Querido Papai Noel,

É estranho falar assim, não escrevo uma carta para o senhor há mais de dez anos. Mas, enfim, chega de enrolação. Estou com sérios problemas... Na verdade, não exatamente eu, mas sim uma amiga minha. Uma pessoa que gosto muito está correndo risco de vida. Olivia é seu nome.

Um dos médicos do hospital onde trabalhamos juntos, descobriu um tumor maligno, e já em estágio avançado, no pulmão direito dela. A coitada quase teve um infarto ao descobrir e chorou muito ao se pegar pensando em seu pequeno filho, Lucca. Quem irá cuidar do pequenino quando ela não estiver mais aqui? Esse é um de seus vários questionamentos. E eu confesso que também tenho alguns questionamentos. E não é saber quem irá se vestir de palhaço comigo para ir animar os demais pacientes no lugar dela.

Olha, cancela o "uma pessoa que gosto muito" do começo da carta. Porque eu não apenas gosto de Olivia, como a amo. Muito. Essa mulher é o amor da minha vida, e só fui descobrir isso agora, com ela quase morrendo em uma maldita maca. Sou muito burro, eu sei disso. E o pior de tudo é que, infelizmente, eu não posso fazer nada para ajudar.

Vai ser duro ter de encarar a realidade quando chegar o dia em que eu tiver de abrir meus olhos e perceber que não a verei mais. Aquela mulher linda, dona do sorriso mais brilhante e contagiante de todos. A que tem o melhor abraço do mundo, e que sempre faz questão de usar um perfume de aroma bastante enjoativo... Mas que eu, mesmo não admitindo nem para mim mesmo, adoro sentir. Nesse momento, Olivia está naquela maca. Provavelmente dormindo de tanto tomar remédios que insistem em dar para ela. Ou deitada olhando para o teto imaginando um céu cheio de estrelas, talvez nuvens também. Mas está lá. Lutando mesmo sabendo que o nocaute pode vir quando menos esperar.

Eu sei que já estou bastante velho para fazer pedidos para você, e devido às atuais circunstâncias é quase impossível o que quero. E também sei que você não é Deus para fazer milagres... Mas, ainda assim, encarecidamente, apenas lhe peço isso: um pouco mais de tempo de vida para Olivia.

São baixas as chances de cura dela, porque o câncer já se alastrou pelo organismo falta muito pouco para atingir outros órgãos vitais, como o coração e o fígado. Mas ainda quero mais um tempo com ela para que, mesmo que tardiamente, eu possa lhe dizer como me sinto. Mesmo que não possa a carregar em meus braços ou a beijar como uma daquelas cenas de filmes de romance. Mas preciso contar mesmo assim. Jamais irei me perdoar se ela morrer sem saber do quanto a amo.

É isso... Espero que eu possa ficar com ela mais um tempo, será muito para mim.

Abraços,

Guilherme.