nervosa e encabulada. É difícil para uma donzela fazer amor pela primeira vez sabendo que tem uma comitiva na sua porta. Permitam-me conversar a sós com ela e acalmá-la.

Heitor puxou Anita pelo braço para um canto mais afastado:

— Anita, se acalme.

— Como quer que eu fique calma. Nosso plano de casamento branco vai por água abaixo com toda essa loucura. Ou eu me entrego a você ou descobrem a nossa simulação. Por mim, que descubram, mas e meu pai, minha mãe, meus irmãos? O que será deles nas mãos dos revoltosos? – deixando rolar algumas lágrimas dos olhos – eu sempre sonhei que na minha primeira vez eu me entregaria por amor e não por obrigação.

— Anita, eu jamais te possuiria sem que você quisesse de verdade, sem que me amasse. Não quero ter o seu corpo sem ter também o seu coração. Apenas confie em mim. Se estamos simulando esse casamento, também podemos simular a noite de amor que eles querem.

— Como?

— Apenas confie.

Heitor voltou segurando a mão de Anita, informou que já tinha acalmado a noiva e que iriam para a noite de núpcias conforme a tradição.

O casal entrou na suíte nupcial. As empregadas já aguardavam a noiva no quarto conjugado para o banho com ervas perfumadas, vestindo-a em seguida com uma linda camisola de seda branca, representando a sua pureza.

O noivo também se trocou, colocando um pijama azul de seda. A noiva apareceu linda e perfumada. Heitor não segurou uma exclamação:

— Uau! Você está divina!

As empregadas saíram e fecharam a porta, deixando o casal a sós.

Anita sentou-se na cama e perguntou:

— E agora? Vamos fingir que estamos transando?

— Sim, vamos fingir. Primeiro, vamos abrir o champanhe, fazer um brinde...

— Brindar a o quê?

— Se não ao nosso casamento, pelo menos a nossa amizade. É pedir muito?

— Acho que posso brindar a isso.

— Ótimo, porque estamos juntos nessa.

Heitor se levantou, serviu duas taças de champanhe, entregou uma à moça, brindaram e beberam.

Ele reparou:

— Está nervosa?

— Você não está me embebedando para dormir comigo, né?

— Eu já falei que jamais lhe tomaria como minha contra a sua vontade. Ninguém fica bêbado com um gole de champanhe – tirando a taça da mão dela e repousando junto a dele no criado-mudo - Vamos esperar mais um pouco e começar a brincadeira.. Eles vão ouvir...


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