Joyeux Noël escrita por kuriyamanyah


Capítulo 7
Capítulo VI




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Extremo Sul, Eixo Norte - Planeta Y

14 dias para a véspera de Natal

 

Depois do banho com ramos e declarações de ódio, Grinch havia tentando ir dormir para acompanhar os horários de Jean. Não viu mais o humano sair do quarto, ficou com uma leve preocupação dele ter sido envenenado, mas as aranhas não possuem veneno dentro do espinhaço. Estava deitado no colchão, alternava o olhar entre o teto e o alarme. Batucava os dedos no colchão e assobiava. Suspirou e desistiu de dormir, levantou e decidiu ir atrás de Jean. 

Chegou na porta da cabine, se preparou para bater, mas parou com a mão no ar. Pensou que não devia bater porque não sabia o número dele, depois notou que isso tanto fazia na cultura dos seres humanos. Encostou a cabeça na porta, desistindo do que quer que fosse fazer. Deu as costas para o quarto de Jean, foi até a sala e ficou analisando o mural do caso por vários minutos. Pediu para Audrey um rolo de lã verde e traçou o que ele considerava os pontos chave, também pediu um caderno de desenho e pegou seu lápis da sorte que carregava no bolso. Escreveu sem ver o tempo passar, traçou perfis psicológicos tanto das vítimas quanto dos responsáveis pelo caso. 

Perguntou a Audrey se era possível ele ter seu próprio painel, depois dela confirmar que sim um painel branco, e um pouco menor que o de Jean, apareceu ao lado do mural do caso. Escreveu todo o mapa mental que tinha elaborado em sua cabeça, precisava clarear suas ideias. Depois de quatro horas, deu um descanso a si mesmo e fez uma pausa para o lanche. Enquanto comia, ligou a TV Interplanetária e colocou em Coroas e Outras Coisas, assistindo o novo episódio e sendo surpreendido por Jean que passou na frente da TV e se jogou no sofá. 

— Obrigado por hoje mais cedo. — Grinch percebeu o tom de cansaço que saía da boca de Jean — Posso experimentar? Gosto de apreciar diferentes culinárias. — Grinch colocou o prato no colo de Jean — Acho que é coisa de família, minha mãe era chefe de um restaurante.

— Você está bem, terráqueo? Eu sei que aranhas podem ser traumatizantes, mas você parecia, não sei, abalado quando subiu. — Jean ficou quieto, desviando o olhar para a TV sem prestar realmente atenção no programa. — Não gosto de ser ignorado, caçador. — Grinch torceu a orelha do francês, sorrindo levemente ao vê-lo exclamar de dor.

— Aí, aí, para com isso — empurrou a mão do recepcionista — Eu estou bem, ótimo! Apenas não dormi direito. — Dessa vez Grinch que ficou em silêncio, analisava o corpo de Jean em busca de algum sinal e achou vários que indicavam ansiedade, raiva e confusão.

— Mentira. Vocês sempre esquecem de mentir com o corpo quando mentem com a cabeça? — Jean o olhou confuso e desviou os olhos novamente, se sentindo intimidado. Quando fitava os olhos semicerrados sentia que o malasiano estava descobrindo até os mais profundos pensamentos que ele teve, inclusive aqueles que ele não lembrava de ter pensado. 

— Eu não sei do que você está falando, eu não estou mentindo. 

— E meu pinheiro é azul — revirou os olhos — Você pode me contar o que precisa tirar da sua garganta, você vai ter problemas no estômago se guardar tudo para si. Ou não, quem sabe? Não estudei a anatomia humana nem a psicologia de vocês.

— Não é muito diferente da anatomia malasiana, salva pequenas diferenças — informou Audrey, Jean olhou irritado para o volante.

— É terapeuta agora? 

— Não sei o que é isso, humano. Sei ler corpos, é diferente.

— Não muito. 

— Não desvalorize minha profissão. — Jean virou o rosto para ele, incrédulo.

— Ser terapeuta não é ruim, ajuda as pessoas.

— Então, deixa eu ajudar você — Jean engoliu seco e olhou para a boca larga do recepcionista, percebendo o subtom esverdeado da pele dele — Eu sei esconder muito bem as coisas, nenhum caçador percebeu que eu entreguei os registros errado de propósito — riu divertido — Ou que eu criei aquele holograma para me substituir quando meus superiores não me davam a folga que eu merecia. E depois que você achar o Nöel, se achar… você vai poder pegar sua nave e sair daqui dando saltos espaciais entre as galáxias. 

— Não, o sistema de saltos da Audrey…

— Está prejudicado desde a última viagem, conserte-o. — Jean revirou os olhos e Grinch riu.

— Eu não quero conversar sobre isso.

— Então, me diga quando você nasceu ou vá consertar Audrey.

— Também não quero fazer isso. — Voltou a olhar a televisão, apoiou um dos pés na mesa de centro e viu pelo canto do olho o malasiano colocar o prato na mesa e se aproximar mais dele. 

— Eu tentei ser gentil com você, humano. — Jean riu pelo nariz, murmurando um “você chama isso de gentileza?” — Mas você está me irritando. Tenho ótimos motivos e poucos contras, lembra? E também não perguntei o que você quer, conta logo ou eu uso meus dotes investigativos em você, idiota.

— Pode tentar… — recebeu um tapa na cabeça — Tá bom, tá bom, ma chéri, sou um livro aberto para você agora. — Grinch sorriu vitorioso — Eu tive um pesadelo, tenho vários na verdade. Bebo muito para conseguir dormir, mas Audrey escondeu minhas bebidas sem eu mandar dessa vez. E a última vez que eu fumei dentro da nave, a filha da puta ativou os alarmes de incêndio e inundou tudo. — Grinch riu — Desde que eu fui abduzido, não consigo dormir direito. 

— Não está me contando tudo e nem os detalhes, não vai descarregar nada com histórias pela metade.

— Claro, claro, o terapeuta é você. — Grinch lhe deu um leve tapa — Quando eu tinha uns 10 anos, alguns filhos da mãe me sequestraram, pode se dizer assim, para fazer experiências ou sei lá o que. Eu não lembro direito, toda vez que eu tento lembrar eu fico com dor de cabeça por semanas. Tudo que eu lembro deles é a luz verde... os flashes estranhos — soluçou, tirou a bebida que estava escondendo na suéter azul que não deixava Grinch usar — e os quatro dedos. Eu não sei o que fizeram comigo, tá! Eu só… lembro do dia que o chefe chegou para fazer um trabalho, ele nunca me contou o trabalho porque era a maior vergonha dele. Ele disse que me encontrou fraco e encolhido, achou que eu estava morto e que eu devia ter um enterro digno como qualquer outra alma infantil… — escondeu o rosto nas mãos — Mas quando ele me pegou no colo, ele disse que eu me mexi e comecei a chorar, ele tentou se livrar de mim naquela hora porque achou que estava roubando o filho de alguém, mas aí H.E.Y traduziu minhas palavras para ele e seja lá o que eu tenha dito, foi o suficiente para ele me acolher e me tornar um caçador. Depois… depois de uma semana, eu acho, H.E.Y recomendou para o chefe chamar algum curandeiro do planeta XV9, são os melhores, sabe? Ele disse… disse que eu tinha perda parcial de memória, causado pelo trauma — fungou e segurou o choro.

Grinch percebendo a angústia que Jean estava guardando dentro de si, o abraçou e o obrigou a deitar com a cabeça apoiada em seu colo. Deu um leve aperto no ombro do francês, depois acariciou os cabelos ondulados e o incentivou a continuar. 

— O curandeiro disse que talvez eu me lembrasse do que aconteceu aos poucos, eu poderia ativar minhas memórias se fizesse coisas específicas, mas nunca veio nada muito claro.. Tudo que eu queria naquela época era ir para casa, sabe? Sabe qual a grande ironia? — Grinch negou — É que no meu planeta também comemoramos o Natal. Não sei que significado o feriado tem para você, mas no meu país nós fazemos a ceia e convidamos as pessoas com quem brigamos para entrar em um novo ano sem desafetos. Naquela época, eu pensava que quando chegasse o Natal eu poderia voltar para casa e fazer a ceia, que eu poderia perdoar os alienígenas e seguir em frente... Mas toda vez que chega perto da data, os pesadelos voltam. Tudo volta! Menos minha memória. Eu não me importo de não me lembrar do que aconteceu comigo naqueles dois anos, eu lembro de alguns experimentos, mas nada muito relevante. 

— Então, por que dói tanto em você não lembrar?

— Porque eu não consigo lembrar da onde eu vim — não conseguiu mais segurar o choro, soluçou e se encolheu como a criança que um dia foi. — Eu sei que nasci na França, eu sei como falar francês e na nave comandante o chefe disse que eu podia aprender a história de meu mundo se eu quisesse, principalmente do meu país. Talvez isso fizesse com que eu descobrisse alguma coisa. 

— Por que não investigou a si mesmo? Ou pediu ao seu chefe que o fizesse.

— Não podemos fazer trabalhos na Terra e nem investigar lá. Eles ainda acham que não há vida em outros planetas e não descobriram a tecnologia que nós usamos para viajar sem ser danificado pelo espaço. Estão só no pontapé inicial, bebês de fralda ainda… — bebeu mais um gole de vinho — Existem outros caçadores da Terra, mas eles saíram escondidos e o chefe ajudou a distorcer as notícias sobre naves extraterrestres. O chefe disse que ficou mais difícil investigar sozinho na Terra, sempre que tentava atraía a atenção dos desertores.

— Nunca tentou, ao menos, voltar escondido? 

— Eu voltei, tive uma recaída com Adam — riu pelo nariz — no ano retrasado, encontrei ele no bar da Circe e ele deu a entender que tinha desertado dos desertores. Mas o idiota só queria roubar meu caso e ganhar a recompensa, fiz meu melhor para superar e peguei a prima dele. — Grinch riu — E também conheci outro ser, era de outro planeta, não faço a menor ideia de como se pronuncia aquilo. Era outro idiota que queria minha recompensa. Quando eu voltei, peguei dinheiro emprestado com a prima dele para viajar para França. Fui para Paris, revirei a cidade inteira e fui para duas regiões vizinhas. Nada naquelas cidades fez minha memória voltar, não me senti em casa e senti algo errado. A única coisa que me fez lembrar de casa foi alguns vinhos, comprei e roubei vários. Montei uma adega e me joguei ao mar. Foi difícil sem Audrey, mas consegui ir para o meio do oceano e longe dos continentes para ela me buscar — levantou a garrafa, saudando Audrey. — Desisti, ainda não lembro do rosto da minha mãe ou da cidade que eu vim. Lembro do meu pai e da minha tia, por algum motivo sempre sonho com eles. Mas lembro de alguma briga e do meu pai ir embora no Natal, eu não entendia isso quando tinha doze anos, mas agora entendo… eles tinham se separado naquela noite. 

— Se sente melhor agora, humano? — Grinch perguntou quando Jean parou de soluçar, ele tinha virado e agora estava de barriga para cima e falava sem parar, não que ele se importasse. Tinha notado como Jean precisava disso, de alguém para contar tudo sem ser traído ou xingado, o chefe não parecia alguém fácil de lidar.  

— Sim, um pouco — fechou os olhos.

— É disso que tem tanta raiva? 

— Não. Não sei… é frustrante ter uma lacuna nas minhas memórias. Tenho raiva do chefe, ele se julga melhor que os outros e parece descontar tudo em mim, mas também sinto que isso não é verdade. Ele ama todos os filhos e sua tripulação, ele me ameaça dizendo que vai me devolver para os sequestradores, mas eu sei que nunca faria isso. Não sei explicar, só… 

— Você complicado tudo, humano. Fico surpreso como vocês adoram isso. Está em negação, não quer aceitar que o chefe é o pai que você nunca teve, não quer admitir que ele te treinava para assumir o lugar dele. Não quer aceitar que ele te deu um puta trabalho não para te fuder, mas porque confia em você e quer te dar algo que lembre você a sua casa. — Deitou a cabeça no encosto do sofá e olhou para o teto — Isso tudo significa que você tem um puta número da sorte. 

— Nem vem, eu não vou dizer que dia eu nasci. — Grinch riu e olhou para Jean, fitando os olhos fechados e vendo as chances de sucesso e as oportunidades de ter novas aventuras.

— Mas eu vou descobrir, você vai ver. 

— Não tem meu nascimento na carteira dos caçadores.

— Ah, porra. — Jean riu e soluçou pela embriaguez — Vou ter que refazer meus planos. 

— Obrigado, Grinch, de verdade — abriu os olhos e engoliu seco por ver os olhos cinzas o encarando, desvendando sua alma como ninguém se importou muito em fazer. 

— Eu sei que sou ótimo no meu trabalho — deitou de novo no encosto do sofá — E pelo o que pude ver, você tá’ de parabéns.

— Por que?

— Um safado de primeira, querendo fugir dos seus problemas na pegação — gargalhou com as bochechas vermelhas de Jean — Vergonha, vergonhoso. Usando as pessoas assim… 

— Ei! Eu sempre fui sincero com as pessoas que eu transei.

— E as que beijou, humano?

— Não, são apenas beijos. — Grinch o olhou indignado, depois sorriu maldoso com a ideia que teve em sua mente. 

— Beijos também causam grande impacto na mente, humano. Eu posso citar exemplos que me mostraram no curso. — Fez Jean levantar, o mesmo se virou para ele em seguida e Grinch segurou seu rosto. — Ou usar o exemplo em você, tenho que entregar um objeto de estudo para minha pós — riu quando viu Jean engolir seco — Eu eu sei que intimido você, afinal você é muito baixinho — Jean bufou — Logo, o impacto será grande e interessante de assistir.

— Vai me beijar para seu estudo, é isso? — soluçou — Você é maligno.

— Você que é o humano aqui. 

E o beijou, colocando uma mão na nuca de Jean e o fazendo levantar a cabeça. Esperou ser recusado pela negação de Jean em admitir que ele era irresistível, que era por isso que o francês o considerava intimidante. Sentiu as mãos de Jean em sua cintura, como também sentiu no beijo o sentimento de urgência. Sabia que a urgência era esquecer o motivo pelo qual entornou uma garrafa de vinho, tinha consciência de que, talvez, seria usado por Jean, sem o mesmo perceber, para esquecer tudo, nem que fosse por instantes. Viu isso quando o observou encarar sua boca, quando o francês relaxou em seu colo e quando sentiu o doce desconforto dele em ficar perto demais de si. Ele o usava como estava sendo usado, seria um momento daqueles que acontecia só na embriaguez, por isso rompeu o beijo. 

— Eu quase sempre estou certo, humano. Agora você devia descansar, temos um velho para caçar. 

— Eu estou descansado — sorriu — Você devia experimentar o vinho, eu escondi outro no suéter — riu baixinho, parecendo um chiado. 

— Eu já me embriaguei demais.

— Você só comeu uns bolinhos? — Grinch riu e deitou no braço do sofá.

— E o que você acha que tem nos bolinhos? Erva rosa, meu amigo. — Não percebeu quando chamou Jean de amigo, mas ele sim. — Minhas melhores ideias aparecem quando estou, como dizem? Chapado. São as bênçãos do Engano — apontou para os dois murais — Você não sabe o que é real e o que é falso, então tudo se torna possível. 

Deu um último selinho em Jean, o mandando dormir logo em seguida. Estalou os dedos, um pequeno ritual que fazia quando estava prestes a ter uma epifania. O velhote parecia que nunca tinha existido, o pedido dizia que a esposa havia dito que eles não tinham mais tempo, Nikolaj enlouqueceu e vinte e três Distritos foram acionados… Símbolos de azar, trenó quebrado e cartas queimadas, as informações apareciam em sua cabeça como pisca-pisca, aparecendo uma seguida da outra rapidamente como curtos blackouts. Grinch bateu palmas, esfregou as mãos e deu seu melhor sorriso diabólico.  Todos os relatórios do mural e os que revisou no trabalho apareciam como os créditos de Coroas e Outras Coisas, era uma verdadeira epifania. 

— Você está, definitivamente, me assustando — comentou Jean que olhava Grinch parado e dando o mais sinistro sorriso que tinha visto na vida. Cambaleou até a cadeira que estava na frente do mural e de outro mural que Jean não reconhecia. 

— Vamos adiantar o Natal, para minha felicidade. Eu mesmo vou fazer o trabalho de Klaus, seja lá o que for e depois vou ser capturado!

— Mas o quê?!

— Prepare suas malas, humano! Vamos para o planeta X, caçar esse filho da puta e arruinar o Natal! Ah, droga, a brisa bateu muito forte — sentou no chão — Preciso conspirar contra o governo, urgentemente.

 


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Notas finais do capítulo

Ola, como estive sem tempo para postar td com capa e as traduções bonitinho, ent como acho q ninguém vai ler na hr q eu edtou postando agr depois irei editar td com mais calma.

Desculpem ♡ :/

Espero q tenham gostado ♡



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