A última tentativa escrita por speakcarol


Capítulo 1
Capítulo 1 - A noite e a visita


Notas iniciais do capítulo

Olá, primeira vez que uso esse site. Peço que se tirou o tempo de ler por favor deixe um comentário. Estarei atualizando a história duas vezes por semana ou uma.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784873/chapter/1

Tem alguns dias que ao chegar em casa e me deparar com tudo vazio e escuro uma parte de meu peito aperta. Mesmo que eu saiba que este é o resultado obvio e que se minha casa não tivesse vazia provavelmente seria um assalto, o silêncio do vazio de alguma maneira me dói. O que se torna algo irônico se pensar o quanto faço questão da solidão no dia-a-dia. Mas existe algo do barulho do vazio que toca em algo de mim que me faz querer voltar para o meu carro e ir para o bar mais próximo. E aquele dia era um desses.

Joguei a bolsa no aparador mais próximo me direcionei para o quarto enquanto fui tirando minhas roupas e jogando pelo caminho. O dia no hospital tinha sido cheio e parece que cada dia que passava eu me sobrecarregava de mais e mais e mais trabalho. Às vezes por livre espontânea vontade e outras vezes, porque é sempre mais fácil para os outros dar o trabalho para a pessoa que não tem para quem voltar a noite.

A medida que caminhei pela casa fui acendendo as luzes dos cômodos, buscando de alguma maneira espantar o escuro que me recepciona com o porcelanato frio sobre meus pés. Ao lado da porta de meu quarto estava o controle da televisão, que liguei quando adentrei o recinto buscando mais uma vez abafar o silêncio da solidão. Nem todos os dias eram assim, mas quando acontecia, era horrível. Este é o complicado da solidão, nem todos os dias ela incomoda, porém quando incomoda, nada poderia ser pior.

Me direcionei para o banheiro e liguei o chuveiro buscando lavar toda a sujeira do dia. Trabalhar em hospital sempre deixa na gente o sentimento de estar suja mesmo com toda aquela limpeza obsessiva presente no ambiente. A água quente criando um vapor gostoso em volta de mim, me acolhendo no calor tão diferente do que me espera para fora do box do banheiro. Me ensaboei e levei meus cabelos lentamente, não estava ansiosa para voltar para o mundo frio que me esperava do lado de fora daquele banheiro. Me questionei se talvez devesse me masturbar para melhorar meu humor, mas depois achei melhor não se tornar este meu modo de lidar com a solidão toda vez que ela me visitasse. E resolvi encarar de frente este dia já que o próximo poderia ser melhor.

Me sequei rapidamente no banheiro e logo me deitei. Deixei a televisão ligada com o volume baixo esperando que o barulho funcionasse como uma canção de ninar e me levasse para o sono profundo como normalmente acontecia nos dias comuns, mas tinha me esquecido que não era um dia comum, era o dia que a solidão tinha chegado como visita. E nestes dias as coisas não acontecem como normalmente e sempre tenho que achar um jeito de lidar com esta realidade que me encara de todos os cantos do meu quarto.

Aumentei o volume da televisão e peguei um cigarro para que pudesse fumar enquanto eu decidia comigo mesma o que iria fazer com essa solidão que tinha invadido minha casa sem pedir licença. Você deve imaginar que nesta altura do campeonato, com quase 10 anos vivendo sozinha eu já teria me acostumado, mas não, a gente nunca acostuma com essas coisas, sempre parece novidade, sempre tenho que entender como funciona esse negócio.

Entre terminar o cigarro e decidir se talvez devesse fumar outro comecei a pensar do porquê afinal eu insistia neste hábito horrível de fumar. Lembro até o dia que experimentei o meu primeiro cigarro e percebi que tinha cometido o maior erro de minha vida.

Estava finalizando meu ultimo dia do segundo ano da faculdade, quando Shizune, minha única amiga da faculdade, me ofereceu enquanto tomávamos uma cerveja após a última prova daquele semestre.

— Ei Tsu, quer um? – ela me disse estendendo um cigarro recém retirado da carteira.

— Ah, sei não. – Eu disse um pouco hesitante.

— Ajuda a aliviar o estresse – ela disse justificando a oferta – mas não vou insistir. Deus sabe o que esse negócio vai fazer com os nossos pulmões.

Terminando de falar ela direcionou o cigarro que tinha acabado de me oferecer para sua boca e acendeu. Tragou com força, segurou a fumaça um pouco e logo depois soltou em uma longa expiração enquanto fechava os olhos. Sua expressão a cada tragada parecia estar mais em paz consigo mesma e senti um pouco de inveja desta sensação, sempre fui conhecida pelo meu jeito nervoso e fiquei em dúvida se já tinha experimentado aquela sensação de paz que Shizune parecia me apresentar em algum momento de minha vida.

— Hm... Zune, eu vou querer sim.

— Que? – Ela respondeu, já que eu tinha interrompido o mundo de paz que ela tinha criado para si mesma.

— Um cigarro, aceito.

— Ah, aqui. – Ela disse retirando um cigarro novo da carteira e estendendo para mim.

De modo meio desajeitado coloquei o cigarro na boca e peguei o isqueiro que ela me ofereceu logo em seguida. Tentando imitar o jeito que ela fazia ao acender, afinal já tinha um ano que eu a via acendendo cigarro após cigarro e imaginei que teria uma ideia do que fazer, coloquei o cigarro na boca e o segurei com meus lábios, enquanto tentava acender o isqueiro. Após algumas tentativas falhas finalmente consegui acender e dei uma tragada. Fiquei meio confusa do que fazer com toda aquela fumaça e acabei baforando para fora de meio desajeitado.

— Não fica nervosa com a fumaça entrando, só puxa e tanta apreciar. Fecha o olho, pensa em coisas boas sei lá – Ela disse ao notar meu jeito desajeito com a fumaça produzida.

— Ok. Vou tentar de novo – Eu disse enquanto percebia o toque do cigarro entre os meus dedos, macio, meio quente e um objeto naquele momento meio desconhecido.

Levei o cigarro a boca novamente e tentei outra vez. Desta vez não me assustei tanto com a fumaça e fechei os olhos tentando buscar a paz que a cara da Shizune passava quando fumava. Nessa segunda vez não baforei tão desajeitada, nem na terceira, nem na quarta e no final do cigarro já sentia que tinha pegado o jeito. A cada trago, eu sentia meu corpo relaxando e acredito ter sido uma sensação totalmente psicológica, não é possível que aquele negócio cheio de toxinas tinha essa capacidade. Mas de qualquer maneira, para mim tinha e acabou que aquela sensação de paz temporária se tornou um vicio tão presente em minha vida que é minha maneira número um de lidar com qualquer coisa do meu dia-a-dia.

Mas mesmo em um dia de solidão como aquele, resolvi acender o segundo para tentar pegar no sono. Acendi o cigarro, coloquei o cinzeiro ao meu lado na mesa, apaguei o abajur e deixei somente a pequena ponta vermelha do cigarro e a televisão iluminar meu quarto e minha cama. Fechei os olhos e tentei concentrar na sensação da fumaça, enquanto deixava meus ouvidos serem cercados pelo barulho que o jornal das dez produzia. O tom monótono do jornalista, a voz corrida dos repórteres e o pedido escandaloso das propagandas tentando nos convencer de coisas que não precisamos. Ao final do cigarro, somente recostei minha cabeça e respirei fundo.

Só percebi que tinha dormido quando acordei com meu corpo suando debaixo do edredom no quarto ainda escuro por conta do blackout. A televisão ainda estava ligada, dormi tão rápido que tinha me esquecido de desligar. Quando peguei o controle para desligar reparei no programa que estava passando... era o programa matinal que passava sempre as oito da manhã, mas o que tinha me chamado atenção não era bem a apresentadora e sim o que ela tinha dito:

“Gente, vou para um intervalo, mas volto logo! E no próximo bloco vamos entrevistar o escritor que está dando o que falar com seus livros de romance: Jiraiya!”

Jiraiya?!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura e deixe seu comentário!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A última tentativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.