O conto da Princesa Vermelha escrita por Luna, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa história é um presente para a Maria, espero que você consiga apreciar, não foi tão fácil quanto eu pensei que seria escrever sobre eles.



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 Luto é um processo, são reações e emoções resultado de uma perda impactante. Sua primeira ocorreu quando você tinha oito anos, foi um gato que já era velho quando você nasceu, pertencia a sua mãe e ela aprendeu a amá-lo. Todos sabiam que esse dia estava chegando e sua mãe tentou prepara-la para isso, falava sobre um bom lugar onde o gato poderia ser jovem novamente e nesse lugar ele viveria para sempre.

Porém, quando o gato velho não abriu os olhos em uma manhã você, que era apenas uma criancinha chorou copiosamente, você foi amparada por seus pais, foi confortada e ouviu palavras de consolo que lhe trouxeram certa paz. Enterraram-no em um bonito jardim, onde ele sempre teria flores para velá-lo e mesmo assim por alguns anos você ainda o visitou.

Agora você sentia uma perda diferente. Esta não foi anunciada, ninguém a preparou para esse momento, ninguém segurou sua mão antes de dormir e lhe contou histórias sobre um paraíso onde se é jovem para sempre. Quando a encontraram depois de horas cavalgando aproveitando o começo do outono foi para lhe dar a notícia e sua primeira reação foi negar.

Você correu pelos salões com seu longo cabelo voando atrás, em uma cena bonita se não fosse o horror impregnado em suas feições. A primeira pessoa que você encontrou foi seu pai, seu coração batia acelerado, se pela corrida ou notícia era difícil saber, ele a olhou e ali você soube que era real, pois nada em todo o mundo poderia trazer-lhe aquela expressão de dor se não a morte de sua esposa.

Não!, você lembra-se de dizer com uma voz que não parecia a sua. Você atravessou a última porta, aquela que lhe traria a derradeira verdade e lhe mostraria seu pior pesadelo. Nunca tinha imaginado algo assim, não era suposto que pais deveriam durar para sempre? Você ainda tinha muito para aprender e quem iria ensiná-la agora que sua mãe estava dormindo o sono eterno?

A partir daí suas memórias são vagas. Lembra-se de socar e chutar alguém que queria levar-lhe para longe da mãe, de dormir e ter terríveis sonhos, de ser abraçada por várias pessoas que falavam o quanto sentiam, de implorar para divindades que lhe devolvessem sua preciosa mãe e em contrapartida você lhe daria qualquer coisa, mas os dias foram passando e sua mãe continuava dormindo.

Sua mãe era uma rainha boa, justa e amada pelo povo e por isso vocês tiveram que esperar uma semana para que todos que assim desejassem pudessem comparecer para uma última homenagem. O palácio estava aberto, o corpo adormecido disposto em uma cama de flores, margaridas, como ela, várias delas, de diferentes cores. O salão inteiro cheirava como sua mãe e mesmo quando se afastava e ia esconder-se no ponto mais distante do salão ainda assim sentia o cheiro impregnado no ar.

O cheiro de sua mãe que sempre lhe remeteu a conforto e amor agora trazia uma onda demasiada de dor, sufocamento e uma pressão em seu peito que parecia que nunca seria capaz de abandoná-la. Foi assim durante todos os dias em que você teve que ir visita-la junto ao seu pai e irmã.

Então o período oficial de lamento passou e aparentemente todos tinham que voltar a viver suas vidas. Mas como esperavam que você fizesse isso?

 

— Isso é terrível. Como podem permitir que ela faça algo assim?

— Ela é a rainha, Dorcas. Alguém pode impedi-la?

Quando era criança você descobriu que era uma princesa e logo ficou aterrorizada, tinha lido o conto dos irmãos Grimm e acreditou fielmente que uma bruxa iria aparecer a qualquer momento e por isso passou meses sem comer maças, depois acreditou que alguém roubaria sua voz, por conta de seus cabelos vermelhos. O mais aterrorizante, no entanto, foi achar que ficaria presa em uma torre alta, mas isso foi culpa unicamente de Petúnia, que falara que iria fazer acontecer assim que se tornasse rainha.

Bem, o dia tinha finalmente chegado.

Sua mãe sempre lamentava ter sido a única filha de seus pais e por isso ficou tão feliz ao tê-la, mais uma flor para seu jardim, ela pensou ter dado uma companheira para sua filha mais velha, alguém para dividir o peso da coroa. Só não esperava que as duas filhas fossem tão diferentes e com isso ficassem tão distantes. Você gostava de pensar que a distância era imposta por sua irmã, que nutria um profundo ressentimento por você.

— Lene, pode pegar os vestidos de inverno, por favor. — Você pediu.

— Você vai falar como está se sentindo? — Dorcas perguntou assim que Marlene saiu do quarto.

— Será uma viagem de vários dias, com certeza deveríamos separar alguns jogos e livros, para conseguirmos nos entreter no caminho. — Seus dedos resvalavam no tecido delicado de verão, sabendo que ele teria pouco uso para o lugar onde estava indo, mas como conseguiria manter-se firme se olhasse para Dorcas e percebesse que sua farsa não valia de nada para ela?

A verdade é que você não conseguia entender todos os sentimentos que lhe atravessavam. A perda de sua mãe estava tão perto ainda e agora você perderia todo o resto, seu pai, sua casa, seu reino, todas as pessoas que conhecia e amava, tudo seria deixado para trás e a sua frente estava um futuro duvidoso, cheio de incertezas e possíveis sofrimentos e não havia nada que você pudesse fazer. Com título ou não você ainda era apenas uma súdita do seu reino e como todos estava a mercê das vontades da coroa.

Mas ao mesmo tempo você sentia que afastar-se de tudo que lhe lembrava da sua mãe poderia ser bom, poderia encarar aquilo como uma nova aventura, poderia fingir que seu coração não estava em pedaços, estrangular a vontade que tinha de chorar e implorar para que não a mandassem embora.

Porque era isso o que sua irmã queria, desde o momento que lhe deu a notícia você percebeu o olhar maldoso esperando pela súplica, mas essa nunca viria. Você encararia seu destino, seria corajosa e destemida, cumpriria com sua função, seria leal a coroa que jurou fidelidade e partiria com graça. Não importava os pedaços quebrados que estavam ficando para trás.

E pior é que você sabia que esse dia chegaria em algum momento, você entendia de política e sabia que casamentos funcionavam quase como um acordo comercial e você, como a segunda filha de uma rainha, cuja função era estreitar os laços entre reinos ou satisfazer algum grande lorde, iria sair de casa.

Só não pensou no quão difícil seria quando estivesse em frente a carruagem que a levaria para seu novo lar, que a afastaria de tudo que você conheceu. Aquele era o reino de sua mãe, a sua casa desde a primeira vez que o oxigênio entrou em seus pulmões, seu lar, deixa-lo e partir parecia uma traição. Como seria acordar e não ver os jardins de sua mãe, não sentir a brisa carregando o cheiro do mar ou o calor aquecendo seu corpo?

Havia uma multidão, nobres e plebeus por todo o caminho que a carruagem andaria, prontos para dizerem adeus a sua princesa mais querida, você via algumas mulheres com lenços limpando seus rostos chorosos e aquilo fez um calorzinho no fundo do seu estômago, você era querida e amada por seu povo e não importa o quão distante estivesse, sempre lembraria o carinho que recebeu.

Mary, Marlene e Dorcas se despediam de suas famílias, elas sorriam e pareciam animadas, talvez para esconder o medo que sentiam, enquanto isso você estava ao lado de sua irmã e o marido dela, ela sorria satisfeita, mas bastou um cutucão dele para ela colocar uma expressão penosa para disfarçar, seria doloroso se você não estivesse acostumada com a indiferença e desprezo dela a essa altura.

O que mais a surpreendeu foi o silêncio e a vênia feita por aqueles mais próximos, você virou-se e toda a sua determinação de parecer forte começou a ruir quando você viu seu pai. Ele ainda trajava as vestes de luto e provavelmente nunca as tiraria, usava a coroa de rei consorte, ela brilhava sob o sol luminoso e ele veio caminhando diretamente até você. Ele a abraçou, você quis chorar, mas sabia que se começasse não seria capaz de parar, então mordeu a parte interna das suas bochechas até sentir um gosto metálico e sorriu quando ele a afastou.

Ele quase não era visto desde o funeral e deixou todo o poder nas mãos de Petúnia, que era rainha por direito, mas ainda assim ainda era inexperiente e tola demais. Você tentava não se ressentir, mas se pegava pensando se seu pai não poderia ter impedido aquele acordo matrimonial e deixado você em um castelo distante vivendo sua vida. Ainda assim, ele juntou forças para levantar-se apenas para se despedir de você e isso lhe dava alguma esperança de que ele poderia resistir a falta de sua mãe.

— Como posso ir embora? — Você perguntou a ele, a pergunta foi feita baixinho e cheia de temor.

— Você diz adeus. Você vai se sentir perdida por um tempo, a falta vai doer como um punhal sendo fincado em seu coração, mas um dia, um dia você irá acordar e não sentirá mais tanta dor, seu coração não estará mais tão dolorido e você perceberá que ele finalmente está se curando. Eu prometo a você, querida, um dia você será feliz.


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