A Herdeira escrita por Nany Nogueira


Capítulo 4
A visita ao prisioneiro




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— Pra mim a sua palavra não vale nada, por motivos óbvios, mas, com um contrato assinado, posso pensar no caso – expôs Anita.

— Está bem, pense o tempo que quiser, mas lembre-se que o tempo pode estar contra o seu pai – observou Heitor.

— Vou te dar uma dica: Eu não funciono bem sob pressão!

— A pressão não vem de mim, eu só a lembrei que ela existe. Com licença, estou faminto e o almoço está servido – concluiu Heitor, saindo do jardim em direção à parte interna do Palácio.

Anita pouco provou da comida, o pensamento estava confuso e distante. Logo após todos se levantarem da mesa, pediu licença e foi para o quarto de hóspedes que lhe fora designado. Tomou um demorado banho, trocou-se, encontrou alguns livros sobre o criado-mudo, escolheu um deles e começou a ler, contava a história de Seráfia, desde o descobrimento por Serafim D’ávila até a guerra na qual sabia que seu avô Teobaldo fora morto.

Não terminou a leitura, sentindo-se exausta, caiu em profundo sono. Quando acordou já era noite, desceu as escadas e encontrou Rei Augusto, Rainha Maria Cesárea, Doralice, Rainha Helena e Inácio confabulando na sala principal.

Rainha Helena ao ver a neta parou de falar e dirigiu-se a ela, dando-lhe um caloroso abraço:

— Quantas saudades, minha menina! Já não a via há meses! Está ainda mais bonita, se é que isso é possível! – sorrindo e acariciando os longos cabelos da moça.

— Eu também estava com saudades, vovó. Pensei vê-la no meu aniversário, mas as circunstâncias não colaboraram.

— Infelizmente.

— Sobre o que falavam? Sobre o meu casamento?

Dora respondeu:

— Não vamos falar sobre o seu casamento pelas suas costas, Anita. Falávamos numa alternativa para o resgate do seu pai sem que você precise se sacrificar.

— Existe uma alternativa? – empolgou-se Anita.

Rei Augusto respondeu:

— Uma alternativa pensada por sua mãe e por demais arriscada, motivo pelo qual eu sou contra.

— Eu estou só esperando Jesuíno retornar do passeio com a família para contar o meu plano e pedir a ajuda dele, já fomos parceiros de bando muitas vezes, ele pode me ajudar – explicou Dora.

— O que vai fazer, mãe?

— Eu vou te contar, mas você não pode contar ao seu irmão Jorge nem sob tortura, se não ele vai atrás de mim e vai se arriscar.

— Prometo que não vou contar.

— Eu quero invadir a masmorra em que está Felipe no Castelo de campo de Seráfia do Sul e salvar seu pai. Ele foi raptado, porque eu não consegui me opor, agora é meu dever salvar o meu marido e pai dos meus filhos.

— Como vai fazer isso, mãe?

— Ainda não sei. Mas, já invadi muitos lugares com Jesuíno antes, vamos dar um jeito.

Rei Augusto interveio:

— Vão é cair nas mãos dos revoltosos e acabar presos junto com Felipe ou, pior, graças a esse gesto impensado os revoltosos podem decapitar todos: Felipe, Dora e Jesuíno!

Sem que ninguém percebesse, Victor ouvia a conversa atrás de uma coluna e, nesse momento, saiu correndo e agarrou-se à cintura da mãe, chorando:

— Não vai, mamãe! Eu não quero que você morra, nem o papai!

Dora se agachou e ralhou com o filho:

— Quantas vezes eu já falei que é muito feio ouvir a conversa de adultos atrás das portas, ou das colunas? Você ouviu e entendeu mal.

— Eu ouvi bem sim. Não vai, mamãe, por favor.

Anita se manifestou:

— Ninguém vai a lugar nenhum, porque eu vou me casar com o Heitor, combinamos tudo mais cedo no jardim.

Todos olharam surpresos para Anita, que prosseguiu:

— Mas, antes, vou exigir dos revoltosos que me deixem ver e falar com meu pai.

— Minha filha, isso é muito perigoso.

— Menos perigoso que duas pessoas tentarem invadir uma masmorra. Vou com o aval dos revoltosos. Quero falar com o líder deles. Se não me indicarem, vou sozinha a Seráfia do Sul e procuro pessoalmente.

Anita estava resoluta e Rei Augusto concordou:

— Vou entrar em contato com o líder e marcar uma reunião nesse Palácio do norte para amanhã mesmo.

— Ótimo, Rei Augusto, fico muito grata.

Victor perguntou:

— Como a Anita vai casar, a mamãe e o papai não vão mais morrer, né? – abrindo um sorriso.

Anita respondeu:

— Não teremos uma cerimônia fúnebre por aqui, mas, antes, um casamento – bagunçando os cachos do irmão caçula, que mais uma vez sorriu.

No dia seguinte, como o combinado, deu-se a reunião com o líder dos revoltosos. Anita informou que o casamento seria celebrado entre ela, herdeira do sul, com o herdeiro do norte, mas, antes, exigia ver e falar com seu pai. O encontro de pai e filha ficou marcado para o dia seguinte.

O tão aguardado encontro deu-se em Seráfia do Sul. Dora, Heitor, Jesuíno e Rei Augusto viajaram com a moça, mas apenas a ela foi dada a passagem para o local onde se encontrava Felipe.

Felipe estava abatido, desgrenhado, mas abriu um grande sorriso e seus olhos azuis brilharam ao ver a amada filha:

— Ninita, minha filha! Como conseguiu entrar aqui?

— Fiz um acordo com os revoltosos. Eu queria me certificar de que o senhor estava vivo e bem antes de fechar o meu acordo pela paz – segurando as mãos do pai entre as grades.

— O que pretende, Anita? – perguntou Felipe, preocupado.

— Lembra-se que quando conversamos no Jardim do Palácio do Governo de Pernambuco, falamos que haveria ter um jeito para essa guerra um dia ter um fim?

— Lembro. E você encontrou esse jeito...

— Encontrei.

— Como?

— Vou me casar com o herdeiro do norte, unificar as Seráfias, e pôr fim a tudo isso de uma vez. O senhor será libertado.

— Qual herdeiro do norte? Augusto Frederico, filho de Augusto e Maria Cesárea?

— Não! Fred é homossexual e o reino todo já sabe disso. Ao menos o respeitam, como ele merece...

— Qual dos filhos de Jesuíno e Açucena? Não me diga que Heitor!

— Bingo!

— Por que não Henrique?

— Além de ele estar realmente noivo, não é o mais velho.

— Minha filha, eu não posso concordar com isso. Não é justo que troque sua vida, sua juventude, seus planos, por mim. Ainda mais tendo que se casar com alguém que tanto lhe fez sofrer no passado! Não, Anita! Eu não concordo e não vou sair daqui, ainda que se case com aquele moleque!

— Pai, peço apenas que confie em mim. Nem tudo é como parece. Não vou dizer mais nada, pois as paredes têm ouvidos. Preciso ir agora. O senhor vai sair daqui sim, nem que seja para me levar arrastada de volta para o Brasil, promete?

— Eu vou confiar em você, minha filha. Mas, me prometa você que não vai abrir mão da sua felicidade por nada nesse mundo. Eu abri mão dessa coroa pelo meu amor, não posso exigir que você abra mão de um amor, que talvez ainda nem conheça, por um reino que não é seu.

— É meu sim, pai. O seu sangue é o meu sangue. Agradeço o voto de confiança e prometo que não abrirei mão da minha felicidade.

Os dois apertaram as mãos entre as grades mais uma vez e Anita se foi.


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