Vermelho no azul escrita por Nando


Capítulo 1
Partida


Notas iniciais do capítulo

O capítulo que estão prestes a ler é um prólogo da história, contando uma história á parte daquele que irá ser futuramente contada.



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Manuel sempre foi um cobarde. Durante toda a sua vida nunca fez aquilo que queria, nem nunca disse aquilo que queria dizer para não magoar as outras pessoas. Este estilo de vida pacifista fê-lo entrar num poço de depressão e desespero do qual ele nunca conseguiu sair. E agora aqui está ele. Sem amante (nunca teve coragem para se confessar ás diversas raparigas por quem se apaixonou), sem pessoas a quem pudesse chamar amigos (nunca se abriu com as outras pessoas) e sem pessoas a quem chamar de inimigos. Ninguém se iria lembrar dele. Ninguém. Não iriam ficar tristes nem felizes. O máximo que iriam falar dele seria no trabalho, mas nem aí iriam focar muito nele:

—Lembras-te do Sr. Manuel?

—Quem?

—Aquele senhor que aqui trabalhava aqui e que ficava sempre quieto e encostado a um canto, sem falar com mais ninguém?

—Ah, já me lembro! Nem sabia o nome dele!

—Pois, eu também só soube hoje! Ele mandou uma carta ao patrão a dizer que ia embarcar na IDA!

—Não me admira nada, aposto que o número de amigos dele devia ser igual ao seu número de namoradas, ou seja, zero!

—Não sejas assim tão mau, seu tonto! – risos.

E depois de algumas risadas, estes dois personagens, Maria e Hélder, seus colegas de trabalho, iriam jantar juntos e depois de uma noite bem passada, Maria iria convidar o Hélder para ir a sua casa onde se iria despir á sua frente, envolvendo-se um no outro, escondendo-se entre os lençóis, ignorando os sentimentos de Manuel que se tinha apaixonado por Maria. Esta era a mais pura das realidades. O mundo não girava á volta de Manuel, o homem pacifista, mas sim á volta de Hélder. Toda a gente gostava dele.

          Com esta vida depressiva, era óbvio que o destino de Manuel seria no IDA, o comboio que, como o próprio nome indica, não voltava, ou melhor, não deixava as pessoas voltar. Quem decidisse embarcar nele, tinha que deixar tudo para trás para poder ir para um destino que nem eles mesmo conheciam. Sim, nenhum dos passageiros á volta de Manuel sabia para onde ia, mas esse era o menor problema para eles, pois todos tinham um desejo em comum: sair dali e ir para um lugar mais longe onde ninguém os conhecesse, começando a sua vida do zero.

               Manuel olhou á volta para ver os seus companheiros de viagem. Para sua surpresa, havia vários jovens, alguns com cortes nos pulsos. Havia uma senhora grávida, uns homens com a roupa rasgada e suja (e que cheiravam muito mal) e alguns idosos que mal se conseguiam movimentar de um lado para o outro.

               No entanto, o olhar de Manuel pousou sobre uma criança que se encontrava num canto do comboio, escondida. Após a ver, Manuel questionou-se sobre o que levaria uma criança a entrar ali. Ela não poderia passar pelos guardas sem ter um visto assinado por membros do governo e ninguém iria aceitar o pedido de uma criança, era simplesmente impossível!

               Manuel levantou-se e foi na direção da criança, esticou a mão e quando se preparava para lhe perguntar o porquê de ela estar ali, a criança encolheu-se, tentando tapar o seu corpo por inteiro com os próprios braços e fitando-o com olhos que transpareciam uma enorme dose de terror e medo. Manuel percebeu tudo naquele momento, principalmente o quão errado estava.

               As pessoas á volta repararam naquela cena e ficaram atentas ao seu desenrolar, mas Manuel deixou as coisas ficarem por ali. Voltou para o seu lugar e sentou-se, tentando evitar os olhares do resto da população. No fim de tudo, o Manuel continuava a ser um cobarde, passivo demais para o seu próprio bem, o IDA não iria mudar isso.

               -Caros passageiros, anunciamos que o IDA começará o seu trajeto, desejamos a todos uma ótima viagem.

               As portas fecharam-se e o comboio começou a viagem. Mas para Manuel o comboio era o menor dos seus problemas.

               Manuel era um cobarde, sempre foi e sempre será. Mais valia ter-se suicidado… Não, ele não tinha coragem suficiente para isso.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar o que acharam! Até á próxima!



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