Old Past Loves escrita por LilyLuna16


Capítulo 2
Yolanda Rodriguez


Notas iniciais do capítulo

Oiii! Olha, eu acho que eu me animei nesse capítulo, nem sei direito quantas palavras tem, mas já sei que extrapolei! Infelizmente não consegui diminuir, então sinto muito pro que não gostam de capítulos grandes, mas espero realmente que gostem, e pra quem não sabe eu vou avisar aqui que eu tenho uma conta no Nyah com a mesma história. Era só isso por hoje, apreciem o capítulo!



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 Tinha vezes que Hermes simplesmente odiava seu trabalho, certo, ele na maioria das vezes gostava de viajar por ai e entregar coisas, mas ele era um deus, e fazer isso por toda uma eternidade as vezes cansava, tipo nesse momento em que ele tinha que entregar um pacote em outro país, ele nem sabia o que era e nem quem pediu para entregar, ele só sabia que tinha que entregar aquele pacote pra algum cara qualquer, isso não seria um problema, mas virou a partir do momento em que o deus descobriu que tinha que entregar aquilo no México. Pra ser sincero, Hermes não achava tão longe assim, mas essa era a sua última entrega do dia e ele queria que fosse mais rápido, não ter que ir até o México.
   Ele pelo menos podia agradecer que o pacote tinha que ser entregue na capital, era bem mais fácil de encontrar e ele não precisava se preocupar com algum inconveniente rural, se pudesse dizer assim, teve uma vez que o deus acabou parando no meio de uma fazenda e pode-se dizer que ele não gostou de passar pelas vacas. Assim que encontrou o cara logo despachou o embrulho, pedindo uma assinatura e entregando para aquele cara que parecia mais um boneco falsificado, enfim, assim que o deus saiu daquela lojinha que teve que entrar, ele respirou fundo "Ahhh, nada melhor que esse ar poluído!" pensou o deus com graça, agora ele estava livre, pelo menos por um dia, as entregas que foram pedidas para serem feitas por ele já tinham acabado e se por acaso alguém quisesse fazer mais uma, teria que esperar até o próximo dia! 
   Pensou em fazer algo divertido, mas ao olhar pela cidade nada lhe veio a cabeça, até parecia ter coisas legais para fazer, mas o deus já as havia feito nas outras vezes que fora ali. Como Hermes não conseguiu pensar em nada na hora, decidiu andar por ai e tentar ver se encontrava algo legal para fazer.


   Ele se sentou em um banco de uma praça iluminada, com o fim do pôr do sol a praça parecia não decidir se preferia ser iluminada pelo resquício de sol que ainda tinha ou pelos grandes postes de luz colocados entre as árvores não naturais, se Pã visse isso, com certeza ficaria horrorizado. Hermes não teve muito progresso com o seu dia, até que fora divertido, comendo muitas coisas estranhas, fazendo algumas brincadeiras com algumas pessoas, ajudando alguns mercadores que via, mas não aconteceu nada de muito extraordinário, bom, isso até um cachorro vir na sua direção. O animal veio correndo até ele e não esperou nenhum segundo pra pular em cima do colo do deus, usava uma coleira rosa de peitoral e, pelo que ele reconheceu, era um Jack Russel Terrier, o cachorro começou a lamber a mão dele e se esfregar também, o deus não conteve o riso, fazia tempo que não via um cachorro, mas ainda se lembrava que era muito difícil achar um que não gostasse dele. Não demorou muito para alguém vir atrás dele, e pode-se dizer que esse foi o ponto alto do dia de Hermes, a dona era... bom, diferente e, não é possível negar, muito, muito bonita mesmo, talvez Hermes estivesse parecendo um bobo olhando para ela, mas ele não estava ligando muito. Ela definitivamente não era parecida com as americanas, a pele era mais escura, mas não tanto, quase como se tivesse pego sol demais, o cabelo era um castanho arruivado ou um ruivo acastanhado, ele não saberia dizer bem, suas expressões eram delicadas e ela era baixinha, parecia tão delicada, como uma pequena flor.
   - Ah, Jully, você tá aí!
   Só depois que a mulher reparou que a sua cadela estava lambendo e se esfregando num desconhecido. O rosto dela pareceu ter ficado uns 10 tons mais vermelhos e ela não parecia saber o que fazer.
   - Dios mio! Me desculpe por isso, ela saiu correndo e eu não consegui pegar.
   Ele demorou um pouco para responder verbalmente, mas a sua resposta imediata foi mostrar um sorriso com todos os dentes. Enquanto isso a mulher já havia tirado, com um pouco de esforço, o cachorro do colo dele.
   - Não tem problema, adoro cachorros!
   Hermes não podia deixar ela ir assim né, ele tinha que dar um jeito, ou talvez fosse melhor não, todos sabem como isso acaba e acredite, nunca é bom pra nenhum dos lados, mas...
   - Oh! Parece que ela gostou de você!
   Quando o deus percebeu o cachorro, ou melhor, Jully, estava escondida atrás de suas pernas e pelo visto não queria sair dali, mesmo com a insistência da dona. Então ele soube, aquela era a hora.
   - Ela deve querer me fazer companhia, não vejo nenhum problema, mas seria ainda melhor se vocês duas quisessem me dar a honra de ter suas ilustres presença.
   Ele deu o seu melhor sorriso na direção da mulher e ela, não pode evitar corar ainda mais diante disso, mas ela logo sorriu e se sentou.
   - Bom, vou conceder a você essa honra, mas não fique muito feliz, vai ser só dessa vez!
   Ela tentou fazer sua melhor cara de séria, mas não aguentou muito e riu logo em seguida fazendo o deus a acompanhar.
   - A propósito, meu nome Yolanda, Yolanda Rodriguez.
   - Sou Hermes, ahn..., Hermes Athánatos.
   - Nossa, que sobrenome incomum!
   - É, ele é grego, se você traduzir significa imortal e o meu nome...
   - É igual ao do deus grego Hermes, o mensageiro dos deuses e deus do ladrões!
   - Ah... É.
    Hermes não estava acostumado com pessoas sabendo sobre mitologia grega, a maioria nem ligava para isso ou tinha um pequeno conhecimento, sem contar que ele também não estava muito acostumado a falarem dele, com ele, como se ele não fosse ele, nossa, muito estranho.
   - Desculpa, é que eu tenho uma leve fascinação por mitologia grega...
   - Não se desculpe por isso, eu também adoro mitologia grega!
   - Sério?! É difícil achar alguém que goste desse assunto hoje em dia...
   " Você não faz ideia", o deus pensou.
   -... As vezes eu penso como seria se eles existissem de verdade, não me acho louca por isso, por favor! Mas eu acho o assunto tão fascinante, que as vezes esse pensamento me vem a cabeça...
   E assim Hermes passou o resto do seu dia, conversando sobre mitologia grega com uma mulher muito encantadora, com certeza esse foi o ponto alto do dia do deus.


   Ele viu quando ela saiu da loja. A expressão de Yolanda quando viu que a chuva ainda não tinha parado e que provavelmente não ia parar tão cedo foi de puro desapontamento, ele não conseguiu segurar uma risada e a risada chegou aos ouvidos dela. 
   Ele estava esperando na frente da lojinha em que Yolanda trabalhava, eles tinham marcado de sair para jantar, mas ela cancelou de última hora dizendo que a sua chefe tinha mandado ela ficar mais tempo para esperar um cliente ou algo assim. Hermes ficou esperando ela na rua oposta com um guarda-chuva preto na mão, por mais estranho que pareça, a rua estava deserta, não tinha ninguém nela e se alguém aparecia, logo saia apressado com o guarda-chuva colorido.
   Yolanda sorriu para ele da onde ela estava e foi correndo na direção dele tentando evitar o máximo possível molhar o seu velho e surrado, mas amado, All Star cinza, logo ela já estava abraçada com Hermes debaixo do guarda-chuva dele, ela a propósito estava toda molhada, mas o deus não se importava com isso, ele a abraçou na tentativa de aquecer ela que estava apenas com o uniforme de trabalho de manga curta.
   - O que está fazendo aqui?
   Ela perguntou afastando a cabeça do peito dele.
   - Vim te fazer uma visita, já que você estava ocupada no trabalho.
   - E como você descobriu aonde eu trabalhava?
   Ops! Hermes não tinha pensado nisso, ele tinha usado os seus poderes de deus para descobrir que ela trabalhava numa lavanderia de esquina no bairro menos movimentado da Cidade do México, mas ele não podia contar isso pra ela ainda, ainda não. Por enquanto, ele tinha que improvisar.
   - Segredo.
   Ele sussurrou no ouvido dela fazendo-a se arrepiar, ele se afastou e encarou ela com um sorriso maroto, ou melhor, com o seu sorriso típico, ela sorriu de volta e em seguida eles começaram um beijo. Já fazia um tempo que eles namoravam, e por enquanto estava tudo mil maravilhas, já tinham dado o "próximo passo", se é que vocês entendem, e ela não tinha ficado grávida, o que era muito bom, porque sendo um deus, as suas... "células reprodutoras" eram mais... Ahn... "Poderosas", ou seja, era muito mais fácil gerar um fruto, pelo menos era isso que Atena disse no seu discurso de responsabilidade e das qualidades de ser casta, nada que valha a pena lembrar. Bom, voltando ao assunto, como estava tudo dando certo e eles já estavam namorando a algum tempo, Hermes decidiu que estava na hora de contar a verdade para Yolanda, ele não podia mentir que não estava receoso sobre contar, da última vez que alguma namorada sua ficou sabendo que ele era um deus... Ela... Isso ainda era difícil para ele lembrar. Ele tinha prometido a si mesmo não deixar mais nenhum mortal sabendo quem ele realmente era, mas contar para Yoalanda parecia tão certo, ele sabia que teria que contar pra ela, e ele ia fazer isso naquela noite.


   Passaram num McDonalds e compraram dois hambúrgueres para eles, depois Hermes a levou para um morro que uma vez tinha visto, não era alto, ninguém ia lá e não tinha acesso para carro, tanto que tiveram que subir apé, mas a vista era linda, dava pra ver uma grande parte da cidade que agora era iluminada pelas luzes das casas e dos postes pela rua.
   - Nossa! Que lindo!
   Ela estava deslumbrada, nunca tinha subido aquele morro, mesmo morando na cidade a muito tempo, nunca tivera tempo para se aventurar por ai. Hermes ficava até triste em estragar aquele momento com a verdade, ele sabia com total certeza que ela não ia ficar com aquele olhar depois que ele começasse a falar, mas não podia dar para trás, ele tinha que falar.
   - Yô, tenho algo para te contar.


   Se ela acreditou de primeira? Pode apostar que não. Ela não riu da cara dele, nem o chamou de louco, mas era possível ver em seu olhar confuso que ela não tinha acreditado no que ele disse, por dentro devia estar bolando um plano para fugir dali ou então tentando achar algum resquício de piada na cara dele, mas por mais triste que possa parecer, ele não estava mentindo. Se ela acreditasse no que ele dizia, ele teria que aceitar que nunca poderia ficar com ele, que ela nunca seria boa o suficiente para ele, que os planos que ela tinha feito na cabeça dela não poderiam se realizar, não do jeito que ela queria.
   - Olha, eu sei que é difícil de acreditar, mas eu não estou mentindo, eu sou mesmo um deus.
   - Mas é claro que é!
   Yolanda se sobressaltou, essa voz não era dela, nem dele, não era de ninguém que ela conhecia, mas parecia muito com o barulho que uma cobra fazia.
   - O deus mais legal! Por acaso tem um rato ai?
   - Fiquem quietos!
   O deus estava desesperado, tinha que fazer ela acreditar nele, mas ele não pretendia fazer ela morrer de medo com duas cobras que ele carregava no bolso.
   - Q-quem disse isso?
   - Viu só o que vocês fizeram?!
   - Não foi nossa culpa!
   - Ela que não acredita em nós! Falei que ela não valia a pena! Você devia é f...

   - Martha! Já chega!
   Hermes agora não sabia se berrava com as duas cobras ou se tentava acamar Yolanda que parecia estar cada vez mais pálida, por fim ele suspirou e tirou de seu bolso o celular velho e cinza.
   - Yolanda, conheça Martha e George.
   Não demorou muito para o celular virar um caduceu com duas cobras traçadas, uma verde e outra vermelha. O deus tinha quase certeza que Yolanda desmaiaria, ela estava palida e a boca entreaberta como se tivesse esquecido de fechar a boca, Hermes olhava aprensivo do caduceu para a mulher como se esperasse alguma reação de algum dos dois, quer dizer, três.
   - Acho que quebramos ela.
   - Foi culpa sua, George!
   - Não foi, a culpa foi sua, Martha!

   - Quietos os dois! Yô, você está bem?
   - Você... Eles... Deus... Nuestra Señora de Guadalupe!
   Ela levantou de onde estavam sentados, ou seja, no chão, e começou a dar voltas em círculo murmurando coisas sem sentido, Hermes não sabia o que fazer agora, fazia tanto tempo que não contava para uma mortal que era um deus que já não sabia muito mais o que dizer, optou por esperar um pouco até que ela se acalmasse, então ficou sentado no gramado do morro apenas a seguindo com o olhar. Vários pensamentos se passaram pela cabeça do deus, talvez ela fosse lhe dar um fora, ou então sair correndo e pedir socorro, é, provavelmente isso. Mas então de repente ela parou de andar e se virou para ele, ela ficou lhe encarando e ele pensou que talvez ela tentasse lhe matar, só que ao invés disso, ela se ajoelhou na frente dele e o beijou. Depois de se separar ela voltou a encarar Hermes.
   - Eu não sei se você vai me beijar ou me matar agora, então se quiser falar algo...
   Hermes falou tentando dar um pouco de graça, não que ele realmente não tivesse essa duvida. Yolanda riu em resposta.
   - Agora eu posso falar que meu namorado é um deus grego de verdade.
   Hermes aceitou isso como um "sim, eu ainda sou sua namorada e não vou te matar por trás".
   - Não sei se elas vão acreditar.
   - O importante é que eu acredito.
   Ambos sorriram um para o outro, o momento era perfeito, a vista era perfeita, os beijos, as caricias, tudo, mas claro que isso teve que ser arruinado.
   - Que momento lindo! Mas alguém por acaso tem um rato?
   - George! Fique quieto!
   - Fique quieta você, Martha!


   - Como é ser um deus?
   - Meio entediante.
   Os dois estavam no apartamento dela no sofá, tinham ido assistir a um filme, mas a tempos o filme já havia esquecido. Yolanda recém havia descoberto sobre a divindade de Hermes e agora fazia perguntas toda hora, era quase como se fosse o novo passatempo preferido dela.
   - Zeus é tão chato quanto dizem nos filmes?
   - Ahn... Mais ou menos, ele não é o melhor pai do mundo, nem o melhor deus, mas os filmes as vezes exageram de mais.
   Do lado de fora do apartamento um trovão soou fazendo Yolanda dar um pulinho pelo susto.
   - Desculpa!
   Hermes berrou em direção a janela e depois riu olhando para o mulher deitada em seu colo.
   - Você não é casado com nenhuma deusa né?
   - O que? Não! Eu sou um dos únicos deuses que não é casado, tirando as deusas castas.
   Yolanda olhou para a televisão, mas Hermes sabia que ela não estava olhando para o filme, talvez por terem perdido o filme todo ou pela cara pensativa que a mulher tinha no rosto.
   - Vocês, deuses eu digo, ainda tem... filhos com mortais?
   Hermes estranhou um pouco a pergunta, mas respondeu logo.
   - Ah, sim, os semideuses, ou heróis.
   - E o que acontece com esses heróis?
   Hermes definitivamente estava estranhado o rumo dessas perguntas que ela fazia.
   - Eles... Eles vão para um acampamento, o Acampamento Meio-Sangue.
   - Acampamento?
   - É basicamente um lugar onde os semideuses passam o verão e treinam para sobreviverem, alguns até passam o ano inteiro.
   - Ahn, legal! Deve ser legal lá, os campistas devem fazer bastantes amigos...
   - Porque a pergunta?
   - Nada não! Só curiosidade! Mas... Vocês não interagem com seus filhos?
   O deus se sentiu um pouco desconfortável sobre esse assunto, nunca gostou muito de como tinham que agir, afinal, eram seus filhos, porque ele tinha que deixar eles?
   - Um.. Não. Zeus não permite que nos relacionemos com nossos filhos mortais. Não que eu goste dessa regra... Se eu pudesse eu iria todo dia no acampamento ver meus filhos, mas... Não posso.
   A atmosfera, antes leve e descontraída, ficou pesada e difícil de lidar. Yolanda levantou do colo de Hermes e acariciou o rosto dele.
   - Você realmente se sente mal por isso?
   Em resposta Hermes suspirou e balançou a cabeça. A mulher beijou ele mais uma vez e deixou suas testas encostadas, ainda fazia carinho nele, mas agora com as duas mãos.
   - Sinto muito.
   Ela sussurrou depois de um tempo. Hermes não entendeu exatamente o porquê dela ter dito o que disse, não tinha feito nada para isso, mas o deus não estava no ânimo de fazer perguntas, nem piadas, nem nada disso, o que ele realmente queria era ficar com aquela mulher e não largar.


   A chuva do lado de fora não tinha piedade, já não tinha quase ninguém nas ruas, mas ainda era possível ver alguns guarda-chuvas coloridos passando por ai. O deus não pode deixar de reparar que todos tinham guarda-chuvas coloridos, nunca tinha visto um preto, ou até mesmo um azul marinho, todos usavam tons de laranja e verde, ou vermelho e azul ciano. 
   Enquanto todos corriam em busca de algum abrigo da chuva, Hermes estava sentado confortavelmente no sofá da casa de Yolanda. Ela tinha lhe falado que precisavam conversar, o que não agradou o deus, e pediu para que ele a esperasse em seu apartamento.
   - Hermes.
   A mulher estava parada no batente da porta molhada e com o guarda-chuva preto que ela pegou dele na mão esquerda pingando no chão. Ele levantou logo e foi em direção dela como se para abraçar, mas ela esticou uma mão dizendo para ele parar.
   - Yô, o que aconteceu?
   Ela olhou para ele e o deus pode perceber que seus olhos estavam vermelhos e lágrimas escorriam pelas bochechas.
   - Hermes...
   Ela respirou fundo e abaixou a mão, o deus sabia que algo não estava certo e podem apostar, ele não gostava disso.
   - Isso não vai dar certo.
   - O que?
   - Nós temos que terminar, isso não vai dar certo, você é um deus e eu não, nós nos iludimos se achamos que isso ia dar certo...
   - Não! Por favor...
   - ... Eu vou ficar aqui e você vai seguir a sua vida, ser feliz, e eu também, vai ser melhor...
   - Yolanda!
   A esse ponto os dois já choravam, o guarda-chuva preto jazia no chão molhando o tapete cinza da sala. O deus não sabia onde tinha errado, tudo parecia tão certo no dia anterior, tá certo que o deus já tinha percebido que ela andava um pouco estranha ultimamente, mas ele não esperava por isso, qualquer coisa menos isso, ele estava nessa situação mais uma vez, perdeu mais um amor, novamente, as vezes ele achava que fora amaldiçoado, parecia que nunca encontraria alguém, e sempre que achava que isso mudaria, algo ruim acontecia, todos pareciam já ter alguém e faziam isso parecer tão fácil. Zeus tinha Hera, Poseidon tinha Afitrite, até mesmo Hefesto tinha Afrodite, mesmo que no meio daquele triângulo amoroso estranho com Ares, o único que talvez estivesse no mesmo barco que ele fosse Apolo, mas Hermes não achava que o outro deus ligasse, ele parecia bem com a sua vida libertina, mas Hermes não queria ser sozinho para o resto da eternidade, ele queria ter alguém mesmo que fosse num relacionamento confuso e um tanto infiel de um deus, mas é claro que ele não conseguiria isso.
   - Sai daqui Hermes!
   - Yolanda, por favor, não faça isso! Nós podemos...
   - Não! Não torne isso mais difícil! Por favor, se você realmente me ama, por favor, me escute e vá.
   Ambos estavam ajoelhados no chão chorando, Hermes tentava abraçar Yolanda, mas ela não deixava. Hermes estava desesperado, assustado e apavorado, não queria deixá-la, mas o que ele poderia fazer. Tentou mais uma vez.
   - Yô, o que? Porque?
   - Hermes, eu quero que você saiba que eu te amo...
   - Então não faça isso!
   - ... Mas acredite, eu estou fazendo o melhor para nós, é melhor nos separarmos assim do que... Você vai se sentir melhor depois de um tempo e não vai precisar carregar outro fardo...
   - Do que você está falando?
   -... Vai ser melhor, eu sei. Mas pra isso, preciso que você vá, e não volte mais, me prometa que você não vai voltar por mim e não vai ficar me espionando, eu quero que você siga em frente e não olho para trás.
   Yolanda colocou as mãos no rosto do deus.
   - Eu.. Eu não...
   - Prometa!
   - Eu prometo!
   - Agora vá.
   O deus segurou nas mãos dela uma última vez e sumiu do apartamento, para nunca mais voltar.


   O deus voltou alguns anos depois, ele sabia que tinha prometido, mas ele queria apenas conferir se ela estava bem, queria apenas ver o sorriso, mesmo de longe, só a olhar mais uma vez, então imaginem a surpresa dele quando não a encontrou em lugar nenhum, percorreu a cidade o mais rápido o possível, mas mesmo assim não achou nada. Quando foi procurar na lavanderia onde antes ela trabalhava e não a achou lá também, resolveu perguntar a mulher que estava apoiada na bancada.
   - Com licença, mas você sabe onde posso encontrar Yolanda Rodriguez?
   - Ah...
   A mulher pareceu ficar um pouco desnorteada e confusa, mas então sua expressão se transformou me pena e o deus sabia, isso só podia significar uma coisa...
   - Ela morreu a algum tempo atrás, sinto muito, você era algum amigo distante dela?
   - É... Pode-se dizer isso.
   Ele saiu dali o mais rápido o possível. Não conseguia acreditar, Yolanda, morta. Hermes não sabia o que fazer agora, estava desolado.

   Se sentia um hipócrita, um pavoroso e horrível hipócrita. Sempre falou que os deuses deveriam dar mais atenção aos seus filhos e agora ele, justo ele tinha ignorado o seu filho que estava bem embaixo do seu nariz o tempo inteiro. Ele não aceitava que precisou jurar reclamar todos os seus filhos para reconhecer ele, justo ele que era tão igual a mãe.
   Assim que o deus percebeu quem ele era, paralisou, tudo na sua cabeça se encaixou, parecia até que haviam pregado uma peça nele, justamente nele. A felicidade nos olhos de seu filho assim que um caduceu brilhante apareceu sobre a sua cabeça, ele abraçou a namorada (Hermes teria que pegar no pé de Ares depois por isso) e nem pareceu ligar pelo fato de ter morado naquele chalé durante anos, mas nunca ter sido reclamado. Por outro lado, o deus se sentia extremamente culpado, nunca tinha se passado pela sua cabeça que Yolanda teria escondido que estava grávida, mas era evidente que Chris era filho dela, o nariz delicado e os olhos castanhos brilhantes, a pele mais escura e os cabelos castanhos arruivados, tudo nele lembrava ela, e Hermes se sentia extremamente culpado por não ter percebido antes.


   O deus realmente não esperava que sua noite acabasse com uma espada apontada para seu peito.
   Veja bem, Hermes tinha que mandar uma mensagem para Quíron, afinal ele era mensageiro dos deuses, mas tudo que queria era ficar de boa no seu templo no Olimpo comendo uma boa comida industrializada. Ele achava realmente uma pena que essas comidas não existissem nos tempos antigos, elas são realmente muito boas. Mas antes mesmo de chegar na Casa Grande, ele ouviu sussurros próximos a ele, Hermes havia escolhido ir pela floresta especialmente para evitar ser visto e deveria continuar assim, mas ele não conseguiu resistir a vontade de pregar uma peça num provável casal que decidiu burlar as regras e ter um "encontro". 
   Não ia fazer nada de mais, apenas talvez fazê-los se assustarem ou então os prender até que alguém os achasse, mas claro, claro, ele tinha que dar de cara com o filho e a namorada, podia ser qualquer outro filho, mas tinha que ser bem Chris Rodriguez, a falta de sorte do deus sobre esse assunto era impressionante até para ele. Tentou sair, mas como as Parcas adoravam brincar com a cara dele, ele tropeçou, e sim, até mesmo deuses conseguem tropeçar e passar vergonha. Óbvio que seu pequeno incidente, os dois adolescentes notaram ele e se prepararam para ataque, possivelmente achando que Hermes era um monstro, como o deus não estava nas melhores condições, surpreso e caído, foi fácil para logo os dois terem apontado duas armas, uma espada e uma lança, na direção dele. Mesmo depois de perceber que Hermes não era nenhum monstro deformado eles não tirar as armas sobre o deus.
   - Quem é você?
   Ele se sobressaltou um pouco ao ouvir pela primeira vez a voz do filho, nunca tinha parado exatamente para pensar sobre isso. Agora mais perto, Hermes podia reparar mais no rosto de seu filho, mas isso não o ajudou a melhorar a situação já que ele falou a primeira coisa que veio a sua mente.
   - Você é igual a sua mãe.
   - Pelos deuses!
   Clarisse foi a primeira a expressar reação, ela tirou a sua lança rapidamente enquanto Chris tirava a sua lentamente, seu rosto tinha paralisado quase em choque enquanto ele processava tudo. Em pouco tempo Hermes já estava de pé batendo nas roupas afim de tirar a sujeira, o clima tinha ficado estranhamente tenso e ninguém sabia o que falar, até que Clarisse se manifestou.
   - Eu... Eu vou deixar vocês a sós.
   Ela se virou para sair dali, mas o deus a parou antes.
   - Ah, Clarisse La Rue! Seu pai adorou a manobra que você fez no último capture a bandeira. Ele ficou tão animado que quebrou a lança dele.
   Clarisse enrubesceu e balbuciou um obrigada antes de sair. Ótimo, agora o deus estava sozinho com o filho e ele não fazia a menor ideia se ele o odiava.
   - Eu... Ahn... Como... Como você está? Tudo bem?
   -É... Hum... estou bem.
   Mais silêncio, que maravilha!
   - Olha, eu... Eu sinto muito por não ter te reclamado antes, mas...
   - Mas você não sabia que eu existia?
   Hermes ficou quieto no mesmo instante, como ele poderia saber disso? Chris percebeu que tinha acertado em cheio quando viu a cara do pai.
   - Pera... Sério? Eu chutei legal aqui!
   - Infelizmente sim... A... A sua mãe, ela... Ela era maravilhosa, eu amei muito ela, nós fomos muito felizes por um tempo, ela ficou comigo mesmo depois de saber que eu era um deus, claro que ela me bombardeou de perguntas, mas ela continuou ao meu lado, só que então ela falou que não podíamos mais nos encontrar...
   Chris ouvia com muita atenção o que o pai dizia, ele podia até sentir as lágrimas começando a se formar, mas ele não se renderia, ele não iria chorar.
   -... Ela falou que eu tinha que sair, tinha que ir embora e que nunca mais podia voltar, eu não queria, mas eu tive. Claro que depois de um tempo eu voltei, eu só queria ver ela, mesmo que de longe, mas então eu descobri que ela tinha morrido, isso... Isso acabou comigo por muito tempo, mas nunca, eu nunca ia imaginar que ela escondeu de mim que estava grávida, que... que teve você. Mas quando eu te vi e percebi que você era realmente meu filho, eu... Eu entendi tudo.
   - En... Entendeu o que?
   Ambos estavam emocionados, Hermes queria dar uma abraço no filho e chorar como uma criancinha, mesmo depois de tanto tempo a morte de Yolanda ainda o afetava.
   - Uma vez eu disse a ela que eu me sentia mal por não poder fazer parte da vida dos meus filhos, pelo visto, ela não queria que eu descobrisse, sabe, ela não queria que eu sofresse por conta disso. Nossa, isso era a cara dela!
   Hermes riu um pouco, mas já era possível perceber a sua voz embriagada. 
   - Eu... Eu também tenho que me desculpar, me juntei ao exército de Cronos e virei as costas para os deuses...
   - Não lhe culpo por isso.
   Chris o olhou surpreso, como se de repente tivesse três cabeças.
   - Você fez isso por que eu não lhe reclamei, por que eu fui um péssimo pai, e além disso, você já se redimiu por isso.
   Nenhum dos dois falou mais nada, ficaram em silêncio ambos com sua própria tristeza, isso pelo menos até Hermes lembrar que ainda precisava falar com Quíron.
   - Ahn... Eu preciso ir, tenho ainda assuntos a tratar.
   - Oh, certo.
   Nenhum dos dois se moveu.
   - Eu queria te entregar algo...
   Hermes não tinha se preparado para dar um presente, mas ele achava necessário depois disso, sorte que ele sempre tinha algo guardado na manga. Tirou do bolso de trás uma cobra, não exatamente uma cobra, estava mais para uma mini cobrinha de bronze celestial. Chris, Hermes percebeu, não esperava por isso, já que fez uma careta. O deus não conseguiu segurar o riso.
   - Relaxe, é melhor do que parece. Se um dia precisar, que não precise, você só coloca ela no chão que ela se prepara para a ação!
   - Tenho medo de perguntar, mas... Como assim?
   - Assim que ela entrar em contato com o chão, essa cobrinha aqui vai se transformar em uma cobra de verdade, bom, mais ou menos, mas mesmo assim, ela vai lhe ajudar nas batalhas um pouco e não se preocupe, ela volta rastejando para você depois e você precisa apertar atrás da cabeça dela para ela voltar a essa forma.
   Os olhos de Chris se iluminaram tanto que Hermes não conseguiu não lembrar de Yolanda quando ela usava aquele All Star velho e surrado. O deus estendeu a cobra para o filho que pegou um tanto relutante. Ele já estava se preparando para sair quando se surpreendeu com um abraço, ele realmente não esperava, mas abraçou de volta, só que o abraço não durou muito logo os dois já tinham se separado. Chris, agora, tinha um sorriso maroto no rosto, Hermes ficou feliz de saber que o seu filho tinha herdado pelo menos algo dele.
   - Obrigado... Pai.
   E assim Chris Rodriguez saiu da floresta provavelmente indo contar tudo para a namorada. Foi então que Hermes percebeu, Chris era igual a mãe, tinha a maior virtude dela, Chris Rodriguez tinha bondade.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, desculpem os erros e... Por favor comentem!!



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