Mikaru saiu da sala da gerência espumando de raiva. Já havia pedido diversas vezes para o sócio avisar com antecedência sobre imprevistos ou pedidos de folga prolongada. E o que o idiota fazia? Mal avisava duas semanas antes! Precisaria ser mais específico e avisar que antecedência, pra ele, queria dizer ao menos um mês.

Ao invés de sair do estabelecimento, Mikaru caminhou pelo salão, procurando pela supervisora que ficou encarregada de ajudá-lo naquela maldita troca.

Os funcionários, por receio e, talvez por sentirem aquela aura assassina, saíam do caminho o mais rápido que podiam. Encontrou a moça na sala de descanso, sobressaltando-a juntamente com a colega que lhe fazia companhia.

— Preciso falar com você sobre a escala de fim de ano. – Mikaru balançou as folhas em sua mão, mostrando que o material já estava consigo.

— Ah, claro. Já vou. – Noriko se preparou para levantar quando Mikaru a parou com um gesto, evitando que se apressasse.

— Pode terminar sua pausa, não estou com pressa. Te espero no salão.

Contudo, para o chefe vir procurá-la logo depois de falar com Izumi, não podia ser algo para se levar tão tranquilamente.

— Kazunari-san, aceita mochi? – o clima na sala ficou suspenso, com Miura levantando do sofá, Mikaru a um passo de sair do cômodo e a outra funcionária, Saki, estendendo um potinho com alguns doces dentro.

— Obrigado. Vou aceitar um. – o empresário se aproximou das funcionárias, pegando um doce antes de se sentar na cadeira diante das duas, deixando Miura boquiaberta.

Miura já havia entendido e comprovado por si só que o chefe não era o carrasco que pensava, mas a imagem que ele transmitia era aquela e vê-lo sentado ali, na sala de descanso, como se fosse a coisa mais normal do mundo, fez seu cérebro entra em pane.

— Takayama-san, você está na escala nesse dia, não está? – Mikaru questionou, provando o doce enquanto aguardava a resposta.

— Sim, estou. Pedi a folga para o Natal para comemorar com meu namorado.

— Hmm… certo. – e voltando o olhar para Miura, Kazunari fez a segunda pergunta – Você se ofereceu para ajudar nesse dia ou Izumi pediu usando o jeitinho dele?

— Bom… ele perguntou se eu me importava de ajudar, porque queria viajar e sabia que não podia deixar você cuidando de tudo sozinho… então eu concordei. – a moça pareceu incerta sobre ser sincera ou não, mas emendou no mesmo instante – Eu realmente não me importo! Não tinha nada planejado para os feriados!

— Mas eu tenho planos e Izumi não levou isso em consideração. – Mikaru chegou onde queria, estendendo a lista para a supervisora – Você tem a lista com os nomes? – Miura acenou em afirmativo, temendo o que viria – Eu não quero abrir a cafeteria no fim de ano. O que acham de ganhar dois dias a mais de folga?

— Dois? – Miura não tinha certeza do que ouviu. Aquilo era uma piada? Aquele homem à sua frente devia ser um sósia de Kazunari-san, pois não conseguia imaginar o chefe propondo folga coletiva.

— Minha sugestão é: trabalhamos dias 29 e 30, o dia todo, até mais tarde se necessário, para batermos a meta de vendas. Em troca, vocês só voltam aqui após o feriado. O que acham?

— Seria ótimo! – Saki respondeu animada, recebendo um aceno positivo do chefe.

— Miura, o que acha?

— Tem como não aceitar? Realmente vai ser bom! – a supervisora sorriu incerta, esperando pelo que viria a seguir – Izumi-san não se importou?

— Izumi não precisa saber ainda. É aqui que preciso de sua ajuda. – Mikaru apontou novamente a lista com a escala – Izumi e Shiroyama vão viajar logo após o Natal. Nesse dia, assim que eles saírem da cafeteria, quero que fale com todos os funcionários que estão na lista, os outros não precisam saber, veja se concordam com essa ideia, faça um documento para pegar as assinaturas, especifique no texto tudo que estou propondo aqui, explique que terão pausa para almoço e jantar, além das usuais de descanso, em troca terão esses dois dias de folga. Acha que consegue?

— Vou tentar. Posso te mandar o documento por e-mail depois que escrever, para confirmar se está tudo certo?

— À vontade. Você tem de dois a três dias depois que eles viajarem para falar com todos. Essa conversa não sai daqui. – Mikaru se levantou, dando a conversa por encerrada, mas parou ao chegar à porta – Obrigado pelo mochi, estava muito bom.

As duas prenderam a respiração enquanto ouviam os passos se afastando, Miura correndo até a porta para conferir que o chefe havia saído da cafeteria. Ambas dando gritinhos de alegria com a notícia. Se era o chefe ou um sósia não importava. Elas teriam uma folga extra! Quem em sã consciência negava aquilo?!

* * *

Hayato entrou no quarto ainda incomodado com a conversa que teve com Katsuya mais cedo. Planejou a viagem e avisou o sócio com antecedência, mas pelo visto não foi tão cedo quanto deveria e agora havia estragado o passeio dos amigos.

Parou um instante no meio do cômodo, observando o namorado do outro lado da cama que guardava algumas roupas numa mochila de viagem.

— Acho que fiz algo ruim… – murmurou mais para si do que para Takeo, como uma forma de desabafo.

— Hm? O que fez? – Takeo levantou o olhar apenas um instante, para ver se o estado do namorado realmente necessitava de preocupação, logo voltando à sua atividade.

— Eu falei com ele sobre nossa viagem, como você sugeriu fazer. Avisei antes, organizei as escalas dos feriados, relatórios, proposta de vendas. Fiz tudo que precisava, pra ele não ter a desculpa que estou jogando serviço pra cima dele, mas depois descobri pelo Katsu que os dois estavam planejando viajar. – com um suspiro cansado, Hayato se sentou na cama, observando o movimento do namorado, indo até o armário e retornando com as roupas para a mala – Você sabia que ele ia viajar?

— Não, Mikaru não tinha me contado ainda. – parando pensativo, Shiroyama emendou – Ele comentou que ia entrar de recesso na empresa. Eu devia ter desconfiado.

— E agora? O que eu faço pra compensar isso? – Hayato beliscou o lábio com força – Estraguei o passeio deles.

— Quer cancelar nossa viagem? Podemos tentar mudar a data…

— Não! Eu quero ir! Já avisei minha mãe e a Hana sobre as datas.

— Oferece uma longa folga em troca. Diz que vai cuidar de todo o processo administrativo até o meio do ano.

— Eu gosto do meu serviço, mas ainda não quero morar lá, Takeo.

— Só estou dando ideias. – Shiroyama riu travesso, sabendo que não daria certo. Por mais que Hayato conseguisse lidar com praticamente tudo na cafeteria, cuidar sozinho era outra história. Ele tinha boa vontade, mas Mikaru tinha experiência.

— Nós vamos viajar! – Hayato se decidiu por fim – Enquanto estivermos lá, vou pensar em algo pra compensar os dois. Vou trazer presentes e alguma ideia que Mikaru goste muito!

Shiroyama tinha dúvidas quanto àquela parte. Hayato nunca acertava quando o assunto era Mikaru. Os gostos e modo de levar a vida eram completamente diferentes. Sem falar que só de saber que era algo vindo de Hayato, Mikaru já ia torcer o nariz e dizer que não prestava.

O amigo havia ligado mais cedo, contando seu ponto de vista sobre a reunião e o que decidiu fazer a respeito. Como pedido por Mikaru, Takeo não ia comentar com Hayato ainda, mas o amigo havia encontrado uma solução que atenderia os dois lados.