um ensaio de cobiça escrita por RFS


Capítulo 1
primeiro evento




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primeiro evento

Dice não era o melhor com palavras difíceis — ou relativamente difíceis, visto que ele não era a melhor referência para erudito. Era adepto da filosofia de que enfeitar as coisas era muita enrolação e perda de tempo. Em geral, ele podia falar de quase qualquer assunto do próprio jeito dele.

Claro, havia exceções.

Há certo tempo posterior a formação da Fling Posse, ele encontrou um novo desafio para seu vocabulário limitado. Sabia que até o simples nome de Gentaro Yumeno despertava diversos sentimentos: amor, carinho, segurança, afeição, confiança; porém tinha um espaço não preenchido. Algo do qual desesperava para poder expressar, tão profundo e inominado que o deixava torcendo os dedos, suando pelas mãos. 

Tentou, em vão, explicar para Ramuda e apenas teve mais certeza que o nome estava como um pássaro em uma gaiola, preso anonimamente na garganta dele e esperando para surgir. O vazio deixava-o aflito.

— Dice precisa de um dicionário! — Ramuda riu com o pirulito ainda na boca, a voz baixa porém não menos zombeira. — E de óculos escuros. Você encara demais, mesmo quando já estão saindo.

— Eu não encaro! — rebateu, virando o rosto imediatamente para a direção oposta da pele alva e lábios róseos de Gentaro, o qual estava no extremo oposto da grande sala do líder da divisão. Ele parecia suficientemente distraído com um livro. Dice suspirou, passou a mão pelos cabelos e continuou: — Nós estamos indo devagar.

Devagar, uma palavra conhecida, porém era como estranha na língua de Arisugawa, todo feito de pressa. Ele teve que reaprender o sabor dela nos últimos tempos, como era morna e afável na boca dele. Mesmo assim, parecia atropelar as sílabas, tropeçar nas letras e comer fonemas. Queria dizer devagar da mesma forma que falava eu quero, eu quero, eu quero, rápido e fervoroso como um mantra da sorte, como se a anatomia da língua e boca dele tivesse sido reduzida mais uma vez a um instrumento de súplica.

Ele queria ensinar a pronúncia escaldante de devagar para Gentaro, proferir a palavra abrasiva contra o pescoço dele, escrevê-la com as pontas dos dedos em costas nuas, ver como os lábios dele se entreabrem em surpresa…

Lidar com tudo isso era ainda mais penoso quando o escritor já era experiente em dar espaço para a imaginação. Estava marcado na memória de Dice todas as vezes que, no oculto sob mesas e panos, quando menos esperava o tornozelo alheio encontrava-se com o dele e, num segredo compartilhado enquanto simulavam prestar total atenção em Ramuda, sentia a pele macia roçar contra a dele de jeito inicialmente tímido, então mais confiante. 

Recordava-se de como a boca ficou seca e de ver o sorriso ameno no rosto de Gentaro, logo depois desviando o olhar para a camisa cujos botões sempre fechados do pescoço agora estavam abertos, permitindo a Dice vislumbrar a pele exposta. Não viu quando o mais velho abriu os botões, mas gostaria de ter visto — o que fez a mente divagar para o pensamento dele mesmo abri-los, depois não só os do pescoço como também os abaixo deles — e o rosto esquentou vertiginosamente ao perceber para onde o pensamento iria. Por uma jogada de sorte, ninguém pareceu perceber o embaraço dele.

Ao fim daquela noite, Dice despediu-se com um beijo casto naquela área alva que observou, o que fez Gentaro rir baixo e pressionar os lábios no do outro em algo menos modesto, os dedos longos e finos entrelaçando-se nos cabelos azuis quando o trouxe para mais perto, os peitos pressionados e as pernas se enlaçando também. Voltou para casa com Ramuda, tendo a cabeça leve e persistindo em lembrar da textura do que tanto ansiava.


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Notas finais do capítulo

obrigada por ler até aqui!



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