Certamente, Mila jamais esperaria encontrar Sara sentada ao lado da porta de seu quarto após retornar do clube de arte. Principalmente porque Sara está chorando muito e isso já a deixa assustada. Ela já imagina que sua namorada está assim por causa do irmão gêmea dela e jura dar um belo soco ilha cara dele na próxima vez que o ver, mas ela precisa se focar nela primeiro, então ela destranca a porta de seu quarto e a abre.

"Entre, Sarihska." Ela diz, estendendo sua mão para ela.

Soluçando, Sara a pega e se levanta com a ajuda de Mila, que a puxa para dentro do quarto, onde elas poderão conversar tranquilamente.

Dentro do quarto, Mila coloca suas coisas no chão e abraça sua namorada, a acariciando enquanto espera ela se acalmar. E ela solta um longo suspiro, aliviada ao perceber que Sara já não chora mais. Dando um beijo na boca de Sara, Mila a senta em sua cama e vai até seu frigobar, pegando uma garrafa de água gelada e a abrindo antes de entregar para ela.

"Obrigada." Sara começa a beber dois longos goles e a devolve, soltando um suspiro. 

"Está se sentindo melhor agora?" Mila pergunta, bebendo um pouco de água também. 

"Si (Sim)." Sara responde, com um sorriso triste no rosto. "Eu estou muito cansada, Ma Chérie (Querida). E eu briguei de vez com Michele."

"Eu percebi que a situação estava complicada no intervalo." Mila comenta, e Sara afirma com a cabeça.

"Eu apenas não aguento mais ficar o tempo todo brigando com ele toda vez que um garoto se aproxima de mim." Sara exclama, mordendo o lábio. "Ele continua gritando para todo mundo sobre proteger minha inocência e eu me pergunto se existe algum garoto que ele não tenha gritado sobre mim até agora."

"Yuuri Katsuki, com certeza." Mila responde, sorrindo ao ver sua namorada rolar os olhos e dar risada.

"Isso é verdade." Sara responde, sorrindo também.

Mila se senta ao lado dela e com a sua mão esquerda, pega a mão direita dela e a aproxima de seus lábios. Com isso, ela espera Sara a olhar nos olhos antes de sugerir algo que poderia ser considerado irresponsável e pura loucura.

"Vamos fugir." Ela diz, apertando com mais força a mão de Sara quando ela congela. "Nós podemos ir para onde você quiser, só nós duas. Assim você estará livre de Michele e não irá mais se preocupar com ele."

Sara a olha em choque, claramente não esperando isso dela.

"Mas… e você?" Ela pergunta, sussurrando para ela. "E quanto aos seus sonhos?"

"Você precisa de mim, Zvezda Moya (Minha Estrela). E eu estou disposta a jogar meus sonhos fora se for necessário para ficar com você." Mila diz, abraçando Sara imediatamente, que havia começado a chorar novamente.

"Vamos. Eu quero sair daqui o mais rápido possível." Sara diz, seriamente.

"Muito bem. Vá para o seu quarto preparar uma mochila com as suas coisas. Eu vou preparar a minha e te encontro na entrada dos dormitórios." Mila sugere, a beijando novamente na boca e a observando partir de seu quarto.

Mila vai para uma gaveta e a abre, retirando um envelope branco e chegando o conteúdo dele. Dinheiro. Muito dinheiro. Dinheiro que ela vem juntando com trabalhos temporários e prêmios de concursos de arte. Ela pega uma mochila pequena do guarda-roupa e começa a colocar roupas, um par de sandálias, produtos para o corpo, dois cadernos de desenho e um estojo de lápis preto. Ela guarda o envelope no bolso da mochila, junto com o seu passaporte. 

Mila sai do quarto minutos depois, trancando a porta e guardando a chave no bolso da calça jeans. Na entrada do dormitório, ela fica a espera de Sara, que surge minutos depois.

"Está pronta?" Mila pergunta, a segurando pela mão direita.

Sara afirma com a cabeça, e no meio daquela chuva, as duas sobem em bicicletas e deixam o terreno da escola.

A chuva e as mochilas dificultam a jornada das duas, que se vêem obrigadas a parar em um pequeno hotel para passar a noite. Enquanto Sara prende as bicicletas com correntes em um poste, Mila paga por um quarto com duas camas. No banheiro, elas despem das roupas molhadas e tomam banho juntas, onde elas começam a se beijar e tocar em partes íntimas. Elas se deitam juntas em uma cama, cansadas pelo dia que está terminando em alguns minutos e finalmente dormem juntas.

…

Quando Sara acorda, ela logo percebe que está sozinha no quarto. Na cabeceira ao lado da cama, há um papel assinado por Mila dizendo que ela ia trazer café da manhã e que retorna logo. Ela vai no banheiro e toma um novo banho, relaxando completamente enquanto volta para o quarto e nota o envelope branco no bolso aberto da mochila de Mila. Franzindo a testa, ela retira o envelope e arregala os olhos ao ver a quantidade de dinheiro dentro. Naquele exato momento, Mila entra no quarto carregando duas sacolas plásticas brancas e congela ao ver Sara com o envelope em mãos.

"Que dinheiro é esse?" 

"Sarihska, eu…" Mila começa a dizer, mas é interrompida por Sara.

"Não venha com essa de Sarihska! Que dinheiro é esse, Mila?!"

"É meu." Mila diz, a olhando com surpresa.

"Você roubou, por acaso?!" Sara exclama, jogando o envelope para o alto e fazendo o dinheiro cair todo no chão.

"É meu!" Mila repete. dessa vez mais alto, e começa a chorar.

Curiosamente, Sara pega sua mochila e deixa o quarto. Mila se ajoelha e pega o dinheiro que ela batalhou para conseguir, antes de colocar sua mochila nas costas e sair do quarto. Ela vai até a recepção do hotel e pede para a moça guardar a chave para Sara. Ela pede para que a moça peça um táxi que a leve em direção do aeroporto e paga para que ela peça outro que leve a acompanhante dela para a Academia Clockstrings. E então ela vai embora.

…

Sara se arrepende de ter gritado com sua namorada, e de não ter deixado que ela se explicasse. Ela volta para o quarto, esperando ser capaz de pedir desculpas quando percebe que a porta está trancada. 

"Quê?" Ela se pergunta, indo até a recepção. "Com licença, eu estou no quarto 201 e…"

"Ah, aqui está a chave. Sua colega pediu para que eu a entregasse a você antes de ir embora. Devo pedir seu táxi agora?"

"Ela… foi embora? Táxi?" Ela pergunta, surpresa. 

"Sim. O táxi que a está levando para o aeroporto saiu faz alguns minutos." A recepcionista diz, inclinando o rosto para ela. "Ela parecia muito chateada e triste antes de ir embora. E preocupada também, a ponto de pedir um táxi para a Academia Clockstrings."

"Oh Mila…" Sara diz, tampando a boca e começando a chorar. 

"E então? O que você vai fazer?" A recepcionista pergunta, sorrindo para a adolescente.

"Eu… eu preciso me desculpar com ela. Mas eu não sei o que posso fazer para seguir em frente." Sara diz, abaixando a cabeça. "Tanto em relação Mila quanto com Michele, eu não sei como."

"Então você tem sorte, pois nós trabalhamos com motoristas de táxis de confiança e por causa disso, nós temos o contato deles." A recepcionista se afasta um pouco e pega o telefone, fazendo uma rápida ligação. "Alô, Ted? Aqui é Janine. Poderia por a passageira que você está levando para o aeroporto na linha, por favor. Eu tenho uma mensagem para ela."

…

"Para você. É do hotel." O motorista de táxi diz, estendendo o celular para Mila, que se assusta.

Será que algo aconteceu com Sara? Talvez… ela não devesse ter deixado ela sozinha.

"Alô?" Mila pergunta, colocando o telefone no ouvido.

"Mila?" Ela escuta a voz rouca de Sara e arregala os olhos. "Não me deixa sozinha, Milochka. Por favor."

Soluçando, Mila olha para o motorista, que sorri para ela.

"Parece que a senhorita se esqueceu de algo no hotel. Não se preocupe. Já estamos voltando." Ele diz, fazendo com que ela finalmente abra um sorriso.

"Eu estou voltando para você, Sarihska." Mila diz, desligando a ligação e devolvendo o celular.

…

Os minutos até o momento que Mila retorna para o hotel foram os mais longos na vida de Sara, que a abraça no exato momento que a adolescente russa de cabelos vermelhos surge na recepção do hotel. Sara pede desculpas e pede para Mila retornar para a academia com ela, e as duas embarcam novamente no táxi, com as bicicletas presas na traseira e onde Mila conta como ela conseguiu todo o dinheiro. Elas se abraçam r choram novamente até finalmente entrarem nos terrenos da Academia.

"Quanto custou?" Mila pergunta para o motorista.

"Cortesia do diretor da Academia Clockstrings." O motorista diz, entregando dinheiro para ela. "O hotel também."

"Quê?" Sara pergunta, confusa.

Mas então Mila empalidece quando vê professor Nikiforov ali, de braços cruzados e com uma cara cansada.

"Bom dia, Crispino. Babicheva. Retornem imediatamente para o dormitório, se preparem para o resto das aulas e depois, eu quero as duas comigo na sala do diretor, junto com Michele Crispino e Emil Nekola, que também tiveram a mesma idéia que vocês." Ele então solta um longo suspiro, massageando a testa. "Minha nossa."

Mila e Sara se entreolham chocadas, não esperando aquilo. Engolindo em seco, elas vão obedecer às ordens do professor.

~x~

Após a discussão sobre as punições dos quatro, Michele olha para sua irmã e respira fundo.

"Me desculpe, Sara. Eu não queria te machucar ainda mais." Ele diz, e ela o abraça também.

"Eu é que agradeço por você sempre estar pensando em mim, apesar de encher o saco." Ela diz, e ambos dão risadas. “Ah, deixe-me lhe apresentar minha namorada, Mila...