Phichit Chulanont nasceu em uma família humilde de Bangkok, na Tailândia. Filho de um sacerdote budista e uma enfermeira de um hospital público, ele aparentava ter uma vida normal. Isso até um dia, aos 15 anos, acabar se acidentando e machucando a cabeça. Depois disso, passou a ver manchas pretas cobrirem a pele das pessoas e desaparecer logo em seguida, quando elas diziam alguma mentira. Ele não entendia aquilo, mas achava que tinha um super poder como os super-heróis da televisão. 

"Querido, eu te amo." Phichit escuta sua mãe dizer isso ao seu pai e arregala os olhos quando vê as manchas surgirem na pele dela.

"Mamãe, por que está mentindo?" Ele pergunta, se aproximando dos dois.

"Do que está falando, meu filho?" Ela pergunta de volta, dando risadas forçadas.

"Você mentiu para o papai. Você não ama ele." O menino diz, a assustando.

O pai dele também congela, se engasgando com a água que estava bebendo.

"O quê…?" Ele começa a perguntar, olhando do menino para a sua esposa.

"Você não está acreditando nele, não é? Ele é só uma criança." A mãe de Phichit diz, nervosa. "Eu te amo sim, querido."

"É mentira! Você não ama o Papai! Por que?!" Phichit exclama, começando a chorar.

"Para de falar besteira, menino! Eu amo o seu pai e ponto final!" Ela grita com ele, pegando sua bolsa e indo para fora de casa.

"Filho, está tudo bem agora." O pai de Phichit o abraça, tentando acalmar o filho.

"Papai, você acredita em mim, não é?" O menino pergunta, olhando para ele enquanto seu nariz escorre.

"Eu acredito em você sim, Phichit." O pai mente, sorrindo para ele mas congela ao ver o menino se soltar e se afastar dele. 

"Não, você acredita." Phichit diz, o deixando bastante assustado. "Você nem ninguém acredita em mim."

O menino se afasta, indo para o quarto e fechando a porta com força, se jogando na cama e chorando cada vez mais.

…

Mais tarde, naquela noite, Phichiit escuta seus pais gritando entre si e em um canto escondido, os vê com muita raiva. Seu pai a acusa de estar traindo ele e ela o acusa de ser ciumento. Acontece que ele já estava suspeitando de que sua esposa estava tendo um caso, mas não tinha como provar isso. É claro que ele não esperava que a prova viesse justamente de seu filho.

Naquela noite, o pai faz suas malas e decide que está na hora de visitar uma antiga amiga. Alguém capaz de descobrir o que realmente o filho dele tem. E para isso, ele tem que levar o menino até o Japão. 

~x~

Aos 16 anos, Phichit Chulanont passa a estudar sob tutela de Minako Okukawa, uma Sacerdotisa que revelou a verdade sobre ele. Que por causa do acidente, parte do cérebro dele foi ferido e acabou desenvolvendo a habilidade de enxergar quando as pessoas estão mentindo para ele.

Ela diz que ele pode treinar com ela em como melhorar essa habilidade e como a usar adequadamente. Nesse tempo, ele escutou ela falar sobre o Mestre das Palavras, alguém que ela chegou a conhecer. E por 3 anos, ele tentou aprender com ela, mas ele já não gostava de suas habilidades. Mas então, Minako Okukawa decidiu o levar para os Estados Unidos e o registrar em uma escola bizarra. Phichit, com raiva, coloca vários os itens que pertencem a Minako em sua bolsa, momentos antes de partir.

Na Academia Clockstrings, Phichit fica sob a responsabilidade do professor de Educação Física, Cao Bin, junto com Guang-Hong Ji, Seung-Gil Lee. Aos poucos, ele se torna popular na escola por ser engraçado e gentil. Mas tudo não passa de uma máscara, pois Phichit na verdade usa suas habilidades para causar rumores na escola. E existem apenas duas pessoas que os poderes dele não funcionam porque eles não falam. Um deles é Seung-Gil Lee, a quem ele, depois de muito esforço, se torna amigo e namorado, e o outro é… Yuuri Katsuki.

Yuuri Katsuki, que possui uma estranha aura, e que o faz achar que ele está amaldiçoado. Mas não. Yuuri Katsuki é o Mestre das Palavras e antigo pupilo de sua mestra. Além disso, ele pegou quase todos os itens de volta e devolveu para ela. Phichit percebe que o professor Nikiforov aparentemente gosta dele, e decide dar uma mão emprestando a ele o Livro das Memórias. Livro que, segundo Yuuri, teve um fim trágico.

Enquanto isso acontecia, Phichit se aproximava cada vez mais de Seung-Gil, fingindo estar apaixonado por ele por inveja do relacionamento entre Yuuri e Viktor. Diariamente, ele se observa se degradando cada vez mais por causa de suas mentiras, de suas ilusões. E acabou envolvendo o Professor Giacometti, alguém que ele certamente não esperava sentir atração.

O que Phichit não esperava era que suas brincadeiras tenham tido um resultado tão catastrófico, a ponto de sua mestra ordenar que ele seja punido com mediunidade total. A partir de agora, ele vê e escuta fantasmas, entidades e outras coisas que rondam pela escola. É pior do que ele imaginava e ele não acredita que sua mestra e Yuuri vivenciam diariamente isso. A tortura é demais para ele. E o pior é que ele está sob a Kotodama de Yuuri.

Raiva, dor, tristeza, solidão. 

Phichit sente isso o tempo todo e culpa sua mãe por ter deixado de amar seu pai, seu pai por ter abandonado ele com Minako, Minako por não ser quem ele queria que ela fosse e Yuuri por usar suas habilidades para brincar com ele.

"Tolo, você é." Ele escuta, mas apenas se cobre ainda mais com o seu lençol.

"Culpando os outros pelas suas imperfeições."

"Culpando os outros por coisas que eles na verdade não são culpados."

"Culpando os outros pelas coisas que você fez de errado, sabendo que eram errados."

"Calem a boca!" Phichit exclama, ouvindo apenas risadas e mais críticas como resposta.

~x~

Phichit acorda subitamente, com o corpo molhado de suor e a respirando fortemente pela boca. De olhos arregalados, ele olha em volta, notando que não há nada ali naquele quarto. Nenhum fantasma, entidade.

Nada.

Ele se levanta e vai até o seu banheiro, se olhando no espelho e observando que está com o rosto pálido, olhos vermelhos e marcas negras ao redor dos olhos. 

"Por que…?" Ele começa a se perguntar, com sua voz rouca.

Por que ele não vê mais nada? Será que Yuuri errou na hora de dar a punição? Ou será que apenas não há nenhum ser ali no quarto dele?

Esse último pensamento faz com que um arrepio percorra seu corpo e Phichit agradece por aquele dia ser um sábado e que ele já perdeu todas as aulas do dia, pois ele simplesmente retorna para a cama e volta a dormir, agora mais tranquilo.

Phichit só se arrisca a sair de seu quarto de noite, só porque ele está com fome. No refeitório, ele janta e escuta silenciosamente alunos falando que não só ele, mas Katsuki também faltou as aulas, algo que não surpreende ninguém. Phichit percebe que não só está incapaz de ver entidades, como também que Seung-Gil está ali, mas o estudante coreano se recusa a olhar para ele e se afasta quando percebe que ele está se aproximando. Ele percebe que isso o machuca muito, exatamente como sua mãe fez no passado, só que agora a culpa é toda dele.

Ele machucou Seung-Gil. Ele machucou Minako. Ele machucou Yuuri…

Ah, agora ele entende o motivo do comportamento de Yuuri após ele ter salvo professor Nikiforov do Livro das Memórias.

Quando retorna para o quarto, se depara com sua mestra, que segura na mão direita a alça metálica de uma mala de rodas. Isso o faz perceber que ela está indo embora.

"Ora, se não é meu pupilo idiota." Minako comenta, colocando a mão esquerda na cintura.

"Sensei, podemos conversar?" Ele pergunta, cheio de culpa, a fazendo abrir um sorriso.

"Claro. Eu estou indo em direção da entrada, onde o Professor Nikiforov irá me levar para o aeroporto." Ela responde, continuando a andar com ele agora ao lado dela.

"Sensei." Ele diz, ficando estranhamente nervoso. "Me desculpe por ter roubado itens importantes de seu templo."

Ela para de andar e o olha seriamente por um tempo. Phichit engole em seco.

"Estou vendo que este é o resultado da sua provação. Muito bem, Phichit. Você conseguiu uma grande vitória, mas tente se lembrar do que sente até agora para acabar não retornando a ser o que era." Ela diz, o surpreendendo. "Eu estou orgulhosa de você."

Phichit se sente aliviado, e pede desculpas ao professor Nikiforov quando se encontra com ele, que aceita contando que ele não faça mais nada daquele jeito. No dia seguinte, ele pede desculpas ao professor Giacometti, que apenas ri dele e insiste em que não é nada demais. Ele pede desculpas a Yuuri, que apenas diz que ele ainda é escravo dele.

E ele pede desculpas a Seung-gil. Exceto que ele não quis lhe perdoar. Na verdade, ele quer terminar o namoro, que ele sabia que Phichit nunca chegou a gostar de verdade.