Bem, o que exatamente eu estava pensando? Quero dizer, eu só te vi, mas há algo mais, penso eu. Porque essas coisas bizarras só acontecem comigo? Que merda!

            Fiquei a aula toda observando como o sol refletia no seu cabelo, até que a professora chamou minha atenção. Se ela quer que eu preste atenção, porque não fecha a cortina? Assim o sol não entra, eu não olho pro sol refletindo e prestaria atenção, consequentemente. Na verdade, acho que acabaria dormindo, então não mudaria muita coisa.

            Enfim o sinal tocou. Parece que se passaram anos desde que eu entrei naquela sala monótona, as carteiras verde- água extremamente duras. Pareciam- se mais com salas de torturas, pois o clima de uma sala de aula não é dos mais agradáveis. Agora teríamos uma aula de História, lixo. Acho que Linna percebeu como eu fiquei estranha desde que o vi – simplesmente porque ela me disse:

- Só tome cuidado. Por favor.

            Me deu nos nervos, ela disse isso como se eu fosse uma criança que não sabe o que faz! Mas talvez eu realmente não passasse disso mesmo. E os conselhos dela eram sempre os melhores.

            Entramos em outra sala, praticamente idêntica à anterior. O mesmo clima, a mesma organização das carteiras. A única coisa que mudava era a cara do professor. Ao contrário de Ana, este não parecia carismático. Tinha uma careta estampada na face, parecia que alguém estava pulando em sua barriga e ele queria vomitar. E com o passar da aula percebi que ela ensinava tão mal que talvez até eu conseguiria explicar melhor o que foi a Guerra de Canudos do que ele. Mas o incrível daquela aula mesmo, é que eu não conseguia parar de olhar pra ELE. Ele estava duas carteiras à minha frente, na fileira da esquerda. Como eu posso ser tão idiota assim? Alexia, você nunca falou com ele. Você nem sabe qual é o nome dele!

            Eu nunca me senti tão estúpida. E minha situação estava tão crítica que eu simplesmente comecei a chorar. Abaixei minha cabeça e senti as lágrimas quentes correrem pelo meu rosto. Meu Deus, o que eu tenho? Isso é muito estúpido. Me recompus, e levantei meu olhar. É, adivinha para o que eu olhei? É, você já sabe. Não foi só isso! Eu faço a merda de olhar pra você, com cara de quem chorou, e o pior: Bem nessa hora, você estava olhando pra mim. Tá de brincadeira comigo né? Sim, minha sorte é absurdamente grande. Abaixei minha cabeça de novo, a fim de descansar, mas eu continuava a sentir seus olhos pesarem sobre mim.

-

            Finalmente estaríamos livres daquela escola. Meu dia já tinha sido ruim demais, a única coisa que eu queria fazer agora era dormir, pra ver se eu esquecia um pouco aquilo.

            Nos levantamos ao bater do sinal, todos ansiosos para a volta para casa. Os novatos corriam felizes pelos corredores, e se eu não tomasse cuidado, logo seria atropelada por um daqueles toquinhos. Não que eu fosse alta, quero dizer, eu sou uma anã! , mas isso não vem ao caso.

            Nos juntamos com nosso ‘grupo’ Gustavo, Luke, Heather, Julia, April, Linna e eu. Assim como nós fizemos fielmente em todos os nossos anos de estudo, conversamos e aos poucos, iam indo embora. Eu sempre era a última a ir embora, porque minha mãe saía do trabalho e me buscava, já que eu morava longe dali. E como sempre, me deixaram sozinha por ali. Ou não tão sozinha, se soubessem o que iria acontecer.