Como de um costume rotineiro, mais uma vez, a ocasião assumiu o controle de mim... Afogando-me em um ar desesperador, sem chances de lutar de volta, onde o silêncio é a minha única companhia. É comparável a diversas coisas, como se estivesse dentro de um alcatruz fosco, onde ninguém pode me escutar... Por mais que eu tente exprimir minha voz.

É isso. Eu estou sufocada. Não consigo falar... A única frase que eu podia dizer, estava presa dentro da minha garganta.

O rubor subia pelo meu rosto, deixando-me notavelmente ansiosa, com a ansiedade que escorria pelos meus dedos. Teimosamente, passeio a mão pelo meu cabelo, ajeitando a franja que caía em meu rosto. Mal conseguia ficar de pé, devido o choro que tentava causar a sensação que traz dissabor para mim, mas respirei fundo. Tento oferecer um sorriso perante aquela situação que me faz de refém.

Eu não deveria me calar. Não perante aquilo. Quantas vezes eu perdi a oportunidade, pois o cruel mutismo me fez de sua prisioneira em uma torre? Como eu gostaria de ser livre dessas situações...

Talvez eu não devesse me calar?

— Juleka? Está tudo bem? — Após um longo tempo em afasia, um timbre doce e tranquilo invade meus ouvidos, ousando desbravar a mudez. Apesar de escutar a voz me chamando, eu não conseguia responder. Era um sequestro, apesar de inofensivo... Parecia mais como uma tortura verbal. — Juleka?

Dei um sorriso enquanto assumia a atitude constrangida, tentando gesticular uma frase. Parecia impossível daquele jeito, porém não queria ficar em alalia.

É o que eles querem.

É isso que o sorriso de Chloé parece esboçar, além de seu nariz empinado. Internamente, acredito que ela esteja torcendo para que eu saia correndo chorando, como das outras vezes, por não conseguir me comunicar devidamente.

Mas não é o que terão.

Não é dessa vez que Hawk Moth me fará de seu artefato raro para capturar essas joias miraculosas. É hora das coisas mudarem! O fato de minha timidez e taciturnidade estarem sempre ao ponto de me controlar é uma coisa antiga. Se eu sou uma tímida prisioneira de uma torre que me aprisiona nos confins mais profundos de seus tijolos, não é algo que deva existir.

Esse limite deve ser quebrado.

Se for desse jeito que eu penso, não há o que eu não consiga.

Abro a boca, tentando pronunciar algo, mas começo a gaguejar. O enervamento me faz tremer da cabeça aos pés, além do mormaço insistente que impera no meu corpo inteiro. É só não pensar. Não pense em ficar silenciosa...

Vai, é sua chance. Você não deve se silenciar.

Ninguém pode calar você. A decisão é apenas sua...

Ninguém pode tirar sua escolha de fala! Não precisa ser tão quieta, se puder fazer com que nada mais te afeta...

Dou um sorriso, segurando suas mãos pequenas e delicadas. Algo que a surpreendeu no início, todavia a fileira de dentes logo se formou, além do lábio delineado com um leve rosa. Assim como suas vestes. Seus olhos azuis pareciam se iluminar com a luz solar, embora essa preciosa figura se destacasse mais ainda, quase fazendo com que o astro cintilante sentisse inveja de sua fulguração.

— É-é cl... Claro que eu aceito, Rose! Eu aceito sair com você!

E por fim, a princesa no fundo da torre, desbravou toda a escuridão intensa que havia ao seu redor, podendo contemplar o dia lindo que se fazia lá fora. O clima ameno, além de tranquilo, era perfeito para ela. Ainda tinha muito que viver e desobstruir, o mundo lá fora era enorme e desconhecido.

Essa princesa veio ao mundo para voar.

 Nem mesmo a mudez poderia calar o grito tão eufórico que ela ofereceu, ao perceber que a liberdade havia chegado enfim para si. A risada, como se estivesse rolando em uma grama macia ou voando em um tapete pelo infinito céu azul.

Era a sensação de emancipação?

Tomar uma decisão por suas próprias mãos?

É incrível. Como eu não havia experimentado isso antes? Eu não devia ter deixado com que me oprimissem ou me subestimassem... É uma sensação tão prazerosa, como o fato de estar de mãos dadas com ela.

Rose.

O único motivo para eu descer da torre, que era a minha zona segura com espinhos.