A cápsula do tempo de Freddie Benson escrita por Pear Phone


Capítulo 1
Prazer, um novo Benson


Notas iniciais do capítulo

Então, galera, era pra ser tudo bem recreativo quando eu tive a ideia de escrever essa one ano passado. Aí agora esse hype de iCarly de novo... Espero que eu consiga agradar vocês...
Pra quem lembra de mim das outras fics: Meu Deus, eu era bem jovem, meu estilo de escrita mudou consideravelmente, mas obrigada pelo apoio e fico feliz de ter marcado alguém de alguma forma.

Obrigada por estar aqui, lendo meu trabalho!

E vamos de sofrer bastante pelo nosso shipzinho que merecia muito ser canon...



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Hoje é primeiro de julho de 2018. Faz 5 anos e alguns meses que o webshow iCarly acabou, mas ainda penso sobre essa repentina mudança na minha história — de câmera-man e celebridade-mirim-high-tech da internet a um recém-profissional maduro e sério — mesmo atrasado para um compromisso importante de trabalho.

Meus ex-fãs são os culpados. É no mínimo surreal para meia década: cartas, envelopes, bilhetes, cartões... no século XXI! Isso a terceira Revolução Industrial não previu, hein? Criei o hábito de só checar as redes sociais de três em três semanas desde o memorável iGoodbye pelo óbvio: meu e-mail, a direct do Instagram, o chat do SplashFace e até as DMs do Twitter ficam lotados de perguntas que não tenho coragem de responder. Sei que, enquanto fico comovido, o ingênuo Fredward que fantasiava filmar quadros totalmente sem sentido (ao som de DANÇA MALUCA) eternamente com suas melhores amigas está olhando para essa insistência de seu antigo público de pré-adolescentes descontroladas, como a Mandy, e de nerds hackers extremamente invejosos, como o Nevel, e gargalhando... De qualquer forma, esses esquisitões me ensinaram coisas, não posso negar; a cada dia que passa, cavo mais fundo nessa cova. Um dia, cavarei tão fundo que poderei enterrar tudo de vez, fechar essa cápsula de memórias e nunca mais voltar a abri-la... talvez porque um dos grandes ensinamentos desses últimos anos tenha sido aceitar os ciclos da vida se fechando, dando espaço a novas oportunidades.

Ou talvez eu seja zoado pelos meus colegas de trabalho.

Guardo meus óculos escuros de lentes levemente espelhadas e de grau baixo no porta-luvas após limpá-los (sim, minha visão é quase perfeita e eu não precisaria necessariamente usar um de grau... acontece que, mesmo depois que parei de morar com minha mãe, continuo acostumado a profilaxias exageradas): faço isso porque cheguei a meu destino. Visto meu smoking, porém arregaço um pouco as mangas antes de desligar o carro — um Honda Civic que comprei no verão passado — porque percebo que estou esquecendo algo crucial: a minha identidade falsa, brilhando abaixo do banco do carona.

Freddie Benson? Eu quase não reconheço esse nome, já que venho usando o codinome Lincoln B. desde que fugi de Seattle numa missão secreta de teor inexplicável.

Sim, é o que você pensou...

Trabalho para a NASA, desenvolvendo pesquisas sobre a tão comentada Área 51. Não só posso confirmar que ela é real, como já estive em contato com aliens que alegam fazer parte de uma sociedade secreta a todo vapor aqui na Terra. Fui ordenado a aperfeiçoar o protótipo apelidado de Novo-Planeta, que planeja uma chacina para que a humanidade seja substituída aos poucos por essa nova organização mundial, na qual só indivíduos intelectualmente desenvolvidos podem residir.

— Anda logo, porra! — ouço uma buzina descontrolada atrás de mim no estacionamento, vinda do carro de um velhinho ranzinza.

— Desculpe, senhor, não vou retirar o carro da vaga. Acabei de chegar — respondo antes de ouvir mais resmungos impacientes.

Sobre a Área 51, é claro que estou mentindo. Continuo Fredward Karl Benson, porém agora com 23 anos, aspirante a diretor de cinema e também roteirista, então um considerável elaborador de enredos fictícios. Mas juro que todo o resto, tirando ser cientista na NASA, é verdade (passei bastante tempo juntando dinheiro para comprar o Honda). Estou mesmo a trabalho, só que em Hollywood; é uma reunião inicial com a produção executiva de um novo filme de terror que não lembro o nome.

Por mais que o plot twist tenha sido engraçado, a carreira de um cineasta não é tão deplorável quanto parece...

O que me impede de verdade de sair do carro é o celular que vibra no banco traseiro, então estico o corpo para alcançá-lo. Com preguiça de desbloquear a tela e checar sobre o que era a notificação, ativo a Siri.

"3 mensagens de Devo Superar."

Explicações: pedi ao Gibby que desse uma olhada nessas incontroláveis mensagens de iCarlycos histéricos antes de viajar, mês passado, em Seattle. Resultado: o filho da puta provavelmente vai fazer essa piadinha sem graça com o contato da Carly toda vez que meter as mãos no meu celular.

Respondo "ignorar" a Siri, porque estou atrasado e não poderia conversar. Não faço ideia do que Carly iria querer agora — soube por Spencer que ela estava voltando da europa de novo, então talvez esteja ligando para pedir uma carona ou sei lá. Não poderia ajudar mesmo... Ao contrário do que Gibby pensa, sou um homem de superações.

Mas as notificações retornam, então me dou por vencido e desbloqueio a tela:

"2 mensagens de Mãe e 1 de Carls."

Paro de andar por alguns segundos. Minha mãe, como eu desconfiava, está desesperada — sem motivo algum — com o meu paradeiro, e também acertei na mosca sobre a Carly pedir para eu buscá-la no aeroporto. Então, se as primeiras três mensagens não eram da Carly...

Só podem ser de mais alguém bem específico.

E talvez Gibby estivesse certo em falar que não superei, porque, no momento em que percebo isso, antes mesmo de abrir as mensagens, leio "chamada de número restrito", tusso algumas rápidas vezes e atendo a ligação sem hesitar.

— Freddie, é você? Por que não atende, caralho? — E não me restam dúvidas.

— Sou — tento disfarçar meu nervosismo por estar finalmente ouvindo a voz de Sam depois de dois anos. — Posso saber o que houve? Anda, tô atrasado.

Nesse instante, entendo os iCarlycos. Eu também quero que o passado volte, quero que minhas colegas de trabalho sejam simplesmente Carly e Sam e não toda essa gente da produção executiva. Eles estão certos, não quero de verdade enterrar aquela cápsula. Ou melhor, nunca iria querer essa voz na minha cápsula, mesmo depois de mais de seiscentos dias sem ouvi-la.

Afinal, eu estou na California de novo. Provavelmente bem mais perto dela.

— Eu acabo de ser presa, Freddie, mas Jade conseguiu um advogado pra mim e ele me deu direito a uma ligação — com o cenho franzido, sinto meu coração bater acelerado. Era de se esperar algo no mínimo ilícito, já que Sam está sempre engordando sua ficha criminal. — Eu sou inocente, Freddie!

Sam descreve o endereço da delegacia onde está temporariamente detida, deixando claro que, caso eu não apareça logo, ela será transferida a outra penitenciária, então eu preciso ser rápido.

— Fica calma, tá? Eu tô em Los Angeles, então vou... — consigo responder antes de um abrupto bip e, sim, você leu certo.

Eu estou largando meu suado e dedicado emprego de cineasta num filme renomado para ajudar a minha ex, que é (e sempre foi) criminosa. E nem sequer sei no que exatamente vou ser útil indo até essa delegacia; pergunto-me por que ela não chamaria Cat no meu lugar.

Peço a Siri para enviar uma mensagem a meus colegas de trabalho dizendo que infelizmente faltarei a reunião de hoje por problemas de saúde... rinite atacada pela mudança de tempo Seattle-Califórnia. Rezo para que Jeffords não deixe isso chegar em Marissa Benson.

Não posso perder tempo, então entro no carro novamente e arrumo o GPS. A rota que aparece aparenta demorar no mínimo meia hora com o trânsito noturno, então decido escutar umas músicas até lá. Coincidentemente, a música tocando na rádio local é Meant For Me - Chrissy Chase; lembro de mais de 5 anos atrás, quando Carly estava nos meus braços no Groovy Smoothie; balanço a cabeça. Isso fica na cápsula.

[...]

Assim que percorro a fachada da delegacia, minhas mãos suam frio no volante quando reconheço uma silhueta loira na calçada. Pelo retrovisor, estudo os detalhes: jaqueta de couro jogada num dos ombros, blusa xadrez com as mangas arregaçadas, cachos dourados alvoroçados pelo vento, uma Triumph Tiger 1200 estacionada relativamente próxima. Sam não está presa. Um suspiro aliviado percorre meu corpo por isso, mas fico puto pela brincadeira de mau gosto.

Presa ou não, quero perguntar como ela está. Quero perguntar no que está trabalhando. Quero perguntar por que a cor de sua moto é vermelha. Quero perguntar se ela ainda assiste UFC todo fim de semana. Quero perguntar se ela também tem o Inbox lotado de mensagens de iCarlycos loucos, porque talvez isso leve a outro assunto que deveria estar enterrado, mas não está: nós dois. Não acredito que ainda sou apaixonado o suficiente por esse demônio loiro para esquecer a característica mais marcante entre nós dois: jogar. Meu coração estava pronto para selecionar o RESET.

Estaciono o carro na última vaga que sobrou para mim. Abro a porta, respiro fundo e caminho em direção à silhueta, percebendo ao observar seu perfil que continua esperando um Freddie Benson diferente aparecer na avenida. Dou-me conta de que eu agora tenho um Honda Civic preto bem suspeito, um topete menor, sou mais alto e também uso smokings chamativos.

Passa pela minha cabeça que Sam vá achar que sou infiltrado da Máfia, e não seu ex-namorado nerd...

— Puckett! — chamo seu nome a passos largos, surpreendendo-a pelo ângulo, já que estou fitando seu perfil. — Não faça isso de novo! Pensei que você...

— Caralho, Fredwiche! Que susto, seu idiota! — ela esbraveja enquanto ameaça me estapear e eu recuo, de cenho ainda franzido por ser enganado. — Estamos quites por esse susto, e você...

Finalmente o contato olho-no-olho. Seus olhos azuis estão inegavelmente mais brilhantes do que na última vez em que os vi — e juro que não é por causa do poste de luz bem à nossa frente —, então permito a mim mesmo revelar um sorriso. Ela também sorri, completando a frase:

— Tá... diferente... Você tá bem diferente, Freddie — ela me olha de cima a baixo e posso confessar que isso tem efeitos sobre mim. Eu broxo de leve quando a ouço rir estridente. — No que você trabalha? Infiltrado da máfia?

Ela para de rir quando nosso contato olho-no-olho volta a ser intenso. Ainda somos tão diferentes e tão iguais.

— Se eu fosse um infiltrado, acha que eu te contaria? Continuo seguindo regras, Sam.

— E eu continuo quebrando regras — dispara. — Mas, pra alguém tão certinho assim, faltar no trabalho não seria um pecado, senhor Benson?

Seu sorriso adquire um tom de malícia e me deixa sem palavras por alguns segundos. Lembro que estou puto com ela.

— Você me enganou e eu caí feito um otário de novo... — Ela desvia o olhar e mantém um semblante bem apreensivo dessa vez. — Não acha que mereço explicações?

Cruzo os braços, arqueando uma das sobrancelhas.

— Tá bom, tá bom... Li mês passado, no SplashFace, que você iria vir pra cá a trabalho, pra tentar gravar esse tal filme... — Começo a pensar em como algo que eu não postei poderia parar no SplashFace, mas então Gibby, meu "acessor", vem à memória. Vejo Sam mudar a feição para um tom cinco vezes mais sério e tomar fôlego rumo a um diálogo maior e mais acelerado: — Primeiro, Freddie, falando sério, eu pensei em ignorar. Eu nem sei por que eu tava usando SplashFace em 2018. Eu nem sei por que eu bolei um plano pra te chamar aqui, um plano que não me custou mais do que 5 minutos, aliás, porque sei que você continua sendo bem fácil de enganar, e mesmo sendo pesado eu lembrei que a Cat também fingiu que eu tava quase morrendo da última vez que você veio e que essa é a única forma de te tirar do trabalho, por isso... — Uma senhora desce os degraus da entrada da murmurando "maldito Donald Trump", interrompendo o diálogo e deixando Sam ligeiramente furiosa, fitando a velhinha com os olhos semicerrados de raiva.

— Nem pensar, Sam... Se controla, ou vai parar aí dentro e ter o que pediu — sussurro, debochado.

— Já estive aí dentro muitas vezes, obrigada — ela retruca antes de começar a andar em círculos, tentando lembrar o que estava dizendo. — Eu... Porra, Freddie...

— Fala — digo, numa entonação parecida com a dela no nosso primeiro beijo.

E então, eu entendo. Ela não conseguia dizer porque não precisava dizer. Somos adultos agora, com mundos desmoronando nas nossas costas, contas a pagar, e temos pouco tempo... Mesmo jovens, mesmo que seja tudo muito indeterminado, mesmo que até chegarmos à idade da velhinha que acabou de sair haja outras mil cápsulas... Eu sei que vou me arrepender se não beijá-la nesse exato momento. Então, assim faço.

Ela corresponde o beijo, escalando as mangas do meu smoking com os dedos, levemente, até entrelaçar as mãos atrás do meu pescoço. Eu aperto sua cintura contra mim, e parecemos adolescentes apaixonados de novo. Ouvimos a velha, agora na esquina, virar-se para nós gritando MALDITO DONALD TRUMP ainda mais alto. Sam para o beijo para mandá-la um dedo feio.

— Freddie... preciso... te contar uma coisa... de verdade... Calma — ela diz entre selinhos, quando já estamos dentro do meu carro e minha gravata já está jogada no porta-malas com sua jaqueta. Eu paro, meio confuso, até um pouco constrangido por talvez ter interpretado os sinais errado. — Relaxa, eu tava gostando, é só que...

— O que foi, Sam? — pergunto, nitidamente preocupado.

Como um cineasta, as cenas realmente estiveram seguindo o roteiro até aqui. Alguma coisa fora do script precisa acontecer em 5, 4, 3, 2 e...

— Ah, é que eu... — Ela finalmente recupera o fôlego que juntava e despeja de uma vez: — Euestoudecasamentomarcado.

Nesse momento, o "sério?" sai da minha boca na mesma incredulidade de mais cedo. Sinto o arrependimento transbordar minhas veias. Enumero as razões pelas quais sempre encontrei tanta ingenuidade nos fãs me perguntando se, um dia, tentaríamos de novo... Repasso a mim mesmo as tantas condições que eu, Carly e ela teríamos que enfrentar para simplesmente filmar o iCarly de novo, e o quão decrescente isso seria na minha carreira.

Cápsula do tempo, é realmente necessário te abrir e jogar toda essa época de Seattle, da Ridgeway, do iCarly... e selar. Gibby é o mais certo de todos. Sam não é mais a mesma Sam do nosso primeiro beijo. Nem eu sou o mesmo Freddie, mesmo que não tenha um codinome e trabalhe na Área 51. Saí pensando que poderia resetar esse jogo, mas talvez eu já tenha o zerado desde o iGoodbye. Ou quando a Cat me ligou e me enganou tão facilmente, fazendo com que eu viesse em L.A.

Olho para Sam e percebo que meus pensamentos não foram tão rápidos dessa vez. Faz pelo menos 3 minutos que estamos em completo silêncio, sentados nos bancos do carro, um ao lado do outro.

— Freddie... Eu sinto muito, juro — ela responde, olhando através da janela, e não dos meus olhos. — Eu não queria que acabasse assim, mas não aceitaria que a gente não se despedisse... eu acho.

Coloco uma mão num dos ombros dela, por cima da blusa.

— Tudo bem, Sam, de coração, quero que você seja fe-

E aqui, sim, chegamos à falha no script que eu realmente esperava:

— FREDDIE, PELO SANTO CARALHO! É CLARO QUE É MENTIRA! Eu não acredito que tô apaixonada por um burro de smoking — Sam me puxa para mais um beijo.

[...]

— Que filme de terror é o caralho, Freddie, 'bora filmar o que a criançada tá pedindo!

Preparo-me para tentar explicar à minha namorada (de novo) que é uma vida inteira de cineasta em jogo por um webshow, mas então sou interrompido por vozes em todo canto do apartamento 8C:

— Concordo — afirma Carly, autoritária. — Não voltei da Itália pra nada.

— Concordo — chega Spencer, também certo.

— Dattebayo — afirma Gibby, que recentemente tinha tornado-se um fã de Naruto.

— Touché, mon amour — Sam me olha com um sorriso malicioso. — Não há voltas. O diretor de Hollywood também tem suas folgas e filma especiais de iCarly às vezes. — Eu assinto, vencido. Olho para Gibby com os olhos semicerrados antes dele dizer "dattebayo" de novo. — Ou você acha, baby, que isso não estraga minha reputação?

— Vamos todos sacrificar nossa reputação, Freddie — Carly também argumenta. — Ou você esqueceu que curso Psicologia?

— Tudo bem, tudo bem. Vocês venceram.   

Comemoramos, e depois suspiramos de cansaço prévio: seria um trabalho e tanto tirar a poeira daquele estúdio.

 

Enterro, enfim, a minha própria cápsula do tempo, sem medo de abri-la mais tarde e encontrar um passado que me deixou arrependido.

Vingo 5 anos de aceitar um "adeus" pela metade. 

 


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Notas finais do capítulo

Crítica, elogio, comentário? VEM DE REVIEEEEEEEEW. Deixa tudo aqui se possível (eu respondo, tá)! Obrigada por ler até aqui e apoiar meu trabalho.

Alguma dúvida ou sugestão mais específica sobre o meu trabalho de fanfiqueira e poetisa, chega nas MP também.

A todos os iCarlycos sobreviventes, um beijão. A gente se vê por aí ♥



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