Depois que a euforia inicial passou e vários dos monges disseram seus nomes, alguns deles falaram para Aang sobre o local e as circunstâncias que o envolviam.

— Essa caverna é muito antiga – explicou uma mulher –, e tem sido nosso esconderijo de tempos em tempos.

— A gente mora na superfície durante a maior parte do tempo – disse uma garota um pouco mais velha do que Aang. – Mas quando percebemos algum sinal que pode significar que a Nação do Fogo está próxima, como fumaça ou luzes, descemos até aqui e ficamos alguns dias.

— E como a parede só se abre com dobra de ar, não tem como eles entrarem aqui – disse um menino.

— E mesmo quando estamos lá em cima, tentamos não fazer muito barulho, para que ninguém nos encontre aqui – disse um homem.

— Então vocês vivem com medo? – perguntou Aang, preocupado. – Esperando pelo pior? Isso é horrível, vocês não podem ficar assustados o tempo todo.

— O medo nos preservou durante esses mais de 100 anos – falou a mulher. – Você é a primeira pessoa que nos encontra desde que nossos tataravós e bisavós começaram a se esconder.

— Quer dizer que ninguém sai desse templo?

— Não podemos sair – respondeu uma pessoa. – Não dá pra lutar contra a Nação do Fogo se eles nos encontrarem, não temos nenhuma arma além da nossa dobra de ar.

— Os Nômades do Ar seriam dizimados – completou o homem. – Inclusive isso é o que eles provavelmente pensam que fizeram.

O Avatar precisava logo contar tudo aos monges.

— Tudo bem, eu preciso conversar com vocês – disse ele. – Existem muitas coisas que vocês têm que saber.

— Claro! Vamos sentar e você nos conta tudo que quiser.

Rapidamente, os Nômades se acomodaram em cadeiras, almofadas ou no chão. Aang se sentou de frente para eles e as perguntas começaram.

— Como você conseguiu sobreviver?

— A Nação do Fogo não está te perseguindo?

— Quantos anos você tem?

— Você é solteiro?

— Onde você mora?

— Calma, todos vocês! – exclamou uma mulher idosa, que parecia ser a mais velha ali. – Deixem ele falar.

Aang respirou fundo.

— A primeira coisa que vocês precisam saber sobre mim – ele disse – é que eu sou o Avatar.

Muitos dobradores de ar arregalaram os olhos e deram suspiros de surpresa.

— O Avatar??

— Como assim?

— Mas o Avatar que era Nômade do Ar nasceu antes da guerra. Isso quer dizer…?

— Sim – confirmou Aang. – Não parece, mas eu tenho 118 anos.

Houve mais alguns olhos arregalados e suspiros de espanto.

Ele então explicou tudo sobre ter ficado preso em um iceberg quando tinha 12 anos e a Nação do Fogo começou a atacar o templo onde morava, e ter sido descongelado 100 anos depois.

— Então por favor nos diga, Avatar Aang – pediu uma moça. – Quando essa guerra vai acabar?

— Vamos ter que ficar escondidos pra sempre? – perguntou um rapaz.

Aang deu um sorriso.

— Eu tenho uma notícia excelente pra vocês – disse ele. – A guerra já acabou há anos.

Novos suspiros e olhos arregalados.

— Vocês não precisam mais se esconder – continuou o Avatar. – Todas as nações estão em paz. Vocês podem sair e dizer ao mundo que os Nômades do Ar não deixaram de existir.

As pessoas se entreolharam e houve vários murmúrios, pequenos grupos discutindo entre si.

— Tem mais uma coisa – disse Aang, levantando. – Outra pessoa veio até aqui comigo.

Ele andou em direção à porta.

— Quem é?

— É outro Nômade do Ar?

Aang abriu a porta sem responder e chamou Zuko, que estava esperando ao pé da escada. Então os dois entraram no esconderijo de mãos dadas.

— Pessoal, esse é Zuko – anunciou Aang.

Assim que os Nômades viram as roupas e a pequena coroa em forma de fogo de Zuko, o rosto deles ficou pálido e os olhos se arregalaram mais do que antes; houve muitas interjeições e suspiros altos de espanto e medo.

— Olá… – falou Zuko, sem jeito.

— Um dobrador de fogo?!

— Você trouxe alguém da Nação do Fogo com você?

— O que significa isso?

Algumas pessoas começaram a fazer comentários negativos entre si.

— …destruidores…

— ...causaram a guerra...

— ...não acredito…

— ... estamos expostos…

Zuko também achou ter ouvido alguém dizer “assassino”, e não pôde evitar ficar triste e magoado com aquelas palavras. Foi quando Aang interveio.

— Ei, parem com isso! – gritou ele. Todos ficaram em silêncio. – Vocês são Nômades do Ar, então ajam como tal.

Algumas pessoas desviaram o olhar, fitando o chão.

— Eu disse a vocês que a guerra acabou e as quatro nações estão em paz – continuou o Avatar. – Não existe mais destruição. O Senhor do Fogo que estava causando mal foi derrotado. Eu e meus amigos, que incluem Zuko – ele apontou para o dobrador de fogo –, e outros dobradores de fogo, fizemos isso acontecer, e promovemos a paz. Eu sei que até um minuto atrás, vocês pensavam que a guerra ainda estava acontecendo, então tudo isso é muito novo; mas esse preconceito com a Nação do Fogo é inaceitável. Existem pessoas ruins em todas as nações. E além disso, todo mundo merece uma segunda chance. Muitas pessoas que antes tinham atitudes ruins mudaram completamente, e hoje são seres humanos maravilhosos.

Enquanto Aang falava, muitos Nômades balançavam a cabeça concordando. Algumas crianças, que não tinham os preconceitos dos adultos, foram alegres até Zuko para cumprimentá-lo.

— Você tem toda razão – disse a idosa. – Nós somos um povo com princípios importantíssimos de igualdade e de respeito. Não podemos nos esquecer disso.

— Sentimos muito, Zuko – disse outra mulher.

— Sim, nos desculpe – pediu um homem.

— E seja bem-vindo ao nosso templo – disse uma menina.

— Muito obrigado – respondeu Zuko, sorrindo. – E me desculpem por ter perturbado vocês. Eu entendo todo o medo e a raiva que vocês têm da minha nação.

— Você não tem que se desculpar por nada – falou Aang.

— Não mesmo – concordou uma pessoa. – Nós fomos injustos.

Nem todos os Nômades ali presentes abriram a mente de forma tão rápida; alguns continuavam com um pé atrás em relação ao Senhor do Fogo. Porém, isso foi passando à medida que Aang e Zuko conversavam com eles.