As estrelas entre nós escrita por nje


Capítulo 1
A tênue linha entre querer e poder


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal, pessoal!
Espero que gostem.
Boa leitura!



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Hinata observava a cozinha toda bagunçada. O bolo queimado, um montão de formas e bacias sujas; rastros de farinha e ovo melando a mesa. A jovem sentia-se totalmente derrotada, sentada em uma cadeira com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos cobrindo o rosto. Dessa maneira, ela não percebeu quando adentrou no cômodo um rapaz alto e magro de longos cabelos castanhos e olhos perolados. Só notou a presença dele quando ouviu a voz grave chamando pelo nome dela:

— Senhorita Hinata? 

Ela respirou fundo e lentamente foi retirando os dedos da própria face. As bochechas tingiram-se de rubor. Estava envergonhada por ser vista pelo primo naquele estado deplorável. 

— O-oi, Neji! — Criou coragem ao menos para cumprimentá-lo. E ainda completou: — N-não precisa me chamar de senhorita.

— O que aconteceu aqui? — Ele questionou. Os braços cruzados sobre o peito, os olhos percorrendo todo o local.

— É que... Eu não sou muito boa na cozinha. — Admitiu Hinata, batendo os dedos indicadores. 

Foi nesse momento que ele olhou para ela com atenção. O rosto dela estava sujo de massa de bolo. Tinha o longo cabelo preto-azulado preso em um coque bagunçado. E, acima de tudo isso, nos olhos perolados — semelhantes aos do próprio Neji e de toda a família Hyuuga — o desespero vibrava. O jovem se aborreceu ao perceber que naquele cenário de tantas bizarrices, o mais bizarro ainda era o fato de ele considerá-la adorável mesmo toda melecada e desajeitada. 

Ele respirou fundo e se repreendeu mentalmente. Não podia, nem mesmo por um segundo que fosse, permitir-se nutrir sentimentos pela prima. 

— Por que você se ofereceu pra fazer o que nem sabe? — Neji perguntou em tom áspero, na tentativa de distanciá-la.

— É que os criados trabalham tanto por nós o ano todo! Queria que essa data festiva eles pudessem aproveitar junto às suas famílias. — Hinata respondeu, ainda sem conseguir encarar direito o primo. Como fazê-lo? Quando ele estava tão bonito e arrumado e ela, no pior estado possível.

Tudo bem, Neji era o primo dela e nada mais, mas era impossível não notar e admirar a bela aparência dele, ainda mais vestido com aquela camisa branca que marcava o peitoral definido. 

A verdade é que ela não apreciava somente o físico dele, mas também o cavalheirismo, o comprometimento, a inteligência e tantas outras características que ele possuía e eram dignas de reconhecimento.

Assustou-se quando o rapaz fez um coque perfeito no cabelo e abriu a geladeira. 

— Onde tem leite? Ovos? Morango? 

— Neji?! O que você tá fazendo?! — Hinata questionou, sem compreender o que acontecia. 

— Vou preparar a refeição com você. É justo, já que me unirei às celebrações junto à sua família. 

A face de Hinata se iluminou. Sentiu um calor no coração... Mesmo que Neji tentasse manter uma pose de frieza, na verdade existia nele tanta bondade!

Ainda que fosse um desastre cozinhando, ela não se sentiria à vontade apenas observando. Por esse motivo, aproximou-se dele e disse com certo entusiasmo:

— Certo! Eu serei a sua ajudante! 

Neji tentou se conter, mas não foi capaz. Ao observar aquela garota baixinha toda suja de massa de bolo a encará-lo e sorrir para ele com tanta ternura e alegria, a única reação possível seria retribuir o sorriso, mesmo que à sua maneira, todo discreto.

Então, Neji ia solicitando ingredientes e instrumentos e Hinata ia seguindo as orientações dele. O rapaz batia a massa do bolo, picava os morangos e realizava outras coisas na preparação dos pratos com tanto domínio e sagacidade. A garota, além de admirar, também estava se deleitando naquele momento. Vez ou outra, arriscava fazer piadinhas e ficava contente ao deparar-se com os sorrisos contidos de Neji. Estavam passando um tempo bom juntos e normalmente não se permitiam isso. A atração entre os dois os mantinha distantes toda vez que se encontravam, visto que seria uma relação tão imprópria. Houve até mesmo uma ocasião na qual Neji tomou um porre pela primeira vez, aos dezoito anos, e encontrou-a por acaso no bar. Eles quase se beijaram, mas ainda com o álcool na cabeça, a racionalidade do primo imperou. 

E naquele momento, aos vinte e um anos de ambos, ainda era possível sentirem as faíscas inundarem o ambiente. 

Conversando, fazendo os preparativos necessários, lavando a louça juntos. Em certo ponto, as mãos deles acabaram se esbarrando e os dois se encararam por um tempo. Tanto Neji quanto Hinata prenderam a respiração e a garota chegou até mesmo a corar.

Ela tentou se forçar a pensar em algo para dizer e desviar o foco daquela situação, mas não foi capaz. Neji também tentou e falhou, apenas se calou, virou o rosto e voltou a atenção para as atividades culinárias. Hinata abaixou a cabeça, brava com ela mesma por estar frustrada. No instante em que ele se afastou, o desejo dela era que Neji se aproximasse mais. 

Após o estranho momento de troca de olhares, o silêncio prevaleceu entre os dois. Ela não queria que a situação se mantivesse daquela forma, então após um longo tempo se torturando e pensando em assuntos que pudesse puxar, se pronunciou:

— Eu fiz um presente pra você! 

Neji arqueou levemente as sobrancelhas. Não esperava presentes naquela data. A verdade é que sentia que Hiashi e a família faziam-lhe um favor ao recebê-lo, nem carecia que chegasse ao ponto de presenteá-lo. Ainda mais feito por Hinata! 

Hisazhi, pai de Neji, havia falecido naquele ano. Havia por volta de um ou dois anos que ele havia brigado com o irmão, Hiashi Hyuuga. Ainda assim, quando este soube da morte de Hizashi, logo arranjou na empresa da família  um emprego para o sobrinho, como também uma moradia. O tio mantinha uma distância de Neji, uma certa formalidade ainda que fossem familiares. Ficou chocado quando recebeu o convite para comemorar o Natal ao lado deles. 

— Não devia ter feito isso. Eu não trouxe nada para você. 

Apesar de uma leve chateação com a repentina mudança no comportamento dele, Hinata insistiu um tanto:

— Não se preocupa com isso. Acho que você vai gostar. — Ela deduziu. A jovem tricotou para Neji um suéter de tom azul escuro com estrelas bordadas, semelhante ao que a mãe dele havia tricotado para ele na infância. Antes da briga dos pais, se viam com frequência e o primo estava sempre a vesti-lo.

— Obrigado. — Respondeu simplesmente. Todavia, pensou que Hinata somente dificultava a vida dele. Tão dócil e atenciosa! 

Entretanto, as filhas Hinata e Hanabi eram os cristais de Hiashi. Neji tinha certeza de que ele não aceitaria facilmente caso o sobrinho se aproximasse da filha dele. Não o julgaria digno ou merecedor.

Hinata sabia estar sendo insistente. Ainda assim, ela arriscou mais uma vez:

— Você cozinha tão bem! Tão fácil! Eu sou um desastre! 

— Moro sozinho, preciso me virar. — E cansado de ser hostil com ela, Neji, enquanto terminava de guardar a louça, sugeriu: — Se algum dia você precisar, posso te ensinar.

A garota tentou se reprimir, mas foi inevitável o sorriso contente ao ouvi-lo fazer essa proposta. 

— Por favor! Eu sei que é difícil imaginar isso de mim, tão dependente e cuidada pelos criados e pelo meu pai, mas quero morar sozinha um dia.

— Eu apoio. Assim você conquistaria autonomia. Quando isso acontecer, eu te ajudo. 

Então, os dois novamente voltaram a conversar. 

Passado mais algum tempo, finalmente estava tudo pronto. Só faltava a arrumação da sala de jantar. Neji deixou Hinata sozinha com esses preparativos, cobriu o pescoço com um grosso cachecol, nos pés encaixou botas e saiu à procura de um presente de última hora para a prima.

Percorreu várias ruas e tudo estava fechado. Havia escurecido e a hora do jantar se aproximava. Estava a ponto de desistir, mas acabou por encontrar uma pequena e simples joalheria aberta. 

Olhou joia por joia e temia que fossem impessoais demais. A alegria dele foi encontrar um delicado colar de estrelas. De imediato, ele comprou e pediu que embrulhassem para presente. Lembrou-se que na infância, toda vez que usava um suéter com estrelas bordadas, Hinata tecia comentários sobre aquela peça e também sobre o fato de que era apaixonada por estrelas.

Quando retornou, Hiashi e Hanabi também já estavam por lá. 

— Olá, senhor Hiashi. Olá, senhorita Hanabi.

Eles o cumprimentaram de volta e dispensaram as formalidades naquela noite.

No decorrer da refeição, Neji e Hinata não ousaram se encarar. Todos conversavam, davam risada, faziam reflexões, mas os dois procuravam manter os olhares longe um do outro. 

— Hinata, isso está bom. — Confessou Hiashi, que raramente a elogiava.

Hinata iria contar que foi Neji quem preparou tudo, mas ele a impediu:

— Concordo. Parabéns pela sua dedicação. 

Ela corou e apenas agradeceu, mais uma vez constatando o quão cavalheiro Neji podia ser.

— Eu não sabia que você era tão boa cozinhando, Hina! — Hanabi exclamou. Ela tinha os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo. Vestia uma blusa de lã grossa e justa em tom laranja clarinho. 

Olhando as pessoas na mesa, podia-se concluir que havia bastante beleza na família Hyuuga.

Começaram a conversar então sobre os negócios da família, sobre a faculdade de Hinata e a de Hanabi e até sobre política. Também deram boas risadas assistindo ao episódio  especial de Natal de um seriado de comédia. A noite corria feliz e agradável.

Por fim, tarde da noite, Neji se despediu. E após ele ir embora, cada um dos que restaram se encaminharam aos seus respectivos quartos. Porém, somente Hinata foi quem teve a surpresa. Em frente à porta dela havia uma caixinha, ela abriu e concluiu que só poderia ser obra de Neji. Ele era o único que compartilhava com ela uma conexão estelar. Sorriu, logo colocou-o no pescoço e tocou cheia de carinho. Mal via a hora de entregar o presente para o primo no dia seguinte. 

Ao colocar novamente o colar na caixinha, Hinata notou que havia um bilhete ali.

“Vamos ao parque amanhã juntos, depois do almoço.” 

O coração dela bateu mais rápido e mais forte. Qual seria a intenção de Neji ao fazê-la tal convite?

O dia seguinte chegou. Hinata já estava esquentando as comidas com o auxílio de Hiashi e de Hanabi quando ouviu as batidas na porta. Correu para abrir e suas expectativas foram atendidas: era Neji que estava ali, parado, aguardando nitidamente ansioso.

— N-Neji, obrigada pelo presente. Eu amei! — Ela sorriu, corada. Mal conseguia olhá-lo. — Entre e se sente no sofá. Vou pegar o seu. 

Neji seguiu as orientações dela e se acomodou. Ele ficou sem jeito por tantos motivos naquele momento. Saber que Hinata havia gostado do colar era para o próprio rapaz um presente também. Também ficou todo encantado com a beleza dela naquele dia. Vestido que ia até os joelhos, de manga longa e gola alta. Os longos cabelos soltos e perfeitamente alinhados. No pescoço, a correntinha que Neji deu para ela. Sempre singela e ainda assim tão bela.

Logo Hinata estava de volta na sala com o presente dele nas mãos. O rapaz se emocionou bastante ao abrir a embalagem. Memórias sobre a infância e a trajetória dele até aquele momento inundaram a mente de Neji. 

Ele ficou sem palavras, apenas apertou as mãos dela entre as dele.

— Parece que temos uma ligação com as estrelas, você não acha? — Hinata ousou dizer. O calor no coração dominava todo o corpo.

Neji assentiu e esboçou um sorriso. Logo os dois juntaram-se aos outros para terminar os preparativos do almoço e em pouco tempo, já encontravam-se comendo e conversando, no mesmo clima gostoso da noite anterior.

Dentro do bolso do suéter que ganhou de presente, Neji encontrou o bilhete dele respondido por Hinata: “Sim. Vamos ao parque!”.

Ele estremeceu, ao mesmo tempo em que a felicidade vibrou no coração dele. Procurou disfarçar, mas passou a esperar com ansiedade que o almoço tivesse logo um fim. E teve.

— Agradeço por me acolherem tanto ontem quanto hoje. — Neji se levantou e apertou a mão de cada um. — Em nome dos tempos de infância, eu e Hinata vamos ao parque próximo daqui. Tudo bem, senhor Hiashi?

Hiashi manteve a costumeira expressão de seriedade, mas assentiu, permitindo. 

Hinata procurou manter a aparência calma. Todavia, por dentro a animação e a ansiedade a consumiam.

Os dois não se prolongaram ali. Verificaram se Hanabi gostaria de ir e ela recusou. O namorado dela iria até lá em busca da benção de Hiashi. 

Então, no caminho, Neji e Hinata foram conversando sobre amenidades. Ambos em uma forte tentativa de camuflar o que realmente se passava no interior de cada um. 

Após alguns minutos acabaram por chegar ao destino planejado. Era um parque bastante simples: caixa de areia para crianças brincarem, árvores, escorregador e balanço. Também barraquinhas nas quais vendiam variadas comidas.

Muitas famílias e casais passeavam por lá. A neve cobria o local, mas não impedia o pessoal de brincar e curtir um lazer ali. 

Neji e Hinata sentaram em um banquinho entre as árvores, um pouco mais isolado. 

— Hinata, o que eu disse ao seu pai sobre o motivo para te chamar aqui não é totalmente verdade. 

A bela e dócil jovem olhou-o e tentou analisar a expressão dele. Era notável a tensão.

— O que é, então? Estou ficando preocupada, Neji.

— É que... senhorita Hinata, sabe que te respeito e sempre respeitei. Sempre procurei me manter distante. Mas ontem, após sair da sua casa, passei rapidamente na comemoração do meu amigo Lee. Ele me fez refletir sobre a morte dos meus pais e como as pessoas podem partir em questão de segundos. — Neji procurava manter a voz firme e encarar Hinata, por mais difícil que lhe fosse naquele momento. — Lee também me lembrou que sou jovem e que devo aproveitar essa juventude, que eu me contenho demais. 

A jovem Hyuuga apenas ouvia com atenção, sem dizer nada e nem esboçar reação. Ela não conseguia ainda compreender o ponto de todo aquele discurso. 

— Ontem, quando me despedi de você, eu não quis ir embora. O dia que passamos juntos foi o melhor nos últimos anos. E os dias que passávamos juntos na infância eram os mais preciosos para mim. O que quero dizer com tudo isso é que.. Eu te amo e não é de forma fraternal. 

— Neji! — Hinata exclamou, totalmente surpresa. A face dela estava bastante vermelha e quase desmaiou de tanta vergonha, mas tomou coragem para dizer: — É recíproco. Não sou tão boa com palavras como você, mas eu quero apenas que saiba que te amo também e não apenas como se ama a um primo.

Um esboço de sorriso formou-se nos lábios dele, que se aproximou com cautela, observando a reação dela, que mesmo cheia de pejo e nervosismo demonstrava querer o mesmo que ele e apenas aguardava que o rapaz chegasse cada vez mais perto. Esse desejo se concretizou: Neji colou a boca na dela, resultando num beijo levemente contudo, porém doce e intenso. Se separaram somente quando falou-lhes o ar.

— Você quer sair comigo? Em um encontro romântico. — O jovem propôs, ligeiramente corado. Hinata riu um pouquinho ao fazer essa constatação.

— Sim! — Ela disse empolgada, sem se prolongar. No calor do momento abraçou-o, e foi tão bom que se permitiu ficar ali.

— Voltaremos juntos e conversaremos com o seu pai. Quero fazer tudo certinho. E que no Natal do ano que vem, o nervosismo seja por pedir a ele que permita o nosso casamento.

Os dois sorriram um para o outro e ficaram sentados no banquinho, aninhados, apenas deleitando-se de um momento tão precioso. 

A tarde quase chegava ao fim e algumas estrelas já começavam a surgir, como se concordassem com aquela relação e a abençoasse. Fogos de artifício silenciosos e coloridos estouraram no céu, completando a perfeição daqueles instantes como se fosse uma celebração do amor vivido e correspondido.


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Notas finais do capítulo

Me contem o que acharam. ;)



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