Attention escrita por Toxic


Capítulo 7
Capítulo 7 - Nascimento




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Era fevereiro, um domingo, eu estava em casa vegetando, como acontecia sempre nos últimos dois meses. Shane, Dean e minha mãe foram visitar a mãe de Dean em Winchmore Hill, quase do outro lado da cidade. Eu estava assistindo Dr. House quando ouvi um grito.

- Cassie! Por favor! - Amber gritou do quarto. Era estranho e eu fui ver o que ela queria. Assim que cheguei ela estava pálida e deitada na cama.

- Acho que minha bolsa estourou. - era urgente. Eu fui até ela e puxei os cobertores. Que eu saiba, quando a bolsa estoura só há água, mas ali eu via sangue e muito sangue.

- Não sei se é a sua bolsa. - resmunguei. Ela olhou para aquela bagunça.

- Meu Deus... As complicações... O médico avisou sobre isso. O bebê vai morrer? - ela perguntou. Eu vi preocupação em seu rosto. Corri até o telefone e chamei uma ambulância, pedi o máximo de urgência. Mesmo assim ela demorou 5 minutos para chegar lá embaixo no portão e eternos 3 minutos para subir com uma maca. Amber tremia e ás vezes esquecia de respirar. Os bombeiros a colocaram em uma maca.

- Se acalme. - eu disse á ela. Ela chorava e seus lábios estavam azulados.

- Você vai com ela? - um bombeiros alto e forte perguntou. Eu a olhei, eu deveria ir? Ela apertou minha mão.

- Por favor... - sua mão estava gelada e tremia. Eu fechei os olhos.

- Ok. - respondi. Eles colocaram a maca na ambulância e eu iria entrar em seguida, mas o bombeiro me segurou.

- Ela está prestes a entrar em estado de choque. Isso é gravíssimo. Ela é sua irmã?

- Não. - respondi. - Prima.

- Ok, primos são quase irmãos. Bem, estado de choque é grave, tente distraí-la e acalmá-la. - ele disse. A frase primos são quase irmãos martelou na minha cabeça.

- Tudo bem? - eu voltei á realidade.

- Claro... - e ele me ajudou a entrar na ambulância. O que eu faria para ela se acalmar?

- Eu nunca andei de ambulância. - disse. Porque eu disse isso?

- Eu já. - ela respondeu com dificuldade. - Quando brincávamos numa árvore, eu fui descer e quebrei o tornozelo. - ela sorriu e apertou minha mão novamente. Eu fiquei tensa. O bombeiro nos observava, eu olhei para ele, que em seguida sorriu. Eu sorri para ela lembrando da cena.

- E você gritava dizendo que era minha culpa... - nós rimos.

- Já chegamos. - ele disse. Tiraram a maca e levaram para dentro do hospital, pela entrada de emergências. Ainda saía muito sangue dela. Amber em nenhum momento soltou minha mão. Assim que entramos, uns três médicos vieram até ela enquanto ia sendo levada á um quarto.

- Ela tem hipertensão? - um deles perguntou.

- Sim. - respondi, eu me lembro que ela tinha isso quando éramos mais novas, agora depois de tanto tempo eu já não sabia, mas respondi mesmo assim.

- Primeiro filho?

- Sim.

- Quantos meses? - perguntou, eu olhei para ela.

- Sete. - ela respondeu.

- Aí estão as causas.

- Causas de que? - perguntei.

- Causa do Descolamento prematuro da Placenta. - ele respondeu. Ótimo, isso era grave, eu sabia.

- O bebê ainda deve estar vivo. Deve ser praticada a cirurgia de cesárea imediatamente. - uma médica disse aos outros. Eles acenaram.

- Leve na para a sala de cirurgias. - disseram para uma enfermeira que havia surgido do nada. E eles sumiram, indo para outro corredor.

- Você é o que dela? - a enfermeira perguntou.

- Eu? - gaguejei.

- Ela é irmã. - o bombeiro que ainda nos acompanhava respondeu e sorriu para mim. - Lembre-se do que eu disse. Vá com ela para acalmá-la. - eu só acenei. Ele ficou no meio do corredor e eu fui com elas até a sala de cirurgia. Eu comecei a ficar apavorada. A enfermeira me levou á uma antessala e disse para um rapaz, outro enfermeiro que estava lá, para me esterilizar e me vestir. Ele passou um líquido transparentes em minhas mãos e braços. Colocou uma touca e um jaleco verde em mim.

- Pronto. Pode ir. - eu voltei para a sala branca e fria. Onde só ouvi o som da máquina que media os batimentos cardíacos dela e sua respiração ofegante. Lá já estavam os três médicos que nos atenderam, todos preparados, com toucas, luvas e bisturis. A enfermeira me puxou para o lado.

- Olhe, e como é o único familiar presente, você vai precisar realizar uma tarefa. Tente acalmá-la, pois precisamos mantê-la acordada, pois sua vida e a do bebê está em risco. É simples, ok? - ela apertou minha mão. Eu acenei, minha boca estava seca demais. Simples? Se eu estava apavorada, como eu iria fazer isso? Mas me toquei, como será que 'ela' se sentia? Então, simplesmente esqueci do que eu sentia e resolvi pensar nela e no bebê. Aplicaram a anestesia local nela e esperaram por segundos o efeito aparecer.

Começaram a cesariana, ela começou a apertar minha mão com força. Eu coloquei minha outra mão por cima, a acariciando. Eu podia ver tudo o que estava acontecendo e ela não. O bisturi cortou sua barriga, deixando escorrer sangue, eu não tinha nojo de sangue e foi um pouco sossegado até a hora de abrirem seu útero. Foi horrendo.

- Eu estou vendo o bebê! - o médico disse para nós. Os lábios dela continuavam azulados e ela tremia, mas eu podia ver seu esforço para tentar manter a calma também. Acariciei seus cabelos. Não sei onde meu pequeno ódio por ela foi parar, mas isso não importava agora. Ela olhou para mim.

- Você consegue vê-lo? - ela resmungou. Era difícil de falar. Eu acenei e ela começou a chorar. Nesse momento, o bebê que acabara de sair de dentro dela também chorou, gritou, na verdade, anunciando mais uma vida naquele quarto. Eu sorri para ela, que fez o mesmo para mim. A enfermeira também sorriu.

- Ele está ótimo querida. - ela disse enquanto limpava e cuidava daquele bebê pequeno e cheio de sangue.

- Eu quero vê-lo. - ela disse para a enfermeira.

- Espere um pouco. - ela disse. Os médicos estavam concluindo a cirurgia, dando os pontos.

Finalmente a enfermeira trouxe o bebê que continuava a chorar.

- Ele consegue respirar sozinho. Mas precisará ficar na encubadora, pois ele tem somente 7 meses e alguns anticorpos não estão prontos. - ela o colocou em seus braços, foi difícil pois eles estavam com agulhas que levavam soro até suas veias. Ela o observou respirando, muito aliviada. Eu também me sentia assim. Eu me segurei para não chorar. O bebê era lindo.

- Como é o nome dele? - perguntei. O bebê era muito pequeno. Seu rosto e suas mãozinhas eram delicadas demais.

- Dereck.

- Nome lindo. - a enfermeira disse. Era bonito mesmo. Ela o pegou novamente. - Preciso levá-lo agora para a unidade de tratamento intensivo neonatal. Mas não se preocupem. Ele é forte e nos provou isso. - ela disse sorrindo e saiu da sala. Amber me encarou.

- Obrigada por estar aqui. - e sorriu. Um nó em minha garganta se formou. Eu sei o quão difícil era aquilo. Se eu tivesse no lugar dela, eu queria que minha mãe estivesse ali comigo me apoiando.

- Sinto muito por sua mãe não estar aqui. - falei. Ela apertou o lábios, com certeza segurando um choro. Eu acariciei seu cabelos que grudavam na testa por causa do suor. Os médicos a levaram para outra sala, pós-cirúrgica e iriam dar remédios, ela precisava descansar. Eu fui para a sala de espera do hospital e liguei para minha mãe. O telefone apenas chamou uma vez.

- Eu sei, o bombeiro nos disse tudo. Estamos indo para aí.

- Tudo bem. O bebê já nasceu, ele é forte mas está na encubadora, e a Amber está descansando.

- Você foi com ela?

- Fui. - resmunguei. Minha mãe começou a chorar no telefone. Que porcaria, mulheres grávidas são sentimentais demais.

- Como foi? É lindo não é?

- Não mãe, sangue para todos os lados não é lindo, mas foi legal...

- Minha filha, é lindo sim... Eu lembrei do seu nascimento... Era a mãe da Amber que estava comigo... - ela disse. Como assim? Então quer dizer que nem meu pai estava comigo e com ela aquela hora?

- E o meu pai? Onde estava? - perguntei. Não era para eu ter dito aquilo. Minha mãe parou de chorar por alguns instantes.

- Eu não sei! - e então ela caiu num choro mais intenso. Lágrimas saíram dos meus olhos sem permissão. Me sentei no chão.

- Eu te espero aqui mãe... - eu disse e desliguei o telefone. Me acalmei um pouco, mas lágrimas caíam. Eu precisava urgentemente falar com a Amber.

 

 


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