Safe escrita por Siaht


Capítulo 1
Safe


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D
Tudo bem?
Essa semana a minha timeline do Twitter foi bombardeada por um tweet sobre Deamus e eu simplesmente precisei escrever algo sobre esse casal.
Espero que gostem! ♥



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{safe}

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Sangue-ruim.

O rapaz observa a palavra marcada em sua pele, de modo permanente, enquanto a água do chuveiro cai sobre seu corpo exausto. Uma parte dele se lembra de se sentir grato. Grato pela água quente, pela cama na qual se deitará em breve, pela comida da mãe, pela risada das irmãs, por estar em casa.

Após meses fugindo e se escondendo, após uma guerra, após tortura, após morte e destruição, ele está em casa. É bom. É confortável. É tudo o que ele desejou por dias e dias intermináveis. Não é o bastante. A guerra acabou. Ele está vivo e finalmente seguro, ainda assim, Dean Thomas sente um vazio dentro de seu peito. Algo se partiu em seu mundo. Algo se partiu dentro dele e o menino sabe que nada será como antes.

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O garoto gira em sua cama por horas até finalmente desistir. O colchão é fofo demais, o travesseiro se encaixa perfeitamente em sua cabeça, tornando tudo aquilo estranhamente desconfortável. Seu corpo está acostumado a chão frio, a pedra dura, a grama úmida, a se encolher, a se esconder, a dores persistentes de noites mal dormidas.

O pior, no entanto, é o silêncio. A casa ressoa a paz e a tranquilidade de uma família adormecida. A rua é a própria definição de calmaria interiorana. Não há nada a se ouvir e Dean se percebe escutando o silêncio, se antecipando a ele, esperando qualquer ruído que indique perigo, qualquer sinal de que precisa agarrar a varinha e correr. O barulho nunca vem, mas isso não o faz se sentir a salvo. A ameaça ainda é recente, o medo ainda corre por suas veias, as marcas da tortura ainda colorem seu corpo. Uma voz em sua cabeça grita que não acabou, que nunca vai acabar.

O rapaz, por fim, desiste da cama e se joga no piso gelado do quarto, parece certo, quase aconchegante. A luz pálida da lua entra por uma festa da janela, iluminando o cômodo o suficiente para que Dean consiga ver as duas palavras que deseja ignorar. As malditas duas palavras queimadas em seu braço.

Sangue-ruim.

Ele não sabe se é o que é. Nunca conseguiu material suficiente para determinar se seu pai era um bruxo ou um trouxa. Às vezes odeia o homem por isso. O odeia por ter desaparecido e lavado consigo um pedaço da sua identidade. O odeia por não ter deixado uma trilha que lhe propiciasse encontrar respostas. O odeia por nunca ter voltado. O odeia simplesmente por ter partido, por tê-lo abandonado. Dean sabe que teve a sorte de um bom padrasto, um homem que cuidou dele e o amou como um pai deveria, um homem que ele ama como um filho amaria, mas isso não tira a tristeza de seu peito. Não faz o vazio desparecer.

De qualquer forma, esse não é o ponto. A questão é que, independe de suas origens confusas, o mundo o enxerga como um nascido-trouxa e o trata como tal. A questão é que ser um nascido-trouxa, um sangue-ruim, o obrigou a fugir, o fez ser caçado e torturado. A questão é que isso doí mais do que o rapaz consegue expressar. “Nós vencemos a guerra”, ele tenta dizer si mesmo. “Um mundo novo está nascendo”, ele repete. Não consegue se convencer.

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O garoto abre os olhos assustado, seu corpo se colocando alerta no mesmo instante, enquanto o coração dispara em seu peito e o ar escapa de seus pulmões. Havia tido sorte o suficiente para conseguir adormecer naquela noite, mas não sorte suficiente para receber a benção de um sono sem sonhos. Ou melhor, um sono sem pesadelos. Dean tenta respirar fundo e memorizar o ambiente ao seu redor. Tenta fazer com que seu cérebro e seu corpo entendam que seguro. Que está em seu quarto, em sua casa, e não em um calabouço escuro e fétido na Mansão Malfoy.

Às vezes acha que está ali o tempo todo. Que nunca conseguiu sair. Uma parte dele ficou naquele lugar, ele sabe disso. Sabe também que nunca terá essa parte de volta. Esse pedaço que lhe foi tirado. Essa certeza é suficiente para fazer com que o rapaz se afogue no próprio pranto.

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Seamus Finnigan aparece em sua porta algumas semanas depois. A visão do amigo faz o coração de Dean saltar de forma irregular. O rapaz não avisou que viria, mas não importa. Nunca importou entre eles. Além disso, um breve vislumbre no rosto pálido de Seamus e em seus intensos olhos azuis é o suficiente para entender que há algo despedaçado dentro dele também.

Os dois não falam muito naquela primeira tarde. Não há muito a ser dito. Há tudo a ser dito. Os amigos não se veem há meses. Bom, é verdade que se encontraram pouco antes da Batalha de Hogwarts, que lutaram lado a lado e se abraçaram – como se suas vidas dependessem disso – ao fim de tudo, mas não tiveram tempo de conversar sobre todo o tempo em que Dean esteve foragido. Sobre todo o tempo em que Seamus esteve tentando ser resistência em uma Hogwarts tomada por Comensais da Morte. Todo o tempo em que estiveram longe um do outro. Todas aquelas noites nas quais Dean fitava o céu e pensava no melhor amigo. E se perguntava se ele estaria bem. E se perguntava se estaria sentindo sua falta. Se estaria pensando nele.

Ainda assim, eles também não falam sobre isso agora. Apenas sentam na cama, um ao lado do outro, e permanecem em silêncio por horas. Em algum momento, Seamus encontra as mãos de Dean e entrelaça seus dedos trêmulos aos dele. Dean sente algo se agitar em seu estômago e, pelo canto dos olhos, consegue ver o rubor que toma o rosto do amigo.

— Eu senti sua falta. — Dean finalmente sussurra, porque sente que precisa dizer alguma coisa. Porque sente que precisa dizer a verdade.

— Eu também senti a sua falta. — Seamus responde com a voz irregular e aperta com mais força a mão do outro rapaz.

Os dois soltam o ar juntos, em um movimento que mistura alívio e dor, e tentam ignorar a eletricidade que corre entre seus corpos.

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Seamus volta no dia seguinte. E no seguinte. E no seguinte. Em algum momento as palavras começam a fluir e eles conversam sobre o futuro. Sempre sobre o futuro. Sobre a incerteza. Sobre o que fazer. Devem voltar para Hogwarts e terminar corretamente o último ano? Devem procurar empregos? Sabem que precisam seguir em frente, mas não entendem como.

Evitam, no entanto, as questões que realmente os apavoram. São capazes de retornar a Hogwarts, após todo o horror que viveram em seus corredores? São capazes de se libertar das lembranças dolorosas da guerra? São capazes de seguir em frente?

Nenhum dos dois quer tocar no assunto, mas ambos compreendem a incerteza que ronda a conversa. Entendem os silêncios e conseguem traduzir as palavras não ditas. Não possuem, no entanto, qualquer resposta para aquelas agonias não verbalizadas. Então, apenas entrelaçam suas mãos e rezam para que nunca precisem soltá-las.

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— Você está bem? — Seamus questiona, em algum momento da segunda semana.

Dean pensa em mentir. Uma das desculpas que distribui para a família fica presa em sua língua, assim como o sorriso que ensaiou em sua mente. Não consegue mentir para Seamus. Não quando ele está o olhando daquela forma. Então apenas balança negativamente a cabeça.

— Não dormi bem essa noite. — tenta explicar. — Tive um pesadelo. Tenho tido muitos pesadelos recentemente. — há vergonha em sua voz.

Mas o amigo o surpreende ao dizer:

— Eu também. A maioria sobre Hogwarts e toda aquela merda.

— A maioria dos meus são sobre a Mansão Malfoy.

— A Mansão Malfoy?

Então Dean suspira e deixa que as palavras – e as lágrimas – jorrem para fora de seu corpo. Ao final de tudo, Seamus não diz nada, apenas o envolve em seus braços e o abraça pelo que parecem horas. O garoto tem aquele cheiro familiar de roupa limpa e sabonete. E Dean se aninha contra seu peito e chora um pouco mais, Seamus chora também, mas nunca solta o amigo de seu enlaço. Pela primeira vez em meses, Dean Thomas se sente em casa. Se sente seguro.

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Nos dias que seguem, chove sem parar. Do lado de fora e do lado de dentro. Os dois rapazes se sentam de frente um para o outro e finalmente conversam sobre tudo o que vem guardando. Falam sobre seus medos, seus pesadelos, seus traumas, tudo o que aconteceu no tempo em que estiveram separados. Se agarram a coragem que fez de ambos grifinórios para falar até mesmo sobre a saudade que sentiram um do outro. E choram. Choram até se exaurirem e acabarem adormecendo lado a lado, finalmente encontrando paz, consolo e descanso.

Quando todas as palavras são ditas e todas as lágrimas secam, Dean Thomas e Seamus Finnigan se beijam. É inesperado, mas não surpreendente. E é certo e bom e glorioso.  E apenas o primeiro de muitos e muitos beijos.

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No fim, os dois resolvem voltar a Hogwarts, terminar seus estudos e se graduar de forma apropriada. Não sabem ainda o que farão depois e estão longe de terem resolvido todos os seus traumas. Pelo contrário. Há uma parte de Dean que sempre estará quebrada, ele sabe disso, mas entende que não tem escolha a não ser lidar com ela. Entende também que Seamus não é a resposta para seus problemas ou sua salvação, mas é alguém que ele quer em sua vida. Porque é alguém que torna sua vida melhor. É alguém em quem ele pensa quando pensa em futuro, em lar e em segurança. É seu melhor amigo. É o garoto que ele ama.  


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Notas finais do capítulo

Bom, tentei imaginar o que teria acontecido com Dean durante o tempo em que ele teve que fugir e depois de ser capturado, mas são só suposições. De qualquer forma, a simples experiência de uma guerra e ainda mais sendo tão novos é algo capaz de traumatizar todo mundo.
Eu juro que abri o Word querendo escrever algo simplesmente fofo, mas o drama anda sendo mais forte que eu HAHAHA
Espero que tenha gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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