(cruel) winter with you escrita por Raquel


Capítulo 1
First Christmas that i Loved you


Notas iniciais do capítulo

Oii gente!
Escrevi essa fanfic para o amigo secreto jily de fim de ano de 2019, espero que gostem!
Recomendo ler ouvindo essa playlist que eu montei: https://open.spotify.com/playlist/42eqTw8OtYg6NJBqwd3OJP?si=DsWTCNCsQE2uE0C5hmDu1A



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Era a primeira manhã do recesso de Natal e Lily aproveitava o silêncio do salão comunal da grifinória enquanto observava o sol começar a entrar pela janela, iluminando o cômodo e sua decoração quase toda em vermelho e dourado. Ela nunca havia sido uma dessas pessoas que dormia até tarde porque achava inútil perder horas preciosas do dia sem fazer nada produtivo e, mesmo nas férias, ela parecia não conseguir se livrar do hábito de se levantar antes de todas as meninas de seu dormitório para apreciar as primeiras horas de luz do dia. Naquela manhã o café seria servido um pouco mais tarde, já que boa parte dos alunos aproveitaria para colocar o sono em dia, então Lily não esperava ser incomodada enquanto lia Anne de Green Gables, um romance trouxa que tinha comprado nas últimas férias e não parava de ler repetidamente desde então.

Ela costumava aproveitar os recessos para ir para casa e passar tempo com seus pais, mas como aquele era seu último ano em Hogwarts e sua última chance de aproveitar o castelo e sua atmosfera natalina ela resolveu ficar, junto com boa parte dos alunos formandos da grifinória. Considerando toda a instabilidade do mundo bruxo e as brigas infindáveis com sua irmã em casa, Hogwarts e seus amigos pareciam o único refúgio para Lily nos últimos meses e ela pretendia aproveitar ao máximo o tempo que ainda tinha na sua zona de conforto. Distraída pela história envolvente de seu livro e pelo apaixonante Gilbert ela nem percebeu que alguém havia entrado na sala até sentir duas mãos cobrindo seus olhos.

— Você realmente precisa fazer isso toda manhã, Potter?- ela disse, nem um pouco surpresa, já que o garoto vinha fazendo a mesma coisa todos os dias ao longo dos últimos meses. Desde que os dois se tornaram amigos, nos meados do penúltimo ano de Hogwarts, os hábitos matutinos dela sempre eram interrompidos pela chegada do capitão do time de quadribol da grifinória que parecia ter o mesmo hábito de acordar cedo e sempre bem disposto - Para o maior pregador de peças que essa escola já viu você é bem fraco em seu repertório de variedades.

— Ora ora, então você está me desafiando a te surpreender, Evans? - ele respondeu enquanto Lily retirava suas mãos dos olhos e o voltava sua atenção para o livro, fingindo ignorá-lo - Pois saiba que agora eu me sinto na obrigação de te deixar boquiaberta pelo menos uma vez até o fim das férias.

— Pelo visto você realmente não tem coisas mais úteis a fazer além pensar em maneiras de me irritar- ela rebate ainda sem olhar para James, mas sentindo ele dando a volta para se sentar na poltrona vazia a sua frente. Era inacreditável para Lily, mas ela sabia que se olhasse para ele agora encontraria o sorriso sarcástico e cabelos desgrenhados que ela acabou memorizado pelos meses de convivência diária e por outros motivos que ela se recusava a admitir - Você deveria procurar um livro para ler ou algo do tipo, mente vazia é oficina do diabo.

— Primeiro que eu sou uma pessoa extremamente ocupada, sou monitor chefe E capitão de quadribol, e segundo você fica uma gracinha irritada então é um ótimo passatempo pensar em jeitos de te deixar assim - ele diz enquanto toma o livro da mão de Lily e finalmente consegue fazer com que ela o olhe. Talvez aquela não tenha sido a sua ideia mais genial porque com os cabelos ruivos refletindo a luz do sol e os olhos verdes brilhando de raiva e o que ele acreditava ser divertimento fizeram com que ele perdesse o fôlego por um momento. Mas ele estava acostumado com o "efeito Lily Evans" já que sofria suas consequências desde o primeiro ano. Ele a encarou por um instante longo demais e logo tentou recuperar a compostura analisando o livro que agora tinha em mãos, tomando cuidado para mantê-lo longe do alcance das mãos de Lily - "Marilla e Matthew Cuthbert, irmãos solteiros que vivem na fictícia comunidade de Avonlea na Ilha do Príncipe Eduardo, decidem adotar um menino para ajudá-los com a fazenda de Green Gables. Por causa de um mal-entendido, a órfã Anne Shirley, após ter passado a infância em orfanatos e casas de estranhos, é mandada para morar com eles…”

Enquanto James lia a sinopse de seu livro com uma entonação debochada, Lily tentava em vão capturá-lo das mãos do garoto, que agora estava em pé tentando manter a edição fora de seu alcance. A diferença de altura tornava impossível para ela recuperar seu livro e isso, somado a narração sarcástica de James, a estava irritando. Como último recurso ela decidiu que não faria mal algum chutar a canela do garoto como retribuição, mas, quando ele abaixou os olhos do livro para ela e dobrou o corpo para cobrir a área atingida com as mãos, ela se deu conta da proximidade deles. James também percebeu como estava perto o suficiente para sentir o perfume do cabelo de Lily e em algum universo paralelo ele poderia ter se inclinado para beijá-la. Como a realidade não tinha nenhuma pretensão de realizar os sonhos do garoto, a troca de olhares um pouco intensos demais entre os dois foi quebrada pelo som de uma tosse nem um pouco discreta. Os dois deram quase que um pulo para longe um do outro e se viraram para encontrar Sirius olhando de maneira divertida para eles enquanto estava encostado na parede com os braços cruzados.

— Não sabia que tava interrompendo, mas pode deixar que assim que os meninos descerem eu deixo vocês para continuarem seja lá o que vocês tavam fazendo - Sirius disse de maneira debochada enquanto se divertia com a visão de Lily corando até o rosto ficar da cor dos cabelos e James passando a mão pelos cabelos freneticamente como sinal do seu nervosismo.

— Não tava acontecendo nada Sirius, para de ser um babaca! - James exclamou se sentando pesadamente na poltrona, enquanto Lily ainda permanecia travada encarando seu amigo como se os dois estivessem sido pegos numa cena do crime.

Lily sabia que havia sido flagrada em um momento constrangedor, mas se tivesse sido com qualquer outra pessoa ela já teria tacado a almofada mais próxima na cabeça de Sirius e mandado ele cuidar de sua vida. O problema é que durante os instante em que ela e James estavam mais próximos do que já estiveram em qualquer outro momento ela conseguiu sentir um cheiro familiar. Mas ela nunca nem ao menos havia abraçado o garoto por mais de alguns segundos de cumprimento, o que a fez lembrar, como em um estalo, de onde ela reconhecia aquela fragrância. Meses atrás, o sexto ano havia tido em sua aula de Poções Avançadas a lição que muitos alunos estavam ansiosos para aprender. A poção do amor nunca havia recebido muita atenção de Lily, mas depois de preparar a sua com êxito naquela tarde ela ficou intrigada ao reparar que o cheiro que emanava de seu caldeirão não se remetia a nada que ela pudesse recordar. Agora ela sabia porque. Sua amortentia tinha o cheiro de James Potter e tudo o que ela sabia é que precisava sair de perto dele antes que entrasse em um espiral tentando entender como aquilo era possível.

— Eu… an… preciso ir - Lily disse, despertando do estado de paralisia e começando a caminhar em direção ao buraco do retrato.

Ao sair, deixou James e Sirius com olhares confusos e sem entender o que poderia ter afetado tanto a garota. Ela já estava acostumada com a inconveniência de Sirius e, apesar do clima estranho com James, não havia motivo suficiente para a maneira estranha que ela reagiu.

— Você sabe o que foi aquilo cara? - Sirius perguntou, se sentando na poltrona que Lily ocupava e colocando os pés na mesa de centro - Nunca vi ela tão estranha, o que aconteceu aqui antes de eu entrar?

— Não aconteceu nada além do que você viu, não faço a mínima ideia do que foi isso - James respondeu soltando um suspiro de frustração. Ele já tinha perdido suas esperanças de algo além de amizade com Lily, mas depois da estranha reação que ela teve com a proximidade dos dois o garoto ficou mais confuso do que nunca em relação a ela. Sem considerar o fato de que ter ela quase em seus braço havia acendido sentimentos que ele tentava abafar desde o sexto ano. Considerando a convivência que eles teriam durante aquele recesso, James só conseguia pensar que aquele seria um inverno muito cruel.

 

Lily passou boa parte do dia perambulando pelo castelo, foi ao corujal checar sua coruja, Doctor, passou pela cozinha e arranjou uma cesta de piquenique que comeu sozinha na torre de astronomia e, por fim, resolveu se esconder na biblioteca, estudando algum tema que ninguém além dela tinha interesse. Ela gostava de sua própria companhia, mas não conseguia se enganar a ponto de achar que esse era o motivo para ter passado o dia fugindo de seus amigos e, agora que a noite começava a cair, ela decidiu que deveria se juntar a eles no jantar e encarar o que viesse. Ela tinha quase certeza que Sirius teria espalhado para todo mundo que pegou o casal mais improvável em um momento de proximidade desconcertante. O pior nem era lidar com as brincadeiras e sim ficar cara a cara com James e fingir que não sabia que, aparentemente, ela estava apaixonada por ele.

Como ainda faltavam meia hora para o jantar ela decidiu tentar terminar de ler o livro de poções que havia pegado na sessão restrita. Lily havia sonhado por anos em ter acesso aos livros exclusivos para alunos do sétimo ano, mas nem aquilo parecia capaz de tirá-la dos próprios pensamentos. Ela tinha passado o dia tentando entender como Lily Evans poderia estar apaixonada por James Potter, de todas as pessoas da escola ele era o que mais a havia irritado ao longo dos anos e, mesmo que agora eles fossem amigos, ela não conseguia imaginar o que a fez vê-lo de uma maneira diferente. Primeiro, ela considerou que fosse um erro da poção, mas como a melhor aluna da classe ela sabia muito bem que isso não era possível. Depois, ela pensou que era mais como uma atração momentânea, afinal Lily nunca negou que James era um dos garotos mais bonitos de Hogwarts. Mas ela sabia que a verdade não era essa e, quando pensou sobre como a história deles havia se desenvolvido ao longo dos anos, tudo fazia muito sentido e isso a assustava mais do que tudo.

A primeira impressão que Lily teve de James Potter foi que ele era lindo. Para uma menina de 11 anos acostumada a ficar com o rosto sempre enfiado em livros, aquele era o garoto mais bonito que ela já vira na vida. Os olhos castanhos, o cabelo charmosamente bagunçado e o sorriso torto fizeram seu coração pré adolescente bater mais rápido. Ele havia sido sorteado para a Grifinória, assim como ela, e,por algum milagre, se sentou ao lado dela na enorme mesa da casa e se apresentou. Naquela noite ela achava que aquele era o garoto dos seus sonhos. Mas o dia seguinte veio e ela descobriu que sua simpatia não se estendia a seu melhor amigo, que acabou sendo alvo de uma pegadinha de mal gosto organizada por James, a primeira de muitas. Naquele momento o encanto se quebrou e Lily jurou nunca mais confiar no garoto detestável que a cada dia se mostrava mais egocêntrico. 

Com o passar dos anos, Lily nunca deu uma segunda chance para James e ficou com aquela imagem do garoto em sua mente. Apesar de serem do mesmo ano e da mesma casa ela nunca teve muito contato com ele já que nem com as próprias colegas de dormitório ela mantinha amizade. A verdade é que, por muito tempo, Severus foi o centro do seu mundo e a fez perder relacionamentos e experiências que ela nunca teria outras chances de viver. Depois que ele mostrou sua verdadeira natureza, Lily resolveu que era hora de tomar as rédeas da própria vida e aproveitar o resto de seu tempo em Hogwarts com pessoas que não pretendiam controlá-la de maneira possessiva e sufocante. Foi aí que ela se aproximou de Marlenne, Dorcas e Alice, suas companheiras de dormitório que, mesmo depois de terem recebido anos de negações a convites, a aceitaram em seu círculo de bom grado. Por meio delas, Lily começou a andar com os famosos marotos, agora mais maduros sem suas brincadeiras de mau gosto, James, Sirius, Peter e Remus. O último acabou se tornando seu amigo próximo por serem monitores e tendo feito muitas rondas juntos ao longo do sexto ano. 

A maior surpresa para Lily havia sido descobrir quem realmente era James Potter, não a idealização da primeira vista nem o que ele mostrava para quem não o conhecia. O garoto era um excelente artilheiro de quadribol completamente apaixonado pelo jogo, era muito inteligente e ia bem nas matérias mesmo sem estudar (o que irritava Lily), sempre fazia todos ao seu redor rir e, acima de tudo, havia mudado completamente e deixado para trás todas as infantilidades e atitudes egoístas que faziam Lily odiá-lo. Durante todo o sexto ano eles passaram de uma relação estranha para uma amizade confortável e a ruiva passou a considerar ele como parte do seu círculo de amigos mais próximos, contando a ele sobre seus problemas com a irmã e suas inseguranças por ser uma nascida trouxa no atual cenário do mundo bruxo. Ela não esperava contar tanto com as bobeiras de James e seu sorriso contagiante para atravessar seus momentos mais difíceis, mas agora ela via que ele era essencial para ela. A questão era que ela não fazia ideia de como seria capaz de esconder os sentimentos recém descobertos e manter a mesma relação com o garoto. E ela sabia muito bem que havia perdido sua chance com James muitos anos atrás.

Já estava na hora do jantar e Lily mais uma vez tinha ignorado o que estava em sua frente enquanto pensava em James. Estava tão distraída que nem percebeu que o próprio estava sentado na mesa com ela, encarando-a com um olhar divertido enquanto segurava o que parecia ser o livro que ela estava lendo naquela manhã. 

— Achei que você fosse voltar para buscar seu livro, mas Lily Evans sempre tem uma leitura em mãos - ele comentou apontando para o título aberto na mesa, achando que era nele que a garota estava imersa - Espero que não se importe, mas passei a tarde lendo Anne de Green Gables e posso dizer que não esperava me apaixonar tanto por um livro trouxa. Talvez eu finalmente deixe você e Remus fazerem uma lavagem cerebral no meu gosto literário imaculado.

Por um momento, Lily o olhou como se uma segunda cabeça tivesse surgido nele. Em que mundo ela estava onde James Potter tinha lido um livro inteiro em uma tarde e ainda um romance trouxa? Na biblioteca vazia ela olhava bem no rosto do garoto, as sobrancelhas franzidas em confusão e pensava que ela estava definitivamente perdida, garotos que liam eram seu ponto fraco.

— Evans não me olha como se eu fosse analfabeto, ok? - James comentou levando as mãos ao peito para fazer um exagerado sinal de indignação - Eu inclusive gosto muito de ler por diversão, se você me conhecesse melhor você saberia.

— Tudo bem, tudo bem não precisa jogar na minha cara que eu sou uma amiga péssima, se quiser te empresto alguns que eu tenho no dormitório - ela respondeu e os dois riram descontraídos, confortáveis com a presença um do outro. 

A luz das velas iluminavam os dois de maneira quase cinematográfica e, se aquilo fosse um filme, James se levantaria, andaria até ela, a puxaria pelo pescoço e a beijaria como se fosse nada mais existisse além dos dois. Mas aquilo não era um filme e Lily se levantou em um estalo, percebendo que os dois já estavam se encarando a alguns minutos e que era hora de ir.

— Acho que a gente deveria ir pro jantar - ela disse enquanto James se levantava para acompanhá-la. Por um momento, ela achou ter visto um olhar de decepção nele, mas sumiu tão rápido que ela concluiu que era só sua mente querendo enganá-la - O pessoal deve ter achado que eu fugi do castelo e fui pra casa escondida.

Os dois saíram a caminho da biblioteca e passaram boa parte do caminho em um silêncio confortável depois de meses fazendo rondas juntos. James ainda achava difícil acreditar que Dumbledore realmente o havia colocado como Monitor Chefe, mesmo depois de anos pregando peças em outros alunos. Ele achava que Lily o odiaria por tomar o lugar de um outro aluno esforçado e a altura dela, talvez Remus, mas a garota sorriu e pareceu genuinamente feliz quando ele a contou que seria seu companheiro no início do semestre. Enquanto ela olhava as pinturas que enchiam as paredes do castelo no caminho para o refeitório, James a olhava discretamente e, sem sua permissão, um sorriso surgiu no seu rosto ao pensar que um ano atrás aquela situação nem seria possível. Tudo o que Lily queria dele por 5 anos foi distância e agora ele finalmente tinha sua chance de conquistá-la, não como namorada, mas como amiga. Ele sabia que havia perdido sua oportunidade de ter algo amoroso com a ruiva por causa dos acontecimentos do passado, mas era inevitável ficar feliz vendo como eles eram próximos agora.

Os dois não demoraram a chegar ao salão principal, onde encontraram seus amigos na típica falação e discussão de todos os dias. Lily se sentou ao lado de Marlenne, enquanto James se sentou na sua frente, ao lado de Peter. A conversa fluía na mesma animação de sempre pelo grupo e o assunto parecia ser a brilhante ideia que Sirius teve de fazer um amigo secreto entre o grupo. O único problema é que faltavam exatos três dias para o Natal e o único local que eles poderiam ir para procurar presentes era a velha e pouco variada Hogsmeade.

— Sirius você tem que entender que sua ideia não tem nenhum cabimento! - Remus protestava num tom que fazia o amigo parecer o ser humano mais burro que pisou na face da terra - Você acha que eu tenho a capacidade de me transfigurar num presente?

— Nossa Moony não precisa se exaltar desse jeito, a ideia é boa só tem um erro de cálculo que é contornável se você realmente ama seus amigos e quer tornar nosso último Natal juntos inesquecível - Sirius respondeu com um tom indignado para dar ênfase a sua chantagem emocional descarada - Vamos fazer uma votação, quem é a favor?

Ao redor da mesa cada um foi falando seu lado na discussão, Marlenne disse sim, como sempre pronta para um desafio, Peter também aceitou a proposta alegando estar entediado, já Remus foi apoiado por Frank, Alice e Dorcas. Os últimos e decisivos votos estavam nas mãos de James e Lily.

— Prongs se você me trair eu nunca mais falo com você! - Sirius se virou com um dedo acusador apontado para o amigo - Isso não é um blefe!

— Socorro é só um amigo secreto, você tá precisando dar uma relaxada cara - James debochou do amigo que nunca aceitava perder, muito menos para Remus que vivia discordando dele e ganhando as discussões - Mas  sou obrigado a concordar o Moony que é um prazo muito curto para arrumar um presente maneiro.

Sirius olhou incrédulo e decepcionado para o amigo, já soltando um suspiro de derrota. Nem ele nem James achavam que Lily votaria a favor desse amigo oculto mal organizado e, mesmo se ela surpreendesse, não faria diferença porque os votos estariam empatados e nada seria decidido.

— Não achei que você se desse por vencido tão facilmente, Black - Lily falou chamando a atenção do grupo desanimado e do que comemorava a “vitória”, a garota tinha feito uma resolução de aproveitar as oportunidades da vida e a ideia de achar um presente especial em três dias parecia uma perspectiva perigosamente interessante - e você Potter, esperava muito mais do seu tão famoso espírito aventureiro. Em nome do nosso último natal em Hogwarts e da nossa última chance de fazer “loucuras” eu voto sim!

— Bom se a Srta Lily Planejamento Evans vai participar eu me vejo obrigado a mudar meu voto - James disse se levantando da cadeira, o garoto olhou para ela com seu típico sorriso torto e levantou os braços para cima num ato dramático - que os jogos comecem meus amigos!



Depois do jantar Lily chegou no dormitório com as meninas e cada uma encontrou um papelzinho sob o travesseiro contendo o nome do seu amigo secreto. Sirius tinha lançado algum feitiço que ela nem sabia que existia para fazer o sorteio e ela admitia que estava com medo de quem ela fosse tirar. Ela não se sentia capaz de presentear Peter ou Frank por não serem tão próximos, não queria tirar Marlenne porque ela era impossível de agradar e, mais que tudo, não queria tirar James. Ela abriu seu papelzinho devagar, espiando com um dos olhos fechados, mas recebeu a bela surpresa de tirar Remus. Ela imediatamente soltou um suspiro de alívio e ouviu as reações das amigas descobrindo quem elas haviam tirado, Marlenne parecia irritada, Alice estava pulando de felicidade e Dorcas parecia confusa, provavelmente sem ideia de como agradar seu amigo secreto. Lily não poderia estar feliz de ter tirado um de seus melhores amigos e alguém muito compatível e similar a ela.

Ela havia ficado até quase meia noite na sala comunal conversando  e tinha esquecido que naquela noite haveria uma chuva de meteoros que ela tinha esperado semanas para assistir. Colocando o papel no bolso da calça ela saiu do quarto enquanto as meninas estavam distraídas e passou pelo buraco do retrato sem ninguém notar. Lily andou pelo castelo vazio e subiu sozinha as muitas escadas até a torre de astronomia porque sabia que lá teria a melhor vista do castelo para um fenômeno como esse. O cômodo circular e cercado de janelas estava vazio, como ela esperava, e a única luz da noite era a das estrelas, a situação ideal para observar o espetáculo dos meteoros.

Silenciosamente, Lily começou a dar a volta até a sacada frontal da torre, onde a vista seria melhor e ela poderia se esconder caso Filch ou Pirraça resolvessem aparecer. Ela andava distraída, aproveitando a brisa gelada do inverno que varria o ambiente e absorvendo a vista dos jardins do castelo e do céu infinito pontilhado de estrelas brilhantes. Ela estava dando os últimos passos para seu ponto favorito da torre quando tropeçou em algo e caiu de cara no chão. A questão é que ela havia na verdade tropeçado em uma pessoa invisível e agora se encontrava em cima dela. Lily e o estranho se debatiam e gritavam num emaranhado de braços tentando se desvelhinxar um do outro.

— EVANS PARA DE SE DEBATER PORRA! SOU EU O JAMES - o garoto disse, tirando a capa da invisibilidade que cobria seu rosto e segurando os braços da garota para que ela parasse de se mexer.

— POTTER? VOCÊ QUER ME MATAR, EU ACHEI QUE FOSSE MORRER - ela gritou de volta, finalmente abrindo os olhos e encarando o “inimigo”.

— Pelo amor de Deus Lily para de gritar, daqui a pouco a escola inteira vai estar acordada e encontrando os monitores chefes clandestinamente passando a noite juntos na torre de astronomia - James sussurrou com um sorriso debochado nos lábios. Ele tinha plena consciência de que ainda segurava os pulsos da ruiva e a proximidade dos dois poderia ter sido constrangedora se ela não estivesse tão claramente irritada. Claro que James amava vê-la brava e achava aquilo a coisa mais fofa do mundo, mas como não podia dizer isso resolveu continuar a provocá-la - E quem, em nome de Merlin, poderia estar escondido na torre de astronomia no meio da semana de férias tentando pegá-la de surpresa e matá-la?

— Caso você não saiba estamos no meio de uma guerra contra, adivinha quem? - ela disse se soltando dele e virando as costas para James, irritada por ter sido assustada e por ter que explicar o óbvio para alguém próximo a ela - Isso mesmo Potter, contra pessoas como eu, uma sangue ruim que tem medo de andar pelo corredor sozinha. Então me perdoe se eu me assusto quando uma pessoa invisível me agarra no meio da noite em plena torre de astronomia de uma escola cercada de seguidores daquele fascistinha.

James se sentiu mortificado percebendo o que tinha dito e a primeira reação que sua mente atormentada teve foi levantar, tirar o resto da capa da invisibilidade que estranhamente cobria metade de seu corpo e abraçar Lily Evans pelas costas como se fosse a coisa mais normal do mundo. James simplesmente colocou os braços ao redor da garota que havia sido sua primeira paixão e apoiou sua testa nos cabelos dela, sussurrando repetidamente “me desculpe”. 

Inicialmente Lily ficou tensa ao sentir James envolvê-la, ainda chateada com a insensibilidade do garoto. Segundos ou minutos ou horas se passaram até que ela se virasse para encarar o garoto. Lily levantou o olhar para poder ficar cara a cara com James e viu que a expressão dele era de profundo arrependimento e desespero. Ele continuava sussurrando aquelas palavras para ela como se magoá-la fosse a coisa mais cruel que ele fez ao longo da sua vida e saber que o arrependimento do garoto era genuíno fez com que ela colocasse o indicador sob seus lábios para calá-lo e em seguida abraçá-lo de volta. Ela passou os dois braços ao redor da cintura de James e afundou a cabeça em seu peito, sentindo o cheiro que tanto a atormentava e fazendo um aceno quase imperceptível para dizer que estava tudo bem.

Os dois passaram tempo demais naquela posição pelo que seria considerado aceitável, mas, quando Lily finalmente saiu dos braços dele, parecia que apenas um momento havia transcorrido. Ela o encarou pela segunda vez e sorriu discretamente, não conseguindo se sentir constrangida por um momento real e cru como aquele. James sorriu de volta e deu um beijo suave na testa da garota, antes de ir para a sacada da torre observar o céu e tentar processar o que havia acabado de acontecer. Alguns minutos depois Lily se colocou ao lado dele e, sem trocarem uma única palavra, eles observaram a chuva de meteoros iluminar o céu de Hogwarts.

 

Lily acordou na manhã seguinte determinada a encontrar um presente para Remus, faltavam 2 dias para a véspera do natal e, mesmo com a troca ocorrendo na manhã do dia 25, ela precisava encontrar um presente antes de todas as lojas em Hogsmeade fecharem. Ela já tinha a ideia perfeita de um presente especial o suficiente para seu melhor amigo entre os meninos. Tudo o que Lily precisava era ir até o vilarejo e comprar os utensílios necessários para sua tarefa, o problema é que o único jeito de fazer isso seria pedindo ajuda.. Ela sabia sobre a existência do famoso mapa do maroto e agora também sabia que James tinha uma capa da invisibilidade o que tornava ele, Sirius e Peter suas únicas esperanças de entrar em Hogsmeade sem ser vista. Peter foi o primeiro a ser rejeitado mentalmente por ela como opção de ajuda, eles não eram próximos e o garoto parecia ser o menos discreto dos quatro. Sirius tinha a fama de ser a pessoa mais fofoqueira da escola, mas era bem sorrateiro. Além de que James havia dito na noite anterior que passaria a manhã treinando quadribol com Marlene, Dorcas e Frank. Com sua decisão de pedir ajuda a Sirius tomada ela saiu da mesa vazia de café da manhã da grifinória e se dirigiu de volta a torre da casa. Naquela manhã, metade de seu grupo estava fora do castelo desde cedo e a outra metade estava dormindo, o que a havia deixado para tomar café sozinha. O problema é que ela precisava encontrar um jeito de acordar Sirius de seu sono de princesa antes que as lojas ficassem cheias de pessoas comprando presentes de última hora. 

Ao chegar na sala comunal vazia e sem sinal de algum menino capaz de subir a escada do dormitório e acordar Sirius, ela começou a duvidar do seu plano. Sabendo que só seus amigos ocupavam aquele dormitório em pleno recesso de natal ela decidiu que só lhe restava uma opção.

— SIRIUS! SIRIUUUUS! SIRI…

— PELO AMOR DE DEUS EVANS PARA DE GRITAR! - Sirius gritou, surgindo de debaixo de uma mesa e quase matando Lily de susto - eu não sou Lorde Voldemort pra você me invocar pelo nome.

— Caralho você quer me matar? Onde você tava escondido e porque Sirus? - Lily perguntou ofegante pelo susto, com a mão no coração que batia acelerado.

— Eu não estava tecnicamente me escondendo de você, tô apenas evitando humanos no dia de hoje, principalmente humanos interesseiros como você - Sirius respondeu se levantando e emergindo completamente de debaixo da mesa - e nem tente me interromper e bancar a inocente Lily. Muitos vieram em busca dos meus talentos pra fugir da escola no dia de hoje e devo dizer que tô surpreso com você por ter sido a última a recorrer a mim. Achava que você era a mais inteligente entre nós.

— Não acredito que todo mundo já comprou o presente e eu tô aqui perdendo tempo! - Lily falou bufando e olhando indignada para Sirius que agora estava sentado confortavelmente no sofá de costas para ela. Ela deu a volta no móvel e se colocou na frente do amigo com os braços cruzados tentando parecer intimidadora - Preciso da sua ajuda Sirius, eu nunca saí clandestinamente dessa escola e não faço ideia de como chegar a Hogsmeade de maneira ilegal. Além do mais, isso tudo é culpa sua então o mínimo que você pode fazer depois de eu ter te apoiado nessa loucura é me levar lá.

— Primeiro que eu não disse nada de que ia ter que te ajudar pra você aceitar participar do amigo oculto, e segundo você tem outras opções para sair sem ser vista desse castelo - ele disse pegando o Profeta Diário que estava jogado no sofá e lendo como se Lily não estivesse ali prestes a matá-lo com um olhar - Mas se você está tão desesperada eu posso te ajudar, com uma condição…

— Fala logo o que você quer seu chantagista! - ela falou cansada de Sirius e seus joguinhos.

— Me fala porque você saiu correndo toda estranha aquele dia que eu peguei você e o Potter aqui sozinhos

Naquele momento Lily congelou e percebeu que não havia sido tão sutil quanto imaginava naquele dia e que agora Sirius queria explicações, o que provavelmente significava que James também estaria se perguntando o porquê da saída repentina dela. Se ela fingisse que não foi nada Sirius não acreditaria e se ela falasse a verdade… isso não poderia ser sua única opção. Além de que ela ainda precisava de ajuda para achar o maldito presente. Sua cabeça chegou a essa conclusão em alguns segundos, mas foi tempo suficiente para deixar claro para Sirius que ela estava escondendo algo. Ela olhava para Sirius com cara de choque e ele a encarava de volta com um sorrisinho de quem estava prestes a descobrir um segredo em primeira mão. Mas, por sorte ou por algum milagre, os dois foram subitamente interrompidos pelo barulho de James entrando e derrubando todos os seus equipamentos de quadribol no chão da sala comunal. 

— E aí gente, tudo beleza? - ele perguntou entrando de vez no cômodo e afundando no sofá ao lado de Sirius, ignorando seus equipamentos espalhados e alheio a troca de olhares entre o amigo e Lily -  Tô com a maior fome, mas o almoço tá a horas de distância e eu ainda preciso ir a Hogsmeade achar um presente pro meu amigo secreto.

— Olha só que coincidência Potter - Sirius disse, finalmente desviando o olhar de Lily para falar com o amigo - Lily aqui também quer ir pro vilarejo, mas não sabe como sair daqui como a certinha que é. Você podia levar ela com você.

— Ah, claro - ele respondeu, imediatamente olhando para ela tentando esconder um sorriso - seria um prazer e, bom, é sempre melhor ir com companhia, só vou tomar um banho rápido e a gente vai. A gente pode almoçar no Três Vassouras... se você quiser claro sem pressão.

— Eu quero sim James, obrigada. Te espero aqui em baixo - Lily respondeu aliviada por ter se livrado do interrogatório de Sirius e por ter companhia para Hogsmeade, mesmo que isso significasse passar o dia ao lado da pessoa que ela mais queria evitar.

 

Meia hora mais tarde, Lily e James estavam passando por um túnel apertado e cavernoso a caminho de Hogsmeade. Ela ainda estava pensando sobre a pergunta de Sirius enquanto tudo o que ele conseguia pensar era na noite anterior e em como sua versão de 13 anos interior estava entrando em colapso. O problema é que sua versão de 17 anos também estava.

— Já sabe o que vai comprar Evans? - ele perguntou tentando quebrar o silêncio enquanto se encurvava o máximo possível para não bater a cabeça nas pedras do teto.

— Tenho uma ideia já, na verdade eu mesma vou fazer só preciso ir a Hogsmeade comprar uns utensílios

— Nossa que empenhada - ele comentou - e pra sua família? Já enviou os presentes?

— Enviei pros meus pais pelo menos, minha irmã não me dá nem bom dia quando eu estou lá, quem dirá um presente - ela respondeu tentando esconder a tristeza na voz - Meus pais ficaram um pouco chateados por eu decidi passar o natal aqui, mas é minha última chance de passar a data mais mágica do ano no lugar mais mágico do mundo.

— Foi por causa da sua irmã também que você decidiu ficar aqui, né? - ele disse tentando descobrir se Lily iria confiar nele ou desconversar - Eu sei que vocês costumam brigar muito.

— Você é bem observador Potter - ela disse sorrindo suavemente ao perceber isso, sem saber que ele também sorria na sua frente pelo mesmo motivo - Mas isso é verdade, ainda mais agora que ela está organizando o casamento com o noivo insuportável dela. A única coisa boa de ir pra casa no natal é poder assistir Doctor Who até a Petúnia surtar comigo por monopolizar a TV.

— O que é Doctor Who? - ele perguntou inocentemente como um bruxo que não fazia ideia de que havia despertado o lado trouxa obcecado por televisão de Lily.

— Ah Potter pode deixar que eu vou te contar tudo sobre Doctor Who, a melhor série da história da tv britânica.

Uma hora mais tarde,os dois entravam no Três Vassouras com sacolas repletas de artigos de papelaria para Lily montar um livro de memórias para Remus. James por sua vez estava encantado com as histórias que ela havia contado sobre essa tal “Doctor Who” e tudo o que ele queria era ter um desses artigos mágicos chamados de televisão para ter mais assuntos em comum com Lily. Eles tentavam atravessar a maré de pessoas que lotavam o estabelecimento tentando se aquecer antes de terminar suas compras de última hora. James conseguiu avistar uma mesinha pequena no fundo da sala com dois clientes se levantando e logo correu para guardar o lugar para eles, enquanto Lily pedia duas cervejas amanteigadas para aquecê-los. Alguns minutos de espera depois, os dois estavam acomodados no meio do falatório com suas bebidas e esgotados de assunto depois de uma tarde de Lily falando sem parar.

— Tava pensando aqui, Evans - James começou puxando assunto, sem perceber que estava com um bigode de espuma no rosto - Esse negócio de televisão parece ser incrível, imagina ter um desses para assistir jogos de quadribol?

— Socorro Potter você só pensa nesse jogo! - ela respondeu tentando parecer irritada, mas abrindo um sorriso por ver a inocência e animação dele, além de, é claro, o rosto cheio de espuma - Mas acho que você tem razão, seria útil e talvez assim eu poderia entender como esse jogo realmente funciona.

— Como me dói ouvir você falando assim - James disse levando dramaticamente a mão ao coração e arrancando um sorriso de Lily por suas bobeiras de sempre - Se você tivesse virado minha amiga a mais tempo já seria uma jogadora profissional de quadribol.

— Potter eu não sei nem voar numa vassoura, nunca fui tão mal em uma matéria como nas aulas de voo, quase me quebrei toda no chão na primeira aula.

— Você passou horas me contando da sua série favorita então eu só acho justo eu poder te falar de algo que eu gosto pra variar - James respondeu com um sorriso maliciosos de quem tinha uma ideia ruim - e que jeito melhor de te convencer a jogar quadribol do que jogando?

— James Potter volta aqui! - Lily gritava enquanto descia pelo jardim do castelo em direção ao campo de quadribol, tentando ao máximo não escorregar nos centímetros de neve que cobriam a grama. Depois de terem terminado suas cervejas amanteigadas no Três Vassouras, James havia insistido em voltar imediatamente para o castelo e dar uma aula de vôo para Lily, independente do tempo horrível que fazia. - Você quer que nós dois peguemos uma pneumonia antes do Natal?

O garoto pareceu não dar ouvidos para as queixas dela e seguiu para o vestiário com ela reclamando em seus ouvidos, pegou sua vassoura, uma extra que a escola deixava no armário de cada time para emergências e óculos e luvas de proteção para os dois porque sabia que, se Lily quisesse mesmo ir embora ela poderia ter feito isso antes de vir ao jardim. Ele sabia que era uma ideia louca, mas o clima de natal e as sensações de um dia ao lado de Lily tinham alterado seriamente sua capacidade de tomar decisões e ele só conseguia pensar em arrumar maneiras de não ter que se despedir dela.

Saíram ambos do vestiário e James entregou os artigos de proteção a Lily antes de colocar os seus próprios. Enquanto ele estava pronto para voar em alguns segundos, graças aos anos como titular do time da grifinória, ela lutava com as amarras do óculos de um jeito confuso e adorável que fez James abrir aqueles sorrisos bobos cada vez mais comuns quando ele estava perto dela. Vendo que Lily não ia pedir ajuda por ser orgulhosa demais ele pegou os óculos da mão dela e arrumou as fitas emboladas, depois se aproximou e, delicadamente, colocou a proteção sob os lindos olhos de esmeralda da garota. Pela terceira vez em três dias os dois se viam cara a cara, numa proximidade que deixava os dois com a respiração presa por medo de que um movimento, por menor que fosse, pudesse quebrar o encanto. Tudo era intensificado, o cheiro de James que atingia Lily como um trem, lembrando-a do odor de sua poção de amortentia; a textura sedosa dos cabelos levemente ondulados de Lily, que agora estavam inconscientemente enlaçados nos dedos de James; o contato dos dedos milagrosamente quentes de James com a face gelada pelo vento de Lily. Tudo entre os dois era eletricidade e todos os momentos como aquele pareciam durar uma eternidade e ao mesmo tempo acabar em milésimos de segundos. Dessa vez o primeiro a se afastar foi James que colocou a mecha que segurava atrás da orelha de Lily e pegou sua mão, conduzindo até a vassoura que flutuava a alguns centímetros acima do chão.

Meio desajeitada e meio insegura, Lily subiu na vassoura de James se apoiando na mão dele, com medo de soltar-se dela. Depois que ela estava estabilizada, ele subiu na outra vassoura e lançou-a um olhar encorajador. Ele secretamente tinha emprestado sua querida vassoura para Lily, queria fazer com que sua experiência voando fosse a mais confortável e segura possível, mesmo que isso significasse abrir mão de sua posse favorita. Vendo que se dependesse do primeiro impulso dela os dois nunca sairiam do chão, James abriu um sorriso para ela e se colocou em vôo, quando parou com sua vassoura a alguns metros do chão ficou surpreso ao encontrar Lily seguindo-o de maneira desastrosa, mas incrivelmente eficiente.

— Muito bem, Evans! Parece que você não é tão ruim quanto disse que era - ele gritou por cima do barulho dos ventos fortes e gelados que açoitavam os dois - Agora segura firme nessa vassoura antes que o vento te derrube! Arruma a postura! Inclina o tronco para frente! 

E assim Lily e James passaram o que pareceram horas voando sob o campo de quadribol de Hogwarts, rindo das quase quedas da garota enquanto ela fingia levar a sério as instruções autoritárias que ele dava, coisa que só um capitão nato poderia fazer. O vento era cada vez mais gelado, mas os dois pareciam alheios a tudo aquilo, se divertindo como amigos de longa data que sabiam exatamente a maneira de fazer o outro sorrir. Sem nem perceber, eles haviam passado o dia inteiro distraídos pela presença um do outro e a única coisa que tinham comido era os doces que James compara para eles em suas andanças em Hogsmeade.

— Potter, tá começando a escurecer e eu to morrendo de fome, acho que a gente devia entrar! - Lily gritou por cima do vento cada vez mais forte e começou a se direcionar para o chão com o corpo dormente e quase congelado na posição de montaria na vassoura - Preciso urgentemente de uma lareira e um chocolate quente para devolver o calor que eu perdi por sua causa.

No fundo James sentiu uma pontada de decepção por ter que acabar um dos melhores dias que passou naquela escola, mas ele admitia que o frio ia acabar matando os dois antes da manhã de natal. Vendo que Lily ia ter dificuldades para sair da vassoura depois de passar horas travada na mesma posição, ele se adiantou e pousou antes dela. Quando os pés da garota tocaram o chão ele fez uma mesura exagerada, como se ela fosse uma rainha, estendendo a mão para que ela se apoiasse. Isso arrancou uma risada de Lily e um “Você é muito bobo, Potter”. Desde que eles tinham desenvolvido uma espécie de amizade aquela frase tinha se tornado comum entre eles, mas a cada dia o tom dela era mais carinhoso e fazia com que o coração de James errasse as batidas como se fosse um “eu te amo”. Quando Lily pegou as mãos dele, que agora estavam sem luvas, ela sentiu o calor que irradiava dele a preencher como uma faísca e ela se perguntou se talvez o amor esquentasse mais que um chocolate quente numa manhã de natal. Infelizmente ela nunca teria coragem para descobrir.

 

Naquele fim de tarde, James e Lily voltaram para o castelo e encontraram seus amigos na sala comunal com um típico chá inglês preparado de maneira improvisada com contrabandos vindos da cozinha. Eles receberam olhares curiosos de quem percebeu que os dois tinham sumido juntos por um dia inteiro e quando Lily subiu para seu dormitório para guardar o que tinha comprado no vilarejo Sirius lançou olhares inquisidores para James. Os dois passaram o resto do dia se divertindo com os amigos, relembrando histórias memoráveis dos seus anos no castelo e a atmosfera festiva fazia tudo parecer mais mágico. Lily se sentia pela primeira vez parte de uma família em que ela era amada exatamente do jeito que era e nada era mais gratificante do que essa sensação.

Foram dormir bem depois da meia noite e combinaram de saírem na noite seguinte para comemorar a véspera de Natal em Hogsmeade, com direito a muita bebida. Lily acabou passando o dia inteiro trancada em seu quarto. Enquanto todo mundo aproveitava para brincar na neve que caía lá fora, ela montava seu presente para Remus. A ideia era fazer um livro de memórias com fotos, mensagens e outras coisas para que ele tivesse uma maneira de levar consigo as lembranças daquele tempo independente dos caminhos diferentes que eles tomassem. Apesar da dificuldade de agradar seu próprio perfeccionismo, Lily ficou feliz de poder relembrar aqueles momentos e eternizá-los para presentear um de seus amigos de maior confiança. No fim da tarde ela finalmente ficou satisfeita com o que tinha feito e resolveu ir se arrumar, aproveitando que ainda era cedo e as meninas ainda não formavam fila para entrar no banheiro. Quando saiu do banho com a toalha amarrada no corpo e ainda sem ideia de que roupa usar, encontrou o dormitório em completo caos. Marlene revirava seu baú enorme de roupas e jogava as muitas possibilidades no chão, impossibilitando a passagem; Alice remexia as camas a procura do cachecol que Frank a dera de presente e que ela vivia perdendo; Dorcas, que estava batendo na porta para Lily sair logo do banheiro, entrou nele logo que a porta se abriu antes que as outras duas pudessem perceber que ele estava vago. Ela sentiria falta daquilo, Lily pensou, da bagunça de Marlene, do esquecimento de Alice e das brigas que Dorcas sempre arrumava com as outras. 

Pulando os obstáculos no caminho, Lily se abaixou em frente a seu próprio baú e começou a revirar suas roupas que, de acordo com Marlene, não tinham nada de interessante. Como ela nunca ia em festas quando estava em casa e as festas em Hogwarts eram mais simples, ela nunca sentiu a necessidade de comprar vestido chamativos para sair a noite. Naquele dia uma parte dela que ficava escondida bem no fundo queria usar algo bonito e que impressionasse James e, mesmo que seu melhor juízo a dissesse que isso era perca de tempo e que James não tinha mais olhos para ela a tempos, Lily foi pedir ajuda a Marlene.

— Ora, Ora parece que alguém finalmente precisa de mim para seguir conselhos que eu venho dando a anos! - a amiga falou ao entender o que Lily relutantemente tentara pedir - Sorte a sua que eu não guardo rancor porque tô muito ocupada guardando roupas. Senta aí na cama e se prepare para me ver em ação, Lilyzinha.

 

Quando Lily desceu as escadas do dormitório, com um lindo vestido vermelho de mangas longas e uma meia calça preta para protegê-la do frio, James perdeu o fôlego. Enquanto ela tentava não tropeçar nas botas de salto alto que havia desenterrado de seu baú, ele a olhava como se fosse a criatura mais mágica do mundo. Naquele momento ele percebeu que precisava falar com ela nessa noite, ele não se importou com os meses de constrangimento que teriam que enfrentar caso ela não correspondesse os muitos sentimento que ele tinha. Tudo o que James queria era se declarar para a garota que ele amava e torcer para que um milagre de natal a fizesse corresponder.

Lily estava tão atenta aos degraus que quando finalmente chegou ao patamar da escada foi surpreendida por um James tão bem arrumado quanto ela. Ele usava uma calça de brim preta ajustada ao corpo e um suéter vermelho de manga longa e gola alta. O conjunto era perturbadoramente parecido com o que Lily usava e ela teria ficado constrangida se não estivesse mais uma vez hipnotizada com a beleza dele. Ela não fazia ideia de como passaria uma noite inteira sem cair na tentação de arrumar os cabelos sempre rebeldes de James, ou de tirar seus óculos para vê-lo melhor. A solução era ficar bêbada o suficiente para ignorar isso e torcer para que o álcool não a desse coragem demais.

— Você tá… linda, Lily - James falou assim que os olhos da garota encontraram os dele, passando as mãos pelos cabelos recém arrumados - Quer dizer você sempre tá… mas… ah esquece…

— Obrigada, James - Lily respondeu enquanto mexia no esmalte que Dorcas acabara de passar para ela e evitando encarar o garoto  - Você também não está tão mal.

Antes que o momento constrangedor entre os dois pudesse durar por mais tempo, os dois foram puxados pelos amigos para se apressarem antes que o Três Vassouras estivesse lotado. O grupo utilizou a mesma passagem que Lily e James haviam usado no dia anterior e o frio que a pedra do túnel transmita quase os congelou durante os minutos de caminhada. Além dos muitos agasalhos, a conversa descontraída e o clima de brincadeira ajudou a esquentá-los no percurso. Quando atingiram o vilarejo, a neve caia sobre eles sem pena e o ponto de encontro estava lotado de todo tipo de bruxo, como esperado. Graças aos contatos dos marotos, eles tinham conseguido reservar uma mesa perto da lareira, grande o suficiente para acomodar um grupo daquele tamanho. 

Lily e James acabaram se sentando em extremos opostos da mesa e ao longo da noite a tensão que havia se construído nos últimos dias parecia ter se multiplicado a um nível palpável. Enquanto a conversa fluía e ia aumentando de volume a cada rodada de bebida, os dois trocavam olhares cada vez mais longos e menos disfarçados. Se Lily achava que o álcool ia fazê-la esquecer a existência de James, ela não poderia estar mais errada. Ela não conseguia ignorar o jeito adorável que ele mexia no cabelo toda vez que ficava nervoso, como um leve sorriso surgia em seus lábios todas as vezes que seus olhares se cruzavam e como sua voz ficava sempre mais terna ao falar com ela. Talvez sua única chance de sobreviver ao seu recém descoberto vício em James Potter fosse falar com ele, ou, a melhor opção, correr para as montanhas e desistir de se formar porque mais 6 meses naquele sofrimento seria impossível.

Quando o grupo se deu conta da passagem do tempo, o bar já estava quase vazio, as pessoas que lotavam o ambiente haviam ido embora pouco depois da meia noite e os músicos que estavam tocando a noite toda descansavam em um canto. Foi nessa hora que James teve a brilhante ideia de cantar músicas de natal no microfone desocupado e, como esperado, os marotos o seguiram sem muito questionamento. Até mesmo Remus e Lily, os mais discretos ali, se juntaram numa mistura caótica de pessoas cantando de maneira séria e outras dramatizando em excesso. As canções variaram de típicas bruxas, para as mais novas e, até mesmo algumas trouxas. Naquele momento, Lily percebeu, com o maior dos sorrisos no rosto, que independente do que acontecesse no ano seguinte, ela sempre teria uma família para acolhê-la. Uma família diversa, desorganizada e, até mesmo irritante, mas uma família que a amava.

Lily havia parado de cantar e estava observando seus amigos, aproveitando aquele raro momento de despreocupação e seus olhos encontraram James. O garoto parecia tão absorto no momento quanto ela, mas a atenção dele parecia voltada única e exclusivamente para ela. Quando Lily se deu conta disso o ambiente ficou, de repente, menor e ela começou a se sentir claustrofóbica e paranóica. Começou a imaginar o significado de tanto olhares trocados e de tudo o que eles haviam compartilhado nos últimos dias, as risadas, os segredos e as dúvidas. Talvez aquilo também tivesse significado algo para ele e às vezes, por um “milagre de natal”, ele correspondesse seus sentimentos. Tudo a atingiu num turbilhão e, somado ao álcool que a confundia mais ainda, Lily sentiu uma urgente necessidade de sair dali. Desesperada para pegar um pouco do ar gelado do inverno e torcendo para que ele trouxesse mais clareza para seus pensamentos, Lily se levantou num solavanco e dando desculpas esfarrapadas e mal formuladas saiu do Três Vassouras.

Dentro do bar, James e Remus trocaram olhares preocupados quando viram a estranha atitude de Lily. Como o resto do grupo parecia muito absorto para reparar no que tinha acontecido, James decidiu que deveria ir checar se estava tudo bem. Afinal, aqueles não eram os melhores tempos para uma nascida trouxa como Lily ficar perambulando sozinha por uma cidade bruxa deserta. O vento gelado o atingiu com força assim que ele pisou para fora do estabelecimento. Seguindos as pegadas desgovernadas na neve, ele encontrou Lily sentada num banco de estrutura duvidosa nos fundos do Três Vassouras, com a cabeça enfiada nas mãos e com o corpo tremendo com soluços incontroláveis. James ficou paralizado por uns instantes, ele não conseguia entender como ela foi de feliz para chorando como um bebê em tão pouco tempo e ele não fazia ideia de como ajudá-la. Pensou em chamar uma das meninas, ou até mesmo Remus que era mais próximo de Lily do que ele, mas por fim decidiu ficar. Se ele havia aprendido algo naqueles últimos dias na companhia dela é que havia ali uma confiança mútua e ele não estava prestes a ser um covarde e abandonar a melhor pessoa que ele conhecia aos prantos em pleno natal.

Ele foi se aproximando devagar, até estar de frente para ela e ficou ainda mais perturbado com o tamanho da tristeza que ela parecia estar sentindo. 

— Lily? - ele chamou incerto, sem saber como ela responderia a ele estando ali num momento tão íntimo.

— James? - ela disse, levantando a cabeça com os olhos vermelhos cheios de confusão, enquanto o rímel escorria com as lágrimas, manchando sua bochecha.

— O que houve? Porque você está chorando assim? Alguém fez alguma coisa?- ele perguntou se abaixando para ficar na mesma altura que ela e tomando as mãos frias de Lily nas suas.

— Não é nada - Lily respondeu sem muita convicção e evitando encarar o garoto por medo de que se fizesse isso, ela estaria condenada a contá-lo a verdade - Eu só tô bêbada e emocional, eu tô bem, você devia voltar lá para dentro…

— Lily Evans se você acha que eu vou a algum lugar até você me contar que merda ta acontecendo para te deixar desse jeito, você não me conhece nem um pouco!

A evidente proteção de James só fez Lily recomeçar a chorar ainda mais e o garoto só foi se desesperando mais e mais. Vendo que não tinha muito o que fazer até que ela se acalmasse, James se sentou no banco também e passou o braço pelos ombros da garota, puxando-a para perto. Minutos infindáveis se passaram com Lily chorando no ombros de James e a ansiedade dele crescia cada vez mais porque aquilo não fazia parte dos planos que ele havia feito para aquela noite. Quando ela finalmente se acalmou e seu corpo parou de tremer, levantou a cabeça e o olhou nos olhos.

— Eu disse que eu tava bem, mas não era verdade - ela começou, secando as lágrimas que escorriam pelo seu rosto - Eu não ando bem faz um tempo. Primeiro que as coisas em casa estão uma merda. Minha irmã nem olha na minha cara e meus pais, que deveriam estar aproveitando a aposentadoria, passam os dias se preocupando comigo. O que deixa minha irmã ainda mais irritada, claro, porque ela acha que eu gosto de ser marginalizada para ser o centro das atenções. A segunda coisa, obviamente, é o preconceituoso de merda que tá fazendo esse país de fantoche e me fazendo questionar cada coisa que eu já fiz na vida. Talvez eu devesse ter ficado na minha cidadezinha e nunca vindo para cá porque pelo que parece eu nunca vou conseguir ser alguém no mundo bruxo, independente de quantas notas máximas eu tirei em Hogwarts.

No meio do discurso ela havia se levantado e estava andando de um lado para o outro, pisoteando a neve macia enquanto ria nervosamente das próprias palavras. James parecia estar em um estado de confusão tão grande que nem se importava mais em fechar a boca, surpreso por realmente ter arrancado uma confissão de Lily.

— Mas na verdade você já sabia de tudo isso porque nesses últimos dias o meu inferno pessoal deu uma trégua graças a você. Você e suas piadas bobas, suas atitudes carinhosas e o seu cheiro que vem me atormentando a dias. Na verdade a meses, desde aquela aula de poções...

Enquanto Lily falava coisas cada vez mais sem sentido para James, ele tentava entender o significado de tudo aquilo. Ele tinha ajudado ela de alguma maneira? Mas ela estava irritada? E o que o cheiro dele tinha a ver com tudo aquilo?

— Lily, você tá falando coisa com coisa - ele começou enquanto Lily ainda andava para lá e para cá, quase o deixando louco. Cansado daquele confusão, James a segurou pelos dois braços de frente para ele e olhou-a nos olhos - O que você  quer dizer com isso? Nao sei se você tá bêbada ou sei lá mas tudo o que você tá falando tá me confundindo mais e …

— Você não entende James, eu não quero mais guardar segredos só pra te ter aqui - ela disse, sustentando o olhar dele e deixando seu corpo relaxar junto com sua mente, se dando por vencida.

— O que você quer dizer? Eu não…

— EU TE AMO JAMES POTTER! ESSA NÃO É A PIOR COISA QUE VOCÊ JÁ OUVIU? - Lily gritou, cansada de guardar seus sentimentos todas as vezes que se aproximava dele.

Por um instante o tempo pareceu parar para eles, James abaixou o olhar e Lily se deu conta do que tinha acabado de fazer, começando a se apavorar com a resposta que ele daria. Os flocos de neve pareciam cair mais lentamente nos cabelos deles e o frio parecia não incomodá-los mais. O desespero de Lily já estava sufocando-a quando James finalmente levantou a cabeça, com um sorriso diabólico e satisfeito nos lábios..

— Eu também te amo, Lily Evans - ele disse, puxando a garota pelo pescoço e colocando seus lábios sobre os dela.

Até aquele dia 25 de dezembro Lily achava que não existia um primeiro beijo perfeito, mas como em tudo o que ele fazia, James Potter se provou perfeito naquilo também. O beijo começou suave, como se um pedido de permissão e logo os lábios incertos deles foram se abrindo, dando passagem para aprofundamento. Pouco tempo depois eles estavam no próprio ritmo, como se estivessem se beijando a décadas, mas com a mesma magia de um primeiro beijo. O frio não parecia atingi-los enquanto Lily enlaçava seus dedos nos cabelos de James e ele a puxava para mais perto, com uma das mãos na cintura dela e a outra carinhosamente acariciando seu rosto e colocando seus longos cabelos ruivos atrás da orelha. 

Os dois passaram 5 minutos ou talvez meia hora atrás daquele bar, se beijando bêbados sob a luz das estrelas da linda noite de natal. As mãos e as línguas se explorando e tomando liberdades de tocar e sentir o que estava na mente deles a muito mais tempo do que uma semana. Quando eles finalmente se separaram, inebriados,  levemente sem fôlego e com o maior dos sorrisos nos lábios, James e Lily souberam que não havia volta daquele inverno cruel e que isso era a melhor coisa que poderia ter acontecido.

 

Na manhã do dia 25 de dezembro o castelo de Hogwarts estava mais mágico do que nunca. Apesar de ter poucos alunos hospedados para as férias de inverno, a decoração natalina era glamurosa, com direito a dezenas de pinheiros enfeitados espalhados pela escola e guirlandas gigantescas nas paredes. No salão principal, o teto refletia o cair da neve no exterior. O clima frio e a ressaca da noite anterior fez com que até mesmo Lily ficasse até quase meio dia na cama. Ela sentia uma fortíssima dor de cabeça e nenhuma animação para se levantar e se arrumar para a troca de presentes do amigo secreto .

Com muita dificuldade, Lily se arrastou para fora da cama e foi se arrumar no banheiro, aproveitando que suas amigas ainda dormiam. Vestiu uma calça simples e um suéter de Natal que usava desde o primeiro ano de Hogwarts, voltou para o quarto para acordar as outras meninas. Quando elas finalmente desceram para a sala comunal, cada uma com seus respectivos presentes em mãos, encontraram o ambiente totalmente mudado. A mobília havia sido arrastada para os cantos e um enorme espaço estava aberto no meio da sala, onde uma linda árvore de Natal havia sido colocada com todos os presentes posicionados em sua base. Para completar, diversas decorações e velas natalinas pendiam do teto e davam um ar mais mágico ainda para aquele dia. Junto a árvore de Natal estava James, tão absorto em dar os últimos retoques na decoração que nem se virou para olhar as meninas chegando.

A noite anterior havia sido como um sonho para ele, mas, quando acordara naquela manhã, tudo parecia lhe escapar da mente e ele não estava mais tão certo se Lily realmente o amava ou se dissera aquilo no calor do momento. Para tentar tirar sua mente dessa paranoia, havia decidido fazer uma decoração surpresa no salão comunal e, quando ouviu as vozes das meninas descendo a escada com Lily entre elas, fingiu estar distraído por medo de encará-la. Ele não fazia ideia se deveria cumprimentá-la com um beijo, com um abraço ou com um aceno. Se deveria se sentar ao lado dela na roda de troca de presentes. Se deveria segurar sua mão e abraçá-la para protegê-la do frio da manhã de Natal. Ele simplesmente não sabia como agir. 

Enquanto as dúvidas consumiam a cabeça de James, Lily só conseguia pensar em como as coisas poderiam ter dado muito errado na noite anterior, mas que, no fim, havia conseguido exatamente o que queria. Ela mal podia esperar para passar o dia ao lado de James e fazer coisas melosas e natalinas que envergonhariam a Lily do primeiro ano. Ela só precisava ter certeza de que aquilo não fazia parte apenas do desejos dela, por isso decidiu agir naturalmente perto de outras pessoas até que eles tivessem uma chance real de conversar. Vendo que ele ainda não havia se virado para saudá-las e que suas amigas estavam distraídas se acomodando em cima de almofadas macias espalhadas pela sala, Lily resolveu ir até James. Cutucou suas costas levemente e quando ele se virou ela achou que fosse desmaiar com a visão daquele sorriso e, saber que o brilho nos olhos dele eram por vê-la, só a fez ficar mais ansiosa para poder falar a sós com ele.

— Feliz Natal, James - ela disse, abraçando-o rapidamente e tentando disfarçar sua alegria por encontrá-lo.

— Feliz Natal, Lily - James respondeu, com o sorriso gradualmente diminuindo de tamanho ao perceber que ela só tinha a intenção de dar-lhe aquele curto abraço.

— Eu tava pensando…- Lily começou depois de alguns instantes de silêncio constrangedor em que os dois se encaravam esperando o outro começar uma conversa - Acho que a gente deveria conversar depois, você sabe… sobre ontem e tudo...

James concordou automaticamente, sem pensar muito bem sobre o que ela queria dizer com aquilo, e logo Sirius entrou no cômodo, chamando a atenção de todos para o início da troca de presentes. Confuso e decepcionado consigo mesmo por ter criado expectativa sobre a noite de ontem ter sido mais que um delírio bêbado, James se juntou a roda que se formava no chão do salão comunal, se sentando no lado oposto a Lily e tentando que evitar contato visual com ela. 

— Eu declaro aberta a primeira e única edição do amigo secreto dos marotos e agregados - Sirius disse, abrindo os braços de maneira espalhafatosa - Para dar a largada a esse evento aguardado por longos 4 dias, o mais ilustre membro desse grupo de amigos vai falar sobre seu amigo secreto e os meros mortais tentarão adivinhar.

— Sirius para de enrolação ninguém aqui tomou café da manhã - Peter reclamou, recebendo vários acenos do grupo de estudantes famintos.

— Ai como vocês são estraga prazeres- Sirius suspirou e apontou a varinha para uma cesta de piquenique que ninguém tinha notado no canto da sala - Accio.

A cesta foi parar no meio da roda formada pelo grupo e estava recheada dos mais deliciosos preparos de café da manhã que Hogwarts tinha a oferecer. Enquanto o grupo atacava a refeição posta diante deles, Sirius foi até a árvore e retirou um pacote tão chamativo quanto a roupa arrumada demais para a ocasião que ele usava.

— Agora que os famintos já estão se alimentados, posso começar? - Sirius falou com os braços cruzados em frente ao corpo e balançando os pés impacientemente. Quando recebeu acenos e sons de concordância de quem estava com a boca cheia de comida ele começou: - Meu amigo oculto é uma pessoa que eu conheço a muitos e muitos anos…

— JAMES - Peter gritou antes mesmo que ele terminasse a frase.

— Essa dica não serve de nada, você conhece todos nós a muitos anos - Dorcas argumentou, fazendo Peter murchar em sua animação infantil.

— Ok vou dar mais uma dica, essa pessoa sempre quer chamar mais atenção que eu.

— Agora pode ser o James - Lily falou sorrindo para o garoto e recebendo um sorriso bem mais fraco em retorno.

— É a Marlenne, esses dois estão sempre brigando para quem é o mais “popular” do grupo - Remus falou, recebendo algumas demonstrações de concordância.

— Já que vocês estão em dúvida vou dar mais uma dica - Sirius falou num ar misterioso - A pessoa que eu tirei não para de falar a meses que quer ganhar uma bota de cano alto vermelho vivo, então eu trouxe uma para fazer ela ficar quieta.

— AAA, Sirius eu te odeio mas as vezes eu te amo - Marlenne levantou dando pulinhos e gritinhos de alegria enquanto corria para abraçar o amigo e pegar seu tão desejado presente.

— Ninguém sabe presentear amigos tão bem quanto eu - Sirius se gabou enquanto Marlenne admirava as botas brilhantes e chamativas.

A partir daí o amigo oculto foi acontecendo de maneira cada vez mais barulhenta, com gritos de quem poderia ser o amigo secreto ecoando até o andar dos dormitórios. Marlene deu a Peter um kit da Zonko´s cheio de itens feitos para atormentar a vida dos outros e ele já começou a planejar maneiras de usá-lo antes do fim do recesso; Peter deu a Frank um par de ingressos super concorridos para um show de sua banda bruxa favorita; Frank presenteou Alice, o que todos implicaram dizendo que foi manipulado, com um lindo medalhão com uma foto dos dois dentro; Alice deu a Dorcas um kit para cuidar de sua vassoura, junto com um livro sobre quadribol que a amiga estava louca para ler; Dorcas teve Sirius como amigo secreto, fechando um ciclo, e lhe deu uma jaqueta de couro que ele andava desejando desde o início do inverno e ele imediatamente a vestiu, fazendo um desfile improvisado para mostrar sua mais nova aquisição. 

— Pelo visto sobrou só a Lily, o James e o Remus - Marlenne falou tentando fazer com que Sirius se sentasse para que eles pudessem terminar a troca de presentes - Porque você não começa Lily?

— Ok... o meu amigo oculto é um dos marotos - ela começou

—  HaHa muito engraçado Lily - falou Remus.

— Estraga prazeres - ela falou mostrando a língua para ele - A pessoa que eu tirei é um amigo muito próximo e sempre ta ali por mim quando eu preciso.

— O jogo virou tanto esse ano que genuinamente pode ser o Potter ou o Remus - Dorcas comentou, com o grupo concordando.

— Ok, agora vocês vão saber, meu amigo secreto é o único que divide minha paixão por livros e bandas trouxas.

Com um enorme sorriso no rosto e gritinhos de que esse resultado fora comprado, Remus foi até Lily e a abraçou, pegando o presente de suas mãos. Ele abriu a embalagem e de lá tirou um enorme livro com uma capa azul marinho e um lobo prateada desenhado na frente. Assustado ele olhou para Lily, questionando-a com os olhos sobre o que aquilo significava e ela apenas sorriu para ele, apertando seu braço como num sinal de que ela sabia seu maior e mais terrível segredo e não podia se importar menos. Ao abrir o livro, ele percebeu que era uma junção de suas memórias, com fotos desde sua infância com seus pais, até seus dias passados em Hogwarts com os marotos. Tinha também ingressos de shows e cinemas que eles haviam ido juntos nas férias e poemas que ele mesmo escreveu que ela havia pedido para Peter pegar escondido de suas coisas. Fotos com sua família, seus amigos e suas conquistas escolares que o fizeram perceber que, apesar de tudo, ali estava um grupo de pessoas que sempre o amariam pelo que ele era. 

— Muito obrigada, Lily - ele sussurrou no seu ouvido, ao abraçá-la mais uma vez - Esse é o melhor presente que eu já recebi.

Distraída com o agradecimento de Remus e com a euforia do grupo que folheava o livro de memórias em busca de fotos vergonhosas do amigo, Lily nem se deu conta de que só restavam ela e James para ganharem presentes. 

— Meu amigo secreto - começou Remus depois de arrancar seu presente das mãos de Sirius antes que fosse impossível trazer sua atenção de volta para a brincadeira- é alguém que fala tanto de quadribol que eu já o teria expulsado do dormitório se eu não tivesse tanta consideração pela pessoa que ele é. E sem suspense porque é óbvio que eu tirei o James pela lógica da coisa.

— Eu te amo mesmo que você me odeie, Moony - James disse, se levantando para dar um abraço exageradamente apertado que tirou Remus do chão.

Enquanto James abria seu presente, uma coleção de clássicos livros trouxas, Lily percebeu que ele iria presenteá-la. Ela mal teve tempo de se desesperar sobre o que ele iria falar sobre ela, se iria partir seu coração a colocando apenas como amiga ou expor uma relação sem nenhuma base para todos os seus amigos. 

— Bom tá bem óbvio quem é minha amiga secreta, mas vocês vão ter que me escutar falar sobre ela - James falou tentando chamar a atenção do grupo disperso e fazendo seu melhor para manter a calma já que o que ele estava prestes a falar poderia muito bem ser o fim para a melhor coisa que ainda nem acontecera na sua vida - A pessoa que eu tirei costumava me odiar muito e, sendo sincero, eu merecia boa parte disso. Eu era um garoto imaturo que adorava irritar os outros e ela sempre foi a mais madura e inteligente de nós. Todo mundo sempre achava que eu nunca na vida teria uma chance com ela, já que eu fiz besteira desde o início de nossa convivência. Mas depois da minha maior e última grande bola fora em Hogwarts, ela me perdoou por tudo o que eu havia feito e aceitou ter uma relação mais amigável comigo. Eu lembro até hoje do alívio e da felicidade que eu senti aquele dia, por saber que poderia dormir sabendo que a garota que eu amava não me odiava mais. Nos últimos dois anos, o passado foi cada vez mais deixado para trás e ela se tornou uma das minhas melhores amigas, sempre me animando e me dando esperança de que ainda havia bem nesse mundo ferrado que a gente tá. Eu tinha a muito tempo desistido de ser algo além de amigo dela, até que essa semana mudou tudo. Ontem mudou tudo. Eu não sei porque você me evitou hoje de manhã depois do que aconteceu ontem Lily, mas eu preciso te falar que eu te amo e eu sei que é loucura e você provavelmente disse e fez tudo aquilo ontem de maneira precipitada. Eu te amo e sempre te amei e tenho certeza que vou sempre te amar e esses dias fugindo das coisas para passar dias e noites ao seu lado foram os melhores da minha vida. Você é minha calmaria no meio da tempestade e se tem alguma possibilidade de você relevar nosso passado e sentir a mesma coisa por mim eu seria literalmente a pessoa mais feliz do mundo.

Quando James levantou os olhos, que estavam grudados no chão para que ele não perdesse a coragem no meio do discurso, ele encontrou uma série de reações. Metade dos seus amigos estavam chocados com a descoberta ou porque ele teve a coragem de fazer uma declaração daquelas no meio de tanta gente. Algumas pessoas sorriam com orgulho do amigo, como Remus e Sirius, e a pessoa mais importante disso tudo se encontrava sem reação. Ela olhou para ele pelo que pareceu uma eternidade, enquanto as outras pessoas na sala seguravam a respiração com medo de atrapalhar aquele momento. Lentamente ela se levantou e  foi dando passos na direção dele e a cada centímetro de distância que diminuía o coração dele batia mais forte.Quando James ficou frente a frente com Lily, ele achou que seu coração fosse explodir, mas a maré forte no seu interior pareceu se acalmar instantaneamente quando os lábios dela suavemente tocaram os dele. James soltou um suspirou de alívio, fechando os olhos ao sentir o braços dela se apoiando ao redor de seu pescoço. O beijo durou apenas um instante e quando James abriu os olhos novamente encontrou o sorriso mais lindo nos lábios de Lily. 

Sem dizer uma única palavra ela se abaixou para procurar o presente destinado a ela embaixo da árvore de Natal e descobriu que a maior das caixas era pra ela. Não ficou surpresa, afinal James Potter sempre foi conhecido por seus atos grandiosos, grandes ou pequenos. Ansiosa para saber o que estava dentro daquele enorme embrulho, ela rasgou o papel de presente como uma criança e encontrou uma caixa com nada mais nada menos que uma televisão dentro. Chocada com o presente extremamente caro e absurdo ela olhou para James, que ria abertamente da expressão chocada da garota.

— Mas… como… eu não entendo - ela tentou articular, ignorando os olhares atentos que seus amigos lançavam para o casal.

— Eu tenho meus contatos, Evans - ele respondeu com um sorriso torto nos lábios - E caso não tenha percebido, vem com fitas de todas as temporadas de Doctor Who para você assistir quando quiser. Eu disse que ia te surpreender pelo menos uma vez nessas férias, Lily.

Com os olhos marejados de emoção, Lily se levantou novamente, sorriu para James e pulou em cima dele, pegando-o o de surpresa. Sem se importar com os aplausos e assobios sugestivos dos amigos, ela o beijou com suas pernas envoltas na cintura dele e com seu coração transbordando de amor e todo tipo de sensação que ela nem sabia nomear.

Para quem olhava de fora aquela cena poderia parecer caótica, mas nada representava mais o espírito natalino de Hogwarts do que um grupo de  amigos reunidos e um casal se beijando embaixo de um ramo de visco magicamente posicionado em cima deles. O inverno podia ser frio e cruel, a vida podia ser incerta e traiçoeira, mas o amor sempre estaria ali, como uma lareira quentinha, para aquecer quem acreditava na magia de um sentimento.





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Notas finais do capítulo

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