The Mischievous Prince - Spin-off escrita por Sunny Spring


Capítulo 6
Five




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Eu nunca almejei ser um agente. Muito menos trabalhar para a S.H.I.E.L.D. Eu até gostava de viver com certa adrenalina, mas uma vida normal parecia ser muito mais atraente. O problema é que quando se tem poderes como os meus, um sobrenome como “Lokison”, a vida normal deixa de ser um direito e passa a ser um sonho inalcançável. Eu passei, automaticamente, a ser uma opção para qualquer tipo de missão secreta perigosa e tramóias mirabolantes (fossem elas legais ou ilegais). Eu estava bem ao centro do bem e do mal - um passo apenas e eu poderia me tornar o herói da nação ou o vilão mais odiado. E, a segunda opção parecia me puxar muito mais do que a primeira. Talvez fosse a genética forte que eu herdara. Totalmente do meu pai. Algo humanamente (e biologicamente) impossível. Todos os cromossomos que me formaram vieram de Loki. Não fui gerado. Nunca tive uma mãe, por mais que eu sempre tivesse desejado. A coisa mais próxima de uma figura materna que tive foi Melina - que achava que eu era uma bola de pêlos (gorducha e fofa) de estimação. Nunca tive amor materno. Nunca fui um bebê comum. Uma coisa que só foi possível por causa de magia das mais profundas. Algo que eu mudaria se tivesse oportunidade. 

 

Mary parou o carro bem na portaria de um prédio antigo. O lugar não parecia ter muitos moradores e nem a vizinhança era muito movimentada. Este era o endereço que Mohamed havia nos fornecido. Era ali que Khalil, o humano que estávamos procurando, morava. Eu desci do carro primeiro, sendo seguido por Mary. Não havia ninguém por perto. O edifício parecia mesmo abandonado. Nós adentramos no lugar que não era muito iluminado. 

 

— Por que alguém moraria num lugar abandonado? - Mary perguntou a si mesma, enquanto nos dirigíamos para as escadas super estreitas. 

 

— Para não ser encontrado. - Conclui. - Deve ser apenas um esconderijo. - Dei de ombros. Ela fez um som com a boca que eu não pude identificar. 

 

Ao chegarmos na porta do apartamento, no quinto andar, bati na porta de leve. Aguardamos alguns segundos, ansiosos. Não havia sinal de que alguém viria nos atender. Impaciente demais, Mary bateu novamente. Bem mais forte do que eu. No entanto, ninguém apareceu, o que fez minha colega de missão bufar. Paciência não era mesmo um forte dos humanos. 

 

— Que demora! - Murmurou. Ao olhar para baixo, mais especificamente para a maçaneta, percebi algo estranho. A fechadura parecia ter sido forçada, até mesmo arrombada por alguém. Franzi o cenho, empurrando a porta cautelosamente. A porta foi aberta no mesmo instante. Mary me encarou, incrédula. - Não acredito que estava destrancada esse tempo inteiro. - Bufou. 

 

Nós dois entramos no pequeno apartamento. O lugar estava revirado do chão ao teto. Haviam móveis quebrados por todos os lugares e cacos de vidro espalhados pelo chão, que estava estranhamente molhado. 

 

— Parece que alguém esteve aqui antes de nós. - Conclui. 

 

— Não me diga. - Ela foi irônica, seguindo em direção ao banheiro. Revirei os olhos, seguindo seus passos. - Eu acho… - Mary parou de falar no mesmo instante que abriu a porta do banheiro. Seus olhos se arregalaram de choque. 

 

Eu entendi o porquê quando avistei o que ela estava vendo. Um cadáver. Jogado na banheira. Com uma bala atravessada no meio da barriga. Sua roupa estava ensanguentada. Seus braços abertos e caindo para fora, exibindo uma pequena tatuagem com os números 819387491, coisa um tanto incomum. Se eu não estivesse enganado, morte por perfuração dos órgãos. Hemorragia externa. Morte lenta e agonizante. Pela cor do sangue, não tinha sido há muito tempo. Se eu já não estivesse acostumado a ver cadáveres, poderia vomitar. Eu quase o fiz, mas me controlei. Não precisava que Mary passasse o resto da vida me zoando por causa do estômago fraco e nem que contasse a minha irmã, que também me atormentaria. Eu era um tanto fresco, não poderia negar. 

 

 A banheira transbordava água por todo o chão do banheiro. O morto era Khalil. Se ele estava com o Cofre de Todos os Invernos, alguém o encontrara primeiro que nós. E, obviamente, esse alguém havia levado o cofre, alongando a nossa (insuportável) missão. 

 

— Quem você acha que fez isso? - Mary me encarou, parecendo enjoada. Ela estendeu o celular, tirando uma foto rápida. 

 

— Não faço ideia. - Dei de ombros. - Talvez alguém da H.Y.D.R.A tenha o encontrado. O Fury garantiu que eles também estavam atrás do Cofre. - Ela mordeu o lábio inferior, perdida em pensamentos. 

— Vamos revistar o apartamento. - Sugeriu. - Talvez a gente encontre alguma coisa. 

 

—Sim. Mas, precisa ser rápido. Temos que dar um fora daqui antes que alguém apareça. 

 

Seguimos cada um para um lado do pequeno apartamento. Comecei pela cômoda, cheia de gavetas, enquanto Mary examinava um pequeno guarda-roupa. Abri todas as gavetas, revirando tudo o que estava dentro. Roupas. Papéis. Nada demais. Pela expressão, Mary também não havia encontrado nada que pudesse nos ajudar. 

 

Continuamos procurando, mas era impossível encontrar algo que não sabíamos o que era. Me sentia como se tivesse dando um tiro às cegas. Por Odin! Não havia nada ali. Andando de um lado para o outro, senti algo estalando em meus pés. Eu havia pisado em algo. Olhei para o chão no mesmo instante. Uma medalhinha dourada brilhava no chão, com um pingente de olho pendurado. Não foi preciso fazer grande esforço para me lembrar de onde eu conhecia aquilo. Era de Mohamed, eu tinha certeza. Me abaixei e recolhi a joia do chão. Não era nenhuma coincidência que aquilo estivesse ali. Alguém tinha matado Khalil e meus instintos diziam que o culpado era seu primo. 

 

—Encontrou algo? - Mary se aproximou. Eu estendi o colar, fazendo-a franzir o cenho. 

 

—Acho que já temos o nosso assassino. - Deu um meio sorriso. - Vamos atrás de Mohamed. 



[↔]

 

Era noite em Nova York. Eu tinha acabado de completar quinze anos. Eu me sentia um lixo. Perdido, ao mesmo tempo que estava preso, por uma ligação mágica, à uma pessoa que não sabia da minha existência. Com vontade de viver, ao mesmo tempo que me sentia vazio. Era como eu me sentia - vazio. Minha mente era formada por um vácuo de memórias e experiências, diferente de qualquer adolescente normal. Nenhum amigo. Nenhuma família. Um pai que eu havia praticamente me abandonado no planeta e uma irmã que achava que eu era um bichinho de estimação. Eu estava acompanhado, ao mesmo tempo que me sentia sozinho. A minha vida era cheia de contradições. Eu vivia num corpo de um animal. E, eu não tinha autorização para mudar isso. Esse era o meu trabalho, afinal. Ser o guardião da minha irmã. Ser invisível. Ser leal. 

 

Eu estava coberto de raiva. Tudo que eu queria era um momento de liberdade. Um momento que eu pudesse sentir algo por mim mesmo. Eu não hesitei, então, em sair de casa. Pelo telhado, como um gatuno que eu era. Me esgueirei pelas casas e esperei estar longe o suficiente para me transformar num humano. Foi assim, então que fiz minha primeira loucura - roubei um carro. Roubei a merda de uma Ferrari vermelha. Eu nunca me sentira tão livre em toda a minha vida. O vento acariciava meu rosto enquanto eu pisava mais fundo no acelerador, passando de 120km/h pelas ruas da cidade. Eu nunca havia dirigido, mas parecia estar em meu sangue. Eu era um motorista nato. Nem mesmo a polícia me pegou e apenas larguei o carro de lado quando me cansei. Era o dia mais feliz e infeliz da minha vida. Feliz porque tive um momento de liberdade. Infeliz porque isso acabaria e eu voltaria para a minha vida vazia de novo.

 

Entretanto, ao final de minha aventura, uma ilusão de Loki me esperava perto de casa. Eu não o via há muito tempo. Ele estava sério, de braços cruzados. 

 

—O que pensa que está fazendo, Nerfi? - Perguntou seco. Dei de ombros. 

 

—Quanto tempo, pai. - Respondi sarcástico. - Anos, na verdade. Veio me desejar feliz aniversário? - Ele permaneceu com sua expressão fria. 

 

—Não deve chamar a atenção! Sei o que fez. 

 

Soltei uma risada amarga. 

 

—Tem noção do que aconteceria se tivesse sido pego? - Seu tom não se alterou. - Você nem deveria estar usando esta aparência. - Contive uma careta. - Isso não vai se repetir, eu fui claro? 

 

—Claro. - Meu tom saiu quase irônico. Sua ilusão estava prestes a desaparecer. - Não quer saber dela? - Perguntei me referindo à Evie. Ele ficou ainda mais sério. 

 

—É melhor não. - Respondeu baixo. 

 

—Não quer nem ao menos vê-la? É sua filha!

 

—As coisas são desta forma por um motivo. - Ele não me encarou para responder. - É melhor não mudar isso. É mais seguro assim. - Suspirou. - Adeus, Nerfi. - Ele desapareceu nas sombras. 

 

Eu estava à 110km/h em um carro. Me sentia como quando tinha quinze anos. Mas, agora não estava dirigindo pela minha liberdade, e sim atrás de um assassino - Mohamed. Eu pisei ainda mais fundo no acelerador, desviando de um carro na estrada. Mary, que estava sentada no banco ao meu lado, quase gritou. 

 

—Você enlouqueceu? - Ela gritou, histérica, agarrada ao próprio cinto de segurança. 

 

—Ainda não, querida Mary. - Respondi tranquilamente. Ela gritou um palavrão quando virei numa curva, fazendo os pneus cantarem. Estava dirigindo na direção da casa de Mohamed. Se tivéssemos sorte, ele ainda estaria lá. 

 

— Isso não faz sentido! Por que ele mataria o primo? 

 

—Pelo cofre! - Não tirei os olhos do volante. 

 

—Ele não teria dado o endereço de Khalil para nós! - Rebateu. 

 

—Talvez ele não soubesse. Talvez a nossa visita tenha chamado a atenção. 

 

Ela bufou, odiando ser contrariada. 

 

—Será que você pode dirigir um pouco mais devagar? - Pediu, irritada. - Não poderemos cumprir a missão se estivermos mortos! - Contive um sorriso. 

 

—Não se preocupe, eu dirijo bem. - Eu a encarei. - E não morro assim tão fácil. - Dei um sorriso divertido. 

 

—Ah! Sério? - Ela fez uma careta, irônica. Eu quase ri. Ver Mary apavorada com algo era um tanto satisfatório, fascinante e, principalmente, divertido. 

 

Eu virei mais uma curva, mantendo o carro na estrada. Tentei pressionar ainda mais o acelerador, mas o carro midgardiano estava em seu limite. Apenas continuei, observando a paisagem ao nosso redor. Pelos prédios e casas familiares, não faltava muito. Estávamos perto. Muito perto. Mary soltou mais um palavrão baixinho, agarrada ao banco do carro e afundando suas unhas no estofamento de pavor. Contive um sorriso. 

 

—Estamos chegando! - Anunciei. Ela apenas acenou com a cabeça. - Ele não pode ter fugido ainda. Mas deve estar perto de fazer isso. - Conclui. Mary assentiu. 

 

Por um instante, tive a sensação de que o carro tinha deixado o chão e estava flutuando no ar. As rodas pareciam realmente estar prestes a sair do chão por causa da alta velocidade. Quando avistei a casa de Mohamed, diminui a velocidade. Estávamos perto. Muito perto. Vi de relance Mary preparando um revólver e prendendo-o na cintura. Eu a encarei com uma sobrancelha levantada. 

 

— O que foi? - Ela perguntou na defensiva. - Você não espera que nós vamos chegar lá e falar “com licença, senhor, acho que você matou o seu primo e tem algo que nos pertence. Por gentileza, poderia nos entregar o Cofre dos Antigos Invernos?” - Debochou. Fiz uma careta como resposta e voltei minha atenção para o volante. - Só estou me precavendo. - Deu de ombros. 

 

— Mary, você pode eletrocutar uma pessoa até a morte com as suas próprias mãos. Por que diabos você usa um revólver? 

 

— Pelo mesmo motivo que você! 

 

Não respondi. Nem eu mesmo sabia porque eu usava o revólver. Eu diminuí a velocidade do carro para não chamar a atenção da vizinhança e estacionei. Abri as janelas lentamente, observando a movimentação do lugar. Estava tudo em ordem. Pessoas passando para um lado e para o outro. Nada de anormal. Mary desceu do carro primeiro e eu fui logo em seguida. 

 

— Não podemos chamar a atenção. - Ela sussurrou para mim enquanto andávamos em direção à casa de Mohamed. - Tem certeza de que ele está mesmo em casa? Quero dizer, se eu matasse alguém a minha casa seria o último lugar que eu iria. - Olhei para os lados para ter certeza de que ninguém nos ouvia. 

 

— Eu não tenho certeza nem de quem eu sou. - Respondi no mesmo tom. Ela bufou. - Mas, tenho a sensação de que ele está em casa. Quem iria suspeitar de alguém que não fugiu? - Mary entortou a boca e deu de ombros, parecendo concordar. 

 

Nós dois havíamos finalmente chegado à casa do humano. Nos entreolhamos mais uma vez e eu abri a porta. 


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