Clima de Natal escrita por Rosalie Potter


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Essa fanfic é um presente do amigo secreto do Esquadrão de Escrita, para Carly Fernandes! Espero que goste amore :3
Eu pude escolher entre três opções e eu escolhi a que mais me tirava da zona de conforto. Essa é a primeira vez que escrevo uma fic homossexual entre dois homens. Mas, quando eu vi essa opção, a ideia veio na minha cabeça imediatamente e eu quis embarcar. Espero mesmo que gostem, especialmente você Carly :3



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Tony sentia a Torre vazia mesmo quando tinha outras pessoas lá. Ele, claro, não falava isso em voz alta. Não falava isso nem para ele mesmo. Mas sentia. Desde o que ficou apelidado como “Guerra Civil” ele sentia aquele vazio e, por mais que ele tentasse dizer que não, ali estava e as pessoas podiam perceber. 

Anthony Stark nunca foi a pessoa mais cheia de doçura do planeta Terra. Mas, depois do conflito com parte dos Vingadores, ele estava intragável. Os Vingadores restantes sentiam isso na pele, mas Pepper era a pessoa que mais precisava conviver com isso, por trabalhar diretamente com o homem e também por ser sua melhor amiga. Ela sempre sentiu uma leve vontade de esganá-lo, mas, desde o “incidente” com a equipe, essa vontade havia sido triplicada por um mol. Entretanto, ela sabia que precisava ser paciente. Por mais que ele não dissesse com todas as palavras, a loira sabia que ele estava sofrendo. E ser um idiota, na maior parte do tempo, mais do que o comum, era o jeito dele de expressar isso. 

— Nada? Então, você vai passar o Natal sozinho, sem nenhuma decoração, nessa enorme Torre e é isso? 

— Eu não vou estar sozinho. Vou ter uma bela garrafa de álcool caro. 

— Então, você vai passar o Natal sozinho, sem nenhuma decoração, nessa enorme Torre, bêbado e é isso? 

O olhar inquisidor da mulher fez ele revirar os olhos. Okay, falando daquele modo até parecia decadente, mas era o que ele tinha para aquele ano. Não sentia vontade de fazer nada mais. Nunca fora o cara de sentir o clima de Natal vibrando por sua cabeça, mas aquele ano em específico ele só queria que acabasse. Nada de árvore, luzes, bom velhinho e seja mais qual invenção capitalista para arrancar dinheiro das pessoas. 

— Vai ser o melhor Natal da minha vida, eu sei. 

— Você não tem conserto. — Ela suspirou. — Deixei uma árvore de Natal. Pelo menos monte, vai trazer alguma vida a esse lugar. 

Eu sou a vida desse lugar. 

— Jura?  

Os dois se entreolharam por alguns segundos antes de Pepper diminuir a distância entre ambos e abraçá-lo. Os braços delicados eram reconfortantes, acalentadores, como sempre foram. Tony não era dado a momentos de carinho daquele modo, mas aquele abraço tinha derrubado suas defesas, momentaneamente. Era como se ela visse o que nem mesmo ele via. Visse que ele precisava de alento. 

— Aproveite o feriado, Pepper. 

— Tenha pena do seu fígado, Tony. — Ela piscou com uma pequena risadinha. — A gente se vê daqui há alguns dias.  

Ela pensou em ficar. Não deixar que ele se afogasse em álcool velho e caro e passasse o Natal sozinho. Obrigar ele a montar uma árvore de Natal junto com ela e trazer alguma reação a ele. Mas acabou desistindo. Talvez seu amigo precisasse daquilo. De um tempo sozinho, em que pudesse pensar, ponderar. Talvez, se ficasse sozinho, começasse a perceber que aquela irritação, constante mau humor, dores de cabeça e vontade de beber tinha um nome: saudade. 

~X~ 

Na manhã do dia 24, Tony estava mais irritado do que o comum. Isso era um problema porque ele nem mesmo sabia a razão. Não tinha nem ninguém para se irritar! Ele estava sozinho. Todos tinham o que fazer na véspera de Natal. Todos os que trabalhavam para ele e todos os Vingadores restantes também. Até Visão tinha planos para Natal e ele não!  

Talvez Pepper tivesse razão e ele estivesse entrando numa curva de decadência, afinal. 

Perto do meio dia, ele começou a se questionar se era muito cedo para beber. Talvez, se começasse a beber antes do meio dia, estaria assinando o certificado de derrocada. Então, ao invés de beber, ele pediu comida chinesa. 

Talvez tenha bebido um pouco. 

Enquanto esperava pela comida, entediado, esparramado numa cama em que cabia cinco dele, seu telefone tocou. A mão do homem deslizou preguiçosamente até o aparelho, tendo a certeza absoluta de que era Pepper perguntando se ele tinha montado a árvore. Talvez ela tivesse sentido de onde quer que estivesse que ele queria beber antes do meio dia. De toda forma, ele apenas deslizou cegamente o dedo pela tela do aparelho, colocando no ouvido.  

— Stark? 

A voz o fez ter um pequeno sobressalto e ele rapidamente se levantou, se sentando na cama macia, os olhos arregalados. A voz era feminina sim, mas não era de Pepper. 

— Nat? 

Ele ouviu a respiração dela por alguns segundos. Uma pequena hesitação. Por fim, um suspiro irregular e ela voltou a falar. 

— Perder seu tempo tentando rastrear esse número é inútil. Vai achar ele no fundo do Lago de Zurique, bem longe de mim. Estou te ligando porque hoje vou precisar que tome a decisão certa. 

— Do que está falando? 

— Você vai saber exatamente do que eu estou falando quando vir. Pense bem antes de tomar qualquer decisão. Lembre-se... de tudo. De tudo que passamos, como equipe, como amigos, como... você tem uma chance, nós temos uma chance, não a desperdice. Por favor. — Uma pequena pausa. — Feliz Natal adiantado, Tony. 

O celular foi desligado e o homem encarou a tela como se estivesse vendo algo absurdo, como Hulk montado em um unicórnio. Fazia tempo desde que ouvira a voz de Natasha Romanoff. Desde que ela traíra a equipe escolhida durante a cisão dos Vingadores. Ela, lógico, havia se escondido, como todos os outros. Ainda havia buscas para achá-los, mas Tony sabia que isso seria difícil. Todos eles eram heróis, ela, especificamente, também era espiã. Não seriam achados se não quisessem ser. 

Por um segundo, ele pensou bem se não estava delirando, mas logo descartou essa possibilidade. Havia acabado de falar com Natasha Romanoff, sem dúvidas. Mas estava intrigado porque não tinha entendido do que a mulher estava falando. Entendeu que ela queria que ele tomasse uma decisão, mas uma decisão sobre o que? 

— A Nat é tão superprotetora. 

A voz masculina vinda da porta do quarto de Tony fez com que as mãos dele tremessem. Olhou para cima rapidamente, não acreditando no que estava vendo. Talvez realmente estivesse delirando. O quanto mesmo tinha bebido? 

Ali, na sua frente, Steve Rogers estava. Encostado contra o batente da porta, de braços cruzados e barba por fazer, o encarando como se nada tivesse acontecido e ele estivesse fazendo algo banal como escovar os dentes. 

— Picolé? 

— Você sabe como encantar alguém, Tony. — O loiro ironizou. 

No segundo seguinte Tony estava de pé, em uma posição quase defensiva. 

— Como você entrou aqui? 

— Eu conheço essa Torre, lembra? Sei de um truque ou outro. — Deu de ombros, mais uma vez falando como se fosse algo banal. 

— Você sabe que está sendo procurado, não sabe? 

— Sim. Você vai me delatar? 

A frase de Steve tinha soado praticamente como um desafio, não como um pedido. Era como se ele estivesse o procurando, dizendo “vamos lá, você tem coragem, faça isso”. Tony sentiu o celular pesar. 

— Não devia estar aqui, Steve. 

— Olhe... como você mesmo disse, eu sou procurado. Só preciso um lugar para ficar. Uma noite. É véspera de Natal, muitos policiais porque as pessoas bebem nas festas e causam acidentes.  Só uma noite Tony e então você nunca mais vai me ver. 

A garganta de Tony secou. Não estava preparado para aquilo. Tinha feito e esquematizado planos. Era para ser um dia simples, com comida chinesa, bebida, música e só. Praticidade e facilidade. Não imaginava que seria um dia em que ouviria a voz da Viúva Negra no telefone e, acima de tudo, que veria o Capitão América parado no parapeito de sua janela, com aqueles braços largos cruzados, olhando para ele com um olhar de desafio e com um pedido. 

— Steve, eu não sei... 

— Tony, eu não quero brigar. Você nem mesmo precisa me ver hoje. Essa Torre é enorme. Só preciso de um canto e pronto. Ninguém vai saber ou ver. 

Era complicado. Anthony sabia que não seria o primeiro dos Vingadores restantes a fazer isso, a acobertar algum outro membro da outra equipe a fugir. Tony fingia que não sabia para onde Visão ia, mas ele sabia muito bem que o amigo ia parar nos lençóis de Wanda Maximoff. Ele, inclusive, estava passando o Natal com ela. Mas era diferente para ele. Era diferente porque ele foi o líder de um dos lados da cisão.  

E era diferente com Steve. 

Steve havia o magoado. Tony não colocava isso em palavras. Talvez nem para si mesmo. Preferia palavras mais agressivas como raiva ou ódio. Mágoa era muito íntimo, era triste. Mágoa representava coração. Para se magoar alguém, é preciso ter alcançado algum sentimento dela antes. Você não fica magoado com alguém que não tinha antes algum efeito sobre você. Então, ele não costumava usar aquela palavra, mas era a palavra exata. 

E então quase conseguia ouvir as palavras de Natasha ressoando no seu ouvido. Falando sobre decisões. Era daquilo que ela estava falando. Ela sabia que Steve estaria ali. Sabia que ele pediria para ficar aquela noite na Torre. Isso explicava a ligação. 

Definitivamente a Nat é tão superprotetora. 

— Ache um lugar na Torre para você. Fecha a porta antes de sair. 

A resposta foi seca e áspera, mas Steve a comemorou internamente mesmo assim. Já era alguma coisa. Ao menos, ele havia deixado que ficasse. Abriu a boca para agradecer, mas a olhar para Tony percebeu que não parecia alguém que queria agradecimentos. Parecia alguém que queria pensar. Por isso, ao invés de dizer “obrigado”, apenas saiu fechando a porta do quarto. 

~X~ 

Tony tinha saído do quarto apenas para pegar a comida chinesa. Teve que ligar novamente para duplicar o pedido. Pegou o seu e deixou outro idêntico em uma das salas centrais, torcendo para que Steve entendesse a mensagem e fosse comer sem que Tony tivesse que dizer que a comida era para ele. 

Comeu no quarto, ficou no quarto desde então. Tentou ouvir música, tentou ler, tentou assistir qualquer porcaria que tivesse na televisão, tentou até mesmo trabalhar em algum projeto. Mas o loiro que estava em algum lugar do outro lado daquela porta não deixava sua cabeça. No fim, tudo que conseguia pensar era “Steve está aqui”. 

Tony tinha pensado verdadeiramente que nunca mais veria o Capitão América e isso havia causado nele uma miscelânea de sentimentos estranhos. E, como a pessoa psicologicamente saudável que era, ele simplesmente ignorou tudo, torcendo para que passasse logo e se tornasse só mais uma parte do passado. 

Não era assim tão fácil de ignorar. 

Tony odiava tudo aquilo. Odiava o Natal. Odiava ter brigado com Steve. Odiava o conflito que aconteceu entre os Vingadores. Odiava Bucky. Odiava Steve ter ficado do lado de Bucky. Odiava que Bucky tivesse passado por uma lavagem cerebral. Odiava, tudo que sabia fazer era odiar. Odiava Steve. Odiava Steve ter aparecido de novo. 

Por que ele não podia simplesmente deixá-lo em paz? Havia feito sua escolha a defender Bucky. Não deveria ter o direito de aparecer daquele jeito.  

Merda! 

Tony estava tão cansado de pensar nisso. Pensava nisso mesmo quando não estava pensando nisso. Desde o momento que o Capitão havia ido embora de vez, que a equipe foi quebrada e que alguns amigos seus viraram fugitivos. Ele se sentia mal, se sentia irritado, frustrado. Sozinho. Mesmo repassando todos os momentos na cabeça, de novo e de novo, a sensação ruim no pé do estômago de que tinha feito algo errado permanecia cutucando e incomodando. Todo o tempo. 

Não estava sendo fácil. Ele tentava, fazia de tudo para não demonstrar, mas desde então havia uma pungente e desconfortável sensação ruim o atravessando constantemente e, as vezes, era difícil. Muito difícil. 

Tony gostaria que as coisas fossem mais simples.  

Quer dizer, nunca foi simples. A iniciativa dos Vingadores sempre foi complexa e a convivência entre os heróis sempre foi difícil, em boa parte do tempo. Mas houve um tempo em que... eles estavam evoluindo. Todos. A convivência melhorava, vínculos de amizade realmente de formaram, e alguns ainda mais fortes que isso. 

Ele e Steve também sempre foram complicados, desde o início. Ninguém nunca disse que iria ser fácil. Mas eles tinham deixado aquele momento inicial de tensão e discordância. Tinham crescido, formado uma relação que Tony ainda não conseguia entender bem o formato, mas sabia que era complexa e não era de uma maneira ruim. 

E então, ali estavam eles, de repente, no mesmo lugar, sem nem mesmo olharem um para o outro.  

Tony grunhiu, frustrado, cerca de seis da tarde, finalmente entendendo que não conseguiria simplesmente ignorar a presença de Steve Rogers e que de nada adiantaria ficar preso dentro do próprio quarto esperando que passasse. 

Pensando nisso, finalmente saiu do cômodo. Disse para si mesmo que não era para nada demais. Ele ia tomar água, andar despreocupadamente. Claro que a intenção não era esbarrar com o loiro. 

Só que antes de chegar à cozinha, ele foi atraído por barulhos estranhos vindo de um dos cômodos. Em posição defensiva, andou lentamente na direção do som, com passos silenciosos. Porém, não precisou de muito para descobrir o que estava acontecendo. A porta da imensa sala estava aberta e Tony viu claramente Steve e frente à uma árvore de Natal, organizando os enfeites no chão. 

— Tony? — O loiro flagrou seu olhar e se sentiu meio envergonhado por ter sido “pego no flagra”. — Espero que não ache ruim... eu achei a árvore e os enfeites guardados e notei que não tinha nada do Natal...  

— Pepper deixou aqui para mim... com a esperança de que eu fosse montar... 

As palavras estavam meio mortas na boca de Tony porque ele não conseguia parar de olhar para a cena. Sentiu vontade de bater naquele maldito loiro. Estava montando uma árvore de Natal! Por que isso era tão... íntimo, doce, preocupante? Será que ele não percebia isso?! Será que ele simplesmente não conseguia perceber? 

Steve sempre fora meio lerdo, afinal. 

— Você não ia montar, ia? 

— Eu pareço estar no melhor clima de Natal? — A pergunta surgiu irônica, quase agressiva.  

— Você poderia! Quem sabe com um suéter... 

— Muito engraçado. 

Um silêncio se colocou entre os dois por alguns segundos enquanto Steve separava as bolinhas por cor para depois se decidir como iria dispor tudo aquilo na árvore. 

— Ao menos Pepper vai ficar feliz em ver a árvore montada. — O loiro voltou a cortar o silêncio. — Deixa ela acreditar que foi você que montou. 

— Ela não vai acreditar mesmo. 

— Bom, façamos ela acreditar. Vem arrumar essa árvore comigo. 

— O que? Qual é a parte de “não estou no melhor clima de Natal” você ainda não entendeu? 

O loiro apenas sorriu, como se não acreditasse.  

Tony teve vontade de perguntar se era uma piada para ele. 

— Você pode entrar no clima montando uma árvore. Quer jeito melhor? 

O Homem de Ferro ficou ali, parado no batente, observando Steve cercado de adereços de Natal, na frente de uma árvore. Era uma cena... maldita cena! Aquele dia estava saindo cada vez mais dos trilhos.  

— Okay, vamos fazer isso! 

~X~ 

Steve tinha quase certeza que duas horas para decorar uma árvore de Natal era um tempo exagerado. Mas foi mais ou menos o que ele e Tony tinham levado para fazê-lo. Em parte porque eles tinham tido várias pequenas e bobas discussões sobre cores e disposições de enfeites, em parte porque eles não levavam tanto jeito quanto imaginavam. Tony poderia ser considerado um gênio da tecnologia e Steve um super soldado, mas os dois perderam feio para as luzes da árvore e quase desistiram de colocá-las. 

Porém, no fim, todo o trabalho acabou valendo a pena porque quando ligaram as luzes e elas acenderam, multicoloridas e natalinas, perceberam o quanto a decoração, apesar dos pesares, havia ficado bonita.  

— Isso me parece um ótimo clima de Natal! — Steve provocou, com um sorriso pequeno. 

— Eu acho que é mais a força do ódio em terminar isso. — O homem deu de ombros. — Ficou bom. Surpreendentemente. Pensei que colocaríamos abaixo metade da Torre antes de terminar. 

— Acho que é porque o tamanho da árvore é um pouco exagerado também. 

Os dois olharam novamente para ela e concordaram completamente. Talvez Pepper tivesse exagerado um pouco no tamanho.  

Os dois estavam ali, sentados, no chão da sala, encarando uma árvore montada. Tony mal tinha percebido como aquilo aconteceu. Por aquelas horas, tinha se permitido esquecer tudo.  

— Por que ia passar o Natal sozinho, Tony? 

O moreno quis ficar calado. Ao mesmo tempo que quis falar uma enxurrada de coisas. Quis dizer que sentia falta de rostos que não estariam ali naquele Natal e que ele se sentia, em parte, culpado por não estarem. E um desses rostos era daquele maldito loiro que o olhava como se fosse a coisa mais interessante que ele tinha visto em tempos.  

— Aparentemente não sou muito bom em manter amigos. 

Steve sentiu. A frase era para sair afiada e com humor negro, mas o loiro sentiu a verdade por trás daquelas palavras. Sentiu que Tony talvez realmente acreditasse naquilo que estava dizendo. Sentiu um gosto amargo na boca. Por algum tempo, acreditou que ele não sentisse nada. Tony e ele tinham batalhado. Tinham se agredido, tinham rompido completamente e Steve, por algum tempo, teve a impressão que tinha sido o único afetado, o único que amargava a situação, o único que se perguntava como se deixaram chegar ali. 

Pensou que era o único que queria voltar e tentar encontrar uma maneira de evitar tudo. 

O silêncio ficou. Perdurou. Apenas o suave ruído que as luzes faziam ocupavam o ambiente enquanto os dois pareciam pensar em tudo. Tanta coisa se passava pelas cabeças deles. Tony parecia prestes a explodir. Estava tentando lidar com tudo, mas jamais conseguiria com ele ali, ao seu lado. 

Estava com raiva, estava confuso, estava...! 

— Por que você veio, Steve? 

O loiro hesitou. Encarou a árvore, encarou o chão. Segundos em silêncio, evitando o olhar castanho inquisidor que parecia querer desnudar sua alma.  

— Você quer a verdade ou a desculpa? — Perguntou, ainda encarando o outro lado. 

— Qual é a desculpa? 

— A desculpa é que havia algumas situações de Estado aqui que precisavam da minha presença, mesmo que extraoficial e eu não poderia ficar longe. 

— Qual é a verdade? 

Silêncio.  

— Qual é a verdade, Steve? 

O loiro lentamente virou a cabeça para encarar Tony. A luz estava baixa e o rosto dele era iluminado quase que completamente apenas pelas luzes da árvore. Conseguia ver a determinação no rosto do Homem de Ferro, conseguia ver os olhos que interrogavam, que exigiam, que precisavam de uma resposta. O rosto do moreno era duro, rígido, a expressão claramente controlada, mas com um pouco mais de atenção era possível ver no fundo das orbes castanhas o desespero, o pedido mudo e aflito pela razão. 

— Senti sua falta. 

As três palavras ecoaram pelo cômodo com uma força maior do que o loiro tinha previsto. O impacto em Tony foi imediato. Ele fechou os olhos, por alguns segundos, sua expressão se alterou para uma de quase dor.  

— Você não tem o direito Steve Rogers! Você não tem! Depois de tudo! Você o escolheu, você escolheu! Você saiu daquele lugar com ele, você escolheu todos os caminhos que te separavam do meu! Não pode aparecer aqui e.... 

As palavras seguintes morreram na garganta do moreno porque a boca do loiro estava sobre a sua. Steve tinha o puxado pela gola da camisa de uma vez e colado ambas as bocas de uma única vez, para a surpresa dos dois. O loiro não tinha tido certeza do que iria fazer, foi tão mais forte que ele.  

Foi um beijo rápido, simples porque Tony afastou sua cabeça, surpreso, encarando os olhos claros: 

— O que você est... 

Foi beijado novamente, dessa vez com certeza. As mãos fortes de Steve o seguraram, uma na nuca, a outra pela cintura, firmemente, porque, daquela segunda vez, ele sabia que queria o beijo. Sabia disso claro como água. Steve queria Tony e sabia que Tony o queria e era só isso que importava, era só isso que deveria importar. 

Daquela vez, Tony cedeu de vez. Seus dedos se entrelaçaram nos cabelos loiros e a mão restante agarrou ao colarinho da roupa que Steve usava. E naquele beijo tinha tudo. Desespero, saudade, tesão, carinho. Havia tudo que eles tanto tinham dificuldade em colocar em palavras. A avidez como se beijavam, como se seguravam, como se acreditassem que tudo iria sumir, que um deles iria fugir, como se precisassem segurar um ao outro. 

Muitas coisas deveriam estar passando pela cabeça delas, se seguissem a lógica. Deveriam estar pensando no absurdo que era estarem beijando justamente um ao outro. Deveriam estar começando a pensar na sexualidade já que aquilo claramente significava algo. Deveriam estar pensando em muitas coisas, mas a verdade é que nada daquilo passava pela cabeça deles. O único pensamento que conseguiam formar é que estarem se beijando era como a sensação de respirar novamente depois de um longo tempo sem oxigênio no corpo.  

Havia uma parte deles que simplesmente queria fazer com que rolassem naquele chão. Steve queria tão desesperadamente se livrar daquelas roupas e Tony não estava nada diferente. O loiro o puxava para mais perto de forma que o Homem de Ferro estava em seu colo sem nem perceber.  

Ainda assim, Steve se refreou por saber que precisava falar. Por isso, afastou os lábios, completamente a contragosto, encarando uma das cenas mais satisfatórias da vida dele. Tony Stark afogueado, de cabelos bagunçados, lábios inchados e vermelhos, ofegantes, olhando para ele com as pupilas dilatadas, curiosas, desesperadas, carinhosas. 

Ele nunca pensou que um dia estaria desejando e gostando tanto de vê-lo exatamente daquela maneira. 

Mas o coração quer o que ele quer. 

— Foi uma escolha desleal, Tony. Eu passei todo esse tempo pensando no que eu faria se pudesse voltar atrás, como impedir que tudo aquilo acontecesse. Mas não adianta. Não posso voltar atrás, não posso mudar as coisas, mas posso mudar as coisas de agora. Estou _aqui_ e essa é minha escolha. E eu não pretendo ir a lugar algum.  

Tony o olhou, ofegante, sentindo que era como se desatasse um nó e aquela sensação que o perseguiu todo aquele tempo, aquele péssimo sentimento que o atormentou, aquilo que ele não sabia e nem ousou nomear, estava se desfazendo. E então ele entendeu o que era. A compreensão veio como uma benção, uma iluminação enquanto ele puxava Steve novamente para sua boca. 

— Não vá. — Sussurrou antes de voltar a beijá-lo. 

 


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