No dia da excursão, pela comoção dos garotos na hora de entrar no ônibus, eu soube de imediato. Shion estava de volta. Durou apenas o momento da constatação, para ela vir em nossa direção. Eu estava de mãos dadas com Hinata e assim permaneci.

— Naruto, quanto tempo. - saudou-me e sua voz soou rouca e sensual, típico dela.

— Oi, Shion. - respondi educado.

Todavia, senti quando Hinata tentou soltar a mão da minha, que eu prontamente a segurei com mais força.

— Tudo bem? - devolveu e seus olhos recaíram em nossas mãos unidas.

— Bem e você? - indaguei diplomático. - Deixa eu te apresentar a Hinata, minha namorada.

— Namorada? - Shion titubeou. - Prazer, Hinata. - mas se recompôs rapidamente.

— O prazer é meu. - Hinata devolveu um pouco desconfortável, pude notar.

Shion sorriu para ela e virou-se para mim:

— Naruto, queria falar um momento a sós com você, posso?

Hinata apertou minha mão com força ao ouvi-la e eu entendi que estava com ciúmes.

— Shion, pode me falar na frente da Hina. - expliquei sem querer alimentar aquele sentimento destrutivo em Hinata.

Shion suspirou e iniciou:

— Naruto, não sei se esse assunto é o ideal para abordar na frente da sua nova namorada. - fez uma pausa, vendo o pessoal entrar no ônibus. - Porém, se insisti. - deu de ombros e eu gelei. Que diacho de assunto seria? Quase a puxei para o canto, mas desisti assim que o pensamento surgiu à minha mente, só atestaria minha culpa. - Eu queria pedir desculpas por ter mentido para você, sobre a garota da cachoeira. Não era eu, só falei aquilo porque você estava obcecado por causa daquela menina imaginária e eu gostava de você. É isso, não sou eu, nunca fui e pelo que vejo agora finalmente esqueceu essa história, não é? Já que está namorando... - a frase ficou no ar.

Arregalei os olhos, o que Hinata iria pensar com Shion dizendo tudo aquilo? Fiquei preocupado e a olhei de canto, mas Hinata mantinha uma expressão neutra, impassível eu diria.

— Águas passadas, Shion. - frisei meio desconfortável com tal exposição. - Tudo certo?

— Sim, era só isso. - garantiu. - Me sentia mal por ter mentido para você, mesmo que não sejamos mais namorados. Por falar nisso, também estou feliz que esteja bem. - nesse instante um garoto alto e moreno vinha até ela e lhe deu um beijo na testa. - Esse é meu namorado, Richard, ele é intercambista, não é fluente em japonês ainda.

— Ah! - exclamei surpreso e aliviado.

Shion era página virada, fato.

Trocamos mais algumas palavras e logo ela afastou-se com o garoto que até parecia simpático, não fosse a língua enrolada.

— Hime, está tudo bem? - quis saber ao vê-la muito séria.

— Sim. - afirmou sorrindo. - Então tem uma paixonite por uma dançarina misteriosa? - corei de tanta vergonha e fiz que iria negar, mas ela me calou com o indicador. - Tudo bem, não sou tão ciumenta assim.

— Ufa. - suspirei mais tranquilo. - Aliás, por um tempinho, eu pensei que fosse você. - confessei sem saber ao certo qual seria sua reação.

Hinata riu e não falou nem que sim, nem que não. Aquilo me encucou.

— E você está bem? - ao contrário da resposta à minha pergunta, Hinata fez outra.

— Por que não estaria? - a olhei confuso.

— Sabe, sua ex com outro... - Hinata colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Não! - neguei de pronto e corrigi há tempo minha colocação ambígua. - Eu não sinto mais nada pela Shion, tá bom?

— Uhum. - Hinata respondeu. - Somos namorados? - acrescentou animada.

Eu sorri.

— Apenas se quiser. - joguei e Hinata ficou na pontinha dos pés para me dar um beijo, dessa vez nos lábios.

— É o que eu mais quero.

— Ei... - era Kakashi. - Chega de melação e bora entrar nesse ônibus, só falta vocês!

Assentimos e entramos, não antes de recebermos vários olhares atravessados. Contudo, eu não dava a minima, Hinata era a minha garota e nada nem ninguém mudaria isso.

— Fala dobe. - Sasuke me chamou e nos acomodamos na frente dele e da Sakura, sua nova namorada.

— Oi teme, oi testa. - brinquei e ela fez cara de brava.

— Testa uma ova! - retrucou emburrada.

— Foi mal. - cocei a nuca e sorri amarelo.

Sasuke riu e levou um cascudo no cocuruto.

— Hina, por favor dê um jeito nesse seu namorado sem noção. - Sakura argumentou e Hinata me deu um leve puxão na orelha.

— Pode deixar. - garantiu sorrindo marotamente.

— Ah é assim? - fingi indignação, mas sorri ainda mais ao notá-la à vontade perto dos meus amigos.

— Oi, Hinata. - Sasuke finalmente se dirigiu à minha namorada.

— Oi. - ela respondeu um pouco tímida.

Tinha mais intimidade com Sakura.

Enfim, em meio a brincadeiras e sorrisos, nós seguimos para a excursão e eu sentia que algo iria acontecer. Era como um sexto-sentido. Só esperava que não fosse nada ruim. Não obstante, como a viagem era um pouco longa, rapidinho Hinata caiu no sono recostada no meu peito e eu tirei seus óculos, para que não se machucasse. E assim nós seguimos, eu bem grudadinho em Hinata, do jeito que deveria ser.

Ao chegarmos, mais a noite, Hinata estava tomando banho e Sasuke tinha saído para pegar uma bebida na máquina. Nesse momento nos encontramos em um dos corredores da pousada, na qual ficaríamos hospedados.

Papo vai, papo vem e Sasuke tocou no assunto da garota da cachoeira, eu falei que era para ele relaxar, que já havia esquecido. Contudo, o que Sasuke me disse na sequência meio que me balançou.

— Alguns meninos disseram que a viram na mesma cachoeira. - garantiu cochichando. - Sei que está de boa com a Hinata, então você que sabe o que fará.

Assenti e fingi não me importar, eu estava namorando Hinata e não deveria ir até lá checar quem era a tal menina. Afinal, se fosse ela, Hinata teria me dito quando mencionei mais cedo e ela estava tomando banho, não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo.

— Valeu dobe. - agradeci e roubei um bolinho de arroz antes do jantar, voltando para o meu quarto, onde dividia com mais dois garotos desconhecidos por mim.

Entretanto, minha curiosidade comichou e dei meia volta, sentindo meu coração disparar de culpa e expectativa. Será que a veria de novo? E se a visse, o que faria?

Hinata... a imagem da minha namorada me veio à mente e mesmo assim segui adiante. Ciente de que estava fazendo uma merda. Todavia, não consegui evitar.

Corri em disparada rumo à cachoeira e quando cheguei, percebi a loucura que havia feito. Hinata era maravilhosa para mim, não tinha porque continuar com aquela obsessão. Sentei na beirada do rio, esperando meu coração voltar a bater naturalmente e já iria retornar, quando ela apareceu. A mesma silhueta que vi há muitos anos.

A garota começou a dançar e senti todos os meus pelos arrepiarem de ansiedade, eu finalmente veria seu rosto? Aproximei-me sorrateiramente, temendo que fugisse de mim novamente. E, contrariando o que eu imaginava ela virou-se, revelando os contornos do corpo, os longos cabelos escuros e olhos verdes?

— Naruto, estava esperando você. - anunciou e entonou uma voz sensual e luxuriosa.

Fui indo em sua direção e fiquei cara a cara com ela, tanto que meus pés jaziam molhados, por estar na parte rasa do rio.

— Você me quer? - perguntou, passando o indicador pelos meus lábios e por um momento fiquei entorpecido, curioso.

Era uma garota até que bonita, precisava admitir. Eu a conhecia de longe; Shizuka, esse era seu nome. Ela envolveu me pescoço e mordeu de leve o lóbulo da minha orelha. Fechei os olhos por um segundo, apreciando o contato. Foi aí que a imagem de Hinata ressurgiu em minha mente, nítida e vivida. Como uma força superior, que me impediu de fazer uma merda ainda maior.

Shizuka fez que iria me beijar, no entanto, a impedi antes que conseguisse.

— Você não é ela, a dança que vi da primeira vez era diferente. Mesmo se fosse, não é de você que eu gosto, eu amo a Hinata sendo ela a garota da cachoeira ou não. - afirmei recobrando minha sanidade.

Por um momento quase me deixei envolver por aquela fantasia idiota de adolescente. Magoaria Hinata, a garota mais linda e perfeita que conheci na vida, a troco de que?

— Claro que sou eu, não vê? - indicou o corpo e eu desviei os olhos.

Não deveria secar outra garota quase desnuda. Que merda eu estava fazendo ali?

— Não importa se é você, Shion ou qualquer outra garota. Eu amo Hinata e é para ela que vou voltar. - assegurei retirando seus braços em torno do meu pescoço.

— Mas eu te amo. - declarou tentando me segurar.

— Que pena, porque eu não amo você. - dei meia volta e fiz menção de retornar à pousada, não antes de completar: - Ah, melhor você vestir algo mais apropriado, pode pegar um resfriado, a noite está um pouco fria.

Voltei correndo, com o peito martelando pelo remorso e encontrei Hinata chorando agachada no chão, próximo ao quarto que dividia com algumas meninas.

Abaixei-me imediatamente e afaguei seus cabelos, sentindo-me miserável. Ela estava chorando por minha causa? Descobriu de alguma forma o que estava prestes a fazer?

Contudo, ao levantar os olhos para mim eu vislumbrei um cachecol vermelho em seu colo. No qual ela apertava rente ao peito.

Cachecol vermelho, anjinho...

Era ela!

— Desculpe. - pediu com a voz embargada pelo choro. - Eu sempre quis te devolver o cachecol, mas nunca tive coragem. E hoje, quando finalmente iria te entregar, alguém o destruiu antes. - Hinata desandou a chorar ainda mais ao me entregar a peça toda puída.

— Então era você o anjinho do cachecol... - eu disse mais para mim do que para ela. - Como eu sou idiota! - senti como se fosse o último homem da face da terra. - Eu não te mereço, hime. Perdoa. - pedi envergonhado por sair a procura de outra garota, quando na verdade a que eu amava estava bem diante dos meus olhos.

— Você foi atrás dela, não é? - Hinata limpou as lágrimas. - Tudo bem.

— Dela quem? Do que você sabe? - gelei.

Eu iria contar, mas não agora, não assim. Com Hinata chorando tanto!

— Todos estão comentando que você era obcecado pela garota da cachoeira e uma menina veio jogar na minha cara quase agora que você tinha ido atrás dela. - explicou fria e eu baixei os olhos pela culpa e pela vergonha.

— Eu fui. - confirmei derrotado. - Entretanto, me arrependi, não aconteceu nada. Eu te amo, Hinata!

Seus olhos claros oscilaram um pouco, antes de discursar:

— Eu queria que me amasse por mim mesma, no começo fiquei ansiosa pelo dia em que enfim perceberia que era eu. A garota da cachoeira. - sorriu em meio às lágrimas e fiquei sem entender. - Depois eu me calei e preferi guardar segredo, eu queria saber se era capaz de te conquistar do meu jeitinho. Eu queria que gostasse de mim pelo que sou, não por causa da imagem distorcida que guardava de mim, dançando naquela cachoeira. Queria que gostasse de mim não só por isso.

— Eu gosto, aliás, amo. - corrigi. - Então era você?

— Sim.

— Também era você a menininha que me acolheu na infância, a que eu me apaixonei naquele dia. Mesmo sendo tão pequeno? - questionei quase chorando também.

— Sim.

— Por que não me disse pelo menos sobre o cachecol? - reforcei já sem conseguir conter as lágrimas que escorriam dos meus olhos.

— Fiquei com medo de parecer uma stalker obcecada, gostando do mesmo garoto praticamente minha vida inteira. - ponderou e eu fiquei em choque. - Achava que você me esnobaria se eu entregasse o cachecol, sendo quem eu sou, a estranha cinco olhos da escola. Quando eu soube que você procurava por mim, quero dizer, a garota que dançou naquele dia. Fiquei eufórica e feliz, meu coração se encheu de alegria. Mas, logo após entendi que não era eu que procurava. Afinal, você nunca se quer reparou em mim no dia-a-dia... Por isso não falei nada. Eu não queria que essa verdade influenciasse o seu sentimento por mim. Do contrário nunca saberia se gostava de mim pelo que sou. Sabe, desse jeitinho míope, estranha e tímida. - acrescentou tristonha.

Senti meu coração trincar ao me deparar com aquela verdade.

— Hina. - chamei sua atenção e toquei seu rosto. - Eu te amo do jeito que você é, para mim você é o símbolo da perfeição. Nunca quis que mudasse nada. - tomei fôlego e continuei. - Eu errei, eu sei. Encasquetei com a imagem que vi naquele dia na cachoeira e nunca mais a tirei da cabeça. Tanto que até Shion me enganou razoavelmente. No entanto, quando percebi a merda que estava fazendo, voltei atrás, pra você. Sei que é pouco, que há muito tempo deveria ter te notado. Mas eu era um tapado. Estava cego. - confessei e me sentei ao seu lado, então Hinata tombou a cabeça em meu ombro.

— Desculpe não ter contado e nunca devolvido seu cachecol.

Eu ri.

— Você gostava de mim desde aquela época? - perguntei com o coração transbordando de alegria.

— Gostava.

— Mesmo eu sendo estranho, com aquele aparelho horrível que pegava toda minha cabeça? - indaguei incrédulo.

— Gostava. - reafirmou.

Tragam as alianças, por favor!

— Eu não te mereço, hime. Mas eu te amo. - garanti com lágrimas nos olhos.

— Shizuka armou tudo isso para ficar com você. Ela pediu aos garotos que espalhassem o boato e falasse ao Sasuke. Porque ouviu sua conversa com ele, pedindo que te ajudasse a encontrá-la. A tua garota da cachoeira. - Hinata explicou. - Eu soube desde que cheguei, mas nada fiz, queria que você tomasse a decisão por si só de ir atrás dela ou não.

— Me perdoa, hime. Só de ir até lá já foi errado. - respondi pesaroso. - Prometo que nunca mais faço algo assim, você pode confiar em mim? Eu nunca volto atrás com a minha palavra, tô certo!

Hinata sorriu para mim.

— Você me amaria mesmo que não fosse eu, a garota da cachoeira?

— Amaria, sem sombra de dúvidas.

— Então não quer conhecer a tal garota? - provocou rindo de canto.

— Sendo você, quero muito! - garanti eufórico e apaixonado.

— Vem. - Hinata sorriu e levantou-se, pegando minha mão no processo.

— Para onde vamos? - indaguei confuso e peguei o cachecol maltratado.

Ainda assim ele era meu, feito por ela, eu guardaria comigo.

— Para a cachoeira, oras! - exclamou me beijando nos lábios. - Sobre o cachecol, prometo fazer outro para você, tudo bem? - garantiu vendo minha expressão triste.

Por ver a peça toda destruída.

Fiz que sim com a cabeça, mais importante era ter o anjinho do cachecol comigo. Ainda não conseguia acreditar que era Hinata, sempre foi, desde o começo. Quantas cabeçadas precisei dar, para reconhecer, afinal?

— Hime. - a chamei de repente. - Eu te amo, amo muito. - garanti afagando seu rosto. - Eu te amo muito mesmo, sério. Sei que temos pouco tempo juntos e talvez minhas palavras não façam sentido, diante das minhas ações de alguns minutos. - me enrolei um pouco, mas segui firme. - Porém, eu sei que te amo. Talvez sempre amei, mesmo sem saber ainda.

Hinata sorriu.

— Esperei muito tempo para ouvir isso de você, Naruto. - confessou com os olhos brilhantes.

— A partir de hoje você ouvirá todos os dias, está bem? - ao me declarar beijei sua testa, seu nariz, as bochechas e por fim os lábios.

Hinata fez que sim com a cabeça, embevecida com o meu carinho.

— Eu acredito em você, meu amor. - afirmou me abraçando apertado em seguida.

Quando algumas garotas passaram pelo corredor, fiz questão de mimar ainda mais Hinata. Para todos perceberem que meu coração era só dela e seria para sempre assim dali em diante.

— Hime, não quero que outras pessoas vejam sua dança. Vai que surge algum outro obcecado feito eu? Vou morrer de ciúmes! - brinquei, mas continha uma porcentagem de ciúmes na minha explanação.

Ela riu.

— Pode ser em particular então. - mordeu o lábio de forma provocante e eu quase subi pelas paredes.

— Não faz assim não. - implorei já sentindo minhas pupilas dilatarem de desejo.

— Shiu, tem um lugar. - garantiu travessa. - Sakura me ajudou.

— Testa?

— Isso! - exclamou colocando as mãos na cintura. - Quer ver a dança ou não? - emendou escondendo o rosto e deixando apenas uma frestinha entre os dedos para me espiar.

— Quero! - quase gritei.

Hinata puxou-me pela mão e levou-me a um quarto afastado dos outros. Eu nem sabia que ele existia, apesar de já ter vindo nessa mesma pousada várias vezes. Enquanto eu me sentia nas alturas, então era aquela a sensação de amar alguém de verdade?

Para completar, naquela noite, eu não descobri apenas quem era a garota da cachoeira.

Eu conheci a mulher da minha vida.

                                       Fim.