Golden Wing escrita por Yato


Capítulo 1
Capítulo Único: Wing


Notas iniciais do capítulo

Caso não entenda a história, as explicações estarão nas notas finais.Os pontos de vista se alternam após as estrofes da música.Boa leitura e feliz dia dos namorados! x)



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Golden Wing

:: Capítulo Único: Wing ::

Sora ni kasunde yuku

(Ficando misteriosas no céu,)

Awai natsu no omoide ga

(As ligeiras memórias de verão)

Furimuite kimi wo mitara

(Como eu olho para você, me virando)

Itsumo soba ni ita noni

(Mesmo em pensamento eu estava sempre ao seu lado)



O cochichar dos impacientes enchia o salão, irritando até mesmo o humano mais paciente. Sim, o humano mais paciente. Apenas humano. Nada mais que isso. Um homem elegante se ergue da platéia de adolescentes moribundos e escandalosos. Ele sobe, lentamente, as poucas escadas de madeira e pigarreia sobre o microfone. Em vão, o aparelho estava com problemas.

Sentada mais ao fundo da grande construção está a menina que eu procuro me aproximar. Ela não presta atenção em absolutamente nada ao seu redor. Fica parada, silenciosa. Apenas observando o mundo girar. Os cabelos negros cortados na altura dos ombros se fundem a cadeira de cor igualmente escura. A franja lhe cobre os olhos cor de mel como uma cortina que impede os raios solares de adentrarem o quarto. Exatamente o que ela faz.

O companheiro absurdamente irritante próximo a mim vira-se para trás e a provoca. Ele lhe faz recordar seu passado de forma humilhante. E ri debochado. Eu não a ouço dizer uma única palavra. Não emite um som. As amigas dela que conversavam param no mesmo instante. E retrucam o idiota. Ele ri mais uma vez e lhe conta um segredo.

– Esse é o meu amigo. – Ele aponta para mim. – Disse que gosta de você.

Observo os olhos dela correrem da figura grotesca do debochador, saltarem para o companheiro magro ao lado direito, e então, para mim. Ela volta o olhar para o outro com uma expressão que varia de irritada para vingativa. Sustenta o olhar e lhe chuta a cabeça.

Fico imaginando... O que isso quis dizer?

Toutou to terashiteru taiyou wo kumo ga boku wo kiratte

(O iluminado e claro sol e as nuvens que me odeiam)

Sotto kakushite

(Escondendo sutilmente)

Daichi ni sakarau hana

(A flor lutando contra a Terra,)

Boku ni tsuyoku ikite yuke to oshieteta

(Me disse como viver fortemente)

A sensação de um vazio misterioso no peito me incomoda. Ou seriam simplesmente as últimas palavras proferidas por ele? Caminho pelo chão de retalhos claros iluminados por algo que eu odeio. A luz me cega e eu fecho os olhos mas continuo caminhando. Uma multidão é formada para ver o show ao ar livre. Desconhecidos fazem o que outros não conseguiram fazer: prender o riso. Uma mão gentil me ajuda. Eu não sei de onde ela vem.

O ferimento arde e o sangue escorre. Tudo fica branco. Outra coisa que odeio. Os corredores, os enfeites, os lençóis... Tudo. Até mesmo o curativo em minha perna e mãos. Absurdamente claro; Irritantemente nobre; Agradavelmente dolorido. Um som agudo lá fora me chama a atenção.

Do lado de fora, no batente da janela, um pássaro pia espionando o quarto de cor quase inexistente. Ele pisca como se me dissesse algo. Eu não entendo. Penas caem quando ele levanta voo. Uma delas perto de mim. Chata e curta. Assim como minha vida.



Fuki areru kaze ni mi wo makasete tori no you ni

(Confiando meu corpo no vento violento como um pássaro,)

Toberu you ni

(Como se eu pudesse voar)

Fuki areru kaze ni toki wo yudane sora mezashite

(Confiando tempo no violento e forte vento, procurando pelo céu,)

Todoke yo taiyou no kagayaki made

(Chegando até o brilho do sol)



O olhar penetrante não me sai da mente. A pena que deixei como presente me faz falta. Giro nos dedos a base que prende o material de textura macia. Fazendo o fio preto dançar com o movimento. Ele se solta de minha mão e cai em direção a terra. Abandono o topo da árvore e mergulho em direção a algo que seria a morte certa. Agarro o fio de cabelo dela com um sorriso idiota em minha boca.

Lá no alto as aves levantam voo. Uma chuva de pequenos galhos secos, folhas e penas vêm em minha direção. Meus olhos se desviam das pequenas coisas e se voltam para algo maior. As nuvens brancas e fofas a flutuar sobre o céu azul me encantam. E minha mente se perde na maciez do toque de uma mão carinhosa imaginária.

Sinto algo arder. Como se dezenas de pedrinhas fossem atiradas contra os meus olhos. Lágrimas escorrem, levando algumas delas embora. Mas muitas continuam cravadas na retina. E uma sensação estranha se apodera de mim.

E então a ficha cai.

Estou sendo observado.



Iro azayaka ukabu niji no saki wa

(Atrás das cores flutuando brilhante como o arco-íris)

Hateshinaku tsudzuku mirai e no kakehashi de

(Continuando sem fim,até a ponte unindo ao futuro)

Tantan to tsudzuiteru kirameku niji ga boku wo waratte

(O arco-íris que continua a brilhar desconcertado me faz rir)

Sotto michibiku

(Guiando-me gentilmente)



O brilho da água que escorre de seus olhos negros me encanta. Aproximo-me inconscientemente. Meus pés não me obedecem. É como se meu corpo não pertencesse mais a mim. Sinto a textura de sua pele macia e fico de frente a ele. Sei que meus olhos brilham de fascinação por algo indefinido por minha mente. Retiro a franja rebelde de seus olhos e delicadamente as mãos de seu rosto.

Como poderia alguém tão belo gostar de uma pessoa igual a mim? Uma a uma, eu retiro cada sujeira que lhe impossibilitava a visão. Ainda sem abrir os olhos ele me prende pelos pulsos com ambas as mãos. O silêncio mesmo inquietante me conforta. Até que o som de pés apressados vindos da escada me sobressaltam. Um vento desconhecido parece me impulsionar de encontro a ele. E o sussurro de um "Obrigado" me enche os ouvidos.

Abro os olhos. Não enxergo nada na escuridão da noite. Esse sonho...

Uma utopia.



Takamaru mune no kodou

(A batida em meu peito inchado,)

Toumei na koe wo hibikasete utau yo

(É a você, transparente pessoa, que eu canto)




O aroma doce trazido pelo vento daquela tarde agora está gravado em meu cérebro. O brilho das estrelas não é o suficiente para iluminar a noite deserta. Na madrugada fria não se ouve som algum exceto o do boteco ao longe. Pergunto-me qual seria o gosto daquela boca. Seria tão bom quanto o licor mais alucinógeno de minha terra?

Remexo-me sob os galhos da árvore tomando o cuidado para não fazer barulho. Desvio o rosto do mar estrelado da noite para espiar janela adentro. O corpo de mente ausente jazia na cama. Um ponto preto sobre o travesseiro e meu presente ao lado da cabeceira, pendendo como os pratos de uma balança na borda do criado-mudo.

Um vento frio é soprado de repente, agitando as janelas velhas e conseguindo abrir uma fresta na parede do cômodo ao meu lado. Estico o braço ao máximo mas não consigo alcançar, me esforçando um pouco mais eu toco o vidro gelado. Mas perco o equilíbrio e caio. Quase beijando o chão elas enfim aparecem se agitando rapidamente, me salvando do beijo esmagador da morte.

Meus pés tocam a grama rala e sinto algumas penas caírem. As asas se agitam mais uma vez, provocando um vento forte contra a parede frágil de madeira que a rebate de volta a mim. Remexendo-se como se protestassem contra minha vontade elas desaparecem sem deixar vestígios. Afinal, eu ainda sou o dono deste corpo.



Mezameta tsubasa yo boku wo tsurete sora e takaku

(As asas que acordaram, me levam alto no céu,)

Ikeru you ni

(Eu posso ir)

Mezameta tsubasa yo ima habatake chikaradzuyoku

(As asas que acordaram, voam agora, com força,)

Todoke yo taiyou no kagayaki made

(Chegando ao brilho do sol)



Tenho a sensação de fim. Como se hoje, fosse meu último dia aqui. E aquela pessoa não sai da minha cabeça. A pena daquela ave sumiu hoje quando acordei. Pergunto-me onde droga ela estaria. Mas não quero pensar em nada. Só quero respirar... Sinto que aos poucos, vou perdendo parte de mim. E essa, é a minha morte.

O som abafado dos tênis batendo contra o chão é ritmado. As pessoas conversam sentadas nos bancos da praça; as crianças brincam. Eu me sinto vazia. Como se realmente essa existência não tivesse fundamento. Como se me faltasse um motivo pra viver.

Queria ter asas pra poder voar. Ser livre e vagar por onde eu quiser. Quero apenas ver o céu de um lugar alto e sem obstáculos. Apenas um segundo de liberdade já seria o suficiente.

Eu caminho sem rumo pelas ruas até o entardecer. Não dou a mínima para a preocupação alheia. Agora eu só acho que deveria voar. Por toda a eternidade, sem limites. Sem barreiras. Sem pessoas...

Meus pés me levam por uma estrada sem direção e eu enfim reconheço o prédio mais bem feito e importante da cidade. De algum modo surpreendente, eu consegui entrar. Agora, é só chegar até o telhado.

A porta da escada se abre e o vento gelado bagunça meus cabelos. O entardecer é ainda mais bonito quando visto de cima. É como se tudo desaparecesse. Os problemas, as pessoas, o mundo. Sinto algo molhado no colo. O que será?

– Por que está chorando? – Alguém perguntou e eu me virei assustada.



Zenshin zenrei toritachi yo meguri yuku kisetsu wo

(Os pássaros com alma e corpo completos, o mudar da estação)

Senaka wo osu chikara Kono mune ni furi sosoge

(Flui no peito, o poder que me puxa de volta)



Eu a segui por toda a cidade. Cada rua, cada esquina. Quando ela entrou no prédio, era óbvio que viria ao telhado. Então, eu esperei. A porta se abriu e ela apareceu. Andando lentamente em direção à borda, maravilhada. Os zumbidos sinistros do vento me incomodaram e eu me manifestei. Ela se assustou. Meu amor possivelmente platônico quebrou o silêncio depois de um tempo.

– Não é lindo? – Ela sorriu ajeitando os cabelos. – O pôr do sol...

E ali eu percebi. Aquela não era mais a mesma menina que eu gostava. Era outra, totalmente diferente. Parecia mais uma criança quando vê o mar pela primeira vez. E eu me entristeci. Não haveria amanhã para ela.

– Você quer voar? – Perguntei.

– Quero.

Aproximei-me devagar. Abracei sua cintura e ela sorriu. Pulei em direção ao abismo de concreto segurando-a firme nos braços. E elas apareceram para a despedida. Minhas asas se abriram. Os braços dela enlaçaram meu pescoço. E foi como se o tempo tivesse parado.



Fuki areru kaze ni mi wo makasete tori no you ni

(Confiando meu corpo no vento violento como um pássaro,)

Toberu you ni

(Como se eu pudesse voar)

Fuki areru kaze ni toki wo yudane

(Confiando tempo no violento e forte vento,)

Sora mezashite todoke yo

(Procurando pelo céu,chegando)

– Obrigada, Kyou... – Como em um último momento de lucidez ela sussurrou em meu ouvido. As lágrimas prateadas sob o céu vermelho eram a última despedida. Seus olhos doces se fecharam lentamente. Para sempre.

– Adeus, meu amor.

Era a minha vez de chorar. Parados sobre o abismo minhas lágrimas se fizeram presentes.



– Eu te amo...



Mezameta tsubasa yo boku wo tsurete sora e takaku

(As asas que acordaram, me levam alto no céu,)

Ikeru you ni

(Eu posso ir)

Mezameta tsubasa yo ima habatake chikaradzuyoku

(As asas que acordaram, voam agora, com força,)

Todoke yo taiyou no kagayaki made

(Chegando ao brilho do sol)


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Notas finais do capítulo

Caso não tenham entendido: Ele é o anjo protetor dela. A menina sofre de uma doença que a faz perder a memória aos poucos sem que ela ou outras pessoas tenham conhecimento sobre isso, e, eventualmente a existência dela é apagada como se nunca tivesse existido. E essa história conta seu último dia de vida no qual seu anjinho se revela para lhe dizer adeus. A ideia me martelou tanto a mente que eu tive que escrever.Obrigada por ler.E agora, cofcof que tal um review? 8)



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