Bloody blue escrita por Subject 17


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Apesar de ser dia 25, essa fic não é nenhum especial, mas um feliz natal pra você que tá lendo.

Pode ser meio óbvio mas de qualquer forma aviso que a expressão "Blood blue" não tem nada a ver com a fic, e eu nem sabia da existência dela até uma amiga ouvir esse nome.



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Depositou cuidadosamente o pequeno buquê que carregava no chão, admirando, pelo que deveria ser a milésima vez, a beleza mórbida de ambas as figuras em sua frente. Nenhuma delas estava mais manchada com o sangue de sua família ou de seus companheiros eldianos, mas Eren, por mais que tentasse se concentrar em outras coisas, ainda não conseguia pensar em nem uma delas sem associá-las a morte.

Os olhos verdes e apáticos se revezavam entre as flores e a garota confinada no impenetrável cristal. Pareciam tão frágeis, como se o menor toque fosse as despedaçar para nunca mais poderem ser admiradas. Seus olhos, há tanto tempo fechados, continuavam a esconder o delicado e intenso azul que seus orbes carregavam consigo e que compartilhavam com as flores. Eram como o oceano, enfim alcançado, que uma vez já os manteve tão afastados e ignorantes a existência um do outro. 

O formato das estrelas que formavam o buquê fazia Eren se questionar se o céu que Annie via em sua casa era mesmo tão diferente como ela dizia, se o de Paradis era mesmo tão mais belo e libertador que o de Marley. Em breve, ele descobriria isso por conta própria, quando cruzasse o mar e chegasse a sua cidade natal.

O eldiano preferia que isso não fosse necessário, preferia que Annie enfim saísse daquele maldito cristal em que se prendeu e dissesse a ele essas e muitas outras coisas sobre o lugar onde cresceu. Também gostaria que ela tivesse lhe contado mais sobre seu pai — o qual, nas palavras dela, o deixariam apavorado caso o conhecesse — afinal, poderia acabar se encontrando com ele quando estivesse em Marley. Seria melhor se fosse Annie quem os apresentasse um para o outro, como sempre esperou que ela o fizesse, mas isso infelizmente estava fora de cogitação.

As fronteiras que os separavam também impediam muitas outras coisas, como visitar o túmulo da Senhora Leonhart e, assim como fazia com a filha da mesma, entregar um buque de campanulas em sua memória. Talvez a mulher nem ao menos apreciasse esse tipo de flor quando viva, mas essas eram as favoritas tanto de Annie quanto as de Carla. Se não fosse pela memória que carregava de ambas, não teria conquistado seu lugar na tropa de exploração o que permitiu a ele estar vivo e tão mais próximo da liberdade do que estava anos atrás, então não conseguia pensar em uma alternativa melhor do que essa para quando fosse prestar suas condolências.

— Tem alguma coisa que você gostaria de dizer para o seu pai? — Perguntou, suas palavras se dissipando pelo ar muito antes de conseguirem atravessar a barreira que Annie impôs entre eles e chegarem aos ouvidos da garota. — Pode me dizer, eu dou algum jeito de encontrá-lo e o aviso.

Sem nenhuma reação, assim como havia sido no dia anterior; como no mês anterior; como todas as vezes nos últimos anos que vinha vê-la desde que a garota decidiu fugir dele, do mundo e, principalmente, de si mesma no Distrito de Stohess.

— Você negava isso sempre que podia, mas você é forte, mais do que qualquer pessoa que já conheci. — A declaração já havia sido feita inúmeras vezes antes, mesmo na época em que eram recrutas. Gostava de a fazer se lembrar disso, sendo ela capaz de reagir ou não, por mais que ela discordasse. — Então por que fugiu? Não quer voltar para casa? Voltar para seu pai? Eu sei que você esteve sentindo a falta dele, mesmo que não pudesse me dizer o quanto.

Se Annie estivesse em sua frente agora, se estivesse de verdade bem na sua frente, com certeza iria acabar com ele outra vez pela ousadia que tinha ao insistir tão indiscretamente no assunto que era tão delicado para ela. Nunca conseguiu tirar mais do que algumas palavras da garota sobre sua terra natal, e só soube o porquê quando chegou no porão de sua casa destruída.

— E agora sou eu quem está indo para Marley, eu! Isso não te deixa com raiva? — Ainda nada, nem mesmo o menor movimento, como se ela não se importasse. Mas Annie o ouviu, sentia em cada fibra do seu corpo que em momento nenhum estava falando sozinho. — Se não mentisse tão mal, ou se não tivesse tido a brilhante ideia de me ensinar a lutar, talvez você estivesse no meu lugar, poderia ter voltado há anos. Isso deixa você com raiva, não deixa? Se na época você soubesse no que eu podia me transformar, sua escolha teria sido outra. Você teria feito a escolha que achasse mais fácil como você sempre faz, e isso te permitiria fugir dessa ilha para nunca mais voltar.

Cada visita, inevitavelmente breve contra sua própria vontade, era como uma sessão de terapia para Eren. Descarregava toda frustração e amargura que sentia sob ela, e se sentia outra vez como o adolescente que tinha sérios problemas com agressividade de anos atrás. Compreendia que aquilo era cruel e como uma tortura para ela, fazendo-a se prender em memórias tão terríveis, mas ela trouxe isso a si mesma.

O mundo é um lugar cruel, e Annie sabia disso tanto quanto ele.

Tinha noção, porém, que aquela seria a última dessas visitas.  Muito em breve estaria se distanciando dela novamente, dessa vez para muito mais longe do que antes. Em território inimigo, poderia — ou ao menos seria forçado a isso —  fugir da dependência que a imagem da figura cristalizada havia o colocado.

Se tivesse sorte, também poderia encontrar campanulas pela região, essas que não seriam adornadas com sangue de seus iguais, mas que não deixariam de ser tão belas quanto. As serviriam como um vago lembrete do que o levou a chegar até ali, tão longe de sua casa. Poderia apanhar algumas delas, quem sabe trazê-las para Paradis. Annie adoraria receber algo que veio diretamente de sua terra natal, ainda que a situação fosse completamente inoportuna.

— Sinto falta de sua voz, faz tanto tempo que não a ouço.

Fitou as pétalas aglomeradas como um céu estrelado por um breve momento, depois levou sua atenção para as pálpebras que escondiam o mesmo belo azul tão vívido. Pronto para ir embora, se pôs de costas para ela pela última vez.

— Quando eu voltar, você vai ter muito o que falar, e dessa vez não vai poder fugir de mim.

Não retornaria para visitar alguém que se refugiava perpetuamente em um cristal que a blindava do mundo, mas para encontrar, olho no olho, a mulher que arruinou sua vida ao mesmo tempo que deu um sentido a ela.

— Até breve, Annie.


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Notas finais do capítulo

Segunda vez que posto uma Ereannie com a coitada ainda presa no cristal, apesar de essa aqui ser bem mais explícita no shipp.
Minha criativade é algo realmente impressionante.

Observação a ser feita:
Até onde eu vi, nem dentro da obra nem em nenhum lugar fora dela o nome da flor foi confirmado, mas por ela ser exatamente como uma espécie de campanula (patula mais específicamente) eu decidi usar esse nome pra evitar repetição de palavras. Também fiz isso porque eu pesquisei por uma renca de imagem pra averiguar as semelhanças e eu não queria que esse tempo fosse totalmente jogado fora, mas essa parte é a de menos.




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